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1.3 COMUNIDADES MENONITAS NO BRASIL

1.3.1 Origem dos menonitas no Brasil

A grande maioria de imigrantes menonitas de origem étnica alemã que veio para o Brasil é da Rússia. Após Stalin baixar suas severas leis, iniciaram-se as fugas rumo a Moscou com o objetivo de aguardar o passaporte para deixar a União Soviética. Graças a pressões de outros países, dos 15.000 alemães que se encontravam naqueles dias em Moscou, 6.000 conseguiram o almejado passaporte. Entre estes havia 4.000 menonitas; os outros foram deportados para o interior do país. Como o Canadá havia se tornado um grande centro menonita, o objetivo desses 4.000 era também a sua transferência para esse país. Porém, o governo canadense começou a se mostrar mais restritivo e impôs uma série de quesitos: não iria aceitar doentes, inválidos e idosos. Diante disso, apenas 1.344 pessoas deste grupo foram selecionadas para emigrar para o Canadá.49 A Alemanha, em 1930, em função da grave situação econômica em que se encontrava, também não tinha interesse em assumir a responsabilidade pelos milhares de descendentes de alemães, entre eles muitos menonitas. Após a permanência como refugiados em Mölln, na Alemanha, esse grupo étnico-religioso tinha a oferta de acolhida de dois países, o Paraguai e o Brasil.

46 Dados da Mennonite World Conference. As informações datam de 2009 e indicam membros batizados, independentemente,

se pertencem à instituição publicadora. Fonte: http://www.gameo.org/encyclopedia/encyclopedia/contents/W6763ME.htm.

47 Os termos entre aspas são utilizados para descrever a ação prosélita. 48 Friesen, A. (2009, p. 185).

O Paraguai oferecia todos os privilégios requisitados pelos menonitas: total liberdade de religião, isenção do serviço militar, administração independente das colônias e estabelecimento de sistema escolar próprio. Porém, por ser pouco desenvolvido, onde as terras oferecidas eram muito mal servidas de água potável, somente uma parte do grupo emigrou para esse país. Aproximadamente 1.250 pessoas optaram pelo Brasil.50

Segundo Minnich (1966, p. 6), os menonitas que vieram ao Brasil tinham uma postura mais individualista e democrática. Também estavam predispostos a aceitar mudanças, inclusive no campo da religião. Eles também estariam melhor preparados – física, social e culturalmente – para as situações que enfrentariam. Outros historiadores, como Fretz (1953) e Smith (1954 apud Klassen 1995, p. 66), são da opinião de que os menonitas que optaram pelo Brasil eram indivíduos que haviam entrado em contato com milícias de autodefesa organizadas na Rússia, sobretudo após a Revolução de 1917. Para eles, a questão do serviço militar não era uma prioridade e, acima de tudo, sabiam que no Brasil não teriam nenhum privilégio em relação ao serviço militar. Mais interessante que os próprios motivos que estes autores alegam é, conforme Klassen (1995, p. 67), a circunstância que levou estes pesquisadores a formarem esta opinião: ambos de fato constataram uma diferença na postura de vida entre os menonitas do Brasil e do Paraguai, como também uma diferença no desenvolvimento das suas comunidades. Diferenças que se desenvolveram a partir de uma “escolha obrigatória”, em 1930.

Até meados de 1931, treze navios com 1.245 menonitas51 chegaram à Ilha das Flores, na Baía da Guanabara, no Rio de Janeiro. Ali, foram primeiramente obrigados a permanecer quarenta dias, seguindo uma lei brasileira prevista para todos os imigrantes. Em seguida, foram encaminhados para o Porto de Itajaí, em Santa Catarina, onde pegariam um vapor fluvial que subiria o rio Itajaí até Blumenau. De lá, então, um trem da sociedade Hanseática os levaria até o vale das montanhas de Hammonia, 52 atualmente a cidade de Ibirama, Santa Catarina.

Em 1934, chegava ao Brasil outro grupo de russos-menonitas, formado por aproximadamente 145 pessoas oriundas da Sibéria Oriental, que ficaram dois anos refugiadas na cidade de Harbin, na China. Com mais esse grupo, o número de menonitas imigrados para o

50 Unruh, B. H. (1966, p. 53). 51 Klassen, P. (1995, p. 70). 52 Klassen, P. (1995, p. 72).

Brasil atingia 1.390 pessoas.53 É importante observar que esses grupos imigraram em um período em que ainda não havia se instaurado o Estado Novo, hostil às minorias linguísticas, e que precede os conflitos da Segunda Guerra Mundial.

Outra comunidade menonita no Brasil, também objeto de estudo dessa pesquisa, também conhecida como os Holdeman Menonitas,54 estabeleceu-se nas proximidades da cidade de Rio Verde, no estado de Goiás, a partir de 1968. Sua origem, no entanto, não é russo-holandesa, como a das comunidades no sul do Brasil, mas suíço-alemã. Muitos menonitas do sul da Alemanha e da Suíça, em função da perseguição religiosa existente na Europa, emigraram – desde o início do século XVIII – para a América do Norte. A partir desse grupo surgem os menonitas holdeman, que recebem esse nome em honra a seu fundador John Holdeman, o qual funda a Igreja de Deus em Cristo Menonita. Para evitar serem confundidos com outras igrejas e para mostrar que apreciavam a herança anabatista, o nome “menonita” foi incluído só mais tarde. Esse grupo segue os princípios da igreja neotestamentária, na qual é dada uma grande importância ao discipulado. A Confissão de Dordrecht, de 1632, foi adotada como o guia espiritual. Além disso, o grupo dá uma ênfase particular ao não-conformismo com o mundo, na vestimenta e em outros aspectos da vida, como, por exemplo, o uso do véu por todas as mulheres e o uso de barba por todos os homens membros da igreja. Após um lento começo em 1859, a igreja dos Holdeman Menonitas nos Estados Unidos recebeu numerosos membros de outras igrejas menonitas, especialmente da Kleine Gemeinde de Manitoba (Canadá) e do Kansas (EUA), logo após a sua chegada da Rússia na década de 1870.

Em busca de uma grande área rural, onde pudessem cultivar a agricultura, bem como terem a sua própria escola e assim criar seus filhos de acordo com os princípios bíblicos, algumas famílias desse grupo dos Holdeman Menonitas decidem emigrar dos EUA para o Brasil em 1968, fundando assim, a Colônia Monte Alegre, em Rio Verde (GO).

53 Klassen, P. (1995, p. 70). 54 Dyck, C. (1992, p. 281).