• Nenhum resultado encontrado

Os alunos do ProJovem pelo Brasil

No documento Download/Open (páginas 59-66)

2. JUVENTUDES E A POLÍTICA PÚBLICA DE INCLUSÃO DE JOVENS NO BRASIL

2.2. O Perfil da Juventude Brasileira

2.2.1. Os alunos do ProJovem pelo Brasil

As informações a seguir foram extraídas da avaliação diagnóstica dos alunos matriculados nas primeiras turmas do ProJovem Urbano em novembro de 2008, baseadas na pesquisa “Alunos do ProJovem Urbano: Estudo a partir do Survey 1”, desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa em Políticas Públicas (POPE) da UNIRIO. Os dados quantitativos que serão apresentados foram recolhidos de 72 mil jovens de 25 municípios e em 11 Estados das cinco regiões do Brasil4 (RIBEIRO et al., 2009, p. 74).

A esmagadora participação feminina em relação à masculina (35,6%) reitera a informação obtida no último censo escolar, de que o sexo feminino (64,4%) é a maioria das matrículas no ensino fundamental. Dentre os motivos para esses números expressivos, se destaca a gravidez na adolescência, que implicaria o abandono dos estudos, já que as escolas não dispunham de instalações para deixar os filhos enquanto estudam (RIBEIRO et al., 2009, p. 76).

A faixa etária com maior número de alunos participantes é de 25 anos ou mais, que corresponde a 38% dos participantes, seguido pelo grupo de 18 anos ou menos (12,7%) e pelo grupo de 19 anos (12,2%). Segundo a autora, “a ampliação da faixa etária de atendimento foi acertada, pois até os 24 anos, uma parcela significativa de jovens deixaria de ser atendida” (RIBEIRO et al., 2009, p. 77). Como demonstra o gráfico a seguir.

Gráfico 1 – Faixa etária (%) Fonte: ProJovem (2009) ___________

4 Participaram da pesquisa jovens das cinco regiões do Brasil, residentes nos seguintes Estados/municípios: Amapá (Macapá), Pará (Belém e Ananindeua), Maranhão (Imperatriz), Ceará (Fortaleza e Caucaia), Pernambuco (Recife, Olinda, Paulista e Jaboatão dos Guararapes), Bahia (Salvador, Vitória da Conquista e Juazeiro), Goiás (Goiânia), Mato Grasso do Sul (Campo Grande), São Paulo (Carapicuíba, Diadema, Guarulhos, Itaquaquecetuba, Osasco e São Vicente), Rio de Janeiro (Rio de Janeiro, Itaboraí e Nova Iguaçu) e Paraná (Curitiba) (RIBEIRO et al., 2009, p. 76).

No que se refere à cor/raça, a maioria dos alunos se declararam pardos (49,5%) e negros (23,3%). “Abrangem praticamente 3/4 dos alunos do Programa, dado que vem corroborar os indicadores sociais, os quais demonstram serem tais grupos os mais afetados pela exclusão social persistente no País” (RIBEIRO et al., 2009, p. 77).

Gráfico 2 – Cor/raça (%) Fonte: ProJovem (2009)

No que se refere à escolaridade, “apenas 25% dos alunos concluíram a 7ª série; 21,9% a 6ª série; 24,4% a 5ª série; e 18,7 a 4ª série, o que sinaliza que a maioria desses jovens terminou a primeira etapa do Ensino Fundamental, mas não logrou êxito em seu segundo segmento”, justamente quando o ensino é ministrado por disciplinas com diferentes professores (RIBEIRO et al., 2009, p. 79). Tal mudança pode dificultar a conclusão do Ensino Fundamental por parte de alguns alunos.

Gráfico 3 – Última série concluída do ensino fundamental (%) Fonte: ProJovem (2009)

Uma parcela significativa dos alunos (88%) que participaram da investigação abandonaram os estudos ao menos uma vez durante o seu percurso escolar. Esse elevado percentual pode estar relacionado à necessidade do exercício de alguma atividade remunerada. Apenas 12% dos alunos nunca abandonaram os estudos. Em

torno de 50% dos alunos interromperam uma ou duas vezes e 38% dos alunos de três vezes em diante (RIBEIRO et al., 2009, p. 79).

Gráfico 4 – Frequência que começou e parou de estudar durante o ano (%) Fonte: ProJovem (2009)

Assim como o abandono escolar, a taxa de reprovação é extremamente elevada, demonstrando que 77,6% dos alunos já foram retidos ao menos uma vez. Apenas 22,4% nunca foram retidos. As retenções, como alguns estudos já demonstraram, podem ter influenciado de maneira negativa a autoestima desses jovens (RIBEIRO et al., 2009, p. 80).

Gráfico 5 – Frequência de reprovação (%) Fonte: ProJovem (2009)

A entrada precoce no mercado de trabalho é um fator que interferiu no abandono dos estudos de um elevado número de alunos, cerca de 42% deles tiveram a sua primeira entrada no período da infância ou adolescência.

Jovens com menos de 10 anos corresponde a (6,6%), entre 10 e 12 anos (12%), entre 13 e 15 anos (23,3%) e entre 16 e 18 anos (com 22,2%), somadas, refletem a situação de cerca de 64% dos respondentes, fator esse que, sem dúvida, em muito deve ter marcado negativamente a sua trajetória escolar (RIBEIRO et al., 2009, p. 80).

Outra situação observada, porém não mais importante, é o fato de alguns alunos estarem trabalhando quando deveriam estar estudando, sendo que 21,5% dos alunos trabalhadores nunca tiveram um trabalho remunerado. Fato que deve ser considerado, na busca pela compreensão das expectativas dos jovens em relação ao ProJovem, quando o considera como uma das possibilidades de adquirirem qualificação profissional para o ingresso no mercado de trabalho (RIBEIRO et al., 2009, p. 80-1).

Gráfico 6 – Idade que teve o primeiro trabalho remunerado (%) Fonte: ProJovem (2009)

Independente da classe social, o que se percebe, é que o jovem busca o ingresso no mercado de trabalho cada vez mais cedo, tal urgência varia de acordo com as necessidades da família a qual pertence. “Certamente, para a grande maioria, essa pressa está ligada às necessidades básicas de sobrevivência pessoal e familiar. Por outro lado, na sociedade de consumidores, possibilita o acesso a variados tipos de consumo e de lazer” (RIBEIRO et al., 2009, p. 81).

Pode-se considerar que tal urgência se deve ao fato de que muitos jovens já perceberam que “submetidos às transformações recentes no mercado de trabalho, o diploma não é mais garantia de inserção produtiva condizente com os diferentes níveis de escolaridade atingida” (RIBEIRO et al., 2009, p. 81).

A pesquisa demonstrou que segundo os jovens, os principais obstáculos para a sua inserção no mercado de trabalho são a falta de escolaridade, falta de oportunidades e certificação de atividades que sabem desenvolver.

A falta de escolaridade exigida é apontada por mais de 1/3 dos alunos como seu principal obstáculo (34,9%), situação bastante recorrente entre outros jovens e adultos do mesmo estrato social e com histórico educacional similar; falta de vagas/oportunidades e a de certificação para o exercício de atividades

que sabe desenvolver, com 15,1% e 13,7% respectivamente; a falta de qualificação profissional (11,2%) e a de experiência (11%), indicador este bastante comum também entre jovens com maior escolaridade (RIBEIRO et

al., 2009, p. 81).

A questão da inserção do jovem no mercado de trabalho é uma situação tão preocupante que 33,9% indicaram nunca terem tido uma ocupação remunerada, enquanto 11% informaram como referência o ano de 2002 ou ano anterior para a última ocupação remunerada que tiveram. Aqueles que exercem alguma atividade remunerada (28,7%) iniciaram essa atividade a partir de 2007, indicando que se manteve uma situação de dependência financeira por um longo período (RIBEIRO et al., 2009, p. 82).

Gráfico 7 – Ano do último trabalho remunerado Fonte: ProJovem (2009)

Os poucos casos de trabalho remunerado ofereciam uma faixa salarial de até meio salário mínimo com 64,7% das respostas, 26,9% recebem de meio a um salário mínimo. Considerando que “90% dos entrevistados situam-se na faixa de ganhos de até um salário mínimo, com predominância na metade, presume-se que um grande número desses jovens se encontra, ou já se encontrou, no mercado informal, em situação absolutamente precária” (RIBEIRO et al., 2009, p. 83). Vale ressaltar, que a Constituição Federal determina que ninguém que trabalhe mais de 44 horas semanais deve ganhar menos que um salário mínimo.

Com as precárias oportunidades de inserção no mercado de trabalho, o trabalho informal é um vínculo empregatício bastante comum entre os jovens, ocorre em “77% dos casos, sendo 49,8% sem carteira profissional assinada e 20,5% como autônomos. O emprego com carteira representa a situação de apenas 1/4 dos respondentes, com 22,5% das marcações” (RIBEIRO et al., 2009, p. 84).

A busca de qualificação para o mercado de trabalho é o principal motivo de inscrição no Programa com 40,8% das respostas. A conclusão do ensino fundamental

tem 27,5% das respostas e o aprendizado de outra profissão 13,3% das respostas. O aprendizado de outra profissão “é um dos pontos fortes de atração para o Programa, denotando o interesse de parte do público-alvo em mudar de situação, reafirma a dimensão que este assume como estratégia de vida para essas populações” (RIBEIRO et

al., 2009, p. 84).

A juventude atual, contaminada pelo discurso “da falta de qualificação profissional”, busca a todo momento qualquer tipo de relação que lhe traga um pouco mais de conforto, que lhe traga um sentimento de que está tentando, que está se esforçando e que pelo seu esforço não deve ficar de fora do mercado de trabalho. Novaes (2007b) alerta para o fato de que, “os jovens de hoje trazem um profundo ‘medo de sobrar’” (NOVAES, 2007b, p.4).

Os jovens atualmente reconhecem que os certificados são importantes no momento de disputar uma oportunidade de trabalho, mas também reconhecem que a posse desses certificados não é garantia de ocupação.

Eles sabem que os certificados escolares são imprescindíveis, mas sabem também que as rápidas transformações econômicas e tecnológicas se refletem no mercado de trabalho precarizando relações, provocando mutações, modificando especializações e sepultando carreiras profissionais. Frente à globalização dos mercados, redesenha-se o mundo do trabalho e se constrói novas culturas (RIBEIRO et al., 2009, p. 84 ).

De acordo com o estudo, “o ProJovem acerta quando busca integrar educação e trabalho, mas parece que nos níveis locais não tem conseguido cumprir tal expectativa junto ao seu público”. Mesmo que o principal objetivo do jovem participante do ProJovem, seja o ingresso no mercado de trabalho formal ou a qualificação profissional, “a maior contribuição que este lhe oferece é a possibilidade de continuar os estudos (45,3%)”. A não satisfação das expectativas dos jovens que buscam o Programa pode estar no fato de que os próprios jovens consideram a formação profissional oferecida insuficiente, que representa 27,3% dos que esperam conseguir um emprego. Em segundo plano, a atuação dos docentes, “que muitas vezes, agem como incentivadores da retomada da vida escolar de seus alunos, conforme os relatos informais dos supervisores de campo do ProJovem” (RIBEIRO et al., 2009, p. 85).

Gráfico 8 – Contribuição do ProJovem (%) Fonte: ProJovem (2009)

Os docentes do ProJovem em diversos momentos, incentivam os seus alunos a retomarem a vida escolar, “conforme os relatos informais dos supervisores de campo do ProJovem” (RIBEIRO et al., 2009, p. 85). É importante destacar que esse incentivo dos Professores contribui para a elevação da autoestima em 9,2% dos alunos, fato que “atesta os efeitos perversos da baixa escolaridade entre os que saíram ou foram expulsos do sistema de ensino durante a sua trajetória escolar” (RIBEIRO et al., 2009, p. 85).

Os incentivos por parte do professorado podem ser “até aquele empurrãozinho que faltava”, para aquele aluno que já sofreu tanto com o perverso sistema escolar e que ainda sofre se sinta encorajado a concluir ao menos o ensino fundamental. Mas se incentivo de professor fosse capaz de atuar em problemas tão complexos, de resolver tantas questões, não seria necessário o aumento do número de postos de trabalho ou um sistema escolar mais adequado, bastaria apenas a criação de uma nova modalidade de professor, o “professor incentivador” e assim eliminaríamos todas as formas de desigualdades presentes em nossa sociedade.

Muita expectativa é depositada no crescimento econômico, aumento da escolarização e qualificação, como medida para reduzir o desemprego juvenil. Essas medidas “são condições necessárias, mas não suficientes” (OIT, 2009, p. 133) para garantir o retorno às escolas e o ingresso do jovem no mercado de trabalho formal. É necessário um conjunto de ações efetivas que melhorem a qualidade das inserções do jovem no mundo do trabalho.

No documento Download/Open (páginas 59-66)