• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO 1. O Património Cultural na construção e consolidação da identidade e da

1.2. Os arquivos: um paradigma patrimonial

“O Futuro da Memória visa a sensibilização dos cidadãos europeus para a importância e salvaguarda do seu património cultural, enquanto testemunho incontornável do seu passado, por forma a manter viva a Memória dos povos, contribuindo para o reforço da sua identidade e assumindo-se como um recurso insubstituível ao seu desenvolvimento. O Futuro da Memória só será garantido com o empenho de todos “ 71

.

69 CATROGA, Fernando, Ensaio Respublicano, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2011, p.136.

70

GODINHO, Vitorino Magalhães, A historiografia Portuguesa do século XX, Ensaios, Vol. III, Lisboa, Sá da Costa, 1971 [1955], p. 152.

71 Conselho da Europa, Texto de promoção das Jornadas Europeias do Património, setembro, 2012 in

Utilizando a metodologia do ponto anterior, passamos a analisar o conceito de arquivo, a partir das definições apresentadas pelo Grande Dicionário da Língua Portuguesa:

“Arquivo, do latim archivu, lugar onde se conservam documentos escritos.

Cartório. Coleção. Repositório. Conjunto de tradições. Registo. Pessoa que guarda tudo de memória “72

.

As definições apresentadas poderão configurar-se como dispersas, desarticuladas, sem ligação entre si, mas procedendo à sua desconstrução é possível identificar duas definições reais e uma figura de estilo. Arquivo, enquanto “lugar onde se conservam documentos escritos “, corresponde ao conceito de arquivo que define o edifício ou local, num conjunto edificado ou não, onde se preservam os documentos, materiais ou imateriais. Este conceito, associado a “edifício ou local”, apesar de não corresponder à essência do nosso trabalho será inúmeras vezes referido, dada a importância que assume enquanto fator determinante na preservação / conservação do património arquivístico.

A definição “Pessoa que guarda tudo de memória” corresponde a uma figura de estilo que se aplica a alguém que tem capacidade em guardar muita informação de memória, por similitude com o “arquivo”, enquanto conjunto de documentos detentores de vasta informação, que se identifica com a memória individual e/ ou coletiva.

As definições de: “Cartório; Coleção; Repositório; Conjunto de tradições e Registo”, correspondem a uma descrição do conceito de arquivo, enquanto conjunto de documentos, em que o autor nos dá a sua conceção, a partir de conceitos polissémicos, que lhe estão associados.

O conceito de arquivo, enquanto “conjunto de documentos”, não tem sido consensual, por parte dos arquivistas, ou melhor das diferentes tradições arquivísticas. Para apresentar esta problemática iremos apoiar-nos em Michel Duchein, um clássico dos

72 MACHADO, José Pedro, Grande Dicionário da Língua Portuguesa, Tomo I, Lisboa, Sociedade da Língua Portuguesa, Amigos do Livro, Editores, Lda., 1981, p. 627.

arquivos e da arquivística,73, ao afirmar, que mesmo não tendo em consideração o significado popular de “arquivos” como sinónimo de “papéis velhos”, são identificadas algumas variantes em pontos essenciais da definição do conceito, mesmo em definições recentes e autorizadas. Esta constatação, fundamentada numa análise feita à definição dada pela Lei Francesa, de 3 de janeiro de l979, considera: “Les archives sont l’ensemble des documents, quels que soient leur date, leur forme et leur support matériel, produits ou reçus par toute personne et par tout service ou organisme, dans l’exercice de leur activité”74

.

De acordo com esta definição, tradicionalmente aceite pela tradição arquivística do universo que entronca na cultura greco-romana, qualquer documento é classificado como documento de arquivo, a partir da sua criação, independentemente da antiguidade, tipologia, ou características especiais, quanto à forma física ou ao suporte, desde que tenha sido produzido ou recebido por uma pessoa individual ou coletiva, no exercício de uma atividade e que não seja resultado de um ato voluntário.

Ao analisar a definição: “ archives - documents qui ne sont plus nécessaires au travail courant et qui sont conservés, avec ou sans tri préalable, en raison de leur valeur de preuve ou d’information, par l’organisme qui les a créés ou par une institution d’archives appropriée”, dada pelo Dictionnaire de terminologie archivistique75, se a compararmos com a definição anterior, verifica-se que, na essência são substancialmente diferentes.

Nesta definição, veiculada à tradição arquivística do mundo anglo-saxónico, os “documentos necessários à gestão corrente”, não são “documentos de arquivo”, mas “documentos de gestão” “management records”. No contexto desta tradição arquivística, “documentos de arquivo” são os que, não sendo mais necessários à gestão corrente, são preservados, com ou sem triagem prévia, em função do seu valor probatório ou informativo. A sua preservação/conservação poderá ser efetuada pela pessoa ou organismo

73 DUCHEIN, Michel, Archives, Archivistes, Archivistique: Définitions et Problématique, em Archives de

France: La Pratique Archivistique Française, sous la direction de FAVIER, Jean, Paris, Archives Nationales,

1993. 74

Idem, ibidem, p. 22.

75 ARCHIVES, Conseil International - CIA, Dictionnaire de terminologie archivistique, 2 ème edition, Paris, CIA , 1988.

que os produziu ou que os recebeu, mas preferencialmente por uma instituição ou organização vocacionada para a preservação e conservação de arquivos. A tradição documental anglo-saxónica não reconhece “arquivos correntes nem intermédios”, mas tão somente “documentos de gestão”.

Estas divergências conceptuais originaram, ao longo de mais de duas décadas, calorosos debates entre os profissionais de arquivo, incluindo os peritos do CIA - Conselho Internacional de Arquivos, a quem se deve a conceptualização de uma nova e abrangente definição, que permitiu pôr fim a esta divergência. O atual conceito, aprovado por unanimidade na Assembleia-geral do CIA, em 2010, define-se nestes termos:

“Os Arquivos registam decisões, ações e memórias. Os Arquivos são um património único e insubstituível transmitido de uma geração a outra. Os documentos de arquivo são geridos desde a sua criação, para preservar o seu valor e significado. Os arquivos são fontes confiáveis de informação para ações administrativas, responsáveis e transparentes. Desempenham um papel essencial no desenvolvimento das sociedades ao contribuir para a constituição e salvaguarda da memória individual e coletiva.

O livre acesso aos arquivos enriquece o conhecimento sobre a sociedade humana, promove a democracia, protege os direitos dos cidadãos e aumenta a qualidade de vida”76.

Ao desconstruir esta nova definição de arquivo, infere-se que a sua atuação se desenvolve a dois níveis:

1) Ao nível da memória histórica, quando expressa “Património único e insubstituível, transmitido de uma geração a outra”; ou, “constituem a salvaguarda da memória individual e coletiva “;

76

Declaração Universal dos Arquivos, aprovada em Assembleia-geral do Conselho Internacional de Arquivos, realizada em setembro de 2010, em Oslo. Tradução para português, acordada entre o Arquivo Nacional do Brasil e o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, Portugal.

2) Ao papel emergente que os arquivos desempenham ou deverão desempenhar na atual sociedade da informação e do conhecimento, promotores de uma boa governação, da transparência administrativa e defensores dos direitos do cidadão, quando se afirma: “ Os documentos de arquivo são geridos desde a sua criação […] são fontes confiáveis de informação para ações administrativas responsáveis e transparentes” e ainda “ o livre acesso aos arquivos enriquece o conhecimento sobre a sociedade humana, promove a democracia, protege os direitos dos cidadãos e aumenta a qualidade de vida”.

No que à memória histórica diz respeito, os documentos de arquivo são preservados ao longo do tempo. Os mais antigos, de que se tem conhecimento, datam de cerca de 3000 A.C., provenientes da Mesopotâmia, constituídos por conjuntos de placas de argila, com inscrições cuneiformes e respeitam sobretudo a assuntos de natureza jurídica como contratos e sentenças. O suporte dos documentos, esse, tem assumido naturezas diversas, dependendo do tempo histórico e da área geográfica em que são produzidos: de placas de argila, a folhas de papiro ou de palmeira, do pergaminho ao papel, tendo por base diferentes matérias-primas, como a palha de arroz, o trapo ou a celulose e, mais recentemente, os suportes eletrónico e digital.

Os documentos de arquivo interligam-se à vida de qualquer cidadão, enquanto indivíduo integrado numa família, numa sociedade, num país e no mundo. Paralelamente, os documentos de arquivo estão conectados com as ações e/ ou decisões tomadas pelos indivíduos, ou pelas instituições, empresas, fábricas, associações e todo o tipo de organizações criadas pelo Homem para prover às suas necessidades materiais e espirituais. São os documentos de arquivo que suportam a memória coletiva dessas organizações.

Na sociedade da informação e do conhecimento são os documentos de arquivo que garantem os direitos do cidadão, pois são eles que preservam os registos que asseguram os seus direitos civis: primeiramente o direito ao nome, à nacionalidade, à filiação, que por sua vez lhe garantem o acesso aos designados direitos sociais: direito à saúde, à assistência, à educação, ao trabalho, à justiça, à associação, ou aos direitos cívicos como o direito a eleger ou a ser eleito, o direito à migração, ao lazer e outros. Em síntese, os arquivos são os garantes dos direitos de qualquer indivíduo, na vida em sociedade.

É no contexto dos direitos, que se justifica o conteúdo do artigo 7.º da Convenção das Nações Unidas, sobre os Direitos da Criança77 ratificada pela quase totalidade dos países membros, e a que Portugal aderiu, pela Resolução da Assembleia da República nº 20/9078:

“1- A criança é registada imediatamente após o nascimento e tem desde o nascimento, direito a um nome, o direito a adquirir uma nacionalidade e, sempre que possível, o direito de conhecer os pais e de ser educada por eles.

2- Os Estados Partes garantem a realização destes direitos, de harmonia com a legislação nacional e as obrigações decorrentes dos instrumentos jurídicos internacionais, relevantes neste domínio, nomeadamente nos casos em que, de outro modo, a criança ficasse apátrida.”79

.

A inexistência de registo de nascimento representa a negação da identidade de um indivíduo e inviabiliza a sua integração em sociedade, pelo que representa uma grave violação dos Direitos Humanos. As Nações Unidas estimam que atualmente existam em todo o mundo, mais de 48 milhões de crianças, com menos de cinco anos, que não se encontram registadas. Esta situação ocorre em países afetados por guerras, cataclismos, mas também em países de extrema pobreza. A inexistência de documentos de identificação facilita o rapto e o tráfego de crianças ou dos seus órgãos e expõe-nas a todas as formas de ilegalidades.

77 Convenção sobre os Direitos da Criança, adoptada pela Assembleia Geral das Nações Unidas, a 20 de novembro de 1989,Disponível em www.unicef.pt/docs/pdf_publicacoes/convencao_direitos_crianca2004.pdf

, consulta realizada em maio de 2015. 78

Resolução da Assembleia da República, nº 20/90, Adesão de Portugal à Convenção das Nações Unidas, sobre os Direitos da Criança, Diário da República, 1ª Série, Nº 211, de 12 de setembro de 1990, pp. 373 (2- 20).

Os arquivos são hoje reconhecidos mundialmente como indispensáveis à integração do homem em sociedade, pois ao preservarem os registos das suas ações e decisões, contribuem para uma adequada identificação das sociedades.

Em Portugal, o Regime geral dos arquivos e do património arquivístico encontra-se regulamentado pelo Decreto-Lei nº 16/93,80 que determina no seu artigo 2.º: “Compete ao Estado promover a inventariação do património arquivístico e apoiar a organização dos arquivos, qualquer que seja a sua natureza, bem como garantir, facilitar e promover o acesso à documentação detida por entidades públicas.”81

.

Para uma melhor compreensão sobre a organização e classificação dos arquivos e do seu património no regime jurídico português, transcreve-se o artigo 9.º do respetivo Regime geral:

“- Arquivo nacional, quando reúne predominantemente documentação proveniente de órgãos da Administração central ou de instituições de âmbito nacional;

- Arquivo regional, quando reúne predominantemente documentação relativa a uma área superior ao âmbito municipal e inferior ao âmbito nacional;

- Arquivo municipal, quando reúne predominantemente documentação relativa a um município ou proveniente de organismos administrativos do mesmo âmbito”82.

Continuando a análise deste importante documento legal, o artigo 21.º define o modo de classificação do património arquivístico, nos seguintes termos:

“1 – Os arquivos e os documentos que, pelo seu relevante valor informativo ou probatório, devam merecer especial proteção,

80

Decreto-lei nº 16/93, Regime geral dos Arquivos e do Património Arquivístico, Diário da República, 1ªSérie – A, nº 19, de 23 de janeiro de 1993, pp. 264 – 270.

81 Ibidem, p.264. 82 Ibidem, p.265.

constituem objeto de classificação pelo Governo, sob proposta do órgão de gestão.

[…]

3 – A classificação não afeta o direito de propriedade, mas impede a alteração, divisão ou destruição de arquivos ou de documentos sem aprovação prévia do órgão de gestão.”83.

Pela análise do documento é percetível a responsabilidade do Estado pela salvaguarda, proteção e valorização do património arquivístico, impedindo, por todos os meios ao seu dispor, que o mesmo seja sujeito a qualquer dano, adulteração ou destruição que ponha em causa a sua integridade física e legal, porque o seu valor probatório assim o exige.

Face ao que o património arquivístico representa na vida e para a vida dos cidadãos e das organizações, seria expectável que o cidadão comum manifestasse interesse em conhecer este património, que é de todos. Contrariamente ao previsível, a nossa experiência profissional deu-nos a conhecer uma realidade um pouco diferente, uma realidade pautada por um considerável défice de conhecimento, por parte de muitos cidadãos, a que não raras vezes se juntava uma certa indiferença, justificada na expressão “os arquivos são coisas do passado, que só interessam a alguns”.

Enquanto profissional de arquivo, mas sobretudo enquanto cidadã, preocupa-nos a falta de conhecimento, e consequentemente, o “desinteresse” demonstrado por um considerável número de cidadãos, entre os quais, não podemos deixar de registar, se incluíam alunos, e até mesmo professores, dos ensinos básico e secundário.

Se é dever do Estado, como anteriormente foi referido, preservar, proteger e valorizar o seu património, torna-se essencial que o Estado promova por todos os meios que estiverem ao seu alcance, formas de valorizar e divulgar o seu património, uma vez que é praticamente impossível que alguém se possa interessar pelo que desconhece.

Perante esta realidade, o nosso sentimento é comparável ao de David Justino, quando afirma:

“Como professor do ensino superior, choca-me o facto de a maior parte dos alunos nunca ter lido a Declaração Universal dos Direitos do Homem, não conheça a sua história nem o seu desenvolvimento. Tanto quanto me choca a ignorância de muitos deles sobre a Constituição da República, as instituições democráticas ou a história da luta dos povos pela liberdade […]”84.

Realizámos várias pesquisas, para procurar saber qual o nível de conhecimento e qual a atitude dos cidadãos face ao património arquivístico, nalguns países da Europa, mas os resultados não foram conclusivos, pois são poucos os dados disponíveis, e os existentes respeitam a inquéritos realizados pontualmente e com fins específicos.

Um dos artigos mais interessantes foi localizado na revista Comma·85, artigo que analisa e comenta os resultados de uma sondagem encomendada pelo jornal Le Monde, ao SOFRES, o principal instituto de estudos de mercado e de opinião de França, sondagem realizada através de entrevistas domiciliárias diretas a uma amostra de âmbito nacional, constituída por 1000 cidadãos, realizada a 10 e 11 de outubro de 2001. A primeira observação de Prost sobre este trabalho, vai no sentido de realçar o facto de se tratar de uma sondagem pública inédita, sobre o tema “arquivos”, dado que até outubro de 2001, nunca os arquivos franceses tinham sido objeto de qualquer sondagem pública, nem tão pouco merecido a atenção dos media. O interesse dos media franceses pelos arquivos, nesta altura, está relacionado com a dimensão pública que adquire a construção de um novo edifício para os Arquivos Nacionais de França. Os resultados das entrevistas foram publicados na edição de 8 de novembro de 2001, do jornal Le Monde, e nas atas do Colóquio realizado a 5 de novembro 200186.

84

JUSTINO, David, Difícil é educá-los, Fundação Francisco Manuel dos Santos, Lisboa, 2010, pp.102 – 103. 85

PROST, Antoine, Les Français et les archives. Le sondage du journal Le Monde, em Comma, 2003 (2-3) Revue International des Archives, Paris, 2003, pp. 51-56.

86 Actes du Colloque du 5 Novembre “Les Archives, un bien commun”, em Une Cite pour les Archives

A pergunta base indagava a opinião dos entrevistados sobre os arquivos. Os resultados revelaram que 80% dos franceses inquiridos associavam os arquivos à memória e que 67% o faziam em relação à história. Expressaram que os arquivos eram essenciais para o estudo do passado, sendo parte relevante da memória coletiva e de uma herança a preservar, o que revela uma opinião muito positiva. Prost afirma ainda que, da análise das entrevistas, foi possível concluir que alguns cidadãos associavam os arquivos à garantia da transparência e do funcionamento democrático das instituições, mas apenas 9% os associavam ao património. A frequência dos arquivos, pelos entrevistados, revelou-se muito baixa e pautada pela proximidade. Nenhum dos entrevistados, realizara alguma vez consultas nos Arquivos Nacionais, enquanto 14% o tinham feito em arquivos departamentais, 31% em arquivos municipais e 20% nos arquivos dos respetivos locais de trabalho. Os temas que, por parte dos inquiridos mereciam maior interesse configuravam temas históricos relacionados com a II Guerra Mundial, a Revolução Francesa, a Guerra da Argélia e com os sucessos populares do maio de 1968. Os resultados permitiram várias ilações, que iriam ser objeto de reflexão e estudo, por parte dos técnicos dos Arquivos Nacionais de França.

O desenvolvimento do site internet, cujas potencialidades de oferta aumentam dia a dia, bem como a enorme expansão de atividades culturais empreendidas pelos arquivos de França, sobretudo a partir do ano 2000, trouxeram para os arquivos, novos e diversificados públicos, que são, atualmente, utilizadores assíduos, quer por contacto direto, frequentando as salas de leitura e/ou atividades culturais, quer indiretamente através de visitas assíduas na internet, o que levou o Serviço Interministerial dos Arquivos de França, a realizar entre 2013-2014, o inquérito Qui sont les publics des archives?87 a fim de melhor conhecer os atuais públicos dos arquivos, avaliar os seus níveis de satisfação e captar as suas expectativas. Numa muito breve síntese, sobre o perfil desses públicos, foi possível constatar que o atual leitor/investigador presencial se assemelha muito ao internauta, sendo que os seus interesses se focalizam na pesquisa, ao contrário do público das Jornadas Europeias do Património, que visita os arquivos numa perspetiva de fruição cultural.

87

GUIGUENO, Brigitte, PÉNICAUT, Emmanuel, Qui sont les publics des archives?: Enquête sur les

lecteurs, les internautes et les publics des activités culturelles dans les services publics d’archives (2013- 2014), Paris, Ministere de la Culture et de la Communication, Direction generale des patrimonies, 2015.

Verificou-se igualmente um rejuvenescimento do público leitor, com um número crescente de universitários, interessados nas mais diversas áreas temáticas, e a transferência dos genealogistas das salas de leitura, para a internet, à medida que aumenta a disponibilização online, dos fundos documentais vocacionados para este tipo de pesquisa. Os leitores avaliam muito positivamente o acolhimento em sala, enquanto julgam severamente a qualidade dos instrumentos de pesquisa, considerando a dificuldade que sentem para aceder ao rico e valioso potencial de informação. A “fotografia”, que foi possível fazer aos diferentes públicos dos arquivos, assume-se como uma referência de apoio à tomada de decisões, por parte do Serviço Interministerial dos Arquivos de França, no que respeita à política de arquivos a seguir.

Localizámos um outro artigo, na Revista Memória88, que nos dá a conhecer um inquérito promovido pelo Arquivo do Governo da Catalunha, na sequência do interesse despertado pelo inquérito francês, divulgado em 2001, já citado anteriormente.

O inquérito, promovido pelo Arquivo da Catalunha, foi realizado em dezembro de 2003, através de 1200 entrevistas telefónicas dirigidas a cidadãos da Catalunha, selecionados aleatoriamente de um universo muito heterogéneo. Para evitar respostas longas e abertas, as mesmas eram induzidas. A pergunta chave consistia em “a que associa um arquivo?” e admitia como respostas “À memória, à história, à identidade, à desordem, ao caos, ao polvo?” Fugueras não apresenta dados numéricos, mas refere que a maioria dos entrevistados associa o arquivo à memória, à identidade, à história, ao passado. Esclarece

Documentos relacionados