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Os Assentamentos Portugueses

No documento Centro cultural Mafalala (páginas 35-40)

1.1 O PROTO-URBANO

1.1.2 Os Assentamentos Portugueses

A Npfumo

1

,

era já conhecida dos navegadores portugueses desde a altura da descoberta do caminho marítimo para a Índia, por Vasco da Gama. Estes nomearam-na de Baía Formosa, Baía da Boa Paz ou ainda Baía da Lagoa. A prova desta afirmação, como relata Lima (2015), é o facto desta baía constar no planisfério português de 1502 (fig.2).

O assentamento Português em território Moçambicano, deu-se como consequência do interesse e necessidade de implantação de pontos estratégicos, ao longo da costa oriental africana. Desta forma, tornou-se possível dominar o território e, guardar a rota marítima para a Índia. Assim, política e economicamente, apenas em 1544 é que os navegadores portugueses começaram a explorar a Baía da Lagoa, a mando de El-Rei D.

1 Nome da Chefatura principal na margem Norte do estuário aquando a chegada dos portugueses;

Figura 2 - Mapa das rotas marítimas portuguesas, 1502;

João III. Nesta altura, a baía passa a chamar-se Lourenço Marques, em homenagem ao navegador português, responsável pela ‘descoberta’ e exploração do território.

Lobato (1948), narra que durante quase 200 anos, a baía de Lourenço Marques, foi ponto de paragem nas rotas mercantis dos navios portugueses, que por ali passavam anualmente. Era local que exportava marfim e de onde os portugueses arranjavam alguns escravos, mas que não tinha muito mais utilidade uma vez que, por ser muito pantanoso, não servia para habitar. Apesar do valor quase nulo que o território tinha para a coroa portuguesa, a Metrópole não abdicava do domínio territorial, e por várias vezes, foi necessário reclamá-lo como português já que era alvo de várias tentativas de instalações por parte de estrangeiros. Por vezes, os navios portugueses permaneciam por alguns meses à espera que o marfim chegasse à costa, e para que esta estadia fosse mais cómoda, Lobato (1948) diz que, há memórias de que os marinheiros construíam aldeias de palhotas, mas nada definitivo. A baía de Lourenço Marques nunca teve nenhum edificado de carácter fixo ou definitivo até finais do séc. XVIII. Com o decorrer do tempo, a baía começou a ser mais visitada por embarcações estrangeiras que portuguesas. Este facto deve-se à irregularidade da navegação portuguesa por aqueles lados, provocando a cobiça de outras nações europeias. Uma vez que o território não estava protegido, tornou-se um alvo de fácil acesso.

O sistema colonial português tinha dois principais objectivos: evangelizar e tirar da terra o máximo benefício possível para a Metrópole, não existindo uma preocupação de soberania. “Todas as questões indígenas eram deixadas aos chefes nativos, cujo poder se respeitava. Havia uma espécie de feudalismo colonial. Os régulos e chefes reconheciam a supremacia do Rei de Portugal, prestavam-lhe vassalagem, facilitavam o comércio, permitiam a evangelização, guiavam.se nas questões mais importantes pelo conselho das nossas autoridades, permitiam a colonização e o livre trânsito aos mercadores, e, em troca, eram senhores livres das suas terras e dos seus súbditos, que governavam segundo seus usos e costumes.” (Lobato 1948:5). Apesar desta relação com os nativos, nunca houve qualquer desleixo em relação aos estrangeiros. A Metrópole sempre fez de tudo para

reivindicar os “direitos da coroa à posse das terras descobertas ou conquistadas e ao exclusivo comércio nos seus domínios.” (Lobato, 1948:6). Mendes (1985) refere que, em 1721, a Baía foi ocupada pelos holandeses e que estes edificaram um forte em alvenaria ao qual chamaram Forte da Lagoa. No entanto, apenas uma década após a edificação do forte, em 1733, os holandeses abandonam a Baía “derrotados pela insalubridade do clima, pelo malogro do comércio com os indígenas e da conquista do Monomotapa.” (Mendes 1985:79). Durante os anos que se seguiram, o controle pelo comércio na baía de Lourenço Marques, originou frequentes tentativas de posse da mesma, por parte dos franceses e ingleses. No entanto, foi a tentativa austríaca que desencadeou toda a restante história do desenvolvimento de Moçambique.

Entre 1774 e 1775, Guilherme Bolts2 aparece em Lisboa com ideias de

ser nomeado cônsul português dos negócios no oriente. Não teve muita sorte, quando foi reconhecido como Homem pouco honesto que fora. Daqui passou para Viena, e depois para Trieste, onde conseguiu que alguns mercadores abastecessem um navio para ele iniciar as suas viagens comerciais. Passou pelo Rio de Janeiro e daí seguiu para a baía de Lourenço Marques, onde fundou uma feitoria, por não encontrar nenhuma autoridade portuguesa que o impedisse. Chegou à baía em Março de 1777, levava consigo 155 homens e algumas mulheres. Em Maio do mesmo ano, 2 meses após a sua chegada, já assinara tratados com alguns régulos nativos, onde estes cederam terras dos dois lados do estuário e que agora passaram a ser propriedade de Bolts, para este poder realizar povoações e levantar fortalezas. Estas instalações eram de uma construção muito básica: “palhotas de paus e caniços, cobertas a campim.” (Lobato, 1948:26). Em 1778, já tinha fundado 8 feitorias ao longo da costa moçambicana, duas das quais na baía de Lourenço Marques. A estratégia dos austríacos passou por

2 Guilherme Bolts, Tenente Coronel ao serviço da Imperatriz Maria Teresa de Áustria. Era uma “pessoa conhecida nos meios ultramarinos de Lisboa, onde fez as primeiras tentativas de carreira colonial, começou por ser caixeiro de uma casa inglesa estabelecida na capital, mas passando a Londres entrou ao serviço da Companhia Inglesa das Índias. Enriqueceu, não se sabe como, mas de certo por meios pouco honestos, porque a Companhia Inglesa Sequestrou-lhe os bens.” (Lobato, 1948:8)

pagar mais pelos panos, pela arroba e pelo marfim, para conquistarem o mercado indígena, e tornar as negociações dos navios portugueses mais difíceis. A notícia desta situação chega à Metrópole um ano depois, através de cartas envidas pelos governadores da Índia e de Moçambique. Pertencendo a Baia ao Domínio da Coroa Portuguesa, não era permitido nenhuma destas posses territoriais e fortificações estrangeiras. Os próprios nativos reconheciam a situação como não sendo favorável. No entanto, apesar de os portugueses terem sido os primeiros a conquistar as terras de Moçambique, foi também o reino português que as abandonou, deixando de passar pelas mesmas por alguns anos, obrigando assim, os indígenas a negociar com os navios estrangeiros que apareciam.

Lobato (1948) explica que, o projecto de Bolts para Lourenço Marques, não passava só pelo comércio e construção de feitorias. A ideia era “formar uma colónia com pretos importados de Inhambane”, mandar construir um dormitório, em volta de um pátio, com portas apenas para o interior, onde iria fechar 50 casais a fim de se reproduzirem, e que se iriam ocupar das “machambas”3. Esta atitude de Bolts não era altruísta. A criação desta

colónia, servia como base a um plano maior. Para usufruto e criação de condições de vida, para fundar uma colónia alemã. Era um plano elaborado, pensado e com método. Foi o reconhecimento deste facto, por parte da metrópole portuguesa, que obrigou o Governo a resolver o assunto e a reivindicar o poder de Portugal sobre a baía de Lourenço Marques. Em Janeiro de 1781, parte uma expedição, em direcção à baía, com instruções exactas sobre como agir: desembarcar, atacar, e como proceder com os ingleses e austríacos. A fragata, chegou a Lourenço Marques, e alguns tripulantes desceram, entraram na feitoria e os austríacos renderam-se sem oferecer nenhuma resistência. Os soldados arrasaram com o forte e todos os armazéns austríacos. Na manhã seguinte, ao nascer do sol, foi hasteada a bandeira nacional. A notícia destes últimos acontecimentos espalhou-se rapidamente, e os régulos nativos começaram a surgir. Foram realizadas

3 “Terreno agrícola para produção familiar, terreno de cultivo.” “Do changana maxamba, «idem» ou do suaíli mashamba, plural deshamba, «plantação, terreno cultivado»”. Consultado em https://www.infopedia.pt/dicionarios/lingua- portuguesa/machamba, a 30/12/18, às 14:56.

Em relação a registos escritos que relatam a ocupação humana no território, os mais antigos são relatos de naufrágios, conforme Morais (2001), e datam da época dos descobrimentos marítimos portugueses. Nestes registos, foram anotados vários reinos existentes em redor da actual baía de Maputo. Morais diz-nos que estes reinos eram constituídos por cerca de 500

Figura 1 - Mapa de assentamentos de grupos étnicos no território moçambicano;

No documento Centro cultural Mafalala (páginas 35-40)

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