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7. A SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL

7.7. Os Custos das Edificações Sustentáveis

Construções sustentáveis não necessariamente pressupõem custos adicionais para o construtor, pelo contrário, empresas que já se anteciparam às práticas desses princípios alegam que, em obras de pequeno e médio porte, é possível que os custos sejam menores que os das construções convencionais, como

demonstram as experiências de SATTLER (2007), referendadas no livro “Habitações de baixo custo mais sustentáveis: a casa Alvorada e o Centro Experimental de tecnologias habitacionais sustentáveis”, já em obras de grande porte, quando elevados, os custos não ultrapassam a marca de 5%, e diante dos benefícios obtidos, é totalmente viável (considerando a questão econômica, primeira do ranking de decisão do setor) a construção de edificações ambientalmente corretas e sustentáveis.

Ainda segundo o autor, em um país como o Brasil, com condições climáticas ainda amenas, a arquitetura moderna, comprometida com meio ambiente, já proporciona soluções em projetos que podem otimizar os espaços e aumentar a eficiência energética ao beneficiar de formas passivas de energia, como iluminação e ventilação natural, e uso de estratégias bioclimáticas.

Contudo, é verdade que algumas inovações em materiais, sistemas e equipamentos ainda têm custos maiores, por serem desconhecidos e colocados à disposição do mercado em poucas quantidades. Isso acontece com qualquer produto inovador, independente do uso, no momento do seu lançamento, pois leva algum tempo para chegar ao conhecimento das pessoas, e delas evidenciarem seus benefícios até optarem pela sua aquisição. Mas à medida que a demanda por produtos sustentáveis aumentar, a produção em alta escala e concorrência entre os fabricantes, permitirá a redução de custos aos clientes. Um claro exemplo disso tem ocorrido, por exemplo, com as madeiras certificadas.

O World Business Council for Sustainable Development (WBCSD) ou Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável, sediada em Genebra, na Suíça, é uma associação global de cerca de 200 empresas, que serve como um advogado de negócios para o desenvolvimento sustentável através do crescimento econômico, equilíbrio ecológico e progresso social. Os seus membros são oriundos de mais de 35 países e 20 grandes setores industriais em todo o mundo.

O WBCSD criou um Projeto, que terá três anos de duração, para avaliar os reais impactos ambientais dos edifícios e desenvolver meios para atingir nível zero de energia elétrica para uso edifícios residenciais e comerciais.

O Projeto é co-presidido pelas empresas Lafarge (com sede em Paris, na França, líder mundial em materiais de construção, com posições superiores do ranking em todos os seus negócios: cimento e agregados, concreto e gesso) e a

United Technologies Corporation(com sede em Hartford, uma empresa diversificada que fornece produtos de alta tecnologia e serviços para as indústrias de construção e aeroespacial).Outras empresas participantes são CEMEX, DuPont, EDF Group, Electricité de France, Kansai Electric Power Co., Royal Philips Electronics, Sonae SGPS e Tokyo Electric Power Company.

Nesta primeira fase do projeto foram entrevistadas (1400 líderes do setornuma pesquisa global, e os resultados, divulgados em agosto de 2007, em Genebra, resume a primeira fase do estudo, em um relatório intitulado “The findings are disclosed in a new report titled Energy Efficiency in Buildings: Business Realities and Opportunities”.

Segundo o relatório, os custos de uma construção verde são superestimados em 300%, ou seja, estimaram o custo adicional do edifício verde em 17% acima do convencional, mais que o triplo do verdadeiro custo que é de cerca de 5%. Ao mesmo tempo, os entrevistados indicaram que as emissões de gases de efeito estufa por edifícios correspondem a 19% do total mundial, enquanto que o número real é de 40%, o dobro disso.

Entretanto, os principais líderes do mercado imobiliário e da construção se enganam sobre os custos e os benefícios de edifícios "verdes", criando muita dificuldade para inserir a eficiência energética no setor. Por outro lado, executivos das maiores e mais diversas corporações mundiais já aderiram ao pensamento: Ser “verde”, desenvolver políticas de sustentabilidade que incluem projetos de responsabilidade socioambiental, virou a nova lei de sobrevivência no mercado, e aquele que restringe o impacto de seu negócio aos resultados financeiros de cada fim de mês está fadado ao desaparecimento.

Este pensamento foi evidenciado por meio de entrevistas à gigantescas corporações e divulgadas pela Revista Isto É Dinheiro (Edição 500, 2007), na matéria “Corporações verdes: Empresas descobrem que salvar o planeta é um grande negócio”. Abaixo alguns desses relatos:

"O boom da construção global nos países em desenvolvimento tem criado uma tremenda oportunidade para construir-se diferente e diminuir dramaticamente a demanda de energia. As tecnologias existentes combinadas com um design de bom senso podem aumentar a eficiência energética em 35% e reduzir os custos de aquecimento em 80%”. (George David,

Diretor Executivo United Technologies Corporation Chairman).

"Análise do ciclo de vida mostra que 80% a 85% do consumo total de energia e emissões de CO2 de um edifício vêm do uso de aquecimento, arrefecimento, ventilação e uso de água aquecida por energia elétrica. Se quisermos fazer um impacto nas alterações climáticas, precisamos, portanto, para enfrentar este desafio. Combinar corretamente o material ao projetar um edifício pode reduzir significativamente os requisitos de energia de um edifício, aumentar a sua esperança de vida e garantir um desempenho consistente ao longo do tempo". (Bruno Lafont, Presidente e CEO da Lafarge).

"A fim de alcançar uma mudança significativa na eficiência energética dos edifícios, há uma forte necessidade de políticas de apoio e marcos regulatórios. Governos e autoridades locais precisam desenvolver políticas sólidas". (Bjorn Stigson,

Presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável).

“Se quiserem ter mercados futuros, as empresas precisam cuidar do presente. Quem não compreender isso desde já, ficará no meio do caminho. Em alguns setores, o investimento na agenda de sustentabilidade é necessário até do ponto de vista da continuidade da produção, porque as matérias-primas não são renováveis e já passamos da linha amarela da exploração”. (João Paulo Altenfelder, Consultor brasileiro em

responsabilidade social e desenvolvimento sustentável).

“Os automóveis terão um papel-chave na criação do transporte sustentável no século 21 e a missão da Toyota será fornecer veículos que os clientes possam usar com orgulho e alegria. Para isso, mobilizamos um exército de 285 mil funcionários no desenvolvimento de tecnologias para melhorar a eficiência dos combustíveis, reduzir as emissões de gás carbônico e limitar a dependência do petróleo. Nosso guia de princípios apresentado a eles, defende a coexistência harmônica entre meio ambiente e economia.” (Katsuaki Watanabe, Presidente

do Grupo Toyota - segunda maior montadora de veículos do

mundo).

“A necessidade de reduzir o aquecimento global controlando as emissões humanas de carbono é provavelmente a questão mais importante que enfrentamos como comunidade global. Então, o gerenciamento de energia também precisa ser o maior desafio dos CEOs na era moderna. Já colocamos no mercado uma nova geração de lâmpadas compactas que economizam 80% a mais de energia e geram menos calor que as convencionais”. (Philips Gerard Kleisterlee, Presidente da

Philips - líder mundial em iluminação e campeã no Índice Dow

Jones de Sustentabilidade).

A semelhança entre esses discursos levam as pessoas a questionarem os verdadeiros motivos e intenções dessas organizações em investir e dedicar atenção a programas como esses. Num primeiro momento, percebe-se que não são meras ações de marketing, mas sim visão estratégica de longo prazo, a partir do entendimento de que um negócio só se sustenta com a interdependência entre as

ações de produção, de consumo, da sociedade e da natureza. Esta então passa a ser a base filosófica dos empreendedores, que consequentemente, passam a obter ainda mais vantagens financeiras e reputação junto aos clientes.

“A economia para as corporações tem se verificado principalmente no plano da legislação ambiental. Ser sustentável minimiza os riscos de responsabilização por danos à natureza. Os órgãos estão cada vez mais vigilantes e as condenações podem ser bem caras” (Fernando Nabais Furriela, Advogado especializado em Direito Ambiental e

Ex-Presidente do Conselho Executivo do Greenpeace Brasil).

Ainda segundo os relatos editados nesta matéria da Revista IstoÉ Dinheiro, no mundo atual, corporações que criam os chamados passivos ocultos, como a emissão de poluentes e a produção de resíduos, além de enfrentar dificuldades de prosperar no médio e longo prazos, podem ter prejudicados processos de fusões, aquisições, ou até mesmo de compra por outro grupo. É que, apesar de não aparecerem nos balanços, esses passivos são revelados em auditorias e acabam descontados do valor das empresas.O investidor cobra boa governança.

“O mercado e os próprios consumidores não aceitam uma postura passiva. Fomos o primeiro banco brasileiro a iniciar um programa para neutralizar as emissões de carbono de nossas operações. Incorporamos análises de riscos sócio-ambientais nas operações de financiamento e assessoramos projetos econômicos com base no Protocolo de Kyoto. Na região de Cidade de Deus, na grande São Paulo, onde o volume de gás carbônico chega a 22,3 mil toneladas por ano, o banco plantará cerca de 37 mil árvores da Mata Atlântica e a meta é estender o programa a todas as localidades onde a instituição possui agências. Quase todo o papel utilizado pelo Bradesco (hoje, próximo a 600 toneladas por mês) é reciclado, somos a empresa brasileira que mais utiliza papel reciclado”. (Márcio Cypriano, Presidente do Banco Bradesco).

As matérias-primas rentáveis não são renováveis e a indústria está atenta para isso:

“A Faber-Castell, com a produção anual de 7 milhões de unidade por dia, somente no Brasil, para sustentar essa demanda alta por madeira, a Faber mantém projetos como o Arboris e o Animalis, que valorizam a flora regional e monitoram a fauna presente em todos os parques florestais da empresa. Aracruz e Suzano, que atuam no setor de papel e celulose, plantam eucaliptos em programas de fomento de madeira, ou seja, produzem elas próprias toda a madeira de que precisam para operar, sem danificar a natureza”.(Marcelo Tabacchi, Presidente da Faber-Castell no Brasil)

Ações como essas são bem vistas pelos consumidores, que passam a enxergar o lado social, e não apenas o econômico, das corporações. As retaliações também passam a crescer diante de empresas que agem de modo irresponsável com o meio ambiente, passando a não recomendar e a falar mal da empresa para outros, e ambos, deixam de adquirir seus produtos ou serviços.

Todos esses quesitos têm chamado a atenção das empresas ambientalmente corretas, despertando-as ainda mais para a necessidade de inovação tecnológica, para reduzir a degradação do meio ambiente, aumentar a eficiência e criar produtos mais sustentáveis.

“Em parceria com o Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Baixo Sul da Bahia, o Governo Federal, o Governo do Estado da Bahia e a Associação dos Municípios locais, a Fundação Odebrecht criou o Programa de Desenvolvimento Integrado e Sustentável do Baixo Sul da Bahia (DIS Baixo Sul), que, entre outras coisas, promove educação rural, incentiva a geração de trabalho com conservação ambiental. No projeto Casa Familiar Agroflorestal, por exemplo, tecnologias produtivas e de preservação são passadas para jovens. Todos esses projetos mostram que a sustentabilidade é algo que veio para ficar. É diferente de ação social, é questão de responsabilidade”. (Norberto Odebrecht, Presidente da

Fundação Odebrecht)