7. A SUSTENTABILIDADE NA CONSTRUÇÃO CIVIL
7.5. Técnicas Utilizadas em Edificações Sustentáveis
Além dos materiais, as técnicas utilizadas são também bastante importantes nessas construções, técnicas essas que utilizam a energia solar e/ou eólica, o reúso da água, a reciclagem etc.
As técnicas e materiais podem e devem ser combinados da melhor maneira que convier, para serem utilizados nas inúmeras possibilidades de construções, em qualquer lugar do mundo, de acordo com os recursos disponíveis e os diversos ambientes e climas.
Assim algumas técnicas aliadas a novas tecnologias podem ajudar a preencher alguns requisitos de uma arquitetura mais sustentável. Seguem alguns exemplos na Figura 2 e nos itens abaixo, ainda referenciadas no trabalho de BUSSOLOTI (2008).
Figura 2 –Técnicas utilizadas em edifícios sustentáveis. Fonte: BUSSOLOTI (2008)
a) Sensores de presença ou de movimento
Automação predial e residencial costuma conferir reduções no consumo de energia se bem usados. Um dos aspectos mais viáveis dessa tecnologia são os sensores de presença, geralmente usados em áreas externas, ligam e desligam luzes quando a alguém no local. Evita que lâmpadas fiquem ligadas horas ou noites inteiras sem necessidade. Muito usadas em frente de portões e guaritas, áreas de lazer, halls de entrada e garagens, os sensores de presença já são utilizados em ambientes internos conectados também aos aparelhos eletrônicos, evitando que estes fiquem ligados por muito tempo sem o real uso de alguém.
Os vasos sanitários e torneiras são campeões no quesito desperdício de água. Alguns fabricantes de equipamentos sanitários já disponibilizam no mercado técnicas como sensor de presença para torneiras e duplo acionamento para vasos sanitários. O vaso funciona com meia descarga no caso dos líquidos e vazão completa para sólidos. Alguns modelos mais simples limitam a vazão de seis litros mesmo com o botão sendo apertado insistentemente.
c) Energia solar
A energia vinda do sol pode ser aproveitada de várias maneiras em uma construção. É uma fonte inesgotável, porém não constante. Devido alguns fatores climáticos que encobrem o céu, não há como aproveitar integralmente a captação da luz e, não funciona apenas nos períodos noturnos. Por incrível que pareça a maior produção de energia está instalada nos países de maior latitude. Devido ao alto preço (que começa a ficar mais acessível) e a poucos incentivos, a tecnologia é pouco explorada nos trópicos ou mesmo em localidades próximas ao equador.
O Brasil apresenta excelentes condições em quase todo seu território e pouco aproveita deste recurso. Uma maneira de se aproveitar a energia solar em um edifício é fazer com que o sol seja uma fonte para alimentar sistemas de automação, eletro-eletrônicos ou equipamentos de médio uso. Apesar da absorção irregular, estes sistemas de captação contam com baterias e armazenam a energia. Funcionam através de placas fotovoltaicas, localizadas em algum lugar do edifício onde haja maior incidência da luz solar, geralmente nas partes mais altas (telhados e coberturas).
Como o sistema citado acima, a energia solar pode ser usada também com grande eficácia no aquecimento da água de um edifício. Estes sistemas são parecidos, têm os mesmos princípios de colocação e absorção, mas neste caso as placas coletoras recebem um fluxo de água, ligadas ao sistema de abastecimento da construção.Esta tecnologia pode ser usada para compor o sistema de aquecimento de água de condomínios, residências, escolas e clubes, contam com a vantagem de reduzirem o consumo de energia externa e com a desvantagem de necessitarem de grandes áreas livres para serem instaladas. Porém, cada vez mais, avanços tecnológicos vêm criando placas solares ainda mais potentes.
Figura 3 – Sistema básico de aquecedor solar Fonte: BUSSOLOTI (2008)
d) Energia eólica
Assim como a solar, a energia eólica é uma fonte renovável de energia, intermitente, porém irregular. Usada pelo ser humano, desde as primeiras civilizações, a força do vento é usada nas construções de várias maneiras.
Seja para bombeamento de água, acionamento de máquinas e rotores, moinhos e para transformação em energia elétrica, estes sistemas são pouco conhecidos da população em geral.
Em algumas localidades onde há muito vento, algumas empresas já instalam pequenos geradores eólicos em residências e escritórios.
Como a energia solar, a eólica necessita de baterias que armazenem (para dias sem vento) e depois distribuam essa energia para o edifício. Não é suficiente para fornecer toda força que uma casa necessita, mas colabora com redução de gastos na conta da luz.
e) Reuso da água
Hoje a demanda crescente por água, seja nas construções ou para irrigação na agricultura, faz crescer a necessidade por alternativas que poupem mananciais e mantenham os recursos hídricos através de um planejamento do uso racional e eficiente da água.
O reuso da água, ou a chamada água cinzenta, compreende uma atividade que abrange a minimização da produção de efluentes, perdas, desperdícios e consumo de água nos edifícios. Utilizando uma água de qualidade inferior como a da chuva faz com que grandes quantidades de água sejam poupadas. Tratar o esgoto produzido é outra forma consciente de devolver para o meio ambiente uma água mais limpa ou, até mesmo, para reutilizar em usos menos nobres.
Portanto, para tal, dois processos devem ser considerados:
Captação e armazenamento de água da chuva: Aproveitar a água da chuva pode representar uma economia considerável em edifícios residenciais ou comerciais. Por contar com sistemas simples de funcionamento, apenas exigem espaço para armazenar a água. Geralmente as cisternas, (onde é armazenada a água) são instaladas próximas ao sistema de abastecimento do edifício; mas é importante lembrar que a função de reusar a água da chuva não seja orientada ao consumo humano. Esta água é utilizada para irrigar jardins, lavar calçadas e limpar áreas comuns. Eventualmente, pode ser utilizada para descarga em vasos sanitários.
Mini-estação de tratamento da água: Tratar a água usada em sanitários, cozinhas e áreas molhadas em geral pode representar uma grande colaboração ao meio ambiente, pois elimina patógenos que transmitem doenças e impurezas que ao contato com mananciais prejudicam a qualidade destes. Além disto, é perfeitamente possível que uma água tratada em mini-estações sirva para o reuso. Alguns tipos mais elaborados fazem um tratamento mais completo e são capazes de proporcionar uma água potável ao consumo humano. Normalmente tratam a água usando sistemas biológicos, através de reações aeróbicas e anaeróbicas, utilizando microrganismos, minhocas e plantas aquáticas. São usados em alguns casos produtos químicos para o tratamento, mas numa construção sustentável, a utilização destes produtos deve ser evitada com a intenção de não contar com alguns agentes altamente poluidores.
Existem vários modelos de tratamento de água. Todos exigem certa área para implantação e quando planejadas junto à construção do edifício podem representar
uma economia, segundo dados da ATA (Alternative Technology Association) de até 40% na conta de água.
f) Ar condicionado “ecológico”
Grande campeão de enfermidades, imbatível consumidor de energia e mestre no quesito lançador de gases de efeito estufa, o ar condicionado convencional é muito utilizado nos grandes centros urbanos. A nova geração de ar-condicionados vem para resolver a maioria desses problemas. Usam sistemas evaporativos de funcionamento, deixam os gases estufa de lado para trabalhar com água, fazendo com que os ambientes sejam menos secos, e assim evitando a maioria dos problemas respiratórios. São mais econômicos e podem representar um ganho de até 80% na conta de energia.
g) Permeabilização do solo
Um enorme problema das grandes cidades é a aridez que encontramos em muitas ruas, calçadas, calçadões, estacionamentos, praças e parques, causada pelo uso excessivo do asfalto e do concreto para cobrir o chão. Tais revestimentos muitas vezes utilizados sem critério impermeabilizam o solo, fazendo, por vezes, que a água demore muito tempo pra infiltrar.
Em uma grande chuva, por exemplo, devido à grande quantidade de água que vem, somado ao enorme acúmulo de lixo encontrado nas ruas, faz com que as bocas de lobos e sumidouros entupam, aliado a isso, um solo impermeável não consegue ter uma boa absorção, o solo não consegue drenar o excedente e no final das contas temos mais uma enchente. Lógico que para uma enchente ocorrer são necessários outros fatores, mas a má impermeabilização contribui muito.
Outro aspecto interessante é que, com menos áreas verdes permeáveis, a temperatura dos grandes centros urbanos tende a ser maior. Árvores, jardins e gramados, além de serem ótimos visualmente, são barreiras naturais para as intempéries, filtram o ar e retêm a poeira.
h) Coberturas verdes
As coberturas verdes, os telhados ecológicos ou os jardins suspensos, são muito benéficos para as construções e para as pessoas que nelas habitam. Um teto
verde é uma excelente forma de se proteger acústica e termicamente uma cobertura. Além disso, esta técnica faz com que a poeira em aspersão no ar seja retida e acabam filtrando a mesma. As coberturas ainda ajudam a filtrar a água que vem da chuva, auxiliando no reuso desta.
Figura 4 – Sistema de cobertura verde inclinada Fonte: BUSSOLOTI (2008)
Importante ressaltar que como todas as áreas verdes, uma cobertura desse tipo demanda manutenção adequada, pois, por se tratar de um organismo vivo, esta vegetação cresce e produz um excesso de folhas mortas que por vezes entopem ralos, podem subir nas paredes ou entrar em frestas de janelas e portas.
FIGURA 5 – Cobertura
Figura 5 – Sistema de cobertura verde plana Fonte: BUSSOLOTI (2008)