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Anexo I Meireles: Exportações do Maranhão no período da Segunda Guerra

5 A SUPEREXPLORAÇÃO DA FORÇA DE TRABALHO E A

5.1 Os direitos dos trabalhadores e o salário mínimo no Brasil

O Brasil, por mais de três séculos esteve submetido ao pacto colonial que muitos economistas resumem com a seguinte máxima: “comprar da colônia pelo menor preço; vender à colônia pelo maior preço.” (PIRES, 2010, p.8). A base produtiva desse pacto foi o que se convencionou chamar de Plantation (Jacob Gorender, 1980, chamou de Plantagem), baseada no modelo português de “latifᵈndio, monocultura, produção para exportação e escravidão africana” (PIRES, 2010, p. 10). A Plantagem está na base do sentido da colonização, de acordo com a síntese de Caio Prado Júnior, em Formação do Brasil Contemporâneo –

Colônia (2000 [1. ed. 1942]) onde ele divide a estrutura da economia colonial, formalmente organizada em uma sucessão de ciclos produtivos10, em dois grandes eixos: a concentração de capital (sendo uma de suas consequências a ausência quase que total de mercado interno

nesse período) e o direcionamento da produção para o exterior. Nesse modelo econômico, persistente do descobrimento à abolição não há, na história, o que se falar sobre direito de trabalhadores. Na verdade, esse período pode ser estendido até a década de 1930, encerrando em seu bojo a Colônia, o Império e a República Velha.

Em 1930, o modelo político-econômico da república do café com leite ruiu e a burguesia agroexportadora, especialmente a chamada oligarquia cafeeira, teve que ceder espaço para uma nascente burguesia industrial, sem que nenhuma dessas frações tivesse a hegemonia absoluta. Mas é fato que a área urbana passou a ter mais centralidade que as grandes fazendas e o desenvolvimento industrial, ainda que pela via da substituição das importações de bens-salário, pressupunha o fortalecimento de um mercado interno. A crise

10 Para Prado Júnior, em sua História Econômica do Brasil (1981), os ciclos produtivos se deram, principalmente, em torno da centralidade dos seguintes produtos, em períodos específicos da vida colonial: pau- brasil; açúcar; ouro e diamantes; algodão e café, tendo outros produtos como coadjuvantes nos diversos períodos, tais como tabaco, couros, arroz e outros.

dos anos 1930, com repercussão mais efetiva sobre as exportações de café, acelerou o processo de substituição das importações, pelo deslocamento de capitais para o setor industrial, dentre outros fatores já citados. Mas a situação econômica no começo dos anos 1930 estava indefinida. Não havia, por parte dos que tomaram o governo, um plano pronto e acabado, um projeto de nação para o Brasil.

O governo “revolucionário” adotou inicialmente políticas ortodoxas de contenção de gastos, de crédito e de retração da base monetária, mas o aprofundamento da crise internacional diminuiu drasticamente as exportações de café e estimulou a substituição das importações. Esse fato aumentou a demanda por insumos e bens de capital, e para importar esses itens, o país carecia das divisas do setor exportador. Com este em crise, o Governo teve que mudar sua política econômica na direção de medidas anticíclicas, mas a manutenção do nível de atividade dependia da renda gerada pelo setor exportador, ou seja, o setor cafeeiro era importante demais para se deixar quebrar. Vargas adotou medidas fortes de proteção. Entre 1930 e 1934, o governo retirou do mercado (comprou) mais de 50 milhões de sacas, das quais 34 milhões foram queimadas (PIRES, 2010). Por outra via, a crise cambial (causada principalmente pela fuga de capitais) ocasionou uma forte valorização da moeda nacional que encareceu o preço dos importados, favorecendo assim o desenvolvimento da indústria. Embora essa política pareça mera continuidade, Furtado (1982) adverte que a proteção ao café dada por Vargas no início da década de 30 guardava diferenças profundas com a proteção dada pela República Velha. Esta baseava seu meio de proteção no endividamento externo. Vargas tomou por base o aumento do crédito interno, a emissão de moeda e a elevação da tributação sobre a pauta de exportados, garantido a atividade do setor exportador (ver exportações do primeiro período Vargas nos Anexos).

A queda acentuada nos preços do café foi compensada pelo aumento da produção e exportação de arroz, cacau, cana de açúcar, mandioca e algodão. A renda aí gerada, dada a dificuldade de importação, foi canalizada em grande parte para o mercado interno, beneficiando o setor industrial. Toda essa nova realidade demandava um novo marco regulatório entre os dois polos principais da sociedade capitalista: os detentores do capital e os detentores da força de trabalho. Surge, então, o salário mínimo, baseado, teoricamente, no

salário natural de Ricardo e na teoria do valor de Marx, obviamente, sem fazer referência a nenhum deles.

O salário mínimo foi instituído no Brasil através da Lei nº 185 de 14 de janeiro de 1936, que foi regulamentada pelo Decreto-Lei nº 399 de 30 de abril de 1938. O art. 2º desse Decreto assim o define:

Art.2º Denomina-se salário mínimo a remuneração mínima devida a todo

trabalhador adulto, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço e capaz de satisfazer, em determinada época, na região do país, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte (BRASIL, 1938, não paginado).

A entrada em vigor do salário mínimo ainda esperou dois anos, pois somente com o Decreto-Lei nº 2162 de 1º de maio de 1940, foram fixados os valores do salário mínimo, que então, era regionalizado.

O país foi dividido em 22 regiões (os 20 estados existente na época, mais o território do Acre e o Distrito Federal) e todas as regiões que correspondiam a estados foram divididas ainda em sub-região, num total de 50 sub-regiões. Para cada sub-região fixou-se um valor para o salário mínimo, num total de 14 valores distintos para todo o Brasil. A relação entre o maior e o menor valor em 1940 era de 2,67. (PORTAL BRASIL, 2015, não paginado).

O Decreto-Lei 5452 de 1° de maio de 1943, que instituiu a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em seu artigo 76, refere-se ao salário mínimo da seguinte forma:

Art. 76. Salário mínimo é a contraprestação mínima devida e paga diretamente pelo empregador a todo trabalhador, inclusive ao trabalhador rural, sem distinção de sexo, por dia normal de serviço, e capaz de satisfazer, em determinada época e região do País, as suas necessidades normais de alimentação, habitação, vestuário, higiene e transporte (BRASIL, 1943, não paginado).

Observa-se aí, não o altruísmo do sistema capitalista, mas o seu sentido prático de garantir a produção e reprodução dessa “mercadoria especial” que é a força de trabalho, na linha do “salário natural” ricardiano, além da garantia de um mercado consumidor mantido pelo salário agregado. Já a teoria do valor de Marx mostra que esse equivalente aos meios de subsistência que o capitalista paga ao trabalhador, é de valor menor que aquele acrescentado por este às mercadorias (através do seu trabalho), caracterizando o processo de exploração típico do sistema. Marini acrescenta que na especificidade latino-americana, o valor pago ao trabalhador é, em muitas situações concretas, inferior ao equivalente aos meios necessários à sua subsistência e de sua família e isso, ligado a outras condições e condicionantes, retrata a superexploração.

 BOX 4 - Moedas do Brasil

Nesta etapa da pesquisa é importante a apresentação de um quadro técnico sobre o sequenciamento histórico das moedas utilizadas no Brasil ao longo de sua história. Isso se faz necessário porque, embora o foco da pesquisa seja o período de 1890 a 2010, a análise da economia desse lapso temporal é precedida por um estudo dos antecedentes, que remontam à

França Equinocial e ao início da ocupação portuguesa (século XVII), o que exige uma visitação à expansão ultramarina europeia (portuguesa em especial), passando pela ocupação do Brasil em 1500. De lá até 2010 o Brasil teve nove moedas e elas são citadas ao longo da pesquisa.

Com essas informações ficará mais fácil entender a mudança de símbolos e grafia das moedas ao longo da história do país. Quando, por exemplo, uma tabela apresentar dados entre 1940 e 1945 (onde ocorreu uma transição), até 1941 os dados estarão em réis, sem centavos, e com o “$” antecedendo as ᵈltimas três casas. A partir de 1942, os dados estarão em Cruzeiros, com o símbolo “Cr$” na frente do nᵈmero representativo e este, com centavos. Em muitos textos históricos de períodos anteriores a 1942 encontram-se valores em Contos de réis. Um Conto de réis valia 1.000$000 réis = um milhão de réis = mil vezes um mil réis. E o um mil

réis, que virou unidade monetária (PRADO JR., 1981), foi popularizado com o apelido de

mirréis.

Quadro 2 - Moedas do Brasil: 1500 a 2010

Fonte: Amato, Neves e Russo (2004).

O Quadro acima mostra que as duas primeiras moedas duraram juntas, 467 anos. Com o fim da segunda moeda, o Cruzeiro, em 1967, o sistema monetário só foi conhecer uma “trégua” entre 1970 e 1986. A partir desse ano, a hiperinflação se fez presente e o país só retomou a estabilidade depois de 1994, com o Real. Entre 1994 e 1998 o controle da inflação

Período Moeda Duração (anos) Observações

1500 1942 REAL, conhecida pelo plural réis(Rs ou $) 442

Moeda portuguesa usada no período colonial. Foi mantida após 1822 e até após 1889. Não tinha centavos.

1942 1967 CRUZEIRO (Cr$) 25

Substituiu o réis em 1942, no Estado Novo. Foi a primeira moeda a usar centavos.

Conversão: Cr$ 1,00 (um cruzeiro) = 1$000 (mil réis)

1967 1970 CRUZEIRO NOVO (NCr$) 3 Fisicamente, foi usado o Cruzeiro com carimbo. Conversão: NCr$ 1,00 = Cr$ 1.000,00

1970 1986 CRUZEIRO (Cr$) 16 Sem desvalorização.

Conversão: Cr$ 1,00 = NCr$ 1,00

1986 1989 CRUZADO (Cz$) 3 Conversão: Cz$ 1,00 = Cr$ 1.000,00

1989 CRUZADO NOVO (NCz$) 1 Conversão: NCz$ 1,00 = Cz$ 1.000,00

1990 1993 CRUZEIRO (Cr$) 3

Cruzeiro pela terceira vez. Havia nota de 500 mil Cruzados Novos.

Conversão: Cr$ 1,00 = NCz$ 1.000,00

1993 CRUZEIRO REAL (CrR$) 1 Moeda de transição. Houve carimbos e notas novas. Conversão: CrR$ 1,00 = Cr$ 1.000,00

1994 (01/06) REAL (R$) Já tem 25

ficou por conta da âncora cambial. De 1999 até o limite desta pesquisa (2010), o controle ficou por conta do regime de metas de inflação.

5.2 A crise econômica no Maranhão na transição entre os séculos XIX e XX: uma