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Os Elementos Policiais Não Uniformizados Spotters

4.1. As Entidades Responsáveis pelos Policiamentos Desportivos

4.1.2. Os Elementos Policiais Não Uniformizados Spotters

A crescente utilização de elementos policiais não uniformizados - Spotters - empenhados nos dispositivos policiais afectos aos eventos desportivos tem sido revelador de extrema utilidade e eficácia. Embora o uso destes elementos, para jogos internacionais, venha plasmado, pela primeira vez, na Recomendação relativa a Cooperação Policial n.º 88/1, só após o Euro 2004, houve uma estratégia clara de utilização dum modelo de policiamento desportivo em que fossem inseridos elementos não uniformizados e dotados de missões específicas. A partir dessa data, a sua utilização passou então a figurar em praticamente todos os espectáculos de futebol da primeira liga. Actualmente na PSP, os spotters encontram-se afectos às Unidades Metropolitanas ou Regionais de Informações Desportivas, nos Comandos que apresentem necessidade de possuir uma unidade desta especificidade. Nos restantes Comandos, são elementos da investigação criminal que, esporadicamente, desempenham estas funções.

Cingindo-nos à UMID do COMETLIS, esta foi criada pela NEP/AOS/NI/05/01 de 4 de Outubro de 2006, estando na dependência directa do Chefe da Área de Operações e Segurança, delegada no Chefe do Núcleo de Informações. Esta UMID está subdividida em três secções específicas: Secção de Análise de Informações Desportivas (SAID); Secção de Pesquisa de Notícias (SPN) e em Secções de Policiamentos Desportivos (SPD). Os elementos pertencentes à unidade desempenham funções no âmbito das primeiras duas secções, sendo que, todos eles, e com o apoio de uma bolsa48 de spotters, reforçam a SPD.

Não esquecendo as obrigações genéricas de qualquer elemento policial, o trabalho do spotter passa por, na antevisão do espectáculo desportivo, recolher informações relevantes sobre a organização dos GOA e de possíveis comportamentos menos próprios. A sua actuação não está (nem deve estar) condicionada apenas ao acompanhamento e controlo dos GOA no dia do espectáculo desportivo.

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A bolsa de spotters consiste num conjunto de elementos policiais, com formação em spotting, que exercem funções noutras divisões/serviços do Comando e que reforçam a unidade em dia de policiamentos desportivos.

41 Estando as UMID/URID inseridas nos núcleos de informações dos respectivos Comandos, depressa percebemos que grande parte do seu trabalho (menos visível mas de fulcral importância) é desenvolvido no sentido da obtenção do máximo de conhecimentos acerca dos grupos de adeptos, das suas formas de estar e comportar, e das suas relações com grupos rivais. Embora privilegiem a obtenção de informações de modo directo e observável, não descuram as notícias divulgadas nos meios de comunicação social ou na Internet (cada vez com maior importância nas relações interpessoais e, portanto, uma ferramenta de divulgação de informação potentíssima e de extrema utilidade para o conhecimento prévio de possíveis acções, violentas ou não, dos GOA). Quanto maior for o volume informacional, mais adequada à realidade será a análise de risco. Além disso, um conhecimento prévio dos adeptos de risco tornar-se-á relevante, nos dias de jogo, uma vez que permite ao comandante efectuar um policiamento mais eficaz e direccionado para o problema.

Numa vertente mais operacional, a actividade do spotter diferencia-se dos elementos uniformizados (mais ostensivos) e baseia-se numa interacção, harmoniosa e mediadora, com os adeptos. Apesar de se apresentar não uniformizado, o spotter identifica-se com um colete policial, sendo facilmente reconhecido como tal. Contudo, o facto de não se apresentar fardado é um factor de aproximação e de ganho de confiança por parte dos adeptos49.

No decorrer do policiamento desportivo, os spotters desempenham um conjunto de tarefas, incidindo sobre os grupos organizados de adeptos. Assim, quando é necessário efectuar a "caixa de segurança" aos adeptos dos GOA, ou a adeptos considerados de risco, e em articulação com o restante dispositivo policial (nomeadamente, com o Corpo de Intervenção e com as Equipas de Intervenção Rápida), fazem o acompanhamento dos mesmos nos seus trajectos de e para o estádio, vigiando possíveis locais susceptíveis de perigo para a caixa.

Já no estádio, a vigilância recai sobre as áreas utilizadas por parte dos adeptos de risco, nomeadamente zonas de diversão, áreas de restauração e bebidas ou as sedes dos GOA. A sua presença nesses locais, por um lado, emprega um efeito dissuasor para o cometimento de actos impróprios, por outro, face à sua maior facilidade em dialogar com os adeptos, serve como mediador, não deixando que pequenas desordens ou frustrações descambem para situações de ordem pública.

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Nos vários jogos observados, o facto de estes elementos serem reconhecidos como spotters era um motivo de aproximação por parte dos adeptos (principalmente afectos a GOA), consubstanc iando-se numa espécie de policiamento de proximidade ao nível das operações de segurança em espectáculos desportivos. Tal já não se verificava com os elementos fardados com os quais a interacção e relacionamento são mais distantes por parte dos GOA.

42 Durante o espectáculo desportivo, encarregam-se de vigiar e controlar os adeptos dos GOA, identificando os focos de problemas e os adeptos que cometem alguma infracção à lei. Na presença de alguma infracção, o spotter informa o seu superior, que avalia os possíveis impactos provocados por uma intervenção, sendo que qualquer intervenção na bancada será previamente autorizada pelo comandante do policiamento. Se for possível identificar o transgressor, procedem em conformidade com os procedimentos policiais, levantando os autos a posteriori.

Aquando da realização de jogos com equipas europeias, é usual o envio de equipas policiais para colaborarem com os outros países. Essa troca de informações e a possibilidade de observação da metodologia de trabalho de congéneres europeus permite uma avaliação dos nossos pontos fortes e das nossas vulnerabilidades, permitindo uma evolução nas estratégias de policiamento e em diferentes abordagens na interacção com adeptos de risco.