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Os entraves à execução e finalização dos convênios do Brasil Profissionalizado no

CAPÍTULO IV IMPLICAÇÕES DO PROGRAMA BRASIL PROFISSIONALIZADO

4.1 A EXECUÇÃO DOS CONVÊNIOS DO BRASIL PROFISSIONALIZADO NO PARÁ

4.1.3 Os entraves à execução e finalização dos convênios do Brasil Profissionalizado no

O que constatamos na análise dos documentos de monitoramento da COEP/SEDUC, é que pouco se avançou na execução dos convênios celebrados desde 2008, principalmente, os que foram destinados à construção, reformas e ampliação de espaços escolares, pois demandam mais tempo para execução.

Contudo, a dificuldade no estado do Pará se agravou em função da não dominialidade dos terrenos das escolas que foram conveniadas no Programa Brasil Profissionalizado, como confirmado pela entrevistada G2:

De fato, nós realmente tivemos muita dificuldade (...) com a questão da dominialidade porque uma das coisas que o convênio prevê em reformas e em construção é que a dominialidade dos terrenos sejam do Estado. E nós fizemos algumas opções de municípios dos quais nós não temos a dominialidade dos terrenos, ficou talvez por um processo de gestão pra ser resolvido essa questão, mas não foi possível. E eu acho que isso trouxe uma questão muito desgastante pra equipe que tava, porque você pra alterar um terreno num processo dessa natureza, você tem que fazer vários laudos, você tem que fazer toda uma reestruturação da proposta (G2).

Houve um grande impasse para o andamento das obras de construção e reformas devido ao problema anunciado, o que acarretou no atraso das outras ações, visto que a liberação dos recursos era feita por etapas, considerando-se o percentual de execução e/ou conclusão de cada fase. A esse respeito, a entrevista G2, explicitou o seguinte:

Quando a gente não alcançou os 25% das reformas e das construções no SIMEC, nós ficamos bloqueados de acesso a mais recursos, por algumas obras terem caminhado mais rápidas que outras, nós tivemos um prejuízo aí de temporalidade porque essa obra teve que ficar parada pra esperar a outra caminhar, já que ambas estariam contemplando lá a possibilidade da gente alcançar os 25%. Hoje a gente já recebeu recursos pra retomada das obras, a gente já recebeu mais 25% da parcela que nos cabia, então hoje, ainda assim, só temos 50% do recurso, pra da continuidade ao processo de reforma e de construção (G2).

Entretanto, este entrave à finalização dos convênios não se trata de uma peculiaridade do estado do Pará, pois, como declarou43 o então secretário de Educação Profissional e Tecnológica (SETEC), Eliezer Pacheco: “[...] existe no Brasil, de maneira geral, uma dificuldade grande de execução dessas obras” (BRASIL, 2011).

43 Gravação de entrevista acerca do Programa Brasil Profissionalizado, publicada no site do MEC

No fragmento seguinte, retirado da entrevista publicada no site do MEC, o secretário apresenta a expectativa da SETEC para que as obras, em todos os estados, sejam concluídas e os convênios finalizados:

Na verdade, muito poucas escolas novas foram construídas até agora, embora nós tenhamos aprovado recursos para construção de dezenas de escolas em todo o país. Mas, a nossa expectativa que, a partir de agora nossa ( ), essas obras se acelerem, quase todas elas já iniciaram e tem que ser concluídas, não vamos admitir que fiquem ( ) inacabadas e a nossa expectativa é que ao longo desse ano todo essas novas escolas aprovadas sejam concluídas. É angustiante, mas, às vezes, tu tens o recurso e, entretanto, há dificuldade do estado executar essas obras. Nós temos a expectativa que isso possa ser recuperado, esse tempo todinho, e que ao longo desses anos essas escolas estejam disponibilizadas para a sociedade brasileira (Eliezer Pacheco, SETEC/MEC, 2011).

O recurso do FNDE é descentralizado do Governo Federal aos Estados por meio dos convênios com a realização das transferências voluntárias. Entretanto, a utilização do mesmo ocorre de forma limitada, visto que está atrelado ao que foi determinado pelo MEC, resguardando assim, o seu controle sobre o financiamento do Programa.

O coordenador do Programa Brasil Profissionalizado (SETEC/MEC), Marcelo Pedra, declarou44 que a assistência técnica passou a ser usada como alternativa à descentralização de recursos financeiros, tendo em vista as dificuldades para a realização das compras e aquisições de mobiliários e equipamentos, e o tempo de espera na instalação dos laboratórios, problemas estes já vivenciados em outros convênios implementados pelo FNDE/MEC (BRASIL, 2012).

O que vem a ser a assistência técnica, muitas vezes para se instalar um laboratório numa escola, o mobiliário, um equipamento é necessário que o Estado faça um convênio com o MEC, esse procedimento de convênio, procedimento de compra, para que cada estado possa adquirir seu mobiliário, seu equipamento, muitas vezes é um pouco demorado e muitos estados têm dificuldade de fazer essa compra. Vendo esse problema, o MEC resolveu centralizar a compra desses equipamentos, desses laboratórios e passou a atuar de uma maneira centralizada. O MEC compra o equipamento, compra o laboratório nacionalmente e distribui pelos estados, como contrapartida os estados têm que nos apresentar escolas que tenham capacidade de receber esses laboratórios (Marcelo Pedra, SETEC/MEC).

Apesar da intenção do MEC, anunciada na fala do coordenador, em dar celeridade aos procedimentos citados por meio da assistência técnica, na prática isso não se confirmou

44 Gravação de entrevista acerca do Programa Brasil Profissionalizado, publicada no site do MEC

devido a outros problemas vivenciados pelo Estado que interviram na execução desses convênios, destacando-se as alterações de coordenadores na COEP/SEDUC, o que pode ter levado a morosidade no tratamento dos processos administrativos referentes aos convênios e, consequentemente, ao atraso nos encaminhamentos burocráticos para execução da ação.

A esse respeito, concordamos com a fala da entrevistada G1, no que se refere ao controle dos recursos do Programa Brasil Profissionalizado por parte do MEC:

Eles mencionaram muito essa palavra, os consultores do FNDE, nas explicações iniciais porque, na medida, em que o FNDE vai vivendo os inúmeros programas que já foram executados... então eles viram, por exemplo, esse negócio de passar recursos para o Estado é complicado porque o Estado não usa o recurso na escola planejada e bota o recurso em outra coisa, por mil razões que podem aparecer, e eles queriam muito no Brasil Profissionalizado evitar isso. Se tá planejado para essa escola eles amarraram todos os meios jurídicos de que esse recurso só pode ser gasto nesta rubrica e nessa escola (G1).

Trata-se, na realidade, de mais uma forma de centralização de recursos do Governo Federal, como afirmou o coordenador do Brasil Profissionalizado, no fragmento destacado anteriormente. Isto, porém, remete à questão do controle, que pode ser visto sob dois aspectos diferentes. O primeiro se refere à limitação no uso do recurso, pois fica condicionado ao que o Governo Federal aprova. O outro é que esse controle não permite que os recursos sejam usados com coisas que não foram planejadas, impedindo a utilização dos mesmos em ações totalmente diversas do seu objetivo.

Esse modelo, ao mesmo tempo em que abre possibilidades concretas para as redes estaduais expandirem e consolidarem sua oferta pública de educação profissional, tendo como horizonte o ensino médio integrado, condiciona a participação das secretarias à implementação de uma política vertical, planejada e direcionada pela instância federal.