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OS ESTUDOS DO LETRAMENTO E DO LETRAMENTO ACADÊMICO

Foi somente nos últimos 30 anos que se desenvolveu, no Brasil, um amplo debate em relação ao ensino e à aprendizagem da língua escrita no âmbito das universidades. De acordo com Matêncio (2009), com base nos estudos e nas abordagens de Street (1984) e de Heath (1982), tidos como clássicos ao se tratar desse tema, várias discussões têm sido desenvolvidas no país, focalizando questões sociais, culturais, históricas da apropriação da escrita por parte do cidadão e dos usos que ele faz da escrita. Muito embora as discussões

estejam propagadas na esfera acadêmica, parte expressiva dos universitários, na maioria das vezes, parece alheia a elas, compreendendo letramento como sinônimo de erudição, não acreditando que sujeitos analfabetos possam participar de eventos de letramento na sociedade (CERUTTI-RIZZATTI, 2008).

Estudiosos do letramento buscam definições para o termo, como Kleiman (1995, p. 18) que o define como “o conjunto de práticas sociais que usam a escrita, como sistema simbólico e como tecnologia, em contextos específicos, para objetivos específicos”. Assim, o termo letrameto não surgiu para substituir alfabetização, a aquisição da leitura e da escrita, mas para dar conta dos aspectos sociais envolvidos no uso da escrita em uma sociedade. Em texto posterior, a autora expõe letramento “como as práticas e eventos relacionados com uso, função e impacto social da escrita” (KLEIMAN, 1998, p. 181). Letramento constitui as práticas sociais de leitura e escrita e os eventos em que essas práticas são postas em ação, bem como as consequências delas sobre a sociedade, considerando as próprias práticas sociais de leitura e escrita e os eventos em que elas ocorrem.

Nesse sentido, Soares (2002) busca delimitar a definição de letramento, concebendo-o não como sendo as próprias práticas de leitura e de escrita, mas sim como

[...] o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita, participam competentemente de eventos de letramento. O que esta concepção acrescenta às anteriormente citadas é o pressuposto de que indivíduos ou grupos sociais que dominam o uso da leitura e da escrita e, portanto, têm as habilidades e atitudes necessárias para uma participação ativa e competente em situações em que práticas de leitura e/ou de escrita têm uma função essencial, mantêm com os outros e com o mundo que os cerca formas de interação, atitudes, competências discursivas e cognitivas que lhes conferem um determinado e diferenciado estado ou condição de inserção em uma sociedade letrada (SOARES, 2002, p. 145, grifos da autora).

Nesse sentido, Fischer (2007, p. 25) explica que “estado ou condição pressupõe as relações que indivíduos ou grupos sociais mantêm com os outros”, havendo ainda “as formas de interação, tipos de atitudes e competências discursivas” que contribuem para a inserção do sujeito no universo letrado.

O termo “eventos de letramento” pode ser compreendido em diálogo com a noção de práticas de letramento. Para Heath (1982), “o evento de letramento é qualquer situação em que um portador qualquer de escrita é parte integrante da natureza das interações entre os

participantes e de seus processos de interpretação”9 (p. 93, tradução minha). Barton (2007)

complementa a noção ao afirmar que o evento inclui “quaisquer ocasiões do dia-a-dia em que a palavra escrita tenha uma função10” (p. 35, tradução minha).

Para Soares (2003), os eventos são situações em que a língua escrita constitui elemento integrante da natureza do diálogo entre sujeitos e de seus processos de interpretação. As práticas de letramento, por sua vez, caracterizam-se como atitudes realizadas pelos sujeitos que participam de um evento de letramento, perpassado pelas posturas sociais e culturais que o configuram e que determinam os sentidos da leitura e da escrita em uma situação particular. Apesar da distinção entre eventos e práticas de letramento, Soares (2003) postula que se trata de algo meramente metodológico, pois configuram duas facetas de uma mesma realidade, haja vista que “é o uso do conceito de práticas de letramento que permite a interpretação do evento, para além de sua descrição” (SOARES, 2003, p. 105). Os eventos, assim como as práticas, estão relacionados a aspectos sociais, culturais e históricos.

A partir das definições para letramento, amplio a discussão com as teorias de Street (1984), que estabelece dois modelos de letramento, denominados modelo autônomo e modelo ideológico. No primeiro modelo, concebe-se a produção escrita como autônoma e neutra; já os modos de trabalho com a leitura e com a escrita são tidos como universais, não havendo menção às condições sociais de produção dos enunciados, uniformizando um modelo de letramento para as culturas e não letramentos, tendo em vista o universo heterogêneo das práticas sociais.

Diante disso, pensando no contexto desta pesquisa, é possível conceber as práticas que postulam a homogeneização da escrita acadêmica segundo modelos e padrões, independentemente da área ou da comunidade científica à qual o pesquisador pertence, perpassadas por um viés autônomo de letramento. A escrita é legitimada a partir de normas vistas como comuns a todos, desconsiderando a comunidade assim como o sujeito que a constitui com sua identidade.

Kleiman (2006) postula, então, a necessidade de se repensar a concepção do modelo autônomo do letramento, considerando seu caráter limitado, para que novas práticas de letramento sejam legitimadas. Street (1984), por sua vez, propõe que as práticas particulares e os usos da escrita dependem diretamente do contexto ideológico, fato que permite afirmar que a utilização da escrita não pode ser tratada como neutra, como universal

9 “A literacy event is any occasion in which a piece of writing is integral to the nature of participant’s

interactions and their interpretive processes” (HEATH, 1982, p. 93).

10 “[...] all sorts of occasions in everyday life where the written word as a role. We can refer to these as literacy

ou como um conjunto de técnicas, tendo em vista seu caráter socialmente determinado. Dessa forma, o letramento não pode ser concebido como autônomo, segundo o autor, reafirmando, então, a necessidade de estudo das práticas de letramento que constituem a escrita acadêmica pela análise dos periódicos, de seus artigos e dos discursos que os circundam.

Para Street (1984), o letramento autônomo esconde a complexidade dos fatores envolvidos no âmbito do letramento, sendo assim, propõe o modelo ideológico de letramento, segundo a concepção que defende: “letramento é uma forma socialmente construída [...] [sua] constituição depende de formações políticas e ideológicas, sendo estas também responsáveis por suas consequências11” (STREET, 1984, p. 65, tradução minha).

O modelo ideológico, então, opõe-se ao autônomo, no sentido de que o letramento é concebido como um conjunto de práticas sociais em seus contextos e não mais como habilidades técnicas, de âmbito universal. Assim, os usos da leitura e da escrita dependem de elementos sociais decorrentes dos contextos, fato que possibilita tratar de letramentos e não de um único letramento (STREET, 1984).

Com base em Street (2003), Cerutti-Rizzatti (2009) afirma que os modelos autônomo e ideológico não são dicotômicos, pois este último envolve o modelo autônomo. O modelo ideológico reconhece que as habilidades técnicas (decodificação, no reconhecimento das relações entre fonemas e grafemas e no engajamento nas estratégicas aos níveis de palavras etc.) estão sempre sendo empregadas “em um contexto social e ideológico, que dá significado às próprias palavras, sentenças e textos com os quais o aprendiz se vê envolvido.” (CERUTTI-RIZZATTI, 2009, p. 5).

Logo, na produção científica do artigo em periódicos, por exemplo, há, de um lado, as normas de publicação e de avaliação (conforme destaco na seção 4.2.3), mas há que se considerar também o conhecimento, as questões ideológicas que perpassam as comunidades científicas das quais os pesquisadores participam. Por exemplo, algumas áreas de conhecimento, como a de Saúde, apresentam como um dos requisitos para publicação o fato de “ilustrações, tabelas, gráficos contribuírem para o desenvolvimento do estudo”. Nesse sentido, em uma primeira análise, tais recursos são vistos como técnicas para auxiliar no entendimento do texto por parte do leitor, contudo é preciso considerá-los também no âmbito de suas comunidades científicas. Assim, questiono: por que algumas áreas optam por tais recursos enquanto outras não? Qual o significado disso para a construção do texto e de seus

11 “Literacy […] is a socially constructed form […] depends on political and ideological formations and it is

sentidos? Tais discussões são abordadas no Capítulo 6, que trata da análise dos artigos científicos.

O modelo ideológico de letramento é perpassado por relações de poder, influenciado pelo contexto, tornando-se foco dos Novos Estudos de Letramento (NLS). Trata- se de uma perspectiva de estudo que considera o letramento como prática social, propondo a existência de múltiplos letramentos12. Neste trabalho, o letramento é discutido em uma visão

sócio-cultural em diálogo com os NLS. Para Street (2003), a posição dos NLS destaca o letramento como uma prática social e não somente uma habilidade técnica, neutra, imutável e/ou universal situada no interior dos indivíduos.

O letramento, então, é concebido como práticas sociais presentes em eventos de letramento, entendidos como momentos de interação nos quais a escrita compõe o processo de trabalho dos sujeitos, assim como os diferentes modos de fazer uso da escrita. É por esse motivo que, segundo Rojo (2009), as abordagens mais recentes dos letramentos apontam para a heterogeneidade das práticas voltadas à leitura, à escrita e ao uso da língua/linguagem em sociedades letradas. Este estudo alia-se diretamente a essa postura heterogênea no trato com a linguagem, haja vista que postula o repensar das práticas de escrita acadêmica centradas na unicidade, nas formas mecânicas de construção dos textos. Assim, o conceito de letramento passa a ser plural: letramentoS.

Ademais, o letramento está vinculado a algumas esferas mais dominantes, como as institucionais, e às mais vernaculares, do cotidiano. Conforme Rojo (2010), a partir dos postulados de Hamilton (2002), há os letramentos dominantes, denominados “instituicionalizados”, e os letramentos locais ou “vernaculares”, que estão interligados. Os primeiros se vinculam às organizações formais, como comércio, escola, universidade, dentre outros, tendo como agentes (valorizados tanto cultural quanto legalmente em função do conhecimento) professores, pesquisadores, editores etc. Os letramentos vernaculares, por sua vez, não perpassam sistematização ou regulação de instituições sociais, uma vez que sua origem se dá na vida cotidiana, havendo, muitas vezes, a desvalorização pela cultura oficial.

Ao considerar tais definições e refletindo sobre o objetivo maior desta tese que envolve o trato com periódicos científicos de diferentes áreas de conhecimento, seus artigos e os discursos da comunidade acadêmica, é possível afirmar que tais elementos correspondem aos letramentos dominantes, uma vez que publicar academicamente requer uma relação do

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Esta pesquisa, por tratar de discursos acadêmicos escritos presentes na prática de letramento da esfera acadêmica, especificamente, não desenvolve o estudo mais contundente de tal conceito que é amplamente discutido, por exemplo, por Rojo (2009).

sujeito produtor com sua comunidade científica, com as normas de publicação e de avaliação do periódico, dentre outros fatores, que são regulados e organizados socialmente pela academia e pelas próprias comunidades científicas de cada área do conhecimento. Nesse sentido, os sujeitos cultivam e exercem práticas sociais que usam a escrita, apropriando-se dela, incorporando-a, assumindo-a como sua “propriedade”, assim como postula Soares (2006).

O letramento voltado à academia, para Fischer (2008), trata de formas específicas de pensar, de ser, de ler e de escrever que são peculiares a esse contexto. Além disso, o letramento acadêmico deve ser pesquisado em instâncias discursivas específicas; nesta tese, a instância de produção discursiva é constituída conforme a comunidade acadêmica na qual os artigos científicos presentes nos periódicos científicos são apresentados.

Estudiosos como Lea e Street (1998, 2006) e Jones, Turner e Street (1999) voltam-se aos chamados letramentos acadêmicos. Eles buscam explicitar que as práticas de escrita no contexto acadêmico são variáveis de acordo com o contexto e com o gênero do discurso “e isso exige que o sujeito-pesquisador assuma a identidade acadêmico-científica para melhor se inserir, participar e interagir dentro do discurso acadêmico” (OLIVEIRA, 2010, p. 65).

Nesse sentido, Lea e Street (1998, 2006) destacam três modelos que regem as práticas escritas dos universitários e, aqui, dos sujeitos pesquisadores que buscam publicar: modelo das habilidades, modelo da socialização acadêmica e modelo do letramento acadêmico.

De acordo com Lea e Street (2006), o conjunto de habilidades individuais e cognitivas que os sujeitos devem aprender e desenvolver é denominado modelo das habilidades, concebendo-se a escrita como produto fechado e pronto. Compreender o letramento apenas nessa perspectiva é desconsiderar questões contextuais, centralizando todo o processo de escrita nas capacidades e nas habilidades do indivíduo (LEA; STREET, 2006).

O modelo da socialização acadêmica, por sua vez, prevê que os acadêmicos e, aqui, pesquisadores, devam buscar os usos da escrita que são valorizados na universidade, assimilando os modos de falar, a compreensão da realidade, dentre outros fatores. Os autores se opõem a tal postura, uma vez o âmbito acadêmico é concebido como homogêneo, com normas que devem ser aprendidas, caso contrário, não se tem acesso aos setores da instituição. Nesse modelo, acredita-se que, tendo o aluno “aprendido as convenções que regulam os gêneros do discurso tidos como acadêmicos, ele estará habilitado a se engajar em todas as práticas letradas que permeiam essa instância” (OLIVEIRA, 2010, p. 66).

A abordagem dos letramentos acadêmicos é compartilhada pelos estudiosos dos NLS, envolvidos em pesquisas sobre letramentos acadêmicos, especificamente. Nessa perspectiva, os letramentos são compreendidos como práticas sociais que variam conforme o contexto, as comunidades acadêmicas das quais fazem parte, dentre outros fatores. Lea e Street (2006), na abordagem do letramento acadêmico, consideram a escrita particular, a singularidade do sujeito produtor, sendo influenciado pelos discursos que o circundam, não havendo a simples transmissão de ideias para o texto, conforme os outros modelos postulam. Além disso, Fiad (2011, p. 363), a respeito da escrita dos gêneros acadêmicos, postula que “não é suficiente explicitar como o gênero acadêmico se organiza linguisticamente [...] precisam ficar claros os motivos pelos quais algumas práticas são privilegiadas no domínio acadêmico em detrimento de outras”.

Muitas vezes, principalmente na academia, busca-se o apagamento da figura do sujeito enunciador no texto, tendo em vista o modelo de escrita exigida. Isso se dá basicamente pelo uso de formas impessoais, opondo-se à primeira pessoa (como será evidenciado na análise dos artigos em capítulo posterior), pela escolha de formas verbais, dentre outros recursos, que podem levar o sujeito a sentir-se deslocado em função de não dominar os elementos sociais legitimados.

Os modelos expostos apresentam pontos de divergência, mas são dependentes, haja vista que o produtor de um texto necessita de convenções para regular as práticas de letramento da comunidade científica, sendo relevante o despertar de práticas de leitura e de escrita voltadas ao seu contexto de produção, vislumbrando o engajamento nos modos de utilização da escrita propostos pela área, pela comunidade acadêmica. O fato é que não se torna viável a adesão apenas a um modelo de escrita, pois o escrever academicamente não é uma “habilidade” aprendida somente por meio da “socialização, mas também como uma expressão de valores e crenças culturais e de posições epistemológicas” (OLIVEIRA, 2010, p. 69) que, muitas vezes, permanecem ocultas, misteriosas para os autores.

Esta pesquisa volta-se justamente para a diferenciação entre áreas de conhecimento, mostrando que a produção científica vai além de estruturas prontas e homogeneizadoras, mas que traz em si valores e crenças tanto da comunidade a que pertence quanto do sujeito autor.

Fischer (2007) afirma que o enfoque sociocultural no trato do letramento acadêmico demarca que a comunidade acadêmica é apenas uma dentre tantas outras e os sujeitos, buscando se tornar membro dela, devem “reconhecer o que diz respeito à comunidade – posicionamentos ideológicos, significados culturais e estruturas de poder –, os

quais explicam o funcionamento dos Gêneros secundários” (FISCHER, 2007, p. 47). Noções bakhtinianas, como as de gênero, auxiliam, muitas vezes, nas discussões que abarcam o letramento ou o letramento acadêmico.

No artigo Práticas de letramento acadêmico em um curso de Engenharia Têxtil: o caso dos relatórios e suas dimensões escondidas, Fischer (2011) ilustra exatamente as relações entre questões de gênero e letramento, buscando identificar as principais dimensões escondidas do gênero relatório em propostas que envolvem leitura e escrita. Segundo a autora (2011, p. 40):

Street defende que os gêneros, no contexto acadêmico, não devem ser identificados e caracterizados apenas através de dimensões estruturais e retóricas, mas também através de suas “dimensões escondidas” (STREET, 2010a). Estas são inferidas nas práticas de letramento acadêmico, pois guardam relação direta com questões de identidade, de poder e de autoridade, as quais são decisivas para explicar a natureza institucional do que conta como conhecimento num dado contexto acadêmico. A proposta de Street (2010a) é que essas dimensões deixem de ser depreendidas por alunos apenas através de inferências em práticas de letramento acadêmico. O autor sugere que tais dimensões sejam foco de discussões entre professores e alunos em sala de aula, considerando as particularidades do gênero em uso, tais como: a) enquadramento, b) contribuição/para quê?, c) voz do autor, d) ponto de vista, e) marcas linguísticas e f) estrutura (FISCHER, 2011, p. 40).

Ao considerar tais questões teóricas, Fischer (2011) observou que o curso de Engenharia Têxtil apresenta estreita relação com o campo de trabalho, não possibilitando o contato dos alunos com gêneros, como artigos, ensaios e resenhas. Na realidade, os alunos produzem basicamente “textos de orientação avaliativa, como testes, resolução de problemas (cálculos), exames e relatórios laboratoriais” (FISCHER, 2011, p. 53). Fischer (2011) se opõe à ideia de muitos professores e afirma que há, sim, uma variedade de diversos gêneros para leitura e escrita no curso, contudo com baixo índice de orientação explícita e uso de metalinguagem científica. Essa falta de orientação é explicitada ao se tratar, na seção 4.2.3, das normas de submissão e de avaliação dos artigos dentro dos periódicos científicos.

Tendo por base as discussões acerca do letramento e do letramento acadêmico, destaco, na próxima seção, os postulados bakhtinianos que tratam dos presumidos sociais, como uma forma de discutir principalmente a ideia de “aspectos ocultos do letramento”, focando ainda nas noções centrais sobre gêneros discursivos que darão fundamento para as futuras análises nesta tese.

2.2 CONCEPÇÕES BAKHTINIANAS: RELAÇÕES DIALÓGICAS, VOZES,