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CAPÍTULO I – Das notas sobre o estágio

1. RTP a velha senhora Televisão

1.2 O compromisso com a ficção (uma história de ficção)

1.2.2 Cores vivas da expansão ficcional

1.2.2.3 Os filmes

Um filme é um produto caro, mas é também o produto que, ao ser feito, é idealizado como um produto artístico. É um produto de massas, sim, mas aquele que provoca os sentimentos mais profundos nas pessoas, que explora os limites das coisas. Possivelmente porque havia já esta consciência em 1957, Vasco Hogan Teles fala do filme, no seu livro “RTP dos 50 anos de História” como “preponderante no alinhamento das emissões continuava a ser a programação filmada” (Teves, 2007).

A primeira aparição de cinema português na ‘caixa mágica’ foi a 13 de Março (1957), com “Fado, História de uma Cantadeira”. Até ao final do ano viram-se mais 8 filmes: “Frei Luís de Sousa”, “Canção da Terra”, “A Severa”, “Chaimite”, “Ladrão, Precisa-se”, “Cantiga da Rua”, “Sonhar é Fácil” e “A Canção de Lisboa”, “o filme português mais vezes passado pela RTP” (Teves, 2007).

Mais marcado pelo género documental, o cinema português deu sempre mais cartas nessa variante cinematográfica que não será alvo do meu estudo e que ganhou inclusive alguns prémios internacionais na década de 60, casos dos filmes de Fernando Lopes, que regressava

da ‘

London School of Film Tecnique’ para realizar “As Pedras e o Tempo”, trabalho premiado em Tours (1961), ao qual se seguiu “As Palavras e os Fios” (1962), “com que obteve o prémio Paz dos Reis” e “Belarmino” (1964), a “sua primeira longa-metragem” (Teves, 2007).

Esse balanceamento histórico para o documentário deixou para 1979 “a primeira longa-metragem totalmente produzida pela RTP – “Bárbara”, do realizador Alfredo Tropa, que a filma sobre película de 35 mm., a cores, na região de Aveiro” (Teves, 2007). É isso mesmo. Isto significa que, apesar de ter emitido alguns filmes de ficção na era preto-e-branco, a RTP só produziu, ou apoiou a produção de filmes a partir da era a cores.

página | 34 Nesse mesmo ano, Luís de Pina “escreveu com destino à RTP, ‘Verso e Reverso’”, que depois mereceu o olhar de Hélder Duarte que o realizou e estreou em antena em 1983 (Teves, 2007).

Volvidos três anos, veio o Ano Europeu do Cinema e da Televisão “simbolicamente assinalado pela RTP, a 21 de Março, com a exibição do filme “Um Adeus Português”, de João Botelho” e quinze dias depois foi a vez de “Repórter X”, de José Nascimento, “assim se confirmando o propósito de dar lugar de honra ao nosso cinema na programação” (Teves, 2007).

Coproduzido pela RTP, em 1987, “Era uma vez um Alferes”, foi uma história que contou Mário de Carvalho, cuja ação decorria “algures em Angola, no mato onde a guerra colonial ia deixando um rasto que os homens teimavam em seguir. Esta trilogia que Luís Filipe Costa encadeou em imagens de invulgar força narrativa” (Teves, 2007).

Também com a coprodução da RTP contaram outras três obras da cinematografia nacional. Foram eles “O Meu Caso”, falado em francês, realizado por Manoel de Oliveira e produzido pela Medeiafilmes. Dois anos passados e veio o próximo de Manoel de Oliveira, sob o desígnio de “Os Canibais”, aos quais se juntaram “Os Emissários de Khalom” – de António de Macedo.

Não obstante, em 89 ter-se-ão dado grandes passos para “o casamento do Cinema com a Televisão” (Teves, 2007). Foi esse o ano de “Fados”, uma série de telefilmes produzidos ao abrigo do protocolo SEC/RTP, que “permitiu que realizadores, tanto da RTP como do exterior, dessem curso a experiências de diferentes linhas estéticas, contando, sobretudo, com meios mais largos que os habituais” (ibidem). Fernando Lopes, cineasta, autor de Belarmino (já aqui referido), terá sido o principal municiador do acordo, considerando “Fados” como “um dos “projetos mais inovadores” da altura (ibidem). O primeiro dos telefilmes a passar em antena foi “Voltar”, de Joaquim Leitão, realizador externo da RTP (ibidem). Na mesma situação estavam “Vítor Gonçalves, que levou a cabo o título “Meia-Noite”, Cristina Hauser, com “Longe” e José Nascimento, autor de “Sagres”.

“Os restantes 6 telefilmes da série foram assinados por realizadores dos quadros da RTP: Faria de Almeida (“O Regresso”), Margarida Gil (“Flores Amargas”), Jaime Campos (“A Última Viagem” - 1988), Luís Filipe Costa (“Jaz Morto e Arrefece”) - 1989, Alfredo Tropa (“Luísa e os Outros”) -1989 e Oliveira Costa (“Pau Preto”)” (Teves, 2007).

A passagem da década de 80 para a década de 90 é marcada pelo estreitamento de ligações entre Cinema e da Televisão, para os quais Fernando Lopes enaltece vantagens “que podiam ser partilhadas” lembrando alguns filmes que originaram séries televisivas, como aconteceu com “Aqui d´El-Rei” (1992), de António Pedro de Vasconcelos; “Os Emissários de Khalom” (1988), de António de

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Macedo; “O Repórter X” (1987), de José Nascimento; e “Iratan e Iracema” (1987), de Paulo Guilherme” (Teves, 2007).

Mais próxima ficava também a comunicação entre RTP e o Ministério da Cultura, que em 1996 firmaram “um protocolo de cooperação que se considerou poder vir a envolver uma verba da ordem dos 3 milhões de contos por ano” (Teves, 2007). Este acordo abrangia “obras de ficção (grandes- metragens), documentários e animação”, subsidiados pelo IPACA – Instituto Português da Arte Cinematográfica e do Audiovisual e implicava também, da parte da RTP a promoção “em antena, o cinema nacional” (ibidem).

O primeiro resultado palpável destas tendências e protocolos foi “O Dragão de Fumo” (1999), “produzido e realizado [e adaptado] por Carlos Oliveira, segundo o romance homónimo de João Aguiar” (Teves, 2007). Trata-se de um telefilme dividido em 5 partes “como já antes se tinha visto na RTP 1”, cujo objetivo passava por assinalar a despedida do território macaense “com uma firme convicção de que Portugal saia de um território onde deixava abertas perspetivas de futuro” (ibidem). O filme foi uma coproduzido pela RTP em parceria com a JCDeoliveira.

“Fuga” (1999), um telefilme de Luís Filipe Costa [adaptação e realização], foi outra obra saída dos ‘laboratórios’ da RTP. Baseado numa novela de Mário de Carvalho, com interpretações de Diogo Infante e Margarida Marinho, este telefilme conta a história de um homem que lutava contra o regime ditatorial do Estado Novo, que, sendo depois descoberto pela PIDE (Polícia Internacional e de Defesa do Estado), teve de pôr-se em fuga… no dia que antecedeu a revolução do MFA (Movimento das Forças Armadas).

Intercalada com esta história, mas sem relação direta entre as obras, está a de “Capitães de Abril” (de Maria de Medeiros), que faziam a revolução enquanto outros fugiam do regime. O filme estreou a 21 de Abril de 2000 “em 40 salas de cinema do Continente” (Teves, 2007). Foi mais um filme “ em cuja produção a RTP esteve envolvida” (ibidem). Um ano mais tarde, o filme que conta como foi feita a história da revolução foi exibido na RTP1.

Sobre a produção cinematográfica da RTP sobram ainda duas obras. A primeira é “Mistérios de Lisboa”. Foi uma obra de Raoul Ruiz, adaptado por Carlos Saboga do livro de Camilo Castelo Branco, que contou com o apoio do ICA (Instituto do Cinema e do Audiovisual). Esta produção terá sido uma das melhores obras da cinematografia portuguesa dos últimos anos, com duração de cerca de quatro horas, nas quais o ritmo narrativo vai crescendo linearmente até ao clímax. ‘Mistérios de Lisboa’ conta uma história cruzada entre a vida de um órfão, de uma condessa e de um padre. O filme, considerado

página | 36 por muitos como uma obra-prima, foi depois adaptado a uma série televisiva, tendo conquistado vários prémios internacionais.

A outra é “A Rapariga da Máquina de Filmar” (2012), projeto de André Vieira, que merece o meu destaque por ter sido, quiçá, a produção que mais orgulhou a Academia RTP, sendo, não obstante, a única obra cinematográfica desse laboratório de programas que irei falar de seguida.

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