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Capitulo 2 – Observando a Biblioteca Parque de Manguinhos

5. Os Funcionários

Foram realizadas entrevistas informais com alguns funcionários da biblioteca, especialmente aqueles com que os jovens possuíam mais contato. O objetivo dessas entrevistas era aprofundar o conhecimento sobre a biblioteca e as regras institucionais, bem como compreender a relação dos jovens com os funcionários.

A funcionária “M” foi a primeira a ser entrevistada, logo nos primeiros contatos com a BPM, pois a mesma é responsável por autorizar a realização de pesquisas na instituição. “M” explicitou sua visão sobre o território após a

chegada do Programa de Aceleração e Crescimento (PAC)21. Defendeu que as obras do PAC trouxeram melhorias e maior desenvolvimento para a comunidade; apesar disso, segundo ela, resultou numa perda de identidade, pois moradores foram removidos de suas casas e ruas inteiras deixaram de existir. Segundo “M”, as crianças que frequentam a Brinquedoteca da biblioteca costumam questionar o porquê de sua rua não estar no mapa e nem no Google Maps22. Outro fator mencionado foi o número de comunidades que Manguinhos possui; “M” explicou que determinados locais eram cercados, para não serem considerados como parte do Complexo de Manguinhos, porém após a chegada do PAC e o recebimento de recursos, esses locais passaram a se considerar enquanto parte do Complexo. “M” não especificou quais eram os lugares.

Relatou também que a Biblioteca Parque possui um acervo em Braile que está sendo inutilizado, uma vez que as pessoas que possuem deficiência visual não conseguem mais se locomover de modo autônomo pelo território. Ao abordar as particularidades de cada Biblioteca Parque, informou que a de Manguinhos manteve diálogo com a população e que a Sala “Meu Bairro” é constantemente utilizada pelos moradores para reuniões comunitárias. Quanto aos jovens, explicitou que foram necessárias propostas culturais e esportivas para atraí-los. Desse modo os jovens puderam criar identidade com o espaço; atualmente, segundo “M”, antes mesmo do horário de abertura da biblioteca, alguns jovens ficam em frente à mesma esperando para entrar. A funcionária enfatizou ainda que a mesa de pingue pongue foi fundamental para atrair os jovens e para que eles permanecessem na biblioteca; afirmou a funcionária: “Se tirarmos o pingue pongue, isso aqui já era”. Entrevistei de modo informal outra funcionária – que chamarei de “C”- para saber mais sobre a rotina e as regras da biblioteca bem como sua relação com os jovens. Para ela, “a questão base de se entender o conceito de Biblioteca Parque é realmente o significado da palavra. Por que Parque? Porque antes, o conceito de Biblioteca tem uma coisa de silêncio, da

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O Programa de Aceleração e Crescimento é um Programa do governo federal e foi iniciado em Manguinhos no dia 07 de Março de 2008. Disponível em http://www.conhecendomanguinhos.fiocruz.br. Acesso em 10 Set. 2016.

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individualidade, você e o livro. Eu não “tô” negando nada disso, agora, o parque trouxe a biblioteca para um lugar de convívio, então você vai ver, vai conviver, vai conversar, vai dialogar nos espaços, tem os cursos, tem os sofás, aqui você vai interagir com o outro e interagir com os livros. As estantes não vão ficar fora do acesso porque nas bibliotecas de universidade você diz o tema de referência, você pede o livro no balcão, vem o livro, você fica distante da estante, aqui você fica próximo, você manuseia, vê a posição, a ordem que está organizado e tudo mais; então essa é a coisa do parque, aquela liberdade, sabe? De você interagir. É o excesso de cores, essa martelada no amarelo que a gente tem aqui, a biblioteca é púrpura no lado de fora, é um aquário, é toda cercada de vidro. Tem muitos lugares pra sentar, para ficar confortável, tem ar condicionado, é um convite, você fazer o seu lazer cercado de conhecimento.” De acordo com a funcionária entrevistada, a relação com os jovens é boa e os conselhos devem ser dados na base da “zoação” ou ainda na

linguagem deles; desse modo, eles acatam.

Durante as observações, fui conhecer a sala de leitura da biblioteca, localizada no segundo andar, onde conversei rapidamente com uma funcionária que chamei de “P”; ela perguntou sobre a pesquisa e me parabenizou pela iniciativa. “P” mencionou que estava ali apenas substituindo um funcionário que não pôde comparecer no dia, portanto não poderia me ajudar muito. Mas explicou que na sala de leitura não vão muitos jovens, apenas aqueles que realmente vão fazer trabalhos escolares ou estudar. Segundo “P”, a maioria do público da sala de leitura é de adultos e pessoas que estão estudando para concurso; disse ainda que naquela sala as redes

sociais não funcionam nos computadores.

Conversei com uma funcionária do Cineteatro; a mesma me apresentou ao mediador social da biblioteca – que chamarei de “L”. A funcionária informou que ele poderia me dar informações sobre os jovens. “L” é estudante de Serviço Social e explicou que, quando começou a trabalhar na biblioteca com jovens, pensou na questão da empregabilidade, pois percebia que muitos jovens chegavam até ele com a demanda pelo Programa Jovem Aprendiz ou por emprego. Então, “L” iniciou um trabalho de direcionamento dos jovens para vagas de emprego a partir do contato que realiza com as empresas. O funcionário mencionou que inicialmente sua proposta era voltada para os

jovens, porém os adultos também começaram a procurá-lo. Contou ainda que sua atuação com empregabilidade ficou tão conhecida que foi além do Complexo de Manguinhos, passou a recebeu pessoas de fora do Complexo, com a mesma demanda - o que foi uma grande surpresa para ele.

“L” informou que a demanda maior dos jovens é pelo Programa Jovem Aprendiz. Então o funcionário criou o esquema de entrar em contato com o setor de Recursos Humanos (RH) das empresas para saber sobre as vagas, divulgá-las em sua página numa rede social, - pois segundo “L”, é o local que os jovens mais acessam. De acordo com ele, para os jovens que sabem utilizar internet e possuem currículo, o funcionário apenas repassa a vaga; já para aqueles que não possuem tal conhecimento tecnológico, é necessário criar um currículo e encaminhar para a vaga. O auxílio nesse caso se dá de modo mais aprofundado. Inclusive, quando cheguei até o local onde “L” realiza seu trabalho, havia um jovem sentado com a carteira de trabalho na mão; depois, “L” informou que estava preparando um currículo para ele.

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