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Capítulo 3 Os jovens por eles mesmos

2. Perfil dos Entrevistados

Dentre os jovens, a menor idade foi 14 anos e a maior idade foi 25. A idade que mais apareceu nas entrevistas foi 15 anos, e logo em seguida, 16. De acordo com o Estatuto da Juventude, estão todos incluídos na categoria de jovens.

O estado civil predominante entre os entrevistados foi “solteiro (a)”, apenas dois jovens responderam que possuem um relacionamento com outra

pessoa, sendo este “namoro”.

Um jovem possui uma filha; os outros jovens relataram não ter filhos. O jovem “A.N.”, 18 anos, respondeu: “que eu saiba, não tenho nenhum”.

Em relação à orientação sexual, a maioria dos jovens explicitou ser heterossexual; um deles afirmou que, além de ser heterossexual, não gosta quando algum homossexual fica próximo dele. Dois meninos afirmaram: “sou homem”. É curioso observar que quando os jovens afirmam o fato de ser heterossexual, utilizam o termo “sou homem”. Já as jovens, meninas não utilizaram a expressão “sou mulher”; uma das jovens afirmou: “gosto de homem”, e as outras apenas diziam “sou Hetero”. Dentre os jovens entrevistados, três afirmaram primeiramente: “sou heterossexual” e posteriormente corrigiram, dizendo: “sou bissexual” ou ainda “acho que sou bi”. Nenhum deles disse logo no início que eram bissexuais, o que pode ser consequência de um receio em falar sobre a sexualidade numa entrevista.

Ao abordar a cor da pele, sete jovens se auto definiram enquanto pardos; três jovens definiriam que sua cor de pele é marrom; dois jovens afirmaram ser negros; dois jovens explicitaram ser morenos; uma jovem afirmou ser “misturada” e um jovem disse não ter “nenhuma cor específica”.

Um dos jovens explicou que nasceu quase branco, e que agora é negro, mas no momento em que perguntei, declarou-se pardo. É válido ressaltar que todas as vezes em que essa pergunta foi feita, pude observar que, antes de responder, os jovens olhavam para sua própria pele, depois olhavam para mim. Compreendi que essa atitude poderia expressar duas alternativas: poderiam os jovens estar criando nesse momento um referencial para a resposta, comparando sua cor de pele com a minha, ou poderiam estar olhando para a própria pele antes de responder por não terem o hábito de falar sobre essa questão, principalmente por existir no Brasil o preconceito racial que Nogueira (1985) chama de preconceito racial de marca, pois no Brasil a classificação de cor se dá a partir do fenótipo do indivíduo, não está relacionada apenas a cor mas também aos gestos. O autor define enquanto preconceito racial,

Uma disposição (ou atitude) desfavorável, culturalmente condicionada, em relação aos membros de uma população, aos quais se têm estigmatizados, seja devido à aparência, seja devido a toda ou parte da ascendência étnica que se lhes atribui ou reconhece. Quando o preconceito de raça se exerce em relação à aparência, isto é, quando se toma por pretexto para suas manifestações, os traços físicos do indivíduo, a fisionomia, os gestos, o sotaque, diz-se que é de marca.

(NOGUEIRA, 1.985, p.16)

As respostas sobre a questão escolar estão vinculadas à idade dos jovens. A maioria dos entrevistados está cursando o ensino médio, sendo que dois jovens já terminaram os estudos. Um deles está cursando a modalidade “Acelera”, pois se atrasou nos estudos. Um dos jovens parou de estudar no segundo ano do ensino médio, mas pretende terminar os estudos; e um jovem declarou que pretende fazer faculdade de biblioteconomia. A defasagem idade / série já vem sendo constatada desde o Censo Escolar de 1.998. Segundo o portal do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira): “No ensino médio, a defasagem

idade/série afeta 3,7 milhões, mais da metade dos 6,9 milhões de alunos matriculados nas escolas públicas e privadas de todo o país” (Portal INEP32

.). O documento Guia Manguinhos abordou a educação da seguinte forma

A região de Manguinhos apresenta um baixo nível de escolaridade dos moradores. Segundo informações obtidas no censo 2000, cerca de 70% dos adultos com 25 anos ou mais, residentes no bairro de Manguinhos, apresentavam menos de oito anos de estudo, sendo este tempo insuficiente para concluir o ensino fundamental (nove anos) e apenas 1,55 % dos adultos apresentavam mais de 11 anos de estudos. Da mesma forma, identificamos um percentual de analfabetismo em crianças de 07 a 14 anos (11,11%) bastante superior, quando comparamos com o total de crianças da mesma faixa etária na cidade do Rio de Janeiro (5,89%). Esse déficit de escolaridade se reproduz em todas as faixas etárias.

(GUIA MANGUINHOS, 2010. p. 123.)

O mesmo documento referenciou uma pesquisa feita pelo Guia de Equipamentos Sociais Manguinhos (2001), onde foi revelado que, no local, as escolas ofertavam vagas para o ensino fundamental - portanto, não haviam vagas para o ensino médio. E em 2009 o Colégio Compositor Luiz Carlos da Vila foi inaugurado para atender à demanda pelo ensino médio. A lei 12.796/2013, que altera a lei 9.394/1996 sobre as Diretrizes e bases da educação nacional, apresenta em seu artigo 4º que a educação básica deve ser obrigatória e gratuita dos quatro aos 17 anos, divididas em pré-

escola; ensino fundamental e médio.

Avaliando então a idade escolar dos jovens entrevistados, temos o

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Disponível em: http://portal.inep.gov.br/rss_censo-escolar/- /asset_publisher/oV0H/content/id/20009. Acesso em 8 Nov. de 2016.

“jovem” que relatou ter quase 15 anos, e que está cursando a 8ª série (9º ano) que afirmou que entrará no ensino médio no próximo ano. Dos jovens com 15 anos de idade completos, dois estão terminando o ensino fundamental – com previsão de iniciar o ensino médio no próximo ano e três estão cursando o ensino médio. Entre os jovens com 16 anos; dois estão no médio, e um está na modalidade acelera. Os jovens com 17 anos estão cursando o ensino médio, um deles concluindo e o outro com previsão de conclusão para o próximo ano. Dois jovens, um de 18 e o outro de 23 relataram que já terminaram o ensino médio. Dos jovens com 19 anos de idade; um deles está no ultimo ano do ensino médio e o outro parou de estudar quando estava no ultimo ano do ensino fundamental. Um jovem de 25 anos informou que estudou até o 2º ano

do ensino médio.

Pode-se perceber que, entre os jovens entrevistados que estão estudando, seis deles estão com a idade escolar de acordo com as diretrizes e bases da educação nacional e os outros estão com variação de um a dois anos

de atraso.

É valido ressaltar que esses jovens configuram-se enquanto exceção em relação ao padrão de analfabetismo entre crianças de sete a 14 anos e ao baixo nível de escolaridade dos moradores de Manguinhos, conforme a

pesquisa citada anteriormente demonstrou.

Nenhum dos jovens possui uma profissão. Dois jovens já trabalharam, mas estão desempregados no momento. As ocupações foram diversas: auxiliar de padeiro; trabalho em boate; trabalhos informais na favela; trabalho em gráfica com impressoras; auxiliar de serviços gerais e pedreiro. Dois desses jovens estão procurando emprego. Três jovens dedicam-se à carreira artística. Apenas os jovens meninos relataram já ter tido alguma ocupação, em relação às meninas entrevistadas, todas afirmaram nunca ter trabalhado anteriormente. Enfim, os jovens dão importância à escola, à aquisição de conhecimento e à inserção no mercado de trabalho (Jovem Aprendiz). Realizam leituras, buscam por acesso à informação, realizam atividades extras (como a música, o

ballet, ou a edição de revista).

Cinco dos entrevistados disseram que moram em Manguinhos, quatro jovens moram no Jacarezinho, três jovens moram em Benfica, e os outros disseram: Mandela, Higienópolis, Maria da Graça, ou nos condomínios do PAC.

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