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1. PERCURSO TEÓRICO-METODOLÓGICO DA PESQUISA

1.2 OS INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS DA PESQUISA

Nesse tópico, são delineados os instrumentos de coleta de dados que fundamentam a pesquisa, para a compreensão do objeto de estudo, o Conselho Escolar como uma possibilidade de democratização da gestão da escola pública na perspectiva da construção de uma democracia contra-hegemônica ao modelo liberal, a qual tem como cerne/eixo a comunidade. Essa questão insere-se no contexto marcado por tensões e conflitos, resultante das relações estabelecidas pelos sujeitos que constituem o espaço escolar.

São ressaltados, no processo de construção da democracia no Brasil, os embates e conflitos entre diferentes grupos e/ou forças sociais, e como eles têm reagido às tentativas de pensar a democratização dos espaços na sociedade. O mesmo processo ocorre no espaço escolar. Quando se propõe as negociações em torno das ações que são necessárias ao funcionamento da escola, verificam-se as tensões que são estabelecidas em função de um conjunto de situações políticas presentes no cotidiano da escola.

A experiência como gestora, a qual nos inquieta profundamente, nos leva a estudar esse instrumento político de gestão da escola pública a partir da reflexão que “a busca da pergunta adequada, da questão que não tem resposta evidente, é que constitui o ponto de origem de uma investigação cientifica” (GATTI, 2007, p. 23).

Parte-se da compreensão, sobre pesquisa, como atividade das ciências, de constante busca e movimento, não se esgotando em si mesma, mas em constante construção. É a busca de um conhecimento em construção que combina teoria e dados, pensamento e ação. Dessa forma, compreende-se a pesquisa:

[...] como a atividade básica das Ciências na sua indagação e construção da realidade. É a pesquisa que alimenta a atividade de ensino. Pesquisar constitui uma atividade e uma prática teórica de constante busca e, por isso, tem a característica do acabado provisório e do inacabado permanente. É uma atividade de aproximação sucessiva da realidade que nunca se esgota, fazendo uma combinação particular entre teoria e dados, pensamento e ação (MINAYO, 2010, p. 47).

A pesquisa científica constitui-se de elementos importantes para a compreensão dos dados que possibilita a orientação das atividades humanas. No caso em tela, parte-se do pressuposto que o Conselho Escolar constitui uma possibilidade de democratização da gestão da escola pública.

Assim, propõe-se a realização de uma pesquisa qualitativa, constituída pelos seguintes procedimentos técnicos de investigação: observação, diário de campo e entrevistas semiestruturadas. Compreende-se a pesquisa qualitativa, a partir das definições de Minayo, (2010, 2012), Chizzotti (2011) e Ludke; André (1986). Nessa ótica,

O método qualitativo é o que se aplica ao estudo da história, das relações, das representações, das crenças, das percepções e das opiniões, produtos das interpretações que os humanos fazem a respeito de como vivem, constroem seus artefatos e a si mesmos, sentem e pensam (MINAYO, 2010, p. 57).

Assim, coloca-se a pesquisa qualitativa em consonância com o objeto de pesquisa, por encontrar-se no universo do humano, e tentar apreender as particularidades deste, com o objetivo de compreendê-lo à luz da história, das representações e das relações sociais que se constituem no interior da escola.

A pesquisa qualitativa nos proporciona refletir “com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes” (MINAYO, 2012, p. 21). Sendo possível compreender o universo das relações sociais que são constituídas na instituição escolar. É possível refletir e analisar o problema, propiciando a construção de novas abordagens, estabelecer a revisão e a criação de novos conceitos e categorias no percurso da investigação que se propõe a realizar. A adoção de uma abordagem qualitativa significa “supor que o mundo deriva da compreensão que as pessoas constroem no contato com a realidade nas diferentes interações humanas e sociais” (CHIZZOTTI, 2011, p. 27-28).

Dessa forma, “é cada vez mais evidente o interesse que os pesquisadores da área de educação vêm demonstrando pelo uso das metodologias qualitativas” (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p.11). São características desse tipo de estudo, entre outras: o contato com o ambiente social como fonte de dados; o caráter predominantemente descritivo dos dados coletados e a preocupação com o processo.

Compreende-se a entrevista, como:

[...] uma conversa a dois, ou entre vários interlocutores, realizada por iniciativa do entrevistador, destinada a construir informações pertinentes para um objeto de pesquisa, e abordagem pelo entrevistador, de temas igualmente pertinentes tendo em vista esse objetivo (MINAYO, 2010, p. 261).

Pretende-se, com a utilização da entrevista, colher o maior número de informações possíveis para o entendimento e a análise sobre o objeto em estudo. Escolhe-se a entrevista semiestruturada “que combina perguntas fechadas e abertas, em que o entrevistado tem a possibilidade de discorrer sobre o tema em questão sem se prender à indagação formulada” (MINAYO, 2012, p. 64). Recorre-se às entrevistas para a obtenção dos dados sobre como o Conselho Escolar tem atuado na escola, as propostas que os membros do Conselho têm para efetivar a participação da comunidade escolar no direcionamento das ações da escola e como estas têm sido aceitas ou não pelo conjunto da escola. Como também, outras informações que sejam pertinentes ao entendimento dos sujeitos sobre como o Conselho Escolar tem desenvolvido o seu trabalho. Ainda sobre esse tipo de instrumento de coleta de dados, observa-se que a entrevista semiestruturada:

[...] obedece a um roteiro que é apropriado fisicamente utilizado pelo pesquisador. Por ter um apoio claro na sequência das questões, a entrevista semi-aberta facilita a abordagem e assegura, sobretudo aos investigadores menos experientes, que suas hipóteses ou seus pressupostos serão cobertos na conversa (MINAYO, 2010, p. 267).

Com o uso da entrevista semiestruturada pretende-se coletar as informações que constam das questões previamente elaboradas pelo pesquisador. O objetivo é compreender a atuação do Conselho Escolar e perceber as possibilidades de práticas democráticas de gestão escolar.

Nessa perspectiva, a entrevista é “uma forma de diálogo assimétrico, em que uma das partes busca coletar dados e a outra apresenta-se como fonte de informação” (GIL, 1999, p. 117). Portanto, busca-se, por intermédio das entrevistas, obter um número elevado de informações que possibilite a análise do Conselho Escolar como possibilidade de democratização da gestão da escola pública.

Outro instrumento de coleta de dados consiste na observação. O objetivo de utilizar essa técnica é possibilitar a compreensão da realidade, pois proporciona um contato pessoal com os sujeitos da pesquisa. Assim,

A observação direta permite também que o observador chegue mais perto da ‘perspectiva dos sujeitos’, um importante alvo nas abordagens qualitativas. Na medida em que o observador acompanha in loco as experiências diárias dos sujeitos, pode tentar apreender a sua visão de mundo, isto é, o

significado que eles atribuem à realidade que os cerca e às suas próprias ações (LÜDKE; ANDRÉ, 1986, p. 26, grifo do autor).

O diário de campo constitui outro instrumento de coleta de dados, no qual se pretende registrar todas as informações pertinentes à pesquisa e que favorecerá a compreensão e análise dos dados coletados, tanto nas entrevistas como nas observações. Como também, em outras situações que ultrapassem o âmbito desse outros instrumentos. Portanto,

O diário de campo nada mais é do que um caderninho de notas, em que o investigador, dia por dia, vai anotando o que observa e que não é objeto de nenhuma modalidade de entrevista. Nele devem ser escritas impressões pessoais que vão se modificando com o tempo, resultados de conversas informais, observações de comportamentos contraditórios com as falas, manifestações dos interlocutores quanto aos vários pontos investigados, dentre outros aspectos (MINAYO, 2010, p. 295).

Com base nesses instrumentos de coleta de dados e a partir da construção teórica de Santos (2002, 2006, 2007, 2010, 2011), Santos; Avritzer (2002) e Santos; Meneses (2009), busca-se compreender e refletir sobre o Conselho Escolar, enquanto uma possibilidade de construção de uma democracia contra-hegemônica na gestão da escola pública, a partir do princípio da comunidade.

Apresenta-se a seguir, o roteiro de tópicos que compõem as entrevistas realizadas com os membros do Conselho Escolar.