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OS JOGOS SOCIAIS

No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 54-58)

Recentemente foi descoberto um novo campo dentro da Psicologia, denominado Análise Transacional.

Esse "novo" campo do conhecimento humano veio apenas comprovar certos fatos que já eram conhecidos por todas aqueles que se dedicam à busca espiritual.

A percepção espiritual primeiro e Análise Transacional bem mais tarde, chegaram à conclusão que disputamos constantemente jogos sociais.

Duas são as razões para disputarmos esses jogos: primeiramente, porque nosso desempenho neles agrada o nosso ego e nos dá aceitação social; em segundo lugar, porque isso nos traz a possibilidade de atingirmos a realização de nossos desejos de poder.

A habilidade (inteligência emocional) que possuímos em seguir os padrões sociais (regras sociais - como regras de um jogo) nos proporciona a capacidade de jogarmos bem e conseguir uma vida bem sucedida (pelos padrões da sociedade em que estivermos vivendo).

O fato de possuirmos habilidade para os jogos sociais não tem nada a ver com nossa capacidade de atingirmos uma percepção profunda de nossa vida interior.

Quando nos encontramos de manhã com um de nossos vizinhos e trocamos com ele um diálogo nem sempre estamos realmente interessados nele, nem ele esta especialmente interessado em nós.

Estamos apenas trocando um sorriso amarelo por outro sorriso amarelo.

Muitas vezes nos envolvemos tanto nesses jogos que já não podemos distingui-los de nos mesmos e acabamos por perder contato com nossa natureza interior.

Esses jogos nos levam a um comportamento doentio - daí a sociedade estar doente - e embora nos sintamos extremamente cansados com o jogo, continuamos a jogar.

Podemos até tomar consciência do fato de que estamos apenas disputando jogos, mas nossa maneira de viver cria situações de tensão que parecem impedir-nos de agir de acordo com nossos sentimentos interiores mais autênticos.

Os jogos sociais têm diversos níveis de atuação.

Nos ambientes profissionais eles adquirem uma dimensão tal que a capacidade de manipular os outros, de usar a argúcia e a manha, de ser corrupto e de fazer com que as aparências sejam normais enquanto ocorrem sujeiras subterrâneas, seja aceitável, respeitável e até digno de elogios e admiração.

Há jogos de todos os tipos e para todos os gostos e a atitude geral é mais ou menos a seguinte: "- Como farei para vencer, não importando os meios que uso?".

Ninguém esta muito preocupado com o fato de que alguém ou alguma coisa podem estar sendo destruídos no processo - a única coisa que importa é vencer.

Entretanto, no desenrolar desse processo nos tornamos tensos e a insegurança gerada por nossos próprios atos recai sobre nós.

E no meio de tudo isso não sabemos o que fazermos para nos libertarmos.

Para todo lado que olharmos vemos a dor, a solidão, o medo e a confusão - e ficamos ansiosos para escapar de tudo isso.

Numa tentativa desesperada de fuga (alguns se suicidam no processo), fazemos excursões nos fins de semana e planejamos atividades e divertimentos para nossas mentes.

55 Apesar dessas atividades em que apenas trocamos uma alienação por outra, nosso sofrimento mental e nosso desassossego interior continuam.

Mesmo que realmente decidamos que precisamos mudar e resolvamos percorrer um caminho de desenvolvimento interior, titubeamos, sentindo que precisamos primeiro terminar nosso trabalho, depois abandonar nosso emprego e só depois iniciar a nossa busca interior.

E, no fim, simplesmente nunca chegamos a fazer nada disso realmente.

Certamente temos sonhos bonitos e decentes, mas na realidade, quase nada realizamos em nossa vida espiritual e material.

No mundo todo as pessoas passam suas vidas sonhando com uma vida diferente e espiritualmente desenvolvida, sem fazer nada para tomar uma iniciativa séria nesse sentido.

Uma das razões para o adiamento desse tipo de decisão é que nossa sociedade foi estruturalmente organizada de tal forma que a menos que nos conformemos com o atual estado de coisas, não conseguiremos sobreviver.

Assim sendo, nos sentimos constrangidos e incapazes de tomar as decisões necessárias para mudar nossas vidas. Ainda que comecemos a percorrer um caminho espiritual, isso não quer dizer que continuaremos.

Não porque estejamos a nos impor uma disciplina rígida demais ou acima de nossas forças e sim porque nos falta coragem e confiança.

Ignoramos nossos potenciais para sobrevivermos sobre nossos próprios valores - sempre fomos incentivados pela sociedade a levarmos uma vida dependente.

Não significa que a espiritualidade em si mesma não possua motivações suficientes para nos incentivar a continuarmos a nossa busca, o problema é que para mantermos uma atitude voltada para a espiritualidade entramos em conflito com nosso modo de pensar costumeiro.

As razões de nossas dificuldades é que queremos percorrer ao mesmo tempo dois caminhos diferentes - aquele que nos trás o sucesso no mundo e aquele que nos proporciona uma vida espiritual mais significativa.

O mais provável é que sigamos um caminho espiritual por algum tempo e desistamos assim que esbarramos nos primeiros problemas.

Talvez tenhamos idealizado fantasias e expectativas irreais, talvez percebamos que o simples fato de decidirmos iniciar um caminho espiritual não nos impeça de encontrar muitos dos problemas e hábitos que supúnhamos tivessem sido deixados para trás.

Sempre haverá uma diferença significativa entre nossas expectativas e nossa experiência real e, às vezes, por não nos apercebermos disso, chegamos à conclusão que o tempo que dedicamos a nossa busca espiritual foi perdido.

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IDEOLOGIA

Tudo na vida é uma questão de ideologia, até mesmo a busca ou não da espiritualidade.

Quando você era uma criança, teve a necessidade de adquirir um sistema de valores que lhe permitisse sobreviver ao mundo a seu redor.

Esse sistema de valores (que mais tarde acabaria por compor sua ideologia) lhe foi imposto de fora, a partir dos critérios de julgamento de seus pais, professores e outras pessoas que, de alguma forma exerceram alguma influencia sobre você.

Pare um minuto e considere que todas as influencias que lhe venham de fora na intenção de fazer a sua cabeça, são alienantes.

A palavra alienação deriva do termo "alien" que significa aquilo que vem de fora. Quando conceitos, atitudes e procedimentos nos são impostos a partir de outras pessoas, temos sempre a opção de aceita-los ou não.

Caso os aceitemos sem vivencia-los, sem que os tenhamos encontrado através de nossa experiência pessoal, estamos nos alienando.

A palavra ideologia contém em si dois termos, a saber: idéia e lógica.

Idéia é uma percepção personalizada; com isso quero dizer que ela surge de sua concepção, de sua ideação da realidade.

Para facilitar o raciocínio, aceite por hipótese, que o termo ideologia seja um sinônimo dos valores que você determinou para si mesmo como sua filosofia de vida.

Ora, suas idéias são exclusivamente suas, mesmo vivendo num mundo em que a televisão e outros meios de comunicação tentam fazer a sua cabeça, a última palavra é sempre sua e você decide até que ponto aceita essas influencias.

Desde que, a partir de uma informação vinda do exterior, você vivencie um fato e passe a construir um determinado critério pessoal a respeito desse fato, você está adotando uma ideologia.

No entanto, se ao invés de construir um critério próprio você aceitar junto com as informações que lhe vêem do exterior uma avaliação que não seja a sua, então você estará se alienando.

Com isso, poderá concluir que você só terá uma ideologia se ela partir de si mesmo, de sua própria avaliação da realidade, de sua própria maneira de ver o mundo, de sua víscera, de dentro de si mesmo.

E tudo o mais que tentem lhe impor ou que, pior ainda, você aceite sem vivenciar, será exclusivamente alienação.

Quando descobrir em si mesmo um antagonismo interior entre seus desejos com relação ao sucesso no mundo e sua busca de espiritualidade, verifique quais os pontos em seu sistema de valores (sua ideologia) que estão em conflito com seus desejos.

Localizado o ponto, reconstitua os meios de que se valeu para adota-lo, verifique atentamente se os valores que lhe serviram de base eram autenticamente seus ou se eram de alguma forma impostos (ou aceitos sem o crivo de sua vivência pessoal) de fora.

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Fazendo essa auto verificação você não só descobrirá as razões que estão por trás dos empecilhos à sua busca espiritual, como também caminhará com passos certos em direção a seu autoconhecimento.

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