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PRIMEIRA NOBRE VERDADE: TUDO É DOR

No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 63-67)

Quando comecei a estudar o Budismo, a Primeira Nobre Verdade me pareceu exagerada, eu ainda não estava preparado para entendê-la e não me parecia que Tudo é

Dor.

Como eu ainda me percebia como uma individualidade separada das outras pessoas e como em alguns momentos me sentia feliz e vivenciava experiências que me eram agradáveis, não conseguia entender como Tudo é Dor.

Foi apenas após muitas meditações e com o amadurecimento que a vida trás que comecei a perceber quão verdadeira é a Primeira Nobre Verdade.

Evidentemente que, fiel aos meus princípios de não me deixar levar pelos textos e sim, ouvir a voz do meu coração, sei apenas pequena parte dessa verdade e vou descobrindo cada vez mais à medida que vou vivenciando a realidade da vida.

Isso significa que você também, pode ir descobrindo cada vez mais a profundidade de cada uma das Quatro Nobres Verdades, à sua maneira, no seu próprio ritmo, através das experiências que for vivendo.

Recorrendo ao método de Jesus e de Buda, que usavam de parábolas e metáforas para transmitirem os ensinamentos mais profundos, vou transcrever a seguir alguns exemplos de como percebo a Primeira Nobre Verdade: Tudo é Dor.

Primeiro Exemplo:

Maria é uma bela moça morena, de cabelos longos, lindos olhos e sorriso gentil. Na pequena cidade em que mora muitos rapazes suspiram pelo amor e pela atenção de Maria.

Dentre eles, há cinco que estão perdidamente apaixonados por ela. São eles: o José, o João, o Roberto, o Antonio e o Dagoberto. Maria faz a sua escolha e se casa com Dagoberto.

Dagoberto sente-se o mais feliz dos homens e por isso não consegue acreditar que

Tudo é Dor.

Mas no mesmo momento em que Dagoberto se sente feliz, o José, o João, o Roberto e o Antonio estão sofrendo muito, estão tristes e de coração partido, para eles Tudo é Dor.

Segundo Exemplo:

Milton gosta muito de fumar e acabou de comprar um maço de cigarros; colocando- o no bolso da camisa.

Vai andando pela rua satisfeito, sente-se feliz, se lhe disséssemos que Tudo é Dor ele não acreditaria em nós.

Só que à medida que vai caminhando, o maço de cigarros cai de seu bolso, sem que ele o perceba.

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Pouco depois passa por esse mesmo caminho o Edson, que não fuma, vê o maço de cigarros e o chuta para o lado continuando sua caminhada.

Pouco depois do Edson, passa por ali o Manoel e encontrando o maço diz: "- Oba! Novinho em folha! Sou um homem de sorte!".

Manoel, que gosta de fumar, apanha o maço do chão e sente-se feliz, se você disser a ele que Tudo é Dor, ele rirá na sua cara.

Nesse mesmo momento Milton resolve fumar um cigarro, põe a mão no bolso e descobre triste e com raiva que perdeu aquilo que lhe causa apego, para ele nesse momento

Tudo é Dor.

Terceiro Exemplo:

Laura entra numa lanchonete e pede um suco de laranja; ela gosta muito de suco de laranja e toma uns três copos por dia - este suco que acabou de pedir já é o terceiro de hoje.

Laura está satisfeita e vai tomar o suco que gosta, se você lhe disser que Tudo é

Dor, ela vai zombar de você.

Enquanto espera o suco ser preparado, começa a ler um artigo sobre a Macrobiótica que foi publicado numa revista.

Esse artigo menciona que se a produção de laranja mundial fosse dividida pelo número de pessoas, caberia a cada pessoa apenas três laranjas por ano.

Ela acha curiosa essa informação, presta atenção no rapaz que prepara o suco e nota que só para preparar o copo de suco que vai tomar, foram usadas três laranjas; toma o suco, sai da lanchonete feliz da vida e vai cuidar de seus afazeres; nem se lembra mais do que leu.

Mas em algum lugar do mundo três pessoas não poderão experimentar uma laranja sequer durante todo este ano.

Perceba como Tudo é Dor.

Quarto Exemplo:

Zacarias é um bom homem, trabalhador, honesto, bom pai, bom cidadão. Só que Zacarias tem um vício, ele gosta de prostitutas.

Mesmo sendo casado, Zacarias separa uma parte do salário e uma vez por semana vai ao prostíbulo onde transa com a Tábata, sua prostituta favorita.

Zacarias não liga pra isso, já se tornou um hábito e ele prefere não pensar muito a esse respeito.

Toda vez que vai ao prostíbulo se sente muito feliz e se você lhe disser que Tudo é

Dor ele lhe dirá que você só pensa assim porque não sabe se divertir.

Tábata não gosta de Zacarias, tem verdadeiro nojo dele, mas quando ele chega ela sorri e finge gostar dele porque precisa do dinheiro dele para cuidar de sua mãe que é cega e não pode mais trabalhar e de sua filhinha que está no hospital.

Ela detesta trabalhar como prostituta, mas não sabe fazer outra coisa e o emprego de doméstica ou balconista, que são os únicos que consegue, não pagam o suficiente para que consiga sustentar a mãe e a filhinha.

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Para ela é muito sofrido o trabalho no prostíbulo e durante as horas em que ela o faz

Tudo é Dor.

Quinto Exemplo:

Dona Nair é a mãe do Fernando e o ama muito e sofre todos os dias quando ele sai da favela e vai para as ruas, ela sabe que o filho é um marginal viciado em crack, que não gosta de trabalhar e que consegue dinheiro assaltando as pessoas.

Dona Nair teme pela vida dele.

Já lhe deu muitos conselhos, mas de nada adiantou, agora ela reza todos os dias por ele e pede a Deus que o proteja e que o leve ao bom caminho.

Dona Nair não tem muito tempo para cuidar de Fernando, pois foi abandonada pelo marido e lava roupa para fora e faz faxina o dia inteiro, para poder cuidar de seus outros oito filhos pequenos.

Para ela Tudo é Dor.

Fernando gosta da vida que leva e se sente o rei da malandragem quando assalta alguém e “descola uma grana” para comprar tóxico.

Vai levando a vida num “lero” e se você disser a ele que Tudo é Dor ele vai lhe dizer que a vida só é dor para quem é otário.

Ele não percebe que o grande otário é ele mesmo.

Espero que com estes exemplos você tenha conseguido perceber, como eu percebi que realmente Tudo é Dor e que aquilo que causa prazer e felicidade a uma pessoa, pode estar causando necessidade e infelicidade a outras pessoas.

Note que quando Buda afirma que Tudo é Dor, ele sabe que muitas pessoas experimentam momentos de prazer em suas vidas.

Na realidade, Tudo é Dor não porque seja impossível o prazer e a felicidade e sim porque as pessoas colocam suas possibilidades de prazer e felicidade nas coisas e nas pessoas ao invés de colocar em si mesmas.

Se, para que você tenha prazer e felicidade, depende das coisas e das pessoas, alguma coisa pode acontecer que o impeça de ter as coisas e as pessoas que você deseja e isso pode fazer com que se sinta infeliz.

Você entenderá isso melhor quando meditarmos a respeito da Segunda Nobre

Verdade logo a seguir.

Note que o José, o João, o Roberto e o Antonio, prefeririam terem se casado com a Maria, no lugar do Dagoberto.

Note que o Milton preferiria não ter perdido o maço de cigarros.

Note que as três pessoas ao redor do mundo teriam preferido que a Laura não gostasse tanto de suco de laranja (ou que a produção mundial aumentasse).

Note que o Zacarias preferiria que a Tábata gostasse realmente dele e a Tábata preferiria não ter que ser uma prostituta.

Note que a Dona Nair preferiria que o Fernando fosse um rapaz decente e trabalhador e que o Fernando preferiria que sua mãe não “pegasse tanto no seu pé”.

66 Todas essas pessoas colocaram a expectativa de felicidade em coisas, circunstâncias e pessoas que não lhes pertencem!

Lembre-se sempre que só lhe pertence o seu pensamento, as suas ações e as coisas

que dependem de seus pensamentos e suas ações.

Para uma pessoa que não compreende verdadeiramente isso; que não consegue criar atitudes mentais que lhe permitam administrar confortavelmente esse estado de coisas, Tudo é Dor.

Procure meditar no que acabou de ler e antes de prosseguir, procure observar como o que lhe causa prazer, pode estar causando dor a alguém.

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No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 63-67)