• Nenhum resultado encontrado

PALAVRAS FINAIS:

No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 102-105)

Sem autodisciplina nenhuma forma de desenvolvimento mental vai longe. Disciplina vem do latim = disciplinare = ensinar alguma coisa a si mesmo.

Autodisciplina é ensinar-se a agir e a pensar em direção aos objetivos previamente determinados e evitar agir e pensar em direção contrária a esses objetivos.

A autodisciplina não é um fim em si mesmo, é um meio para se atingir um fim.

Existe diferença entre necessidade e desejo.

Necessito apenas das coisas que são essenciais a minha existência como pessoa. Desejo coisas que me dão prazer.

Quando não sei que uma determinada coisa pode me dar prazer, não a desejo. Se experimento uma coisa que me dá prazer, então passo a querer tê-la novamente - isso é desejo.

Nem sempre o que desejo é uma necessidade.

Nem sempre o que é uma necessidade, significa prazer para mim.

O desejo antes de se tornar real em minha mente, foi objeto da atenção de meus sentidos.

Controlando meus sentidos posso manter meu desejo sob controle também.

Quando não desejo uma determinada coisa e a vejo, isso não altera meus sentimentos internos.

Quando desejo uma determinada coisa e a vejo, isso aumenta meu desejo e cria uma ansiedade dentro de mim até que esse meu desejo seja satisfeito.

Se não consigo satisfazer a esse desejo, surge a frustração dentro de mim. E a frustração é dor.

Se me recuso a olhar para alguma coisa que me desperta o desejo, consigo manter meu desejo dentro dos limites de minha capacidade de autocontrole.

Esse é um esforço pequeno, mas pode ser suficiente para controlar meu desejo e evitar a dor (da frustração de não ter o que desejo).

Mas, melhor do que me recusar a olhar para alguma coisa que me desperta o desejo é olhar sem apegar-me.

Minhas emoções se manifestam como conseqüência de meus desejos.

Quando elevo minha voz e falo de forma irada, estou elevando minha voz porque há ira dentro de mim.

E a ira surge de uma frustração, e a frustração surge de um desejo que não consigo realizar, e isso me ensina que se não houvesse o desejo, eu não ficaria irado.

103 É dor perder o autocontrole e elevar a minha voz.

É dor para mim, a dor que provoco nas outras pessoas com a elevação da minha voz.

É dor ter que me desculpar depois de ter perdido o controle.

É dor ter permitido que as emoções tomassem conta da minha mente, a ponto de elevar a minha voz.

Quando uma frustração faz surgir à ira dentro de mim a ponto de me fazer erguer minha voz, o erguimento de minha voz me faz ficar ainda mais irado, pois tenho agora duas frustrações: a primeira de ter erguido a minha voz; a segunda de me tornar consciente de que ao ceder a minha ira, cedi a meus desejos e me tornei o responsável por minha própria dor (frustração).

Quando a despeito de uma frustração consigo manter minha voz suave, isso elimina a segunda frustração que é conseqüência da primeira e já é um primeiro passo para transcender a minha ira e compreender qual o desejo que a gerou.

O maior problema no caminho do autodesenvolvimento não está em compreender seus princípios e sim em colocá-los em prática.

Por essa razão construí como meu lema básico a seguinte frase:

"O que sei não tem valor algum; o valor está no que faço com o que sei."

Existem três maneiras de você se incentivar a prosseguir no caminho de seu auto aperfeiçoamento.

São três formas de auto motivação:

PRIMEIRA: Autogratificação - quando cumprir seu programa de autodisciplina se recompense com alguma coisa que lhe agrada.

SEGUNDA. Autopunição - quando não cumprir seu programa de autodisciplina, puna-se se impondo alguma coisa que lhe desagrada ou tirando pequena porção daquilo que lhe agrada.

TERCEIRA. A virtude é a recompensa de si mesma.

Se você não se decidiu a respeito de qual das três usar - precisa meditar a respeito. Os antigos gregos praticavam o Hedonismo que era a busca do prazer.

Não me consta que alguém busque a dor, a menos que seja masoquista.

Não sei de nenhum sistema filosófico que buscasse a dor e quando alguma determinada religião busca a punição como uma forma de controle do pecado e chama essa punição de sacrifício, está desvirtuando o sentido do que é sagrado (sacreficare).

Existem dois tipos de prazer: conseguir aquilo que agrada e se livrar daquilo que desagrada.

104 Tenho dor quando não consigo aquilo que desejo; tenho dor quando perco aquilo que desejo etc...

Além da dor física, existe também a dor mental.

A dor mental de não conseguir aquilo que desejo, pode ser chamada de frustração. A dor mental de perder aquilo que desejo também pode ser chamada de frustração. Quando analiso mais profundamente percebo que a frustração não é causada realmente por não conseguir o que desejo ou por perder o que desejo; a frustração é causada por desejar aquilo que não necessito.

Ao me frustrar em relação a algum desejo, gero dentro de mim ansiedade, ressentimento e orgulho.

Gero ansiedade dentro de mim quando tenho pressa de obter aquilo que desejo; quando acho que posso perder o que desejo; quando constato que não conseguirei o que desejo.

Quanto mais desejos tenho, mais ansioso fico.

Gero ressentimento dentro de mim quando me magoo (frustração) contra as pessoas ou coisas que se colocaram como obstáculos entre mim e a realização de meus desejos.

Ressentir é sentir outra vez, sentir outra vez, sentir outra vez.

Gero orgulho dentro de mim quando me espanto das misérias humanas estarem acontecendo para uma pessoa como eu que não procura o mal de ninguém (e aí estou procurando o meu próprio mal).

Gero orgulho dentro de mim, quando me permito demonstrar meus conhecimentos diante de outras pessoas, quando não solicitado.

Gero orgulho dentro de mim quando adoto atitudes de autoafirmação; de conquistar e de manter prestígio e quando sinto prazer quando alguém se refere a minha importância.

Como percebo que abrigo em mim atitudes de ansiedade, ressentimento e orgulho? Percebendo se fico ansioso, se sinto aversão a alguém ou a alguma coisa e se me engano supondo-me importante.

O ponto de partida para encontrar forças dentro de mim para transcender essas forças negativas (que não existem de per si, pois eu mesma as gero), é a prática da Senda Reta.

Ao praticar os ensinamentos deste livrinho você estará praticando um Budismo salutar, bem próximo daquele que Gautama ensinou ha mais de dois mil anos e com certeza bem mais decente do que esse budismo religioso que está fazendo com que marmanjos, que se intitulam monges budistas e vestem vestes açafroadas estejam trocando sopapos em busca de poderes e méritos egoísticos.

105

BUDISMO TRANSFORMACIONALISTA

No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 102-105)