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PRIMEIRO PRINCÍPIO: COMPREENSÃO CORRETA.

No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 75-78)

Compreensão Correta pode ter muitos significados; para mim significa compreender as três primeiras Nobres Verdades.

Mas não significa uma compreensão passiva; quando digo "compreender" estou me referindo ao desenvolvimento da capacidade de aplicar no dia a dia as três primeiras Nobres Verdades, por meio de uma transformação dos pensamentos que se manifestam através de atitudes, ações e hábitos.

No momento em que a Compreensão Correta começa a fazer parte da minha vida, começa a se manifestar nos meus atos e nas minhas atitudes.

Existe também outro ângulo; - passo a perceber as consequências da falta da Compreensão Correta nas vidas das outras pessoas.

Quando vejo alguém sofrer porque se apegou a alguma coisa que não lhe pertence, percebo que essa pessoa sofre porque quer que seja sua uma coisa que não lhe pertence, aprendo então a me desapegar ainda mais e tenho a oportunidade de avaliar o quanto fui abençoado ao conhecer as Quatro Nobres Verdades, que me libertaram desse sofrimento.

Isso tudo é Compreensão Correta para mim, mas há ainda mais uma coisa.

Quando percebo o quanto as outras pessoas sofrem por desconhecerem as Quatro Nobres Verdades, meu coração se enche de compaixão por elas.

Passo a aceitar melhor os seus defeitos e erros, pois compreendo que erram porque não tiveram a oportunidade que tive.

Procuro então incentivar essas pessoas a desenvolverem suas percepções internas e o desapego (essa também foi a razão de me decidir a escrever este livro).

Foi agindo assim que compreendi o sentido da palavra Bodhisattva.

Existem duas palavras de expressão excepcional no Budismo; são elas: Buda e

Bodhisattva.

Buda é todo aquele que vivencia plenamente a Compreensão Correta, aplicando em cada um de seus mínimos gestos, as Quatro Nobres Verdades.

O estado búdico, atingido pelos que praticam as Quatro Nobres Verdades é chamado de iluminação - a palavra "Buda" (como já vimos) significa "aquele que é iluminado".

Bodhisattva é um Buda que compartilha seus conhecimentos com as outras pessoas para que elas também tenham a oportunidade de se iluminarem.

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Na Índia existe uma lenda a respeito de um homem que se dedicava profundamente à busca espiritual e que revelava tão profunda caridade e amor em sua vivência do dia a dia, que o próprio Shiva (um dos Deuses da Índia) o procurou e lhe ensinou um Mantra sagrado que ao ser pronunciado uma só vez, conduziria qualquer pessoa à iluminação.

Mas esse homem foi advertido que não deveria ensinar esse Mantra a pessoa alguma, sob pena de se prender a um castigo eterno.

Nem bem ouviu o Mantra, esse homem agradeceu a Shiva e correu para a janela de sua casa, escancarando-a e ensinando o Mantra às pessoas que passavam pela rua.

Diante da ira de Shiva que o admoestou a respeito da advertência que fizera, justificou-se afirmando que mesmo diante da perspectiva de um castigo eterno, a felicidade de ter contribuído para a iluminação dos outros homens era prêmio suficiente para sua atitude.

Compreendendo a profunda caridade que havia no coração desse homem, Shiva o perdoou.

Esse é o verdadeiro conceito de Bodhisattva - compartilhar o que é útil.

Enquanto aquele que se torna Buda está fazendo um bem para si mesmo (e por extensão, para as pessoas que com ele convivem), o Bodhisattva não se contenta em iluminar a si mesmo, quer participar ativamente da iluminação de seu próximo!

Puxa que coisa magnífica!

Esse é o verdadeiro herói, essa é a pessoa que verdadeiramente compreendeu o ensinamento de Buda!

Quando encontro alguém assim, meu coração se enche de alegria e chega a vir lágrimas a meus olhos - esse sim é um exemplo digno de ser seguido.

Mesmo que, para se tornar Buda a pessoa tenha que adotar uma atitude ativa, ser Bodhisattva é adotar uma atitude ainda mais ativa, participante, compartilhadora!

Li em algum lugar que a Doutrina Espírita afirma que Bezerra de Menezes desencarnou e tinha méritos morais suficientes para passar para esferas espirituais mais evoluídas, mas preferiu permanecer próximo à terra, trabalhando na assistência às pessoas encarnadas que oram por seu auxílio e amparo.

Não sou espírita, mas o exemplo de Bezerra de Menezes sempre me comove, pois está de acordo com aquilo que entendo por Bodhisattva.

É por essas razões que incentivo as pessoas a praticarem o NISKAMA KARMA. Também faz parte da Compreensão Correta, compreender que cada ação gera uma conseqüência proporcional - essa é a Lei do Karma.

A Lei do Karma afirma que quando você faz o bem, quando você compartilha o que é bom (atitude do Bodhisattva), está contribuindo para tornar melhor o mundo ao seu redor e isso faz com que as bênçãos caiam sobre você.

NISKAMA KARMA significa "Ação Desinteressada".

Quando você compartilha com alguém os conhecimentos contidos neste livro, por exemplo, você está indiretamente contribuindo para a evolução dessa pessoa e tornando o mundo um bocadinho melhor.

77 Evidentemente, que a Natureza, sábia como é, traz benefícios adicionais à sua vida, como conseqüência de qualquer NISKAMA KARMA que você pratique (por menor que seja).

Isso é viver no espirito do Bodhisattva.

Pessoalmente procuro praticar o NISKAMA KARMA em toda a ocasião que me aparece.

Compreender que a ajuda não pode ser forçada e deve ser dada apenas a quem a aceita, é também parte daquilo que entendo por Compreensão Correta.

Ao que parece tudo tem seu tempo certo sob o céu; as pessoas chegam às mesmas verdades, mas em épocas e datas diferentes para cada um.

A mesma pessoa que tem dificuldade para aprender a andar de bicicleta em tenra idade, consegue sair-se facilmente dessa tarefa quando fica um pouco mais velha.

Alguns alimentos que são desagradáveis na juventude, passam a ser mais apreciados em idade mais avançada e vice-versa.

Portanto, não apresse o rio, ele corre sozinho!

Quando alguém se recusa a ser ajudado, é porque não chegou o momento, haverá um momento certo mais tarde, se essa pessoa fizer por merecer.

Tenho o hábito de meditar sobre a Compreensão Correta e como ela atua em minha vida, durante três dias em cada mês; nos dias 1, 10 e 28. (Repare que a soma dos dígitos desses números perfazem sempre um que é o número desse princípio na Senda Reta dos Oito Caminhos.).

Você também pode adquirir esse hábito, com grande proveito pessoal. Que tal planejar isso e incluir em sua agenda, hoje mesmo?

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No documento BUDISMO-PARA-LEIGOS.pdf (páginas 75-78)