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OS NOVOS PADRÕES DE CONSUMO TURÍSTICO

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6.4. OS NOVOS PADRÕES DE CONSUMO TURÍSTICO

“O mundo é um livro e aqueles que não viajam só leem uma página” (Santo Agostinho de Hipona)

A viagem turística é um fenómeno social total e a evolução das formas de mobilidade refletem a evolução da vida social. Neste sentido, o turismo é uma forma de mobilidade espacial contemporânea (Coles, Duval e Hall, 2005), uma viagem de ócio própria da sociedade industrial madura, um estilo de vida que relaciona trabalho e férias numa sociedade de consumo de objetos e serviços (Alonso, 2009: 199). Viajar é fingir, isto é jogar a ser pobre ou rico, imitar ao outro que é desigual.

O turismo converteu-se a partir da segunda guerra mundial num turis- mo de massas (Aramberri, 2011), estandardizado, planificado para todos por igual, de grande escala e um tipo de turista básico e homogéneo, pouco diver- sificado. Este tipo de modelo de desenvolvimento turístico converteu-se num padrão fordista de produção do turismo, que industrializou o turismo e pro- moveu o consumo massivo de experiência turística, geralmente com base no sol e praia e abaratou os preços dos serviços.

Mas a partir de 1980 o turismo mudou e tornou-se mais pós-fordista, es- pelho da nova sociedade pós-moderna. O turismo caracterizou-se a partir de então pela fragmentação e segmentação, a diferença e diversidade de produtos e experiências, a incerteza, a perda de valor dos grandes símbolos e relatos e o individualismo. Com a entrada do século XXI, o turismo adquiriu novas funções e significados, transformando a vida quotidiana. O turismo integrou as práticas sociais e estilos de vida das classes médias de grande parte do mun- do, convertendo-se assim numa rotina para muita gente. O sistema turístico industrializou e burocratizou o turismo, transformando o ócio num negócio e em serviços com base em culturas de trabalho organizadas. O turismo pas- sou a ser uma prova do estilo de vida das classes médias e também quase um direito.

A partir de inícios do século XXI denotam-se algumas mudanças no turis- mo e nas sociedades, como por exemplo: introdução de novas tecnologias da

comunicação, novas relações entre o local e o global, novas conexões entre o individuo e a sociedade, mais individualização e personalização do consumo turístico. Isto é, as viagens construíram-se mais à risca, valorizando a autono- mia e independência. A viagem turística deixa de ser homogénea, massiva e repetitiva, procurando-se a diferença e a diversidade, o multiculturalismo, o local como capital turístico –ex. espaços rurais. Ao nível global produz-se uma colonização ocidental do espaço turístico, associada à globalização (Alonso, 2009: 209).

Na pós-modernidade, o turismo apresenta-se como uma aventura contro- lada, segura, face ao trabalho quotidiano stressante; ele servirá de antidoto face à pressão laboral. A fluidez e o hedonismo farão que as pessoas viagem mais longe e mais vezes ao longo do ano. Um elemento chave para este novo padrão de viagem turística é a cultura do espetáculo e a transmissão quase ao vivo da própria viagem (ex. fotografias, vídeos, whatsapp, internet). A informatização e digitalização da sociedade tornaram-na mais líquida e porosa, com novas fronteiras e limites. A segmentação da oferta turística associa-se à segmen- tação de nichos de mercado particulares, com diferenciação de produtos turís- ticos e a sua comunicação e comercialização. O turista tem mais escolhas, mais diferenciação e mais possibilidades de auto produção da sua própria experiên- cia. O luxo e a ostentação turísticos tornaram-se mais acessíveis.

O marketing tornou-se mais inteligente, mais dirigido e orientado, ele é mais relacional, mais reflexivo e emocional, para atingir segmentos específicos de turistas. As ofertas turísticas são construídas de forma mais individualiza- da. Novas paisagens turísticas foram criadas (ex. a cidade turística global), o low cost converteu-se num modelo social de transporte turístico respondendo a um cálculo de qualidade-preço, e os turistas tornaram-se mais infiéis às mar- cas e destinos, sendo mais colecionadores de destinos, ao alargar-se a expe- riência turística. Outro elemento importante deste novo padrão de consumo turístico é a comunicação entre turistas (ex. tripadvisor), que passam a certi- ficar produtos e destinos turísticos, passando a comunicar a sua opinião para outros potenciais turistas, criando-se assim novas credibilidades e uma nova interatividade no sistema turístico.

Para além disso, fortaleceram-se novos discursos de renovação da filoso- fia da viagem, a sustentabilidade passou a maquilhar-se de responsabilidade, de ética e solidariedade. Estes discursos, contrários às formas depredadoras e coloniais de turismo, apropriados parcialmente pelo sistema turístico, respon- dem a novos valores sociais (ex. ecologia, diversidade cultural, equidade, coo- peração…) exigindo um turismo mais responsável e ético, com menos efeitos negativos, com melhor distribuição da riqueza e mais respeitador da natureza e a diversidade sociocultural.

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