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OS PERÍODOS TEXTUAIS E A ORIGEM DA FANTASIA NA

NA HUSSERLIANA

A vasta obra filosófica de Edmund Husserl coloca em xeque qualquer empreitada em destrinchar um conceito específico, mesmo sendo este um conceito bem determinado como é o conceito de fantasia. Além da escrita abundante, depara-se com a perfeita interligação temática, tudo está conectado com tudo, ou seja, é necessário primeiro situar os principais conceitos de toda obra, tais como, Eu puro, redução fenomenológica, consciência do tempo, intencionalidade, idealismo, etc. Esse mapeamento da fenomenologia é relevante, mas apenas no que diz respeito à definição do tema da “presentificação de fantasia” e suas nuances. Este primeiro capítulo tem o dever introdutório de reconstruir uma historicidade da fantasia em algumas obras selecionadas. As obras a serem estudas são em primeiro lugar o volume XXIII sobre “Phantasie, bildebewusstsein, e erinnerung”, as “Zeitbewusstsein”,

“Investigações Lógicas”. A periodização significa tão somente

trilhar o percurso lógico do conceito, e mostrar suas mudanças dando as referências exatas do trabalho intentado. Em outra parte do capítulo, já se pode mapear o conceito de fantasia e suas conexões com os conceitos chaves da fenomenologia. Trata-se de desvendar o que é a presentificação de fantasia no todo da empreitada husserliana. Dar uma definição conceitual cabal acerca do tema proposto condizente com a perspectiva central dos escritos do filósofo, mostrando as incoerências de leituras e definindo o uma interpretação mais coerente com o intuito transcendental.

A história da fantasia começa por uma abordagem cronológica dos textos referentes ao tema. O primeiro texto é o manuscrito de 1898 com o título “Fantasia e representação em imagem”. Este pequeno texto mostra-se importante, pois já menciona a fantasia como conceito central da abordagem imaginativo. Como segundo momento histórico, está a obra

Investigações Lógicas, sob as quais não se pretende adentrar aos

mínimos detalhes, mas apresentar um esboço das principais

compreensão da sequência dos textos. Em terceiro lugar pode-se dividir os textos do volume XXIII do período entre 1905 e 190935, no mesmo período mostra-se a fantasia nos manuscritos do volume XXIII como principal referência. Um quarto momento tem- se as indicações dos manuscritos entre os anos de 1912 e 1924. Nesse mesmo período aparece, também a obra Ideias I, mais especificamente, em 1913, que contempla a fantasia de forma resumida e imersa na proposta de introdução à fenomenologia.

A historicidade da fantasia se projeta como uma grande análise demonstrativa do que significa o conceito nos contextos dessas obras e desses períodos determinados. Tal montagem histórica não se faz de modo meramente descritivo, mas pretende evidenciar sempre a novidade da fantasia desde os textos de 1898, apesar das muitas denominações e mudanças na tese principal da fantasia e atos aparentados como imaginativos. Os passos detalham a trajetória do conceito e mostram a distância de Husserl da tradição filosófica e a novidade proposta por ele, a qual já aparece nos anos de 1989. Esta reconstrução histórica segue uma linha de raciocínio condizente com a tese a ser esmiuçada.

Uma parte desse capítulo trará à tona as referências teóricas e as linhas de abordagem para contemplar o tema, mas, a segunda parte fará mais do que referências. Esta parte tem como intuito elaborar uma genealogia da fantasia. Tratar-se-á aqui da definição de termos chaves para compreender a fenomenologia conectivamente como a fantasia. Os conceitos são “consciência pura”, “intencionalidade”, “intuição”. Estes conceitos serão tratados de forma geral em obras especificas com as

Investigações Lógicas e Ideias I.

A fantasia antes de qualquer definição é uma intencionalidade da consciência pura. O conceito Eu puro aparece na fenomenologia nas Ideias I, como ponto unificador dos atos e correlatos da consciência. O Eu puro é a forma egoíca surgida após a aplicar a redução do eu psicológico e do mundo na atitude natural. A fantasia é vista sobre a atitude transcendental, na qual se passa de uma visão factual do mundo à uma visão fundante e transcendental. A consciência pura é composta por um polo de subjetividade pura e um polo de objetividade pura. Essa é a divisão

35 Aqui aparece também os textos da Lições da consciência interna do tempo

de 1905, que serão analisados no capítulo 2 desta tese. As 5 lições de 1907 não entram na abordagem por não trataram da fantasia de forma significativa.

inicial do Eu puro. A consciência implica em relação ao seu intencionado, esta implicação dá início ao caráter intencional do

eu.

A intencionalidade abarca as pesquisas de todos os âmbitos de discussões acerca da fenomenologia. O que é uma consciência intencional e qual a característica da fantasia nesse prisma. A intencionalidade exige tratar não só do polo da subjetividade da consciência, mas inclui o polo da objetividade, ou seja, do correlato intencional do ego puro. A imersão da transcendência da objetividade na imanência do eu, implica destacar aqui o conceito de constituição como modo operante da intencionalidade. Cabe ressaltar aqui com maior ênfase quais as estruturas intuitivas que compõem a fantasia e seu correlato o fantasiado. Num primeiro momento, usa-se muito o conceito de irrealidade como caraterística da fantasia.

Outro tema que aparece nas LU é a questão do preenchimento da fantasia. Afinal, a imagem fantástica é preenchida de sentido? Como se dá tal preenchimento? No tema da intuição, o conceito de “intuição de essências” permanece como uma das chaves de leitura da tese na compreensão da superioridade da fantasia no todo da ciência fenomenológica, o qual aparece, primeiramente, como intuição categorial nas LU e depois nas Ideias I. Ambas as intuições de fantasia, sejam nas LU ou nas Ideias são amparadas pelo idealismo como motivação de suas obras. A intuição (ou visão de essência) se dá por via da fantasia. Captar essência é o papel desta intuição especifica, não apenas por um privilégio metodológico (pela fantasia ser neutralizada), mas por uma preferência transcendental hierarquizante das vivências na captação do sentido das vivências puras. Se as essências são irreais e a fantasia irrealiza as vivências, é preferível tê-la como intencionalidade responsável por esse processo. A intuitividade da fantasia perpassa ainda o campo do meio de captação dessas essências ou sentidos da consciência pura. Intuir, para Husserl, significa ver. Este ver significa um captar direto e evidente das vivências e suas estruturas constituintes.

Na busca pela origem do conceito de fantasia e sua colocação na história da filosofia. O percurso genealógico da fantasia de Husserl requer uma breve pesquisa e crítica da filosofia moderna de Descartes, Hume e Kant. Estes filósofos citados em várias obras serão os pontos de referência histórico

para mostrar como a fantasia fenomenológica é um conceito novo da história da filosofia. A genealogia da fantasia será realizada por via negativa, pois pretende mostrar como através do conceito chave de subjetividade pode-se obter uma crítica da fantasia na

modernidade e mostrar a novidade da fantasia na

contemporaneidade da obra husserliana.

A genealogia é a pergunta pela origem da fantasia na história da filosofia, a qual se limita aos modernos citados acima. O principal conceito neste capítulo é o de “consciência” e “intencionalidade” como definidores da fantasia. A abordagem das filosofias modernas se pauta na definição crítica feita por Husserl de suas filosofias em geral em especial sob o conceito de “subjetividade”. Cabe lembrar os quatro conceitos definidores da fantasia, já expostos na introdução. Fantasia é intuição, intencionalidade, presentificação e neutralização. Os capítulos subsequentes tratarão mais detalhadamente a intuição de essências, a presentificação e a neutralização.