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A partir da indicação de educadores, de uma Professora Comunitária e de pessoas ligadas à rede municipal de ensino de Belo Horizonte, fui à ONG Brincadeira de Roda36, situada no bairro Paraíso, para conhecer melhor o trabalho lá desenvolvido e também apresentar a proposta da minha pesquisa. O primeiro contato aconteceu no dia 20 de novembro de 2013 e foi precedido por contatos via telefone e e-mail.

Cheguei à ONG às 14 horas, e um dos coordenadores do projeto estava me esperando para que pudéssemos conversar. Tivemos uma conversa informal, com o objetivo de conhecer mais sobre o trabalho desenvolvido pela ONG e sua parceria com a escola.

Logo nessa primeira conversa, pude perceber que a organização atendia aos objetivos da minha pesquisa, pois era uma ONG atuante desde 1998 e estava como parceira

36 Os nomes citados na pesquisa são nomes fictícios, a fim de preservar a identidade dos sujeitos, da escola e da

da Escola Integrada desde 2007. Outro fato que me chamou a atenção foi o de que, há até dois meses atrás, a ONG tinha uma unidade dentro da própria escola e, hoje, desenvolve suas atividades em uma casa alugada pela Secretaria de Educação. Percebi também que, na ONG, havia variados tipos de educadores37: aqueles que estavam na equipe há mais tempo, ou seja, que acompanharam o processo de parceria com o PEI; outros que tinham sido educandos do projeto; aqueles que moravam no mesmo bairro que as crianças que frequentavam a ONG; e ainda educadores mais novos, que já iniciaram com a parceria com o PEI.

Nessa primeira aproximação, havia muitas dúvidas sobre como aconteciam as oficinas do projeto, quais eram as crianças da escola que iam para o projeto, como elas eram selecionadas, como eram divididas as turmas, o que era, de fato, aquilo que eles chamavam de unidades38 e sobre a intensidade da relação da ONG com a escola.

Apresentei meu projeto de pesquisa à instituição e entreguei a carta de apresentação e os termos de consentimento livre e esclarecido para o coordenador. Ele deu- me alguns materiais impressos, CDs e DVDs sobre a ONG, e ficou responsável por encaminhar meu projeto e os termos apresentados à coordenação geral da organização. A proposta era a de que eu começasse a imersão em fevereiro de 2014.

Após esse primeiro contato com a organização, combinei uma visita à escola parceira, para que eu e a Professora Comunitária da escola pudéssemos nos apresentar uma à outra. Tanto na ONG como na escola, fui muito bem recebida e, logo na primeira conversa com a Professora Comunitária, ela me disse: “Pode vir aqui quando você quiser. Eu amo esse assunto, minha filha!”. Esse acolhimento aconteceu também por parte de outros integrantes da equipe da escola, que muito facilitaram meu acesso, como o porteiro e os monitores do PEI.

Diante da receptividade e abertura das duas instituições, pude iniciar a pesquisa de campo no início do ano seguinte, conforme planejado. Ressalto que, a partir desse primeiro encontro, o contato com o coordenador e alguns educadores foi constante até o início da pesquisa empírica.

Com o objetivo de fazer um levantamento de informações que contribuíssem para a caracterização da ONG, foi realizada uma pesquisa documental, a qual teve como base o estatuto e a proposta político-educativa da ONG, os documentos referentes ao trabalho desenvolvido pelos educadores da instituição (planos de aula, relatórios em geral, dentre

37 Considero aqui como educador todas as pessoas envolvidas no processo educativo, não limitando o conceito

àqueles que estão ministrando oficinas.

38 O coordenador me falava das três unidades que funcionavam no mesmo espaço, mas em dias diferentes, e eu

outros), bem como os registros feitos por eles.

Durante os três primeiros meses da pesquisa de campo, fiquei por conta da observação diária, três ou quatro vezes na semana. Nesse período, foi possível perceber, ao observar e conversar, na escola, com as crianças e os educadores, que a relação da ONG com a escola e com as crianças variava em cada unidade. Fez-se necessário, portanto, acompanhar diferentes unidades para que a observação fosse mais eficaz.

Por uma limitação de tempo e fôlego e a fim de facilitar a coleta de dados, optei por direcionar as observações e entrevistas em duas das três unidades. Assim, eu passava o dia todo acompanhando as oficinas e as reuniões diárias dos educadores das unidades, as quais funcionavam nas segundas e quartas-feiras e nas quartas e sextas-feiras, além das reuniões de equipe e a reunião geral. Também acompanhei algumas oficinas da escola, mas foram acompanhamentos esporádicos, através dos quais tive apenas um contato superficial.

Em relação aos instrumentos de coleta de dados, através da observação, pude compreender as práticas educativas. Segundo Vianna (2003), a observação é um processo empírico através do qual usamos a totalidade dos nossos sentidos para reconhecer e registrar eventos factuais. Por sua vez, Neto (1994, p. 59-60) aponta que essa técnica permite “captar uma variedade de situações ou fenômenos que não são obtidos por meio de pergunta, uma vez que, observados diretamente na própria realidade, transmitem o que há de mais imponderável e evasivo na vida real”.

Nesse sentido, adotei, nesta pesquisa, as observações não estruturadas, livres e participantes, combinadas com o diário de campo e as análises de documentos. Ainda como instrumento da coleta de dados e como parte integrante da observação participante, utilizei a entrevista semiestruturada, a qual, segundo Gil (1999), por sua natureza interativa, permite tratar de temas complexos que dificilmente poderiam ser investigados por meio de instrumentos fechados, explorando-os com profundidade.

Considero a entrevista apropriada neste caso, pois a voz dos sujeitos deve ser evidenciada como fonte privilegiada. Ademais, esse tipo de entrevista possibilita aos sujeitos a expressão do seu pensar e sentir sobre um determinado fenômeno, sem cerceamento e sem indução de ideias. As conversas informais com os participantes/sujeitos foram relevantes nessa estratégia para captar o não verbal, o subjetivo presente em todo processo de comunicação.