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Os procedimentos de recolha e de análise preliminar dos dados

Tomou-se como ponto de partida para a recolha dos dados o dicionário Aurélio Eletrônico Século XXI, por meio do qual foram recolhidos automaticamente, pelo mecanismo de “Pesquisa Reversa”, todos os empréstimos com as marcas [Ingl] (inglês) e [do Ingl] (do inglês).

Foi identificado um total de 2.106 dados. Deste total, o corpus de pesquisa somente aceitou os dados que:

a) estivessem registrados no Houaiss com a marca de origem47 do inglês, tal como ing. (inglês);

b) estivessem registrados no OED e tivessem origem latina, seja a unidade lexical como um todo ou os seus elementos formativos ou constituintes (base e/ou afixos);

c) se caracterizassem em português como um empréstimo morfossemântico híbrido ou um decalque lingüístico;

d) não fossem composições, quer dizer, formações com duas bases;

e) não fossem empréstimos com a forma tal qual no inglês, quer dizer, as importações que mantêm a forma estrangeira.

47 Houve, em vários casos, divergência de informação etimológica entre o Aurélio e o Houaiss: o Houaiss muitas vezes não marca origem do inglês, mas a atribui ao francês, ao latim ou não traz marca nenhuma. Não foram excluídas de imediato as unidades lexicais que apresentavam esta divergência de informação entre os dicionários. Foram elaborados critérios, apresentados adiante, para definir se uma unidade lexical realmente foi adotada do inglês pelo português.

O procedimento a) juntamente com as especificações b), c), d) e e) permitiram a identificação de um total de 160 unidades lexicais. Estas unidades estão listadas no Caderno de Anexos e são apresentadas sob a forma de verbetes, retirados do Aurélio (AE), do Houaiss (H) e do OED. Há também o registro da base da unidade lexical em português e em inglês. Quando uma base não estava registrada nem no AE e nem no Houaiss, pesquisou-se em textos da Internet, mais precisamente no site http://www. google.com, para verificar a possibilidade de identificar a sua atestação.

4.4.1. Critérios para a determinação da etimologia

No Houaiss foram identificados três tipos distintos de registro no campo da etimologia que causaram dois tipos de questionamentos: o primeiro foi em relação à etimologia, quer dizer, a língua de origem do empréstimo, e o segundo quanto à realização do próprio empréstimo pelo português. No primeiro, o Houaiss informa que a unidade originou-se no latim ou no francês, mas não leva em consideração acepções com significado que surgiram no inglês, como a acepção 1 em importação:

Importação substantivo feminino ato ou efeito de importar ('trazer de fora') 1 Rubrica: comércio, termo jurídico.

entrada de produtos originários de outro país 1.1 Derivação: por extensão de sentido.

entrada de produtos de outro estado, município ou região (…)

Etim. lat. importatìo,ónis, de importátum, supn. do v. importáre 'trazer para dentro, introduzir, trazer para si'; ver port(a)-

No segundo caso, há somente informação sobre a estrutura morfológica da unidade, o que implica considerar, erroneamente, que a unidade foi originalmente formada em português:

Destoxificação  substantivo feminino m.q. desintoxicação

Etim. destoxificar + -ção; ver toxic(o), tox(i/o)- e faz-

Destoxificação foi, na realidade, originalmente construída em inglês, segundo o OED:

detoxicate, v. [f. DE- II. 1 + L. toxic-um poison, after intoxicate.] trans. To deprive of poisonous qualities.

1867 Pall Mall G. No. 729. 2043/2 Defecated, detoxicated, and deodorized. 1906 Practitioner Nov. 590 Focalisation of the infection in the liver, with disturbance of its detoxicating mechanism.

Hence detoxi cation, the action of depriving of poisonous qualities; de toxicator, that which detoxicates; also detoxification and detoxify v.

No terceiro, a unidade lexical era existente em português, mas adquiriu uma nova acepção do inglês, como é o caso da acepção 2.3:

Globalização substantivo feminino 1 ato ou efeito de globalizar(-se) 2.3 Rubrica: economia, política.

integração cada vez maior das empresas transnacionais, num contexto mundial de livre- comércio e de diminuição da presença do Estado, em que empresas podem operar

simultaneamente em muitos países diferentes e explorar em vantagem própria as variações nas condições locais

(...)

Etimologia. globalizar + -ção; ver glob(i/o)-

Como acima mencionado, as unidades lexicais que apresentavam divergência de informação etimológica entre o Aurélio, o Houaiss e o OED, tais como os exemplos

acima, não foram excluídas imediatamente. Para resolver a divergência, recorreu-se aos seguintes critérios:

i) consultar os dicionários etimológicos do português48;

ii) quando não se encontrou a informação em i), assumiu-se a posição do OED.

O OED, no campo de etimologia, informa se uma unidade lexical foi construída no próprio inglês ou se foi adotada de outra língua. Tendo em vista essas informações, adotaram-se os seguintes critérios para a definição da etimologia:

i) quando a unidade lexical tinha origem latina ou francesa no Houaiss, havia duas possibilidades: a) ou constatar que a origem não era realmente do inglês, tendo em vista que a forma e o significado da unidade lexical surgiram no latim ou no francês49; b) ou constatar que, apesar da origem primeira ser latina ou francesa, surgiu no inglês um novo significado e que, por esta razão, a unidade lexical poderia ser considerada um empréstimo lingüístico do inglês. Este é o caso de importação, acepção 1.

ii) quando a unidade lexical foi construída no inglês, assumiu-se que a unidade lexical importada tinha origem no inglês. Este é o caso de destoxificação;

48 Em vários casos não havia registro da unidade lexical procurada nestes dicionários.

49 Nesses casos, considerou-se que não houve empréstimo do inglês. Para ser coerente com o critério i) a), foi excluída, por exemplo, a unidade lexical gravitação (com origem e significado surgidos no latim científico, mais especificamente com o uso do termo por Isaac Newton na obra

Philosophiae Naturalis Principia Mathematica (Princípios matemáticos de filosofia natural),

publicada em 1687. O Houaiss registra que gravitação tem origem no latim científico, mas o AE afirma que gravitação entrou em português pelas vias do inglês.

iii) quando a unidade lexical era existente em português, verificou-se se não haveria uma acepção com significado originado no inglês. Este é o caso de globalização, acepção 2.3, domínio da Economia.

As unidades lexicais importação, destoxificação e globalização foram, conseqüentemente, consideradas unidades lexicais importadas do inglês.

4.4.2 Procedimentos de análise preliminar

Os dados foram agrupados a partir do operador morfológico (sufixo) identificado na estrutura morfológica da unidade lexical em inglês. Com a lista organizada, passou-se ao estudo do funcionamento de cada sufixo em inglês. Marchand (1969)50, Bauer (1983) e o OED foram as obras fundamentais que serviram de base para a compreensão das características da estrutura sufixal em inglês.

Em português, adotou-se o mesmo procedimento: passou-se ao estudo do funcionamento do sufixo utilizado na substituição do sufixo em inglês. Os trabalhos principalmente utilizados foram Basílio (2004), Sandmann (1989), Rio-Torto (1998a), Correia (2004a), assim como o Aurélio e o Houaiss.

Foram analisados ao todo 18 sufixos em inglês (-able, -acy, -al, -an, -ance/- ence, -ency, -ant/-ent, -ary, -ette, -ic, -ism, -ist, -ity, -ive, -ment ,-or, -tion e verbos, não sufixados e alguns terminados em –ize). Em contrapartida, os sufixos equivalentes em português foram, respectivamente: -vel51, -ia, -al, -an-52-, -ncia, -nte, -ári-, -ete, -

50 Marchand (1969), obra clássica a respeito da formação de palavras em inglês, não fala especificamente de regras que teriam sido utilizadas para análise ou para a construção de palavras em inglês, mas apresenta uma análise do funcionamento dos afixos, avançada para a época, que não se distancia da concepção das regras: um afixo é anexado a uma base específica para formar uma unidade lexical com categoria lexical e significado previsível e interpretável.

51 Os sufixos de base verbal (–vel, -ncia, -nte, -mento e –ção) são grafados sem a vogal precedente (e.g. –avel, -ancia, -ante), pois esta é a vogal temática da base verbal. Em português, há três instanciações possíveis conforme a conjugação: –a-, nos verbos da primeira conjugação, - e-, nos verbos da segunda, e –i- nos verbos da terceira.

ic-, -ismo, -ista, -dade, -iv-, -mento, -or, -ção e verbos terminados em –a- (não sufixados em inglês) e em –iz-.

Após o estudo do funcionamento do sufixo, partiu-se para a análise da estrutura interna de cada unidade lexical em inglês e em português em cada grupo. A análise, cujos princípios são delimitados a seguir, procurou identificar a base e determinar a regra passível de analisar a estrutura morfossemântica em inglês53 e em português.