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PARTE II – PLANO PRÁTICO

CAPÍTULO 2 – EXPERIÊNCIAS PRÁTICAS E ESTUDO DE CASO

2.1 OS PROJETOS DE JUSTIÇA RESTAURATIVA NO BRASIL

Hoje, o Brasil é um estado democrático de direito, onde convivem diferentes doutrinas morais, religiosas, econômicas, filosóficas, que permeiam a sociedade com seus valores, direitos e deveres.

Essa diversidade e pluralidade de posturas e doutrinas morais fazem com que os cidadãos busquem a cooperação e reciprocidade social, a fim de alcançar a estabilidade social. Como ensinado por Rawls (2011), esta é a primeira característica dos cidadãos de uma sociedade democrática pluralista: um sentido de justiça, um desejo de propor termos justos de cooperação social.

Nas sociedades democráticas e complexas, devido à diversidade existente, se busca uma justiça que prime pela equidade, que é aquela que almeja obter um consenso das partes e da sociedade, minimizar e compensar perdas e os danos aos envolvidos, que pretenda ser imparcial para com os diferentes e para todos os cidadãos em disputa.

A experiência brasileira com a justiça restaurativa está associada à área das políticas públicas sociais. Existem e existiram experiências com a Justiça Restaurativa no Brasil, essas experiências são pouco divulgadas; primam pela diversidade de localidades, situações e participantes, não existindo uma troca de informações consistente e em consequência não há troca de experiências, o que faz com que a Justiça Restaurativa não seja conhecida, nem fortalecida.

Ocorre que a Justiça Restaurativa exige para sua consecução, um alto grau de comprometimento não só dos participantes dos projetos, como do Judiciário e da própria comunidade ou sociedade. A Justiça Restaurativa envolve várias dimensões humanas, trabalha em aspecto global, o que faz com que dependa de várias políticas sociais para garantir o aporte dos recursos de toda natureza, para garantir o curso de ação das intervenções. Quanto mais abrangente e inclusivo o projeto restaurativo, mais necessidade de aporte de recursos de toda a natureza.

2.1.1 Programa de São Caetano do Sul

Um dos programas pioneiros de Justiça Restaurativa no Brasil que utiliza os círculos como forma de abordagem restaurativa, é o programa de São Caetano do Sul - São Paulo.

O programa em atividade desde 2005 visa atender adolescentes em conflito com a lei. Trata-se de um trabalho conjunto da Justiça Paulista com a Promotoria da Infância e Juventude, sendo essa que seleciona os casos, encaminha ao círculo restaurativo, fiscaliza os termos do acordo e o seu cumprimento, bem como a eventual aplicação de medida socioeducativa.

O programa começou nas escolas para evitar que os conflitos escolares acabassem solucionados no fórum, uma vez que foi percebida a dificuldade das escolas lidarem com conflitos, de modo geral. Por outro lado, foi notado que muitos menores em conflito com a lei estavam fora das escolas e era necessário levá-los novamente para o interior do sistema educacional, sem que fossem estigmatizados.

Buscou-se uma forma de solução dos conflitos em que os menores não precisassem ser excluídos da sociedade e da própria escola. A abordagem escolar não é a única do projeto, que tem como objetivo, também, a resolução de conflitos oriundos de atos infracionais análogos a crime não relacionados à escola, pelos círculos restaurativos que ocorrem no fórum.

O programa objetiva, ainda, o fortalecimento da rede comunitária para que agentes governamentais e não governamentais organizados para assegurar os direitos da Infância e da Juventude atendam as necessidades das crianças, adolescentes e suas família, especialmente, por meio das escolas.

2.1.2 Projeto Justiça Restaurativa – Núcleo Bandeirantes – Brasília - DF

O referido projeto visa resgatar a convivência pacifica em ambiente previamente afetado pelo crime, normalmente é aplicado em casos em que o infrator e a vítima têm uma convivência próxima que tende a ser continuada no sentido de se projetar para o futuro, ou em que do crime resultaram danos de significativa extensão, de natureza patrimonial, emocional ou psicológica. A proposta é promover o diálogo como instrumento de acesso à Justiça.

Consiste da promoção de encontro entre autor do fato e vítima, cada qual apoiado por suas comunidades de referência, em ambiente seguro, no qual um e outro têm oportunidade de relatar os efeitos do crime na sua vida pessoal e são estimulados a desenvolver um diálogo que leve à reparação dos danos resultantes do crime e a construir um acordo de convivência sustentável e sem violência.

2.1.3 Programa Justiça para o Século 21

O Programa Justiça para o Século 21 consiste num projeto-piloto que tem como objetivo a implementação da Justiça Restaurativa relacionada à Vara da Infância e da Juventude, visando à pacificação de conflitos que envolvam crianças e adolescentes.

O programa articulado pela Associação dos Juízes do Rio Grande do Sul (AJURIS) e a respectiva Escola Superior da Magistratura tem sua consecução ligada à 3ª Vara do Juizado da Infância e da Juventude, que é competente para executar as medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes infratores.

O Projeto Justiça para o Século 21 tem sua inspiração no modelo das conferências e, em especial na experiência neozelandesa. São as seguintes as iniciativas e atividades do programa: aprendizagem teórica e formação, que tem por objeto estudos, pesquisas, cursos de iniciação e seminários temáticos; sustentabilidade na comunidade visando o fortalecimento das bases comunitárias, buscando no segmento as pessoas que se interessam para serem coordenadores, capacitadores e supervisores; aprendizagem prática e aplicação que envolve reuniões de supervisão e de autosupervisão; supervisão de práticas restaurativas no atendimento socieducativo, que visam acompanhar as progressões e os egressos; justiça restaurativa na comunidade como um plano de sensibilização e disseminação da prática, encontros por microrregiões e regionais, além das oficinas; consultoria e diagnóstico em quatro escolas utilizadas como piloto e plano de ação de práticas restaurativas com a testagem dos círculos; criação do observatório das vítimas de violência, acolhimento e orientação não vingativa; reconfiguração organizacional da 3ª Vara do Juizado da Infância e Juventude; comunicações e publicações, folders, filmagens, manuais de prática, livros; pesquisas, monitoramentos, avaliações, busca por parceiros, estatísticas e fóruns de pesquisadores.138

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INNOVARE. Projeto Justiça para o Século 21. Disponível em: <http://www.premioinnovare. com.br/praticas/projeto-justica-para-o-seculo-21-2721>. Acesso em 14 fev. 2012.