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2.3 OS QUATRO MAIS UM ELEMENTOS DA AVALIAÇÃO

No documento No litoral da Casa e do Serviço (páginas 58-104)

CAPÍTULO II – ENDEREÇO: A AVALIAÇÃO

2.3 OS QUATRO MAIS UM ELEMENTOS DA AVALIAÇÃO

Muitos são os critérios utilizados para a avaliação de pacientes, sendo

que não há um método formalizado ou uma indicação geral sobre como

proceder ao encaminhamento para as diversas modalidades de moradia. Não

pretendemos desenvolver nenhum método geral para aplicar os critérios, uma

vez que tal construção destoaria da própria proposta da RT. A determinação de

protocolos de qualquer espécie dentro do Serviço Residencial Terapêutico

deve ser muito bem ponderada, já que um dos propósitos desse serviço é

contrastar com os serviços hospitalares, esses sim, fundados em protocolos.

Assim, essa ‘liberdade’ de critérios na verdade é profícua, e vai variar de

acordo com cada programa, com cada situação e com cada paciente.

Porém, formar protocolos não é, nem de perto, a única forma de

problematizar uma atividade constante dentro de um serviço. Desta feita,

elegemos os critérios que são mais utilizados na prática, para entender o que

entra na cena da avaliação. Os critérios que elencamos somaram quatro e

delimitam de uma forma ampla o que está em jogo e o que se espera dentro de

um serviço como o SRT.

Como já dito, cada serviço e, mais precisamente, cada caso, vai

estabelecer uma forma particular de avaliar e encaminhar os futuros

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avalia. Dessa lógica decantam formas de ‘categorizar’ tais preocupações, que

podem ser traduzidas como critérios. Aos critérios que consideramos mais

constantes, também vamos apresentar outras ponderações encontradas nos

serviços, para então, propor um modo próprio de avaliar, incluindo a

contribuição da psicanálise na proposta de ‘localização do sujeito’ para

proceder às avaliações nesses serviços.

Em geral, a lógica da avaliação opera a partir da experiência prática, e

desta feita a primeira ponderação levada em conta nos serviços residenciais

são as necessidades do paciente. Essas necessidades são expressas em

“horas de cuidado dia”. Ou seja, o primeiro ponto a ser considerado é de

quantas horas ou de quais “tecnologias” o morador irá precisar. Aqui temos a

tentativa de aferir a autonomia e as descrições psicopatológicas do futuro

morador. A avaliação parte das habilidades adquiridas e das inferências que se

fazem ao redor do paciente, partindo do princípio que é necessário saber o que

o paciente quer, o que ele já faz, e o que, com o trabalho desenvolvido poderá

vir a fazer. São três princípios que decorrem do mesmo modo de avaliar: o que

podemos identificar, o que podemos aferir e o que podemos prognosticar. O

saber em jogo está do lado do avaliador, que deve sustentar, a partir de um

conhecimento prévio, o que é melhor para cada paciente.

A presença de psicanalistas ou de profissionais orientados pela

psicanálise no espaço público da atenção psicossocial oferece uma abordagem

específica do saber que sustenta a condução de cada caso, e a pergunta “o

que deve saber um psicanalista?” aponta para diversos aspectos da própria

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pensar desde o ponto do saber como demarcador de uma posição pode nutrir

muitos questionamentos que apresentaremos ao longo desse trabalho. Por

hora, parece interessante pinçar essa especificidade da avaliação: como

localizar o saber nessa dinâmica?

Citando novamente o texto “Variantes do Tratamento Padrão”

encontramos uma indicação de Lacan sobre o saber do analista onde afirma “o

que o psicanalista deve saber: ignorar o que sabe” (Lacan, 1998 [1955] p 351).

Dizer que o analista deve ignorar o que sabe, não quer dizer que o analista não

deva saber nada, já que para ignorar o que se sabe deve-se saber algo.

Para entender melhor essa indicação, é necessário antes estabelecer de

que saber se trata na psicanálise. O saber que está em jogo não é o saber

acadêmico e nem mesmo o saber intelectual, racionalizado, consciente por

assim dizer. Desde Freud, há uma subversão no estatuto do saber: no

inconsciente, a partir da operação do recalque, o saber não é sabido na

articulação de um sentido, mas sim, sabido ‘sem saber que se sabe’. O

paciente fala mais do que sabe, e, nos tropeços do inconsciente demarcados

por Freud (o chiste, a associação livre e o sonho) explicita-se que se sabe além

do que se supõe, dizendo mais do que se queria dizer. Isso é frontalmente

oposto à ideia de que se trata de um saber exposto, mas antes de tudo um

saber suposto ao inconsciente.

Figueiredo e Vieira (2000) esclarecem que quando se estabelece o

saber no âmbito do conhecimento, facilmente identificamos três características

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ser capaz de enunciá-la e essa enunciação pode ser alçada como universal

para que se sustente como saber.

Já para a psicanálise o “ponto de partida é o reconhecimento do saber

como furado, vazado, lacunar, sempre incompleto” (Figueiredo e Vieira, 2000,

p.2) porque se sustenta nas formações do inconsciente. Os autores ainda

advertem para que esta concepção de saber, que toma o inconsciente do

homem como seu fundamento primeiro, não recaia em uma leitura ontológica-

psicológica onde reside a ideia de que o inconsciente é concebido como “o

homem dentro do homem” (Figueiredo e Vieira, 2000, p.3) já que essa

concepção evoca a consciência correlata ao saber. Segundo os autores “esta

leitura nos conduz a inúmeros impasses e o maior deles é a crença num saber

já dado a priori, cuja essência devemos apreender objetivamente através de

um método específico de investigação”.

Nesse sentido, o saber do analista não está associado a uma recusa de

saber. Quando Lacan enuncia que o analista deve ignorar o que sabe, aponta

para uma posição do analista, em que marcado também pela castração,

entrega-se à escuta de uma associação livre, onde o enunciado e a

consequente enunciação não são dirigidos por um saber ‘que tudo sabe’, mas

por um saber furado, o saber inconsciente de quem fala. E a consequência

mais imediata dessa concepção é a de que o saber esta do lado do paciente, já

que a verdade está ao lado do sintoma. O saber articulado à verdade de cada

caso é o que constitui o campo de saber da psicanálise e o que fundamenta a

prática analítica como práxis do inconsciente seja no dispositivo de consulta ou

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Ao nos advertir quanto a um impossível de saber a priori sobre os casos

assistidos, a orientação psicanalítica sustenta um ‘saber-fazer’ com cada caso

e também com a equipe como manejo possível desse 'saber que não se sabe'

próprio da lógica do inconsciente.

Assim, dentre as consequências da subversão do saber operada por

Freud temos então a posição do analista, sua formação, a transferência (onde

esse saber ganha consequências) e a transmissão da psicanálise como pontos

nodais. Por ora, destacamos somente essa nuance de deslocar o saber do lado

de quem escuta para o saber do lado de quem fala.

O saber do inconsciente não é completo, todo. Por isso afirmamos que

ele é “não todo”. Primeiro porque não se pode dizer tudo, já que como sujeitos

estamos submetidos, desde sempre, ao equívoco inerente ao assujeitamento

da linguagem. Também porque seu estatuto mantém sempre algo de

recalcado, algo que não se articula, que escapa. A não inscrição da relação

sexual evoca a impossibilidade de fazer ‘um’ de fazer um ‘todo’ e uma marca

da castração está posta. Desta feita, o saber que interessa ao analista é o

saber não todo, furado, o saber de quem fala mais do que sabe. E quando o

saber não todo do sujeito é endereçado através da fala para um analista, este

deve saber, dentre outras coisas, manejar a transferência, saber sobre o

inconsciente e suas formas de operar. Mas ao fim o que nos interessa é o

saber do sujeito e, portanto, é responsável por sua condição subjetiva e

consequentemente por aquilo que ele nem sabe que sabe.

Lacan, em 06 de janeiro de 1972 proferiu mais uma conferência em

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afirma: “isso não os impede, nos limites desses muros, de escutar algo

diferente da minha voz. A voz, por exemplo, daqueles que estão internados ali,

uma vez que, no final das contas, isso pode conduzir a algum lugar (...)” (2001

[1972], p 55).

Nessa passagem, Lacan convida a todos a escutarem mais do que ele

diz, escutarem o que os pacientes têm a dizer. Parece uma coisa óbvia, já que

o exame clínico da psiquiatria se dedica em boa parte do tempo ao que as

pessoas dizem. Porém, há algo que difere ouvir de escutar, e a Lacan não

enseja que os médicos escutem as histórias buscando os fenômenos

psicopatológicos, mas que empenham uma atenção fluante, sem condução

prévia. Ou seja, dedicar-se à associação livre e suportar escutar as produções

dos pacientes sem categorizá-las. E a afirmação de Lacan para o analista

‘esquecer do que sabe’ indica que a posição de quem escuta está marcada por

um saber específico, mas que quem porta o saber sobre o inconsciente, sobre

aquilo que se atualiza em seu padecimento, é o paciente. O saber que mais

interessa está do lado de quem fala.

De modo geral, quando se pensa em uma avaliação, logo uma demanda

de saber é endereçada ao avaliador. Via de regra o avaliador sabe o que é

melhor, o que está de acordo, o que destoa e o que pode ser indicado. Esse é

o saber que se espera de um especialista, o tout savoir. O saber todo, nesse

campo, pode ser equiparado a uma condução onde a diretividade é ancorada

no saber. A fala é tomada como evidência de uma condição de adoecimento, e

a verdade salta aos olhos de quem busca encerrar um sujeito em uma

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extraída e não forcluída. “O saber, portanto, é ali bem separado do sujeito”

(Lacan, 1998 [1965], p. 876).

Propomos na direção da psicanálise que essa aporia do ‘saber que está

do lado sujeito’ seja o ponto de virada da avaliação, tendo nas indicações do

futuro morador o arranjo necessário para que a avaliação parta da premissa de

que não estamos encaminhando alguém para outro lugar; mas construindo,

junto ao paciente, uma forma de viver na cidade.

Elia et al (2005, p. 129) ao abordarem a inserção da psicanálise no

campo da saúde mental afirmam que “a psicanálise interdita a especialidade,

pois está referida a um saber sobre o qual não se tem conhecimento e toma o

sujeito, dividido entre o saber e a verdade como baliza do seu trabalho”.

Seguindo nesse caminho, podemos afirmar que a psicanálise, ocupada com

um saber que sabe ser não todo, esvazia os especialismos que tentam revelar

a verdade sobre a doença, assinalando que a verdade é do sintoma e que para

semi ouvi-la é preciso escutar desde um lugar, uma posição. “Se é o sujeito

que aponta a direção do trabalho, não há um saber prévio e empírico sobre ele”

(Elia et al, 2005, p. 230).

Deste modo, propomos que avaliação não busque somente aferir e

prognosticar, determinando o que o paciente já faz ou pode vir a fazer, mas

que destas indicações possamos construir junto com o paciente um arranjo

possível para que esse novo lugar se estabeleça.

Não que não haja apostas, ou que não se acredite no trabalho que será

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colocar um morador em uma residência que só tem 4 horas de cuidado/dia, ou

mesmo em uma com 24hs de cuidado é uma aposta bastante delicada, que

traz consequências importantes para os futuros moradores. Torna-se relevante

novamente a função social desse serviço, uma vez que se propõe a ser uma

casa, onde fatores como “afinidade” e “convivência” devem ser considerados, e

que também se apresenta como um serviço substitutivo, que deve dar conta de

acolher e responsabilizar-se, enquanto instituição, pelos pacientes que ali

residem.

Podemos decantar dessas preocupações alguns critérios que

tomaremos aqui um a um.

2.3.1 – Territorialidade

A princípio, a ideia é considerar o território subjetivo do paciente. Isso

quer dizer que não basta considerar o endereço de origem ou o município que

internou o paciente. Esses instrumentos nos servem para ter uma pista da

origem do mesmo, mas o que conta é de onde o paciente diz que é. Onde ele

reconhece que é seu lugar. Mas como todo critério, ele se atualiza de acordo

com seu entorno. A questão se abre quando se escolhe “de onde” virão os

pacientes. O primeiro ponto de diferença é pensar que os pacientes oriundos

da CSDE passaram pelo menos sete anos internados naquela instituição (que

por ter funcionado como uma instituição para crônicos, em geral os pacientes já

vinham de outras longas e ininterruptas internações), nesse sentido, havia

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município de origem já não o reconheciam como tal. Temos ainda casos em

que a rede de saúde mental do município era precária ou inexistente, o que

dificultava o acolhimento dos pacientes. Também o fato de Paracambi constituir

21 casas para sustentar o fechamento do hospital favorecia o encaminhamento

para as casas locais. De fato, muitos acabavam reconhecendo em Paracambi

seu território subjetivo, mas em alguns casos, essa aposta teve que levar em

conta critérios diversos.

A ideia da territorialidade é que o paciente possa retomar ou formar

vínculos onde considere mais fácil fazê-los. Onde ele acredita ser mais fácil

circular e onde reconheça o território como ‘seu’. E por isso, de forma geral, a

primeira pergunta que se faz no início de uma avaliação é “de onde vem o

paciente e qual a ligação que ele tem em seu território de origem”. Depois,

consideram-se as possibilidades e, junto com paciente, discutem-se

alternativas. Como não se trata somente de algo objetivo (onde há vagas, onde

é possível que o paciente seja acolhido) é necessário ter em conta que a

pergunta ‘de onde veio’ não determina exatamente um ‘para onde vai’, mas

dispara uma direção de trabalho, que por vezes até prescinde da cidade de

origem para constituir uma nova territorialidade com o paciente.

Ao tomarmos o território como geográfico, ainda que considerando os

vínculos que os pacientes estabelecem com o local, estabelecemos uma

configuração onde o sujeito se localiza a partir de diretrizes espaciais, seja um

bairro, uma cidade ou um Estado. A dimensão da territorialidade não escapa

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que a territorialidade é mais ampla que o território, a geografia determinada

pelo paciente ou pelo seu prontuário sempre são incluídas na discussão.

Se por um lado a imagem evocada pelos pacientes quando se pergunta

‘de onde você veio’ aponta para uma lembrança, uma simbolização que não é

objetiva e que provavelmente não será reencontrada; por outro lado todas as

informações passam a ser úteis, seja na busca por parentes ou no

reconhecimento por parte do paciente do território como seu.

Existe então um lugar objetivo, demarcado, ao que se busca e em torno

do qual se organizam as ações de encaminhamento de pacientes. Mas

também existe um lugar subjetivo demarcado pela vivência de cada um e que

exprime uma subjetividade singular.

Interrogando o conceito de territorialidade, podemos expandir a ideia

mais geográfica e pensar a partir do modelo topológico. Granon-Lafont (1990)

toma o modelo da banda de moebius para falar sobre uma articulação entre o

espaço e a estrutura. A conhecida banda, formada a partir de uma torção, é a

imagem evocada por Lacan para demarcar que o ‘dentro’ e o ‘fora’ estão

implicados e se determinam. O ‘lado de fora’ é um ‘não dentro’. Na banda, o

dentro e o fora se confundem, deixando o sujeito sempre na borda. A

matemática, que antes serviu para inúmeras formulações lacanianas, agora é

estendida, tal como o inconsciente definido por Freud. (1973 [1938]).

Granon-Lafont (1990, p.13) esclarece que a passagem das formigas

nessa figura topológica é atravessada pelo tempo. A ideia do horizonte, dentro

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Moebius, superfície plana com duas dimensões, que assim é definida na

relação que mantem com sua vizinhança imediata. Por outro lado, o horizonte,

o ponto onde a banda revira, pinça sua torção, sempre na relação às

vizinhanças imediatas, é percebido como profundidade”. Esta profundidade é

atravessada pelo tempo, que o tem como medida. O tempo que a formiga

levará para alcançar o ponto de torção e que nunca alcançará, uma vez que

tão logo se aproxime dele, “um novo horizonte irá sempre se apresentar como

terceira dimensão, como profundidade (...) trata-se do horizonte, ao qual

sabemos não ser o limite, mas que topologicamente, se entende como o tempo

necessário para alcança-lo”. (Granon-Lafont, 1990, p.14).

O fator tempo opera nessa equação demarcando o espaço e incidindo

sobre a percepção do mesmo. Segundo Estrella (2010) “Somente a

intervenção do tempo poderia diferenciar os lados avesso e direito da banda,

na medida em que estão separados pelo tempo de uma volta sobre esta. Neste

sentido, apenas a categoria tempo poderia atestar haver entre as duas curvas

o espaço da Banda de Moebius propriamente, que pode representar um vazio

central formado a partir delas, onde não há exatamente uma superfície”.

Certa vez um morador de uma RT do IMAS saiu para comprar balas e

não voltou. Procuramos por todos os lados, todas as pistas e ligamos para a

emergência do hospital psiquiátrico da região. Lá nos informaram que não

havia nenhum morador de RT. Continuamos a busca até que alguém o

reconheceu: ele estava internado no hospital. Ao chegarmos lá, os funcionários

disseram que ele não dizia seu nome e afirmava ser de botafogo, bairro da

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nascido, vivido e trabalhado em botafogo até ser internado 26 anos antes.

Quando perguntamos, ingenuamente, porque ele respondeu que morava em

botafogo, ele respondeu: “porque me perguntaram de onde eu sou e onde eu

moro, não me perguntaram onde eu estou morando no momento”.

Nesse pequeno exemplo temos a incidência do tempo na demarcação

da ‘casa’ do morador. Há 26 anos mora fora de botafogo, mas esse tempo

presente, esse contínuo do gerúndio ‘estou morando’ determina que a

mudança de endereço não pode ser calculada de modo objetivo. “Não me

perguntaram onde eu moro, mas onde estou morando” há uma contingência,

um ‘ponto de escape’ marcado pelo tempo: estou morando aqui, mas moro em

botafogo. Moro e morando são coisas diferentes. O tempo que marca esses

dois lugares determina que ele seja entendido de forma única pelo morador. O

território então fica acessível não pela geografia, mas pela linguagem.

Como já descrevemos uma das primeiras atividades depois da

Intervenção na CSDE, foi fazer uma espécie de ‘senso’. Nesse senso, dentre

as informações colhidas, uma das mais preciosas era o local por onde foi

emitida a Autorização de Internação Hospitalar (AIH). Essa informação era

valiosa, pois era a partir dela que se estabeleciam os diálogos com a rede. Se

o paciente fosse internado por um município ‘x’ haveria grandes chances de

alguém de lá encontrar uma família, ou saber do caso.

Uma das tarefas mais árduas era deslocar a ideia de ‘município de

origem’ para ‘territorialidade’. Isso porque as políticas públicas de saúde, e

mais especificamente na saúde mental, a acessibilidade, a responsabilidade

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2006). Se por um lado essa é uma tarefa que não pode se encerrar na

objetividade de encontrar o ‘local de origem’ do sujeito, por outro lado sustenta

a criação de novos dispositivos quando ocorre o fechamento de um hospital.

Com a CSDE esse argumento foi muito válido para que os municípios se

obrigassem a construir redes, SRTs e o que mais fosse preciso para receber os

moradores que internaram muitos anos antes. Remeter aos municípios a

responsabilidade pelas internações que efetuaram, não importa quanto tempo

antes, é fundamental. Porém também é fundamental que a discussão sobre o

lugar de origem não se encerre nessa indicação.

Perguntei para um paciente onde morava antes de ser internado e ele

me respondeu o nome de um bairro e depois complementou: “moro numa rua

de terra, que sobe e desce, aí anda, anda, anda e nunca chega”. E ponto. Era

isso. Ele morava em uma rua que nunca chegava. Claro que informação do

bairro era importante, mas parece que o complemento da frase não pode ser

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