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4. Entrevistas

4.3. Tópicos Relevantes Retirados

4.3.3. Os realizadores

Quando não há interferência por parte dos produtores, um realizador tem uma palavra em todos os processos do filme, incluindo o processo de mistura. Por isso, é normal os realizadores intervirem no processo para garantirem que a mistura corresponde àquilo que eles têm em mente sobre o filme. Porém, quando os técnicos foram questionados sobre a influência dos realizadores no processo de mistura, a resposta mais comum foi: alguns. “alguns realizadores são sensíveis ao som. Uns são. Outros não querem saber (…).“ (EF) “Obviamente há realizadores, principalmente a geração de 70, portanto Coppola, Lynch, o Lucas... Uns quantos que perceberam a função que o som realmente tem no filme e obviamente que utilizaram o som e aproveito da ideia. (…) Para mim há dois tipos de realizadores, não são os bons e os maus. São os que pensam com som e os que pensam sem som.” (EB)

“Alguns sim, outros não. (…) Há realizadores que de facto têm o som tal como têm a imagem e a sua atenção é a mesma quer para uma coisa quer para outra.” (HL)

“Eu acho que depende dos realizadores. Há alguns provavelmente, outros se calhar não. Eu acho que tem muito que ver com a sensibilidade de cada um. Há realizadores que são praticamente surdos e há realizadores que são muito atentos ao som.” (JP)

“A experiência que eu tenho é que o que os realizadores querem é ouvir os diálogos e não querem mais nada. Pode aparecer um ou outro que se interesse por questões mais técnicas.” (QB)

6 Digital Cinema Processor – Dispositivo que permite a codificaçãoo e descodificação de áudio de

45 “Alguns realizadores tiveram muita influência, quer negativa quer positiva.“ (AR)

Houve, no entanto, tecnicos que concordaram que os realizadores tiveram e têm muita influência no processo de mistura, e que a sua palavra é soberana .

“Se pensarmos bem, o realizador influencia e dirige totalmente a parte da imagem. É ele que em última análise decide tudo em relação à edição também. E a maneira como tudo é feito. (…) É bom que eles também tenham algum papel e felizmente isso já está acontecer e depois há estas coisas, que é a tentativa de arriscar da mesma forma que se arrisca com a imagem, com determinados conceitos que são introduzidos, a nível de filmagem... E tentar fazer o mesmo com o som.” (CN)

“Acho que sim. Porque nem que seja pelo facto de aceitarem melhor esse meio. (…) Estou a dizer isto, mas faz sentido que os realizadores tenham influenciado a coisa ao longo do tempo, porque independentemente de tudo, ele é que tem a intenção na cabeça. Ele é que sabe o que é que melhor serve o propósito do que ele quer ou do filme, do que o misturador.” (DH) “Os realizadores tiveram bastante influência no evolução do processo de mistura porque é devido à criatividade de alguns deles que os sons começaram a ser colocados noutros canais do surround com o intuito de causar sensações específicas.” (RG)

“O filme é deles. Toda a influência. Aliás, quando falamos de influência, nós podemos tentar influenciar o realizador. Quem manda na sala é o realizador, ou quando estamos a trabalhar para os americanos, o produtor.” (BN)

A comunicação entre realizador e misturador é dos aspectos mais importantes para a obter um resultado final que satisfaça as duas partes. A opinião geral entre os técnicos é a de que ter o meio termo do envolvimento por parte do realizador é o cenário ideal.

“Eu preciso de perceber que estou no caminho certo. E, claro, preciso de saber o que o realizador quer. (…) preciso da intenção e preciso que ao longo do tempo sempre que exista alguma dúvida ou algum esclarecimento que a pessoa aprove ou desaprove aquilo que está a ser feito.” (DH)

“Eu por acaso gosto mais de trabalhar com realizadores que estão mais envolvidos e sensibilizados com o som. Porque também não gosto que deixem completa liberdade. Porque às vezes essa completa liberdade é falsa e às vezes é uma perda de tempo, que gera muitos mal entendidos, porque obviamente que cada fazia de sua maneira.” (EB)

46 “A harmonia perfeita seria que as coisas se encontrassem, obviamente que isso às vezes não acontece mas encontram-se soluções que permitam que a visão do misturador, enquanto misturador fique, e aquilo que o realizador quer também.” (HL)

“É sempre bom teres um bocado a indicação do realizador para ele dizer "ah, aqui quero uma coisa mais onírica, aqui quero uma coisa mais clean, aqui quero um vento mais agressivo, mais forte". Acho que isso faz sentido, porque se depois o realizador está mesmo com aquela ideia de que quer mesmo aquilo e tu estás a fazer aquilo às cegas, estás a perder tempo e o realizador está a fazer-te perder tempo.” (JA)

“Para mim as situações mais interessantes são aquelas que resultem de diálogos, em que o realizador tem um ideia e que ao confronto dessa ideia com uma ideia minha, e isso desse alguma coisa construtiva (…).” (TM)

Mas este tipo relação nem sempre acontece, havendo realizadores são demasiado intrusivos na mistura e outros que simplesmente não têm sensibilidade auditiva para conseguir intervir. “na maior parte das vezes os realizadores quando querem dirigir o som, esta intenção vem de um desejo de mandar nas coisas e não porque percebem disto ou qualquer coisa. (…) Suponho sempre que quando estou contratado para misturar um filme, o produtor e realizador sabem porquê que me contractaram. Não é para me dizer o que é que vou fazer plano a plano, ou palavra a palavra. Quando isto acontece eu desisto das misturas e digo-lhe "desculpem mas vocês não precisam de mim, vocês precisam de um técnico que vai seguir as instruções, e vai ser muito mais barato.” (BN)

“Há uns que te dizem o som é demasiado abstracto para que eu te possa conseguir dizer o que é que estás na minha cabeça porque eu não sei traduzir em palavras. (…) não é fácil para alguns realizadores descrever uma ideia de um acontecimento sonoro para alguns pelo menos não é.” (HL)

“A situação pior é quando quer participar mas não sabe o que é que quer e tu estás a tentar adivinhar o que ele quer, mas ele também não te dá liberdade para tu fazeres o que queres. Tens que adivinhar o que é que ele quer, mas ele também não é claro naquilo que ele quer (…).” (TM)

“A ideia dos realizadores nunca é bem a ideia de quem está a misturar o som. Eles vêm a forma muito plana, quer seja em stereo quer seja em surround.” (AR)

Está claro que os realizadores têm alguma influência no processo de mistura. Quer dêem liberdade total à equipa de mistura ou não, a abordagem que cada um tem com a equipa influência as escolhas que são feitas. O aglomerado das ideias artísticas do realizador e da

47 equipa, juntamente com os conceitos técnicos é que possibilitam a evolução no processo de mistura.

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