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Os sete saberes necessários á Comunicação do futuro

Ao aproximar-se o final deste percurso, pretende-se fazer traçar um breve paralelo à guisa de conclusão, da proposta de Morin em relação à educação com nossa reflexão sobre a comunicação fundamentada no pensamento deste autor. Parafraseou-se para tanto uma das mais importantes obras de Edgar Morin sobre a educação, OS SETE SABERES PARA A EDUCAÇÃO DO FUTURO, com o objetivo de relacionar os princípios arrolados nesta obra com alguns aspectos da comunicação.

Na referida obra, Morin discute aqueles aspecto que ele entendem serem necessários adotar, ou refletir a respeito, no que tange à educação, aqui se pretende discutir a pertinência destes saberes no que diz respeito à comunicação, a partir da análise realizada. Paráfrase, metáfora, inspiração ou plágio, muitas são as maneiras de compreender esta aproximação, consumar esta relação.

Constituem-se nos sete saberes necessários para a educação do futuro, como já foi destacado, os seguintes aspectos: 1) o primeiro diz respeito ao erro e a ilusão; 2) o segundo refere-se ao conhecimento pertinente; 3) o terceiro é o que privilegia a condição humana; 4) o quarto é o que enfatiza a identidade humana terrestre; 5) o quinto fala sobre a incerteza; 5) o sexto é da compreensão; 6) o sétimo é o da ética do gênero humano.

O primeiro saber que diz respeito ao erro e a ilusão conhecimento, que é ignorado em relação às ciências e também na Comunicação, bem como em outras manifestações culturais. Tal situação pode ser aproximada da noção de ruído da Comunicação. A Comunicação como uma disciplina acadêmica tradicionalmente desprezou a presença do erro no conhecimento sem levar as últimas conseqüências a importância deste nos processos comunicativos. Numa epistemologia complexa da comunicação está implícita a idéia que a Comunicação “correta” pode desinformar da mesma forma que a Comunicação contendo “erro” pode informar. O processo comunicativo, em larga escala, produzida por instituições e empresas de comunicação cria a ilusão de hegemonia e, muitas vezes, o monopólio da produção e emissão de informações sem perceber que as redes de contrainformação sobrevivem a miúde, oferecendo resistência à comunicação disponível. A comunicação é vivenciada e refletida como se todo o seu conteúdo efetivamente

comunicasse, como se todo o aparato tecnológico a disposição ampliasse e melhorasse as suas formas de comunicação: erro, ilusão.

O segundo saber que trata do conhecimento pertinente poderia aqui também servir de guia à comunicação. Segundo Morin, esta forma de conhecimento está na contramão da fragmentação, da especiaização, da disciplinarização (sem negar a importância das discplinas). A construção de uma ciência da comunicação, por mais que se reconhecesse a necessidade e aplicabilidade desta, não restringiria a esta o poder de definir o fenômenos comunicacional, a contribuição de especialistas – biólogos, antropólogos, físicos etc – que estudam os outros níveis de comunicação que não a humana e social seria, também, essencial. Uma abordagem, transdisciplinar, complexa da comunicação pode reorganizar a disciplina em torno de temas ou objetos.

A condição humana se constitui no terceiro dos saberes e possui uma importância crucial para a comunicação, vindo ao encontro de uma das proposições fundamentais desta reflexão, qual seja, a possibilidade de se indentificar cinco níveis de comunicação no pensamento de Edgar Morin. A compreensão de que a concepção do homem como sendo simplesmente um ser cultural ignora que ele é, ao mesmo tempo, um ser natural – físico, químico – e, ainda, mítico, imaginário, lúdico etc. Neste sentido, o aspecto essencial que diferenciaria a comunicação humana das demais, qual seja, o fato de ser simbólica, produtora da cultura, esconde as outras virtualidades que, se não são definidoras, possuem um papel decisivo para o entendimento da dinâmica comunicacional.

Não se apregoa, aqui, que para enteder a comunicação humana tenhamos que conhecer a comunicação celular ou, ainda, a comunicação entre os corpos celestes que participam de um sistema estelar como o nosso sistema solar, ou das estrelas que compõem uma galáxia. O que se defende é que o entendimento da dinâmica comunicacional destas instâncias referidas podem ser úteis como hipóteses na configuração dos pressupostos da comunicação humana.

O quarto saber necessário para a educação do futuro e que aqui se pleiteia relacionar com a comunicação privilegia à identidade humana terrestre. A terra deve ser compreendida como sendo a terra-pátria. Como tal, a diversidade cultural da espécie não pode ser um empecilho para uma perfeita comunicação. É necessário ensinar, enfatiza Morin, a idéia da terra-pátria, que nosso planeta deve ser defendido

com todos as forças na medida em que este nos pertence da mesma forma que pertencemos a ele. Assim sendo, a humanidade deve fazer esforços por uma comunicação global, por um maior compartilhamento simbólico de objetivos, e se empenhar para manter o planeta terra como sendo comunicacionalmente auto- sustentável.

O quinto saber, a exemplo do primeiro que trata do erro e da ilusão, também pontua um aspecto que possui uma relevância epistemológica grandiosa, aborda a questão da presença da incerteza como constituinte da construção da verdade cientifica, por conseguinte, comunicacional. A questão da incerteza, assim como da relatividade ou, mesmo, da teoria do caos, conhecimentos incorporado por Morin, na década que antecedeu a construção dos métodos, apresenta-se como elemento sempre presente na natureza e como tal também na representação científica desta. A incerteza é um dado da natureza ignorado, ou deixado de lado, até as primeiras décadas deste século quando Werner Heisenberg trouxe a público o seu princípio da incerteza e, também, Einstein com a proposição da relatividade.

A compreensão é o sexto saber que propugna Edgar Morin que vai ser fundamental para uma educação no futuro, ela deve ser o meio e o fim da comunicação humana. A constante disputa de espaço na sociedade moderna, urbana, competitiva, que acentua a oposição ao outro, a negação do outro e a incompreensão é responsável por este afastamento. Quanto menos eu me identifico com o outro, menor é a minha necessidade de cooperação, de solidariedade com as dificuldades do outro. Isto é, quanto menos se comunicar com o outro maior será a incompreensão, fenômeno que levado a um patamar radical pode resultar na tentativa de aniquilar, de extermínar o outro.

Por fim, o sétimo saber propalado por Edgar Morin é o que se refere a ética do gênero humano. A antropoética, como destaca Morin em sua análise, sustenta-se sobre três elementos: a espécie, o indivíduo e a sociedade. Nestes níveis, a comunicação humana se apresenta com suas peculiaridades, mas preservando aqueles elementos essenciais apresentados e discutidos no decorrer deste trabalho a luz da complexidade.

5.4 O LUGAR DO PENSAMENTO TECNOLÓGICO NA CONSTRUÇÃO DE UMA