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1. Passeios por uma França do século XVIII: entre o navio de Bougainville e a

1.2 A volta ao mundo de Louis Antoine de Bougainville

1.2.2 Os treze viajantes anteriores a Bougainville

Com a realização dessa expedição, Bougainville tornou-se o décimo quarto navegador da história, e o primeiro francês a conseguir o feito que revigorou a França. No discurso preliminar de seu relato, o viajante reconhece a importância dos outros treze navegantes como grandes contribuidores para a criação de sua própria rota, pois analisando-a percebemos algumas semelhanças entre elas.

Além disso, aproveita para enaltecer a si mesmo, comentando, ainda em seu discurso preliminar, o fato de nenhum desses treze homens pertencerem à nação francesa, e que apenas seis deles – Magalhães, Drake, Lemaire, Roggewin, Byron e Wallis - fizeram a viagem com o espírito de descoberta. Embora a finalidade principal de alguns desses navegantes tenha sida a atividade de corsário, eles não deixaram de desbravar rotas, como Francis Drake, que foi o primeiro navegador a passar pelo Cabo Horn, no sul do continente americano, através do Cabo Drake20.

Os outros navegantes tinham apenas o interesse de enriquecer com compras feitas com os nativos e pilhagens das cidades coloniais espanholas. Faziam isso seguindo rotas já conhecidas e sem interesse em conhecer o globo terrestre.

O primeiro a aparecer na lista dos treze homens é Fernão de Magalhães, navegador português que, a serviço do rei da Espanha, efetuou a primeira viagem ao redor do mundo, sendo o primeiro a chegar à Patagônia, e morto em uma batalha em Cebu, nas Filipinas, no curso da expedição que foi finalizada por Sebastião Elcano. Magalhães foi de grande importância por ter sido o primeiro a cruzar as águas do Atlântico para o Pacífico. Além disso, foi o descobridor de uma rota que

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37 otimizou o tempo de navegação ao cruzar o estreito que recebeu o seu sobrenome, o Estreito de Magalhães.

O segundo de sua lista foi Sir Francis Drake. O cavaleiro da rainha da Inglaterra passou a vice-almirante da Grã-Bretanha. Renomado corsário, realizou sua primeira circunavegação como responsável pela reestruturação nas defesas das cidades da América espanhola banhada pelo oceano Pacífico e, principalemente, no mar do Caribe, quando capturou Cartagena das Indias, principal porto de escoamento de produtos da América espanhola para Sevilha. Ficou conhecido por ter sido o homem que liderou a esquadra inglesa contra a armada espanhola. Segundo Silvia Miguens:

Francis Drake, pirata, comerciante de escravos e saqueador inglês, graças a toda a sua audácia e irreverência, foi nomeado Vice-almirante pela Royal Navy e Sir pela rainha Isabel I. Seu passatempo era abordar, roubar e inclusive sequestrar todo navio e, com maior intemperança, os espanhóis, tornando-se um herói para a Royal Navy e , para a Armada espanhola, um bandido desprezível. (MIGUENS, 2014, p. 275-276)

Assim como Francis Drake, além de ter se dedicado ao corso, Cavendish foi cavaleiro da rainha britânica e teve importante participação no processo de colonização da Virgínia. E, em 1586, no comando de uma frota de três navios, o aprendiz de Francis Drake tornou-se o terceiro homem a dar a volta ao mundo.

Em quarto lugar, aparece o também corsário Olivier Van Noort. O primeiro holandês a dar a volta ao mundo teve como intuito atacar as colônias espanholas no Pacífico e comercializar especiarias nas Índias. Embora tenha conseguido executar a viagem, ele retornou a Rotterdã com apenas 45 sobreviventes, um total de, aproximadamente um quinto de seus homens. Segundo Jean França, na obra

Piratas no Brasil,

O experiente corsário holandês, Oliver Van Noot ancora próximo à entrada da baía de Guanabara e faz contato com o governador-geral D. Francisco de Sousa, que estava de visita à capitania, alegando necessitar se abastecer de víveres. Alguns homens desembarcaram em uma enseada próxima ao Pão de Açúcar e são surpreendidos pelos da terra. Após uma série de peripércias, que envolve troca de prisioneiros, a frota parte e termina por completar uma viagem de

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circum-navegação pontuada por ações de saques e pilhagens. (FRANÇA, 2012, p. 311)

George Spilberg21, corsário oficial da Holanda, partiu em 8 de agosto de 1614 com seis navios, retornando apenas com dois deles, em 1 de julho de 1617. Fez rotas nas costas do Peru e do México, atacando a Baía de Acapulco. Além disso, para empreender a sua viagem, saqueou a cidade brasileira de São Vicente. No entanto, o empreendimento do oficial se desenvolveu sem grandes descobertas.

Quase no mesmo período, de nacionalidade holandesa, Jacques Lemaire22 e Willem Schouten também eram corsários oficiais. Saíram da Holanda em 14 de junho de 1615, retornando em 1617. Eles conseguiram concluir toda a viagem com apenas dois navios. Descobriram diversas ilhas no Pacífico, mas Lemaire morreu de febre nas Ilhas Mauricio, deixando apenas Schouten à frente dos dois navios, à chegada à Holanda.

Jacob L’Hermite e John Hugo Schapenham, holandeses, que partiram dos Países Baixos, em 29 de abril de 1623, com onze navios , finalizaram a circunavegação com apenas um. Eles tiveram como principal objetivo a tentativa de conquistar o Peru. Jacob acabou morrendo quando passava pela Indonésia. O projeto da circunavegação foi um empreendimento da Companhia das Índias Orientais.

O oitavo homem da lista é William Ambrose Cowley, bucaneiro inglês, que, partindo da Virgínia, nos Estados Unidos, foi o primeiro navegante a iniciar uma viagem em torno do mundo saindo do continente americano. Sua circunavegação foi concluida quando desertou da diligência dos capitães David e Eaton, em 1686, durante uma empreitada do grupo nas Índias Orientais, publicando suas memórias de viagem em 1699.

Em seguida, aparece Woodes Rogers, capitão de corso inglês, que partiu com dois navios de Bristol, em 2 de agosto de 1708, retornando a Downs com os mesmos navios em 1 de outubro de 1711. Ele se tornou famoso por ter sido o

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A grafia no corpo deste texto segue como Bougainville apresenta em seu discurso preliminar. No entanto, também aparece grafado por memorialistas como Joris van Spielbergen.

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A grafia no corpo deste texto segue como Bougainville apresenta em seu discurso preliminar. No entanto, também aparece grafado por memorialistas como Jacques Le Maire.

39 primeiro a utilizar amenidades sanitárias23 em seus navios. Além disso, segundo David Cordingly (1995, p. 18), ficou conhecido pela sua atuação em batalhas nos territórios coloniais da Inglaterra, França e Espanha.

Dez anos depois, Roggewein, alemão a serviço da Holanda, descobridor da Ilha de Páscoa e da Samoa, realizou uma viagem desbravadora. Partiu de Texel, na Holanda, em 20 de maio de 1721, com três navios, retornando com apenas um, em 11 de julho de 1723, após ter tido seus outros navios confiscados pela Companhia das Indias Ocidentais.

O décimo primeiro viajante é George Anson. O capitão inglês que lutou por sete anos contra a França fez sua navegação global em quatro anos. Ele partiu de St. Helens, em 18 de setembro de 1740, à frente de seis navios. Teve dois deles naufragados no cabo Horn, um encalhado e outros dois perdidos, retornando com apenas um para Spithead, na Inglaterra, em 15 de junho de 1744.

O décimo segundo homem foi John Byron, capitão inglês, conhecido por ter feito a mais curta viagem de circunavegação, em apenas 22 meses. Iniciou sua expedição em 20 de junho de 1764 com dois navios e, logo no inicio da viagam, na Antígua, teve problemas técnicos, o que fez com que um de seus navios retornasse para Downs, na Inglaterra. Passou pela costa do Rio de Janeiro, sendo impedido de aportar na Baía de Guanabara. Foi homenageado ao ter o ponto mais oriental da Austrália com seu nome, o Cabo Byron.

Dois meses após o retorno do Commodore Byron, o capitão Samuel Wallis e Philip Carteret partiram da Inglaterra em julho de 1766, à frente dos navios Dolphin e

Swallow. Os dois navios se separaram ao entrarem no oceano Pacífico. Este

contratempo fez com que a data de retorno de Wallis fosse em maio de 1768, após ter descoberto o Taiti, e a de Carteret em junho de 1769.

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Local na proa do navio onde os tripulantes tinham uma cavidade arredondada a qual utilizavam para defecar e seus dejetos caiam diretamente no mar. Em geral, não havia privacidade e era utilizado por todos do navio.

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