2 Oscilações
2.2 Oscilações lineares
2.2.2 Oscilador harmônico amortecido
V
=
kx
=
kA
t+
=
m A
t+
,de modo que a soma da energia cinética mais a energia potencial é: (2.19)
1
2 202
C
E V+ =
m A
=E
,ou seja, a energia total é constante no tempo, e novamente obtemos a relação entre a amplitude do movimento e a energia mecânica,
k
E
A=
2
/
. A equação 2.19 diz que a energia cinética e a energia potencial variam continuamente no tempo, mas sua soma permanece sempre constante. Observe atentamente que só podemos explicitar estas energias como função do tempo depois de resolver a equação de movimento, achando assimx(t)
.Exemplo 1. Como aplicação elementar dos resultados acima, va- mos obter a solução para uma situação em que um bloco atado a uma mola, numa superfície horizontal sem atrito, no instante inicial
0
=
=t
aplicado um impulso que o faz adquirir uma velocidade inicial
−v
0 (em direção à origem). Veja que a energia mecânica cedida ao bloco éE mv=
02/ 2+kx
02/ 2
e vai permanecer constante, pois não estamos levando em conta a existência de atrito.Como temos a solução geral, devemos aplicá-la neste caso específico, para determinarmos as constantes de integração
A
e
da equação 2.7 (ou, caso se queira, as constantesC
1 eC
2 da equação 2.8). Escolhendo a solução geralx A=
sen(
0t+)
, aplicamos as condições iniciais:x
0=Asen
,− =v
0
0Acos
, de onde, 0 0 0x
tg
v
= −
e 2 2 0 0 2 0v
A
x
=
+
.A solução
x(t)
para este problema é, então:(2.20) 2 2 0 0 2 0 0
sen(
)
v
x
x
t
=
+
+
,sendo
= −arctg(
0 0x v/ )
0 . Você deve ser capaz de mostrar que a solução da equação 2.20 é completamente equivalente a:(2.21) 0 0 0 0 0 0
cos
v
sen
x x
t
t
x
=
−
.Faça isso usando a solução geral dada na equação 2.8 e determinan- do as constantes
C
1 eC
2.Agora é a sua vez!
Para completar este exemplo, use a equação 2.20 e calcule a energia cinética e a energia potencial como funções explícitas do tempo. Some estas energias e mostre que o resultado é igual a
mv
02/ 2+kx
02/ 2=E
. Veja que a solução encontrada na equação 2.20 pode ser particulari- zada para as situações em quex
0=0
ou em quev
0=0
.2.2.2 Oscilador harmônico amortecido
Até agora consideramos situações em que a energia mecânica se con- serva, isto é, tratamos o problema do oscilador de maneira idealizada, pois em sistemas físicos reais sempre temos forças de atrito agindo. A experiência de descansar balançando em uma rede é de curta du- ração, em pouco tempo a amplitude das oscilações tende a zero e é necessária a aplicação de uma força para balançarmos mais um
pouco. Assim, para que nossos resultados estejam mais próximos de descrever uma situação real, devemos incluir forças de atrito. Natural- mente, uma força constante não é de interesse analisar, pois a adição de uma força constante não altera o movimento harmônico simples, alterando apenas a posição de equilíbrio em torno da qual ocorrem as oscilações. Para explicitarmos este fato, adicionamos uma força
F
0 constante na equação 2.4 e obtemos:
m x
••= − +kx F
0, ou, (2.22)x
20x
F
0m
••+
=
.Fazendo-se a substituição
x'= −x F m
0/
02, temos •'x x=
• e ••'x x=
•• e, substituindo na equação 2.22, obtemos, para a equação de movimento:(2.23) ••
x'+
02x' 0=
, significando que as oscilações ocorrem em torno do pontox =' 0
, isto é, em torno do pontox F m=
0/
20. Um exemplo deste caso é um bloco pendurado em um teto por meio de uma mola, onde a força constante é o peso do bloco. Não iremos tratar dos casos em que a força de atrito depende explicitamente do tempo, como é o caso de um sistema mas- sa-mola numa superfície horizontal rugosa. Nestes casos, a cada meio ciclo, a força de atrito inverte de sentido, o que leva a uma dependên- cia explícita com o tempo. Na maioria dos casos, uma boa aproxima- ção, particularmente quando a força de atrito é pequena, é considerar a força de atrito como linearmente dependente da velocidade, isto é,a
F
= −bv
(veja que agora a força tem uma dependência implícita com o tempo). Forças de atrito dependentes do quadrado da velocidade são mais realistas em alguns casos, mas não trataremos desse caso, pois as equações de movimento não são lineares e a solução destas equa- ções, em geral, só podem ser obtidas por integração numérica.Com a inclusão de uma força de atrito proporcional à velocidade, a equação de movimento fica:
m x
••= − −kx b x
•,ou,
x
b
x
20x
0
m
•• •
+
+
=
.(2.24) ••
x+2x
•+
20x=0
.Esta é a equação que descreve o oscilador amortecido. Note que o coeficiente de amortecimento depende fortemente do meio em que se encontra o oscilador. Pense em um pêndulo a oscilar no ar e outro oscilando no interior de um líquido. Como antes, procuramos uma solução como a proposta na equação 2.11,
x e=
t e, substituindox
,t
x
•=e
e ••x=
2e
t na equação 2.24, encontramos:
e
t(
2+2 +
02) 0=
, o que significa que:(2.25)
2+2 +
02=0
. Observe que esta equação fornece duas raízes: (2.26)
1= − +
2−
02 ,(2.27)
2= − −
2−
20 .Agora você tem a solução geral para o oscilador no caso de amor- tecimento,
(2.28) 1 2
1 t 2 t
x C e=
−+C e
− .Para analisar movimentos possíveis a partir da equação 2.28, está claro que devemos analisar três situações distintas:
Oscilador subamortecido, que ocorre quando
ω
20>
γ
2; Oscilador superamortecido, seω < γ
20 2;Oscilador criticamente amortecido, neste caso
20=
2.Caso (a): Oscilador subamortecido
No oscilador subamortecido você pode escrever as expressões para as raízes
1 e
2 de forma abreviada, fazendo
1=
02−
2 e, assim,1
i
1
= − +
e
2= − −
i
1. Logo, a combinação linear das soluções 1te
ee
2t fornece a posição como função do tempo, (2.29) 1 1 1 2(
i t i t)
tx e=
−C e
+C e
− , solução que podemos reescrever com o auxílio da equação de Euler:Lembre-se de que γ é o coeficiente de amortecimento
γ =b m/ 2
e queω =
20k m/
é a freqüência angular natural de oscilação do sistema (ou freqüência característica do sistema).(2.30)
x e=
−t( senB
1t C+
cos
1t)
, onde(
)
2 1A
A
i
B
=
−
eC
=
A
1+A
2. Também podemos reescrever a soluçãox(t)
dada na equação 2.29 como:(2.31)
x Ae=
−tcos(
1t+)
,sendo que agora
A=
B
2+C
2 etg = − C
B
.Observe que as duas maneiras convenientes de se expressar a posição como função do tempo no caso do oscilador subamortecido são as equa- ções 2.30 e 2.31. Com as condições iniciais, determinamos as constantes
A
e
(ouB
eC
). Note que a solução dada pela equação 2.31 mos- tra claramente que o sistema oscila com uma freqüência angular natural1
. Esta freqüência natural não é uma freqüência no sentido estrito da palavra, como é o caso de
0, já que a partícula nunca passa pelo mes- mo ponto duas vezes com a mesma velocidade (já que esta se compor- ta como um oscilador subamortecido). Como você pode observar pela equação 2.31, a amplitude de oscilação decresce exponencialmente com o tempo. E a amplitude da velocidade (derivada da posição), obviamente, também decresce com o tempo. E assim, diz-se que o sistema oscila com a freqüência
1 com uma amplitude exponencialmente decrescente. A figura 2.2 mostra a posição como função do tempo para osciladores su- bamortecidos. Nesta figura, a curva a mostrax t( )
quando o oscilador é afastado de sua posição de equilíbrio de um valorx
0 e liberado (v =
00
); enquanto que a curva b mostrax t( )
na situação em que o mesmo osci- lador no instante inicial está em repouso (x =
00
), adquirindo uma velo- cidadev
0 por meio de um impulso a ele aplicado.b a t x x 0 0
Você deve ser capaz de usar a equação 2.30 para mostrar que a solu- ção representada pela curva a da figura 2.2 é:
0 1 1 1
(cos
sen )
tx x e
t
t
−=
+
,enquanto que, para a curva b desta mesma figura, a solução é:
0 1 1
sen
tv
x
e
t
−=
.Caso (b): Oscilador superamortecido
Quando
20<
2, temos o chamado oscilador superamortecido. Ago- ra as duas raízes dadas nas equações 2.26 e 2.27 são reais, isto é:1 2
= − +
e
2= − −
2, em que abreviamos a notação, usando2 2
2 0
=
−
. E a solução geral para a posiçãox(t)
é obtida nova- mente como combinação linear das soluçõese
1t ee
2t, ou seja, 1 2 1 t 2 tx C e=
+C e
, ou, (2.32) 2 2 1 2(
t t)
tx e=
−C e
+C e
− .Agora você tem um decrescimento exponencial da posição com o tempo. Observe que os dois termos decrescem no tempo, um com taxa de decrescimento maior que a do outro (não ocorrem oscilações, não é uma função que depende de seno ou co-seno). Note que
2 não é uma freqüência, pois não temos mais um movimento que se repete em ciclos. As constantesC
1 eC
2 são obtidas mediantes as condições iniciais em cada situação.Exemplo 2. Vamos determinar o movimento de um oscilador su- peramortecido considerando que, quando em equilíbrio
(x =
00)
, aplicamos um impulso, de modo que ele adquire uma velocidadev
0. Usando a equação 2.32, obtemos a velocidade,2 2 2 2
1 2 2 1 2 2
(
t t)
t t(
t t)
x
•= −
C e
+C e
−e
−+e
−
C e
−
C e
− .Em
t =0
você tem as condiçõesx x=
0=0
ex v
•=
0, que já foram enunciadas no início do exemplo, o que fornece duas equações (uma para posição e outra para velocidade):
0 C C=
1+
2→
C
2= −C
1,
v
0= −(C C
1+
2)+
2(C C
1−
2)
.Compare a solução geral 2.32 com a solução 2.29 e 2.30 da oscilação subamortecida. Qual a sua análise?
Você pode verificar que 1 0 2
2
v
C
=
e a posição como função do tempo neste caso é: 0 2 2 2(
)
2
t t tv
x
e
e
e
− −=
−
.Este resultado pode ser expresso em termos das funções seno hiper- bólico e co-seno hiperbólico, cujas definições são:
senh
,
cosh
2
2
e e
e e
− −−
+
=
=
,e a partir das quais definimos as demais funções hiperbólicas, como a tangente hiperbólica e a cotangente. Logo, a solução
x t( )
que encon- tramos acima, neste exemplo, pode ser escrita como:0 2 2
senh
tv
x
e
t
−=
.Esta solução está representada na figura 2.3, para três coeficientes de amortecimento diferentes (por exemplo, osciladores idênticos mas em meios diferentes), em que podemos ver que o oscilador, devido ao impulso, se afasta da posição de equilíbrio até um valor máximo, o que acontece no instante
t
1, retornando em seguida ao equilíbrio. Sabendo que o instantet
1 corresponde ao máximo da funçãox t( )
e que neste pontox
•=0
você deve ser capaz de mostrar que o instante1
t
é dado por 1 2 21 arctgh
t
=
, em quearctgh
=arco tangente hiper- bólico, é a função inversa da tangente hiperbólica.t
1t
2t
3Este exemplo mostra claramente que podemos expressar a solução geral do oscilador superamortecido em termos de funções hiperbólicas, isto é, a solução dada pela equação 2.32 é completamente equivalente a:
x e=
−t( coshA
2t B+
senh
2t)
,em que
A C C=
1+
2 eB C C=
1−
2.Caso (c): Oscilador criticamente amortecido
O amortecimento crítico ocorre quando
20=
2 e assim, usando as equa- ções 2.26 e 2.27, vemos que as raízes
1e
2 são iguais:
1=
2= −
. Isto quer dizer que a solução geral dada pela equação 2.28 é:(2.33)
x C C e=(
1+
2)
−t=B e
1 −t,em que fizemos
C
1+C
2=B
1=constante. E temos apenas uma so- lução. Uma outra solução deve ser achada para a equação de movi- mento (equação 2.24) onde agora =
0. Podemos provar que, neste caso, a segunda solução é:
x te=
−t,pois
x e
•=
−t−te
−t e ••x= −e
−t−e
−t+
2te
−t, e assim, substituin-do
x
,x
• e •x
• na equação 2.24, ficamos com:
−e
−t−e
−t+
2te
−t+2e
−t−2
2te
−t+
02te
−t=0
, ou,(
20−
2)te
−t=0
.O que é verdade para qualquer
t
, pois =
0. A solução geral no caso de amortecimento crítico é, então, a combinação linear das duas soluções encontradas:(2.34)
x B B t e=(
1+
2)
−t.Novamente, as constantes
B
1 eB
2 são determinadas a partir das condições iniciais. A solução encontrada mostra que não temos os- cilação, mas sim um decrescimento exponencial da posição com o tempo, que agora é mais rápido que no caso de superamortecimento. Na figura 2.4, encontramos gráficos da posição como função do tem- po para osciladores superamortecidos e criticamente amortecidos. A curva a da figura 2.4 mostra o caso do oscilador com amortecimento crítico e a curva b, o caso superamortecido.b
a
x
x0
t
Figura 2.4 Posição como função do tempo para o oscilador criticamente amortecido (a) e superamortecido (b).
Os gráficos na figura 2.4 ilustram os resultados para a situação em que os osciladores têm como condição inicial uma determinada posição
0