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5.3 A composição e ilustração: composição de uma caixa de leitura de zine na

5.3.2 Outra sala, outro lugar

No dia 8 de novembro, um dia antes da ação propriamente dita, fui até a biblioteca pública e conversei com a Jucileide, coordenadora das atividades no espaço, e perguntei como se dava o funcionamento das salas de estudo, especificamente no que toca à possibilidade de fazer uma atividade de grupo em uma delas. Para isso, seria preciso marcar um dia e horário, o que foi feito em seguida. Mostrei a Jucileide uma fotografia das caixinhas de leitura do Colégio Diocesano e de Quixadá e expliquei que gostaria de fazer uma terceira caixinha no espaço de uma das salas para doar para a biblioteca.

Quando entrei na biblioteca na tarde do dia 9 de novembro, a primeira pessoa que vi foi Lívia. Estava sentada nos banquinhos enquanto esperava os colegas chegarem. À medida que o restante dos meninos foi chegando, dirigi-me a Jucileide e pedi que ela nos levasse à sala que reserváramos. A Biblioteca Municipal Dr. João Eduardo Neto é cheia de cômodos onde fica o acervo e um corredor central atravessa todo o prédio. As salas de estudo têm portas que dão acesso a novas salas, em uma estrutura quase labiríntica. Para chegar à sala que reservamos foi preciso seguir pelo corredor e atravessar os cômodos. Ela estava ocupada com o mínimo: ao meio, uma grande mesa de madeira e algumas cadeiras de que faríamos uso. Não era particularmente uma sala muito requisitada porque não tinha ar condicionado e fazia muito calor.

Nós nos abancamos e comecei a colocar as coisas que trouxe sobre a mesa: as folhas de brumasa, cola, tesoura, papéis, os quadrinhos que levei para trocar, além das cópias com os desenhos que havíamos feito nas reuniões anteriores. No nosso grupo de Whatsapp, pedi para que os meninos mandassem algumas imagens oriundas dos seus

sketchbooks para que eu pudesse agregar as outras que resultaram das atividades e

desafios para casa. Neste primeiro momento, espalhamos na mesa as impressões que fiz de todos os desenhos e esboços para que cada um pudesse ver os seus.

Figura 63 — Primeiros momentos na biblioteca pública municipal

Fonte: Acervo pessoal.

Deixaríamos a nossa marca na caixinha de leitura da biblioteca pública ao fazer a colagem utilizando os nossos desenhos. Depois da conversa que tivemos sobre os desenhos impressos, expliquei o passo a passo da montagem da caixinha, que consistia em: a) recorte das imagens; b) colagem das imagens na folha de brumasa; c) fixação das dobradiças na brumasa; d) colagem do suporte para os zines; e) colagem de informativos; f) fixação de ganchos laterais; h) medição e encaixe da corrente; e) arremates finais. Assim, dividimos tarefas e os meninos começaram fazendo os recortes dos desenhos para colagem.

Figura 64 — Montagem da caixinha de leitura: feita a partir de recorte dos desenhos do grupo

Fonte: Acervo pessoal.

Quando todas as imagens foram cortadas, começamos a fazer a colagem nas folhas de brumasa. As ilustrações e desenhos foram sendo combinados de forma aleatória no retângulo da madeira que ali era uma espaço gráfico, um espaço compositivo. A maioria das personagens que ali se encontram, para o leitor que sentir curiosidade, só podem ser identificados nos próprios zines que se encontram dentro da caixa, como é o caso das diferentes identidades visuais feitas para o Zé Mosquitão. A dificuldade da colagem em si foi preencher toda a madeira, mesmo que com pedaços de papel desprovidos de ilustração.

Figura 65 — Montagem da caixinha de leitura: colagem de desenhos

Fonte: Acervo pessoal.

Nesse dia, convidei o fotógrafo Davi Sousa para fazer as fotos do momento de criação. À época namorado de Carla, Davi havia sido meu aluno no Diocesano e, além de trabalhar como fotógrafo em tempo integral é um dos idealizadores do Coletivo aRUAça, que se define como um grupo que “surgiu da vontade de promover e incentivar a criação artística, alternativa e independente”31. Já participei em saraus e atividades promovidos pelo coletivo aRUAça em outros momentos e mesmo cheguei a contribuir com empréstimo de caixa de som e microfone. Se esse não for o único coletivo de arte da cidade em atividade hoje, com certeza é um dos poucos.

O salto que esta primeira reunião fora da escola busca dar vai ao encontro daquilo que representa o Coletivo aRUAça: contribuir para a cultura da cidade, extrapolar os limites das atividades centradas na escola e no espaço pedagógico e buscar o espaço público através de proposições com ênfase na criação artística. Embora os objetivos se pareçam, os campos de imersão divergem, pois o Coletivo aRUAça se aproxima do teatro, música, dança, palhaçaria, performance e, de modo mais amplo, das artes do corpo e do espetáculo. Distintamente, nosso Grupo de Criação e Artes naturalmente foi se aproximando dos zines, publicações alternativas, processos de encadernação, arte sequencial e, agora, ações no espaço público.

Davi esteve conosco durante toda a ação, conversando com os meninos, atento a cada etapa do processo de composição da caixinha de leitura. Ao longo da pesquisa, o registro dos trabalhos, principalmente fotográfico, esteve a cargo de pessoas diferentes.

31 Descrição presente na bio do perfil do Instagram do coletivo: @coletivoaruaca. Este mesmo registro

apresenta registros do início das atividades do grupo, que diz respeito à organização e realização de um sarau na Igreja Matriz de Limoeiro do Norte na data de 9 de dezembro de 2017.

Ao longo dos textos deste capítulo, os créditos mudam várias vezes e, em determinado momento, cheguei a instruir Thiago Henrique a manusear a câmera e tirar algumas das fotos. Nesta ação em especial, Davi fez todas as fotos, que foram repassadas depois de aproximadamente duas semanas.