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CAPÍTULO II: DEMOCRACIA E CONFLITOS SOCIAIS: OS ATORES SOCIAIS

2.4 As estratégias de debate e luta contra a transposição

2.4.3 Outras ações

Carta da Caravana

Outras ações foram organizadas no sentido de questionar a viabilidade da Transposição do rio São Francisco. O CBHSF apoiou as ações realizadas pela Caravana em Defesa do Rio São Francisco e do Semiárido contra a transposição213. No ano de 2007, representantes do CBHSF em conjunto com lideranças de movimentos sociais, como a Frente Cearense por uma Nova Cultura da Água e a Comissão Pastoral da Terra, percorreram, durante 13 dias, onze capitais brasileiras e mais quatro cidades do interior nordestino, “promovendo debates em universidades, coletivas de imprensa, debates em rádio e televisão e visitas aos governadores dos estados” (LISBOA, 2008: 171).

Após a realização dessa caravana, as entidades encaminharam uma Carta ao Governador Jaques Wagner, da Bahia, e ao Governador Marcelo Deda, de Sergipe. Alguns membros do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco214 assinaram a carta juntamente às entidades: Caravana em Defesa do São Francisco e do Semiárido e Contra a Transposição215, Comitê da Bacia do rio das Velhas (MG)216, Diocese de Barra (BA)217, Articulação do Semiárido (ASA) de Recife, Coordenadoria Interestadual das Promotorias do rio São Francisco218, Federação dos Pescadores do Baixo São Francisco

213 Na ocasião da Caravana, os representantes distribuíram a Revista Águas da Ilusão, que tratava das

questões sobre a transposição. Disponível em:

http://remabrasil.org:8080/virtual/r/remaatlantico.org/sul/Members/suassuna/campanhas/caravana-em- defesa-do-rio-sao-francisco-edita-a-revista-aguas-da-ilusao-e-distribui-em-11-capitais-brasileiras Acesso em 10 de abril de 2016.

214

Thomaz Mata Machado (Presidente do CBHSF, na ocasião) Luiz Carlos da Silveira Fontes e Yvonilde Dantas Bento Pinto Medeiros.

215 Apolo Heringer Lisboa (coordenador geral), João Abner (Prof. da Universidade Federal do Rio Grande

do Norte), João Suassuna (Pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco – Recife), Luciano Marçal (Engenheiro Agrônomo e secretário executivo).

216

Apolo Heringer Lisboa.

217 Dom Frei Luiz Flávio Cappio.

218 Ana Rúbia Torres de Carvalho (Ministério Público de Pernambuco), Eduardo Lima de Matos

(Ministério Público de Sergipe) Luciana Espinheira da Costa Khoury (Ministério Público da Bahia), Luciana Imaculada de Paula (Ministério Público de Minas Gerais).

(AL)219, Povos Indígenas da Bacia220, Grupo Ambientalista da Bahia (GAMBA)221, Fórum Permanente de Defesa do São Francisco222, Pastoral da Terra (BA)223, Frente Cearense por uma nova Cultura da Água e contra a transposição das águas do Rio São Francisco224, MST225 e Articulação do Semiárido do Ceará226.

Essa carta,227 além de reafirmar as críticas já apontadas pelo CBHSF, baseadas no Plano Decenal (2004-2013), lançou uma proposta alternativa ao Projeto de Transposição Oficial e solicitou aos governadores que atuassem junto ao então Presidente Lula para a realização de uma audiência pública com os Membros da Caravana a fim de que pudessem apresentar a proposta alternativa ao projeto.

Sobre a proposta, os membros da Caravana definiram sete pontos para o debate: o primeiro diz respeito a uma adução de água para os estados de Pernambuco e Paraíba, redimensionando o projeto da captação proposta de 28m³/s para 9m³/s; o segundo ponto propunha a suspensão do Eixo Norte; o terceiro, a adoção das obras previstas no Atlas do Nordeste para Abastecimento de Água para os não contemplados no PAC, com ênfase para o oeste do Ceará e Sertão Central/Inhamuns; o quarto item solicitava à União apoio para o desenvolvimento das tecnologias de abastecimento de água para a população do Semiárido Nordestino; o quinto requeria apoio à revitalização das bacias hidrográficas dos rios Jaguaribe no Ceará e Piranhas-Açu no Rio Grande do Norte; o sexto ponto pedia apoio técnico ao CBHSF para a elaboração do Pacto de Gestão das Águas do São Francisco, com inclusão do atendimento às demandas para abastecimento humano do estado da Paraíba e consideração dos pleitos dos estados do Ceará e Rio Grande do Norte para abastecimento humano e dessedentação animal; finalmente, o sétimo e último ponto requisitava a coordenação pela União da elaboração de um Plano de Desenvolvimento, sustentável e socialmente inclusivo, para todo o Semiárido Brasileiro.

Os meios jurídicos

219 Antonio Gomes dos Santos (Toinho Pescador). 220 Marcos Sabaru, liderança do Povo Tingui-Botó. 221 Renato Pêgas Paes da Cunha.

222 Ruben Siqueira. 223

Ruben Siqueira.

224 Soraya Vanini Tupinambá. 225 Francisco Flávio Pereira Barbosa. 226

Lourival Almeida Aguiar.

Durante a XVII Plenária228 do CBHSF, realizada no dia 10 de dezembro de 2007, foi informado que o Tribunal Regional Federal concedeu liminar suspendendo a obra da transposição, incluindo a retirada do exército, suspensão do certificado de sustentabilidade da obra pela ANA, suspensão da decisão do CNRH até a conclusão do Processo Administrativo n°001/2004.

Para Khoury (2010), o projeto de transposição do rio São Francisco contraria o Estado Democrático de Direito, pois viola a Constituição Federal por não ter sido submetido à votação do Congresso Nacional. Além disso, apesar de terem tramitado no Supremo Tribunal Federal 14 ações judiciais, ações ajuizadas pelos Ministérios Públicos dos Estados da Bahia, Sergipe e Minas Gerais em parceria com a sociedade civil, as obras iniciaram sob a égide de uma liminar.

Esse trâmite jurídico ocorreu da seguinte forma:

no primeiro momento, o Ministério Público notificou administrativamente os órgãos públicos responsáveis pela execução do projeto, e inclusive foram feitas várias reuniões de trabalho, oportunidade em que os peritos do Ministério Público Federal apresentaram as inconsistências encontradas e foram feitas sugestões para alteração (MATOS, 2008:143).

De acordo com Matos (2008), apenas algumas sugestões de alterações no projeto foram acatadas pelos órgãos responsáveis. Ademais, o Supremo Tribunal Federal identificou a existência de conflito federativo entre os estados integrantes da bacia e os estados receptores. Entretanto, após longo período de tramitação das ações e a decisão do Tribunal Regional Federal da primeira região em suspender a decisão do Conselho Nacional de Recursos Hídricos que autorizou a viabilidade do projeto de transposição, o STF cassou a medida liminar do TRF e, a partir desse momento, não haveria mais nenhuma medida judicial ou administrativa que proibisse a execução do projeto de transposição.

As moções

Durante a Reunião Extraordinária do dia 27 de outubro de 2004, convocada para discutir o Processo Administrativo n°001/2004, o Comitê aprovou Moção229 que solicita ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos a apreciação do projeto de transposição em reunião especificamente convocada para esta finalidade.

228 CBHSF. Afogados da Ingazeira (PE). Ajuda Memória das XVII e XVIII Plenárias realizadas nos dias

10, 11 e 12 de dezembro de 2007. Material do acervo do CBHSF.

229

CBHSF. Salvador (BA). Ata da V Reunião Plenária de Natureza Extraordinária realizada no dia 27 de outubro de 2004. Documentação fornecida pelo CBHSF.

O CBHSF aprovou e encaminhou Moção n°02230 do dia 09 de dezembro de 2005 à Agência Nacional das Águas, ao Ministério do Meio Ambiente, à Secretaria de Recursos Hídricos, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos e ao Ministério da Integração Nacional, solicitando:

[...] a reavaliação da outorga, concedida através da Resolução ANA n°411, de 22 de setembro de 2005 e adoção de providências relativas à elaboração de estudos complementares, visando a real comprovação da disponibilidade hídrica nas bacias doadoras e receptoras do Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional.

O CBHSF aprovou e encaminhou Moção n° 03231 do dia 09 de dezembro de 2005 à Agência Nacional das Águas, ao Ministério do Meio Ambiente, à Secretaria de Recursos Hídricos, ao Conselho Nacional de Recursos Hídricos e ao Ministério da Integração Nacional, solicitando:

[...] a reavaliação da sustentabilidade hídrica contida no Certificado de Sustentabilidade de Obra Hídrica concedida pela ANA e adoção de providências relativas à elaboração de estudos complementares, visando a real comprovação da potencialidade do aproveitamento hídrico ao longo das bacias hidrográficas receptoras e doadora.

É notório todo o esforço do CBHSF em interferir nas decisões tomadas pela União no que diz respeito à transposição. Assim como também ficam claras as estratégias adotadas pelo Governo Federal em fazer parecer que a transposição foi um projeto levado à opinião pública e que a aprovação dele foi legitimada pela sociedade. Todavia, o histórico do Comitê do São Francisco nos mostra que essa legitimação não é verdadeira.

2.5 O Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco como ator político: sobre