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Capítulo III – Percursos para um ensino diferenciado

3.1 Outros programas e iniciativas

Em paralelo ou estabelecendo parcerias com a tutela, muitas instituições e entidades têm levado a cabo inúmeros programas e iniciativas conducentes à melhoria das condições educativas da população portuguesa e à garantia do sucesso nas escolas. Valerá a pena lembrar, como exemplo, a Fundação Calouste Gulbenkian10 que, em 2005, lançou um concurso que permitiu selecionar três projetos de pesquisa educativa destinados a estudar o problema do insucesso e abandonos escolares em Portugal:

 ―O Risco Educativo no Ensino Básico: focagens para uma intervenção integrada em torno do sucesso educativo‖, conduzido por uma equipa do Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE);

 ―Eficácia Escolar no Ensino da Matemática – alargamento ao 3º ciclo‖, a cargo de uma equipa do Departamento de Matemática da Universidade da Beira Interior;

 ―Turma Mais: uma plataforma giratória no combate ao insucesso e abandono escolares‖, da responsabilidade de uma equipa da Universidade de Évora. Os resultados destes projetos, nomeadamente do último mencionado, têm sido divulgados e alargados a muitas escolas do país, nomeadamente na que nos encontramos a lecionar, pelo que conhecemos e reconhecemos a sua validade e eficácia.

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Sessão de Abertura da Conferência Internacional ‖Sucesso e Insucesso: Escola, Economia e Sociedade‖, proferida pelo Presidente do Conselho de Administração Emílio Rui Vilar, no dia 19 de Novembro de 2007. Disponível em:

http://www.gulbenkian.pt/media/files/agenda/conferencias_2007/SESS__O_DE_ABERTURA_DA_CONFER__NCIA_SUCESSO _E_INSUCESSO_ESCOLA__ECONOM___15693300.pdf

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O projeto surgiu, tal como sustenta Verdasca. (2009, p.32), com o ―propósito de conseguir a plena integração e sobrevivência escolar de todos os alunos‖ e tem obtido resultados muito satisfatórios relativamente às metas a que se propõe atingir. Note-se os projetos incluídos na medida ―Mais Sucesso Escolar‖, como é o caso do Projeto Turma Mais e o Projeto Fénix são referidos no relatório da Comissão Europeia - Estado da Educação 2010. Percursos Escolares (p.162), como exemplos de estratégias que atestam que

em modalidades diversas, a diversificação pedagógica e das ofertas educativas pode ser um factor importante para integrar todos os alunos e impulsionar a qualidade das suas aprendizagens, desde que seja situada e consequente, ou seja, que esteja adaptada ao perfil dos alunos e que conduza efectivamente a percursos de qualificação, quer para o prosseguimento de estudos quer para a inserção profissional.

Em 2006, a Fundação lançou um novo concurso, na sequência do qual foram selecionados mais três projetos de pesquisa educativa, destinados a estudar e analisar as condições que promovem o sucesso educativo nas escolas:

 ―Dinâmicas Relacionais e Sucesso Escolar: influência de pais, professores e pares‖, conduzido por uma equipa da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade do Porto;

 ―Factores de promoção de sucesso escolar nas escolas classificadas nos 10 primeiros e nos 10 últimos lugares do ranking: avaliação e intervenção‖, da responsabilidade de uma equipa da Universidade Lusíada do Porto;

 ―Identificação e caracterização de classes de escolas de sucesso‖, a cargo de uma equipa da Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade Nova de Lisboa. A partir de 2008 foi lançado o ―Programa de Combate ao Insucesso e Abandono Escolares‖ dedicado, a médio prazo e de forma integrada, a esta problemática. O objetivo primordial é o de incentivar o desenvolvimento de projetos inovadores que promovam o combate a estes fenómenos e a melhoria do ensino e da aprendizagem a nível educativo. Tem uma duração prevista de 6 anos de execução, integra a avaliação externa, dedica-se aos níveis de escolaridade não superior e desenvolver-se através do apoio à execução de projetos educativos replicáveis, à realização de estudos e à organização de seminários, workshops e outras reuniões, nacionais e internacionais. Os vários projetos que se incluem no Programa procuram identificar, projetar e desenvolver experiências concretas que permitam criar condições para uma efetiva melhoria da

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qualidade das aprendizagens das crianças e dos jovens. É aberto, anualmente, um concurso dirigido a instituições públicas do ensino básico destinado a conceder apoios aos projetos apresentados por essas entidades depois de criteriosamente analisados e selecionados.

Digno de destaque é também o ―Programa Escolhas‖,11

tutelado pela Presidência do Conselho de Ministros e fundido no Alto Comissariado para a Imigração e Diálogo Intercultural, que visa promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos socioeconómicos mais vulneráveis, particularmente dos descendentes de imigrantes e minorias étnicas, tendo em vista a igualdade de oportunidades e o reforço da coesão social. Este Programa acaba de celebrar 10 anos desde a sua criação e conta já com 3 fases de desenvolvimento sendo que, nesta terceira fase decorreram 121 projetos, em 71 concelhos do território nacional. Outros números que orgulhosamente são dados a conhecer são os que se prendem com o número de instituições que já reuniu – 780, de técnicos colaborantes – 480 e de destinatários – 81.695. O programa encontra-se, neste momento numa quarta fase (chamada 4ª Geração) e renovou-se para o triénio de 2010 a 2012, vendo reforçado o seu financiamento global e o número de projetos a apoiar através da resolução do Conselho de Ministros n.º 63/2009, de 23 de Julho. Foram definidas para esta fase cinco áreas de intervenção que compreendem a inclusão escolar e educação não formal; a formação profissional e empregabilidade; a dinamização comunitária e cidadania; a inclusão digital e o empreendedorismo e capacitação. As instituições a beneficiar são selecionadas em função das necessidades dos destinatários relativamente a cada uma das áreas de intervenção. Saliente-se, para finalizar, que também o distrito de Viseu tem vindo a beneficiar deste Programa.

Uma outra instituição que consideramos é a Associação Empresários pela Inclusão Social EPIS, que desenvolve parcerias com 60 escolas na construção de programas de combate ao abandono e insucesso escolar. A instituição centra-se na experimentação de boas práticas, na avaliação e na disseminação através da criação de apoios tutoriais a alunos com dificuldades, reforço do envolvimento parental, educação de pais e visitas domiciliárias, entre outras. São inúmeras as empresas e instituições que se juntaram às iniciativas desta entidade que tem procurado, inclusive, parcerias com o

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Ministério da Educação. De acordo com um balanço recentemente divulgado12, a EPIS está a trabalhar em 88 escolas do País, já acompanhou mais de 6100 alunos desde 2007 e ajudou a criar 1074 novos bons alunos no 3º. Ciclo. Atualmente a associação tem cerca de 170 empresas e empresários associados e desenvolve projetos como o ―Todos Bons Alunos‖, ―Abandono Zero‖ e ―Escolas do Futuro‖.

Finda esta resenha e no sentido de procurar obter respostas quanto ao resultado da aplicação de todas estas medidas e estratégias desenvolvidas no nosso país, ocorre-nos, recordar o balanço que recentemente foi feito do trabalho desenvolvido no âmbito do programa ―Educação-Formação 2010‖ e apresentado no relatório da Comissão Europeia - Estado da Educação 2010. Percursos Escolares Progress towards the Lisbon objectives

in education and training, Indicators and benchmarks 2009. Verificou-se que, apesar

dos esforços despendidos por todos os países da União Europeia (UE), no sentido de melhorar os seus resultados, apenas foi atingida a meta relativa ao aumento de diplomados em matemática, ciências e tecnologia. Pelo contrário, a situação dos alunos de 15 anos com baixo nível de literacia sofreu um agravamento, designadamente no período 2000-2006. No caso específico do nosso país, de entre os aspetos que mais sobressaíram, evidenciou-se um: a saída escolar precoce é superior à média europeia e à meta 2010.

Visando aumentar a eficácia da cooperação anteriormente encetada, bem como aprofundar a reflexão acerca das necessidades individuais dos Estados-Membros, o Conselho da União Europeia, reunido a 12 de Maio de 2009 delineou um novo quadro estratégico para o desenvolvimento dos sistemas de educação-formação, nos diferentes países da União Europeia, até 2020, cujo princípio fundamental se baseia na aprendizagem ao longo da vida, que deverá incluir a aprendizagem em todos os contextos (formal, não formal e informal), e a todos os níveis: desde a educação pré- escolar até ao ensino superior, educação e formação profissionais e educação de adultos13. Os objetivos estratégicos definidos para o período até 2020 são os seguintes:

12 Notícia publicada pelo Jornal Público no dia 06/06/2011, consultada em 10/07/2011 e disponível em http://www.publico.pt/Educa%C3%A7%C3%A3o/epis-ajuda-a-reduzir-abandono-em-60-

escolas_1497782

13 Relatório do CNE (2010, p.130). Estado da Educação 2010. Percursos Escolares. Relatores: Bártolo Paiva Campos, Joaquim Azevedo, Maria Emília Santos, Maria Helena Nazaré e Rosália Vargas.

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1. Tornar a aprendizagem ao longo da vida e a mobilidade uma realidade; 2. Melhorar a qualidade e a eficácia da educação e da formação;

3. Promover a igualdade, a coesão social e a cidadania ativa;

4. Incentivar a criatividade e a inovação, incluindo o espírito empreendedor, a todos os níveis de educação e formação.

Traçados estes objetivos, foram definidas as metas a atingir, das quais realçamos a que refere que ―a percentagem de alunos que abandonam o ensino e a formação deverá ser inferior a 10%.‖

No mesmo documento reconhece-se que a educação escolar não só não está a ser capaz de proporcionar percursos adequados a todos os portugueses (uma vez que permanecem franjas significativas de insucesso e abandono), como é também ―débil a qualidade de muitos dos itinerários realizados‖ (p.137). Ora, num documento recente que traça e propõe desafios a ser implementados até ao ano 2020, é lamentável que se continue a registar o facto de ainda não termos conseguido ―criar um modelo escolar que acolha todos e que fomente em todos a aquisição de aprendizagens verdadeiramente significativas, interna e externamente validadas‖. A questão de se privilegiar a repetência, por oposição de uma atuação precoce e eficaz é descrita como ―uma das maiores chagas que importa debelar‖ (p.138). É depois feita uma apologia à importância de se intervir no sentido de promover escolas de percursos diversos, situados e consequentes, que devem desempenhar uma ―intervenção integrada‖ (articulando as várias dimensões da experiência escolar dos jovens sem as fragmentar), mas também ―individualizada‖ (procurando analisar cada aluno à luz das suas próprias singularidades).

Os CEF são também referidos como tendo sido, até à data, ―o enquadramento mais comum para desenvolver um trabalho pedagógico adaptado aos jovens em situação de insucesso escolar‖ (p.162). O relatório lembra que este tipo de percurso deve ser conduzido com um enorme rigor e dedicação e deve-se procurar formas efetivas de ―reintegrar os jovens nos percursos de escolaridade‖ e, simultaneamente, permitir-lhes ―vias de prossecução de estudos, a partir do uso de metodologias assentes na resolução criativa de problemas e no desenvolvimento de competências a nível da inteligência emocional‖ (ibidem). A partir deste registo parece-nos que se reconhece que o aluno que integra o CEF é um aluno ―desintegrado‖ porquanto é a entrada no curso que lhe vai permitir ―ser reintegrado‖. O mesmo relatório termina a alusão aos CEF sublinhando

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que se os pressupostos acima descritos não se verificarem, os CEF ―podem constituir uma forma de segregação e exclusão dos estudantes que não se adaptam à escola, especialmente grave por fomentarem uma ilusão de sucesso que não tem depois seguimento na sua vida escolar e/ou profissional‖ (ibidem).

Feito o ponto da situação relativamente às medidas de política educativa desenvolvidas enquanto resposta às necessidades diversas do seu público-alvo - os alunos -, é agora altura de dirigir a atenção para o enquadramento legal dos Cursos de Educação e Formação, por integrarem, afinal, o objeto de investigação desta dissertação.

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