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Outros textos relevantes coetâneos do Padre António Vieira

CAPÍTULO II: Direitos humanos: tradição e modernidade

3. Alguns aspetos relevantes de outros documentos

3.2. Outros textos relevantes coetâneos do Padre António Vieira

António Vieira (1608-1697), na conjuntura das comunidades de língua portuguesa, através do sermão, possa ser considerado como um educador pragmático na sua visão existencial e social de concepção pluralista e dialogal da sociedade que não desiste de construir a dignidade humana de todos aqueles que se exprimem em português (Martins 2005: 54).

Os direitos humanos são fruto de uma longa história repleta de personagens lutadoras em prol da defesa e do respeito pelo ser humano, visto que os combates do homem pela justiça, pela liberdade, pela dignidade humana, são eternos e os valores inscritos nos direitos humanos constituem sempre referências para a humanidade.

Como tal, impõe-se à humanidade não só o reconhecimento, mas também a defesa e o respeito de uma forma universal pelos direitos humanos, o que significa principalmente o respeito do homem pelo homem. A luta histórica do homem pelo respeito e defesa dos direitos humanos é a luta pelo aperfeiçoamento da própria humanidade. Pode-se dizer também que é um exercício de reafirmação da humanidade para garantir o progresso e o bem-estar da espécie humana. Existe, portanto, uma história sobre a evolução dos direitos humanos, evidenciando as razões do seu aparecimento, as dificuldades, os avanços e os eventuais recuos através dos tempos.

Os Direitos Humanos não permaneceram imutáveis no tempo. A sua dimensão atual é parte do percurso de uma longa caminhada que, longe de ter chegado ao fim, prossegue com a evolução dos direitos humanos. Estes ainda evoluirão mais no seu enunciado e nas garantias jurídicas que exigem para serem aplicados, perante a injustiça, a arbitrariedade, as torturas, a escravatura e os refugiados. Haverá sempre ao longo da história humana personalidades que se revoltam e que combatem incessantemente para que existam leis escritas válidas e aplicáveis de forma igualitária a todos os seres humanos em todo o mundo. Os Direitos Humanos formam um todo, constituem um conjunto de valores e de princípios que qualquer ser humano, de qualquer país, de qualquer cultura, deve respeitar, tanto para si como para os outros. A totalidade dos direitos humanos é uma responsabilidade individual e coletiva que enfrenta constantemente novos desafios, tais como os que dizem respeito na atualidade ao ambiente ou ao património genético da humanidade. Aceitar estes desafios é fazer evoluir os direitos humanos da tradição até à modernidade.

Os antecedentes dos Direitos Humanos remontam a tempos pretéritos, pois todas as civilizações, religiões e filosofias que atribuem um valor ao ser humano contribuíram de forma

exemplar para a ideia e a génese dos direitos humanos, tal como se encontra expressa atualmente nos textos dos documentos nacionais e internacionais que têm força de lei universal, representando os mesmos um progresso importante na garantia coletiva de defesa e respeito desses direitos aplicáveis a toda a humanidade.

Sendo demasiado relevante o papel dos direitos humanos na “cultura e educação cívica dos povos e da humanidade” (Martins 2005: 17), pareceu-nos legítimo e fazer todo o sentido para a nossa investigação refletir sobre a natureza desses direitos, a sua génese e a sua evolução histórica e valorativa, desde da sua tradição até à atualidade.

Queremos dizer com isto que, a amplitude e a natureza dos direitos humanos não permaneceram estáticos. Antes, evoluiram historicamente, enriquecendo-se com as conquistas e transformações espirituais e materiais que os homens e as sociedades experimentaram com o desenrolar da história da humanidade até aos nossos dias.

É de salientar que o homem, acompanhando a marcha inevitável da história e da sua evolução, a sua essência histórica em defesa e salvaguarda dos direitos humanos, se mantém inalterável e perene ao longo da evolução da humanidade. No entanto, o universo dos direitos humanos foi constituindo ao longo dos séculos, passo a passo, um ditoso legado a preservar pelo homem como sinal de esperança num mundo melhor.

A ideia e a génese dos direitos humanos encontram-se intrinsecamente ligados à dignidade humana, ao primado do homem face à sociedade a que pertence, tendo sido concebidos e enunciados ao longo da história do próprio homem, em contextos culturais diversificados que, não invalidam, na sua essência, a sua universalidade. Os direitos humanos fazem parte do devir histórico, sendo reconhecidos e consagrados evolutivamente em determinados momentos históricos de convulsões e guerras por homens valorosos da história nacional e internacional. “Os direitos humanos têm uma longa história e com ela uma longa luta de homens valorosos que dedicaram suas vidas ao serviço da humanidade” (Guimarães 2001: 37).

Na história nacional relevemos o caminho humanista e as ideias em defesa e respeito pelos direitos humanos fermentados embrionariamente em Portugal pelo Pe. António Vieira, que desenvolveu uma dinâmica de incessante agitação na sua vida ao serviço das grandes causas humanistas, em núcleos de agitação social favorecidos por condicionalismos vivenciais e históricos típicos do séc. XVII, que elevaram o jesuíta a precursor dos direitos humanos em Portugal (Martins 2005: 77).

ponderação e rigor nesta abordagem evolutiva e valorativa dos direitos humanos em Pe. António Vieira. As lutas de classes, entre pobres e ricos, entre senhores e escravos, entre poderosos e fracos, entre soberanos e súbditos impunham que homens de grande dignidade humana, como o Pe. António Vieira, pela cultura e pela educação se notabilizassem na reposição natural e efetiva da justiça social universal, defendendo a tese humanista, a qual serve de exemplo com toda a pertinência ao homem atual.

A história da cultura humana, com as suas sístoles e diástoles, com os seus amores e rancores, a todo o momento vai projetando figuras indeléveis. É disso exemplo o Pe. António Vieira, precursor dos direitos humanos em Portugal. Este deixou raízes bem profundas, pelo seu humanismo e pelas causas que defendeu, com reflexos na atualidade. O Pe. António Vieira por ter nascido numa época histórica de qualidade estética e moral invulgar, fez perdurar até aos nossos dias a dimensão humanista expressa nas suas preocupações éticas, linguísticas e culturais do património histórico e cultural português do Barroco na contemporaneidade.

Os direitos humanos evoluíram e consagraram-se como lei natural e depois como lei jurídica. Os direitos humanos foram sendo anunciados por homens singulares como Vieira, por filósofos e por juristas ao longo dos séculos como resultado da longa história dos direitos humanos.

A noção que subjaz aos direitos humanos traduz-se pela categoria daqueles direitos sem os quais seria difícil ao homem viver em paz, conservar a vida, preservar a honra e reclamar para si a dignidade moral e humana desde os primórdios da humanidade. Esses direitos, ao longo dos tempos foram aparecendo com outras denominações: “direitos inatos”, “direitos originários”, “direitos fundamentais”, “direitos inalienáveis”, “direitos cívicos”, e com tantas outras expressões, cada qual dando no momento preciso o seu contributo para aclarar em todos nós a ideia de direitos humanos. A compreensão abrangente do conceito de direitos humanos só será possível com este estudo que, em linhas gerais, a par da ideia e génese dos direitos humanos, traduzirá os factos e as correntes de pensamento que ao longo do tempo, foram levando o homem e as sociedades para a sua consagração e respeito.

Os direitos humanos foram evoluindo com o tempo no seu enunciado e nas garantias jurídicas, de forma a serem aplicados de igual modo por todos os povos. Esta é uma exigência primordial fixada nos textos dos documentos internacionais com força de lei para proteger os direitos do homem em sociedade em todo o mundo.

Os combates travados pelos homens da história da humanidade como o Pe. António Vieira, em prol da justiça, da liberdade, da dignidade humana, são eternos. Os valores inscritos

nos direitos humanos constituirão sempre referências necessárias aos povos e à humanidade de forma intemporal e espacial. Parece-nos que na atualidade, e considerando o humanismo do Pe. António Vieira, nada deveria ser mais conhecido dos homens do que os primeiros princípios das leis que regulam a conduta de cada particular e a ordem da sociedade, pois estes princípios embrionários das leis encontram-se gravados no fundo da natureza do homem, tornando-se conhecidos na alma do homem pelo espírito e pelo coração. Assim, como veremos mais tarde, a universalidade dos direitos humanos provém da unidade da natureza humana. Pensamos que existe em todas as civilizações uma qualquer organização social e uma qualquer ideia de justiça, por forma a responder às necessidades humanas e a proteger o homem em sociedade. “Não há ninguém que não sinta no espírito e na alma que não é permitido matá-lo ou roubá-lo, nem a ele próprio é permitido matar ou roubar os outros” (Miranda 1989: 1).

A ideia e a génese dos direitos humanos parecem-nos incontestavelmente impregnadas de um tom religioso. É com base no respeito pela natureza humana e na dignidade do homem que estes direitos inerentes ao homem existem com raízes religiosas bem profundas no seu reconhecimento. Santo Agostinho acentua o valor do homem enquanto criatura de Deus, fundamento da noção de direitos humanos. “O homem”, diz ele, “É obra-prima do universo terrestre” (Ferrier 1989: 127).

Foi, por isso, fulcral e indispensável clarificar, no âmbito deste trabalho de investigação a noção de direitos fundamentais e a noção de direitos humanos. Assim como o seu percurso histórico por ser essencial para reconhecer na cultura e na educação do homem a pedra basilar e a chave do sucesso na garantia e no cumprimento dos direitos humanos.

Uma cultura e educação precoce do homem para os direitos humanos é essencial no sentido de que todos os homens devem conhecer e refletir na sua importância, vendo na sua conquista e na sua história o meio de reconhecimento de todos aqueles homens corajosos que como o Pe. António Vieira lutaram e sofreram para que os direitos fundamentais e os direitos humanos sejam hoje uma realidade.

Trazer à memória do ser humano as grandes lutas e as grandes conquistas, que muito contribuíram através do tempo para o engrandecimento da história e dos homens que a marcaram profundamente, no campo dos direitos humanos, salientando igualmente os grandes feitos nacionais realizados por portugueses nesta matéria, será indiscutivelmente o melhor caminho a percorrer para a fecundidade dos direitos humanos no coração de um povo e da humanidade.

democracia, onde os direitos humanos são consagrados, mas nem sempre foi assim. Houve e continua a haver personalidades como o Pe. António Vieira e Fernando Pessoa, a defender o valor incontestável dos direitos humanos em épocas bem conturbadas da história dos povos e da humanidade.

Deste modo, atendendo às sociedades que nunca param, ao mundo que se agita diariamente a toda a hora, exige-se a mobilização do homem em prol dos direitos humanos e na denúncia da sua violação, para que o homem não esqueça através da educação e da cultura o exemplo e o contributo dos vultos nacionais que como o Pe. António Vieira e Fernando Pessoa lutaram para o respeito e para o cumprimento dos direitos humanos em Portugal, contributo primordial para obtermos uma humanidade forte e coesa, imbuída de um profundo espírito de liberdade, de igualdade e de fraternidade, único reduto da felicidade e do desenvolvimento do homem, de Portugal, da Europa, do Mundo e da humanidade.

De salientar aqui também o papel importante que a arte e a literatura desempenharam na gestação da ideia do ser humano como um ser dotado de uma dignidade essencial e de uma conceção de vida baseada na ideia de justiça e de igualdade. Diretrizes presentes em toda a civilização cristã: o respeito pelo homem e o estabelecimento da justiça.

A tomada de consciência dos direitos humanos e a existência em si destes direitos, enquanto qualidades e faculdades inerentes à pessoa humana, jamais estes serão condicionados a uma moral particular, uma vez que os elementos da natureza humana são sempre os mesmos, sejam quais forem os princípios morais a que ele adira.

O reconhecimento dos direitos humanos pelo Cristianismo, tendo por base o reconhecimento da dignidade humana, é provavelmente a verdade moral que cria a verdade jurídica que une todos os homens na sua universalidade.

A luta pelos direitos humanos através dos séculos não foi linear e de forma alguma uma luta isolada e solitária. Foi antes uma causa nobre partilhada e solidária ao longo da história em prol de toda a Humanidade. No dizer de Hernâni Cidade, somente seguindo na contemporaneidade, “o exemplo humanista esculpido a oiro na vida e obra deste vate nacional, é que o homem de hoje viverá em paz e harmonia no respeito e salvaguarda integral dos direitos de todos os seres humanos, tal qual como viveu o Pe. António Vieira” (Cidade 1975: 45).

Vivemos atualmente num tempo em que as sociedades humanas estão sujeitas a impulsos contraditórios de estabilidade e de mudança face ao fenómeno da globalização. Como tal, é vital que essas mesmas sociedades se socorram dum conjunto de normas, de valores e de regras de comportamento ancestrais que, inovadas, permitam a sua sobrevivência como

constante diária na vida da humanidade em defesa e respeito pelos direitos humanos. Foi sem dúvida uma enorme revolução no pensamento e na história da humanidade, mediante o progresso das luzes, chegar à conclusão de que o homem é o centro do universo e de que todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Esta formulação iluminista decorre da própria reflexão do ser humano, que a ela chegou de uma maneira que é historicamente dada pela sua universalidade.

O universo dos direitos humanos comporta uma riquíssima e inigualável estratégia de paz e de solidariedade a preservar entre os diferentes povos e culturas. É igualmente imprescindível, como o foi em sociedades humanas ancestrais, a ancoragem num conhecimento profundo e valioso dos direitos humanos, sendo estes portadores do mais portentoso sinal de esperança num mundo melhor, à escala nacional e universal. O importante será que o homem não se fique pelos normativos e que os direitos fundamentais e os direitos humanos sejam efetivamente de todos e para todos (Unesco 1945: s./p.).

Nenhum ser humano pode dar-se ao luxo de ficar simplesmente a olhar para os direitos fundamentais ou para os direitos humanos. Devemos, antes, tomar todos uma atitude de participação e, sem qualquer sinal de indiferença perante os mesmos, lutar para que estes sejam efetivamente respeitados, em toda a parte, num profundo espírito de liberdade, de igualdade e de fraternidade.

Mahatma Gandhi diz que a verdadeira fonte dos direitos é o dever. Se todos cumprirmos os nossos deveres, o respeito pelos nossos direitos será facilmente obtido. Se, negligenciando os nossos deveres, reivindicamos os nossos direitos, eles escapar-nos-ão. Nenhum outro ser no mundo pode ser assim apreciado em termos de dever ser, da sua bondade ou da sua maldade. Portanto, o ser humano tem a sua dignidade explicitada através de características que são únicas e exclusivas da pessoa humana (Gandhi apud Silva 2010: 1).

Miguel Unamuno dizia que “o que mais diferencia o homem dos outros animais é o sentimento e não a racionalidade” (Unamuno 2008: 37).

O homem é um ser essencialmente moral e ético, ou seja, o seu comportamento racional estará sempre sujeito a juízos de valor sobre o bem e o mal. Também, Santo Agostinho, por outro lado, ensina-nos que a ordem do bem e do mal existe em todos os tempos e em todos os povos. Em linguagem contemporânea isto quer dizer que a ordem jurídica proíbe certas ações, pois há atos bons e justos, e outros maus e interditos ao homem, em função da relação deste com as exigências das leis naturais reguladoras dos direitos fundamentais.

tom religioso. As raízes religiosas ou teológicas do reconhecimento dos direitos humanos parecem-nos incontestáveis, sendo comum dizer que os direitos humanos são um produto do Cristianismo. Assim,

Deus disse: façamos o homem à nossa imagem e semelhança e que ele tenha poder sobre os peixes do mar, sobre as aves do céu, os animais domésticos, todos os animais selvagens e todos os seres que andam sobre a terra. Deus criou o homem à sua imagem. À imagem de Deus, ele criou-o. Homem e mulher, ele criou-os. Deus abençoou-os e disse-lhes: sejam férteis, multipliquem-se, encham a terra e dominem- na. Dominem os peixes do mar, as aves do céu e todos os animais que andem sobre a terra (Bíblia 1941: 12).

A tomada de consciência primordial da dignidade humana que acarreta os direitos fundamentais tem as suas raízes nos pensamentos greco-romano e no cristão. Parece-nos legítimo dizer, para que não haja dúvidas, que crentes e não crentes estarão todos de acordo sobre o facto de Cristo ter sido, e continuar a ser, incomparável mestre de moral. Todo o problema moral, segundo Cristo, está relacionado com a natureza humana, com a sua capacidade de sublimar, de combater o mal, de amar os outros, de viver em paz e em tolerância. Segundo a história da humanidade foi Cristo que nos ensinou pela primeira vez a virtude da tolerância e da misericórdia, palavras a ter em conta no respeito pelos direitos humanos. Cristo deu o exemplo a seguir, os direitos humanos como direitos para todos os homens. Isto implica um espírito tolerante e misericordioso, que respeita as diferenças e que reconhece à natureza humana o seu valor primordial. A moral de Cristo funda-se na natureza humana. A consciência universal dos direitos humanos provém da convicção profunda, formada ao longo dos séculos e pregada pela moral cristã, que conserva o seu valor profundamente humano e universal.

É com o Cristianismo que a noção de igualdade de todos os homens surge, com efeito, o reconhecimento dos direitos humanos pelo Cristianismo tendo por base o “reconhecimento da dignidade absoluta e do valor da pessoa humana” (Bíblia 1941: 29). É provavelmente esta moral cristã que cria a verdade jurídica que une todos os homens.

A raíz do princípio da igualdade, declarado por São Paulo na Epístola aos Gálatas, reside no versículo da Bíblia: “Não há judeu, nem grego, não há escravo, nem homem livre, não há homem, nem mulher, pois todos são um em Cristo Jesus” (Bíblia 1941: 28). Ainda subjacente ao pensamento cristão e em jeito de conclusão, um dos méritos da moral cristã para a humanidade é, por um lado, ter estabelecido uma conceção de vida baseada na ideia de justiça, e, por outro lado, ter exaltado a dignidade do ser humano, duas diretrizes de toda a civilização

cristã.

Dada a complexidade e delicadeza de uma definição de direito e, particularmente, de direitos fundamentais, tem-se procurado encontrar uma ideia tão precisa quanto possível desta categoria de direitos. Assim podem distinguir-se, na opinião de Miguel José Faria (2001), por um lado direitos fundamentais em sentido formal e por outro lado direitos fundamentais em sentido material. Na opinião deste autor, “são direitos fundamentais em sentido formal os que a Constituição especifica como tais, sendo a sua garantia, uma das tarefas fundamentais do Estado” (Faria 2001: 123).

São direitos fundamentais em sentido material os que constituem a base jurídica da vida humana no seu nível atual de dignidade, as bases principais da situação jurídica de cada pessoa, quer estejam consagrados na Constituição, nas leis ou nas normas aplicáveis do direito internacional público. São, digamos, direitos abonados à consciência coletiva dos cidadãos. Independentemente de considerarmos os direitos fundamentais como ponto de partida dos vários ramos do direito, ou como meta de chegada da ordem jurídica, ou ainda como reduto sagrado de defesa dos direitos dos cidadãos face ao poder, a ideia de direitos fundamentais liga- se intrinsecamente à dignidade humana, com o primado do ser humano face à sociedade de que faz parte. Repare-se que na noção apresentada se inclui o termo “atual”, o que indicia um elemento temporal.

O direito evoluiu historicamente, enriquecendo-se com as conquistas e transformações das ideias e do pensamento da coletividade. Isto não significa, contudo, que o seu núcleo central de respeito, salvaguarda e dignificação do homem não tivesse sido um dado omnipresente. É indiscutível que existe uma categoria de direitos sem o respeito dos quais seria difícil ao indivíduo viver em paz, conservar a vida, preservar a honra e reclamar para si a “dignidade