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P ATRIOTISMO E CONSERVANTISMO

No documento Lições de deontologia militar (páginas 124-126)

 Sistema de radar secundário de vigilância (SRS).

2. P ATRIOTISMO E CONSERVANTISMO

Muitas vezes ouve-se dizer que o Patriotismo é um sentimento ultrapassado, já só a ele fazendo apelo os elementos politicamente conservadores. Ora, como antes afirmámos, o Patriotismo e a

Pátria são frequentemente invocados no seio das forças armadas e esse facto levanta a questão de saber se se deve estabelecer uma relação tão directa entre Patriotismo e conservantismo. Por outro lado, convirá perceber se, a mais ou menos, constante invocação do Patriotismo nas forças armadas resulta destas serem, na verdade, quase sempre conservantistas.

Comecemos pela questão do relacionamento directo entre Patriotismo e conservantismo. O conservantismo é sempre patriótico?

Se se entende que o conservantismo é o medo das mudanças políticas e, destas, muito especialmente as que são bruscas, podemos dizer que o Patriotismo tanto se manifesta no amor pelo passado da Pátria, como na admiração do presente. Temos, então, que o amor da Pátria não é, necessariamente, um amor passadista.

Deve notar-se que a grande admiração pelo passado de uma Pátria pode justificar o desejo de mudança no presente e no futuro. Com efeito, um Povo que tenha demonstrado, em dado momento da sua história, uma extraordinária vitalidade inovadora e que, posteriormente, tenha caído numa significativa apatia, pode, no presente, suscitar o desejo de mudança e, até, de uma mudança brusca. Não se trata, como se deduz, de uma posição ditada por falta de Patriotismo, mas, muito pelo contrário, de uma grande esperança e de uma imensa crença nas capacidades desse Povo237.

236 Entende-se por conservantismo o sistema político oposto ao radicalismo dos que advogam grandes e repentinas mudanças políticas, preferindo executar prudentes reformas graduais.

237 A este propósito, não deixará de ser interessante referir o exemplo ocorrido em Portugal, aquando do 25 de Abril de 1974. Com efeito, as Forças Armadas Portuguesas adoptaram uma posição patriótica, rompendo com

É verdade que o conservantismo pode, também, e em circunstâncias especiais ser patriótico. Isso ocorre quando a dissolução dos valores herdados do Passado se começa a consumir na voragem excessiva da inovação. O conservantismo funciona como frenador, quando a inovação esquece a tradição, a História e os valores que dão sentido a um Povo238.

Podemos, então concluir que a busca do equilíbrio e a fuga a todos os excessos políticos - tanto inovadores como conservadores - é uma atitude patriótica.

Chegamos, agora, à situação de poder averiguar se a constante invocação do Patriotismo nas forças armadas resulta destas serem, quase sempre, conservantistas.

Já vimos que o Patriotismo não é necessariamente sempre conservador, porque tão patriota pode ser o conservador como o inovador; convirá, então, perceber se as forças armadas são, de facto, quase sempre conservadoras.

Dado que as forças armadas têm sempre como missão primária, fundamental e universal, a defesa da Nação e, como já vimos, esta existe na base de um passado comum, é natural que aquelas estejam vocacionadas para a defesa de tudo aquilo que representa esse património de todos herdado de tempos mais recuados. Quer dizer, as forças armadas defendem os valores sociais recebidos de tempos idos ou, se se quiser, defendem os valores que constituem tradição. Assim, há no seio das forças armadas uma maior apetência para encarar as soluções tradicionais como sendo as melhores; este facto empurra a instituição castrense para o domínio do conservantismo. Todavia, elas não são conservantistas pelo receio da inovação mas, fundamentalmente, por educação, visto que lhes compete o papel de guardiãs da Nação.

A invocação do Patriotismo como base educativa das forças armadas constitui uma das formas de identificação da sua missão com os aspectos fundamentais da Nação; assim, o amor à Pátria acaba traduzindo-se numa missão a cumprir e dessa pode-se partir para todas as restantes mais

todo o conservantismo que vinha sendo imposto a Portugal, havia já quase cinquenta anos. A atitude assumida tinha em vista regenerar a Pátria e pô-la em consonância com os tempos que se viviam, evitando que a Nação perdesse o respeito que merecia nos areópagos internacionais. O golpe militar de 25 de Abril de 1974 foi um corte brusco com o Passado, todavia, foi uma acção patriótica de correcção de posições que já representavam um perigoso desvio à História. A própria descolonização foi, dentro do possível e nas condições então existentes, um acto que honrou o Passado nacional, na medida em que, uma vez mais, e talvez a última, Portugal «deu mundos ao Mundo» ao permitir, sem mais derrame de sangue, que nascessem para a independência grandes Estados que falavam a língua dos nossos avós e que queriam preservar os valores europeus que lhes havíamos ensinado.

238 Também, a este propósito há exemplo em Portugal. Com efeito, o golpe militar de 25 de Novembro de 1975 mais não foi do que uma tentativa bem sucedida de travar a aceleração inovadora que havia ganho a revolução iniciada em 25 de Abril do ano anterior. Não se tratou, do ponto de vista da Sociologia Política, de um contra-golpe reaccionário, porque se permitiu a continuidade de existência legal dos grupos políticos mais extremistas; limitou-se-lhes a actuação. O golpe militar de 25 de Novembro de 1975 foi, também, um acto de profundo Patriotismo.

concretas e mais objectivas239. É o mesmo que dizer-se que o amor da Pátria, como missão dá

cobertura a todas as outras missões possíveis de um militar desempenhar.

Percebe-se, julgamos, como a invocação do Patriotismo nas forças armadas não é um apelo à manutenção ou ampliação do conservantismo, mas uma necessidade prática e operacional, para que as missões se encadeiem numa lógica facilmente perceptível.

No documento Lições de deontologia militar (páginas 124-126)