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Painel de conflitos e Multiplicidade de atores na Terra do Meio

4.4 Conflitos na Terra do Meio

4.4.2 Painel de conflitos e Multiplicidade de atores na Terra do Meio

Nas próximas páginas será realizada uma análise sobre os principais atores e os conflitos mais relevantes nos quais eles estão envolvidos. Assim, busca-

se sistematizar as informações e apontar as conexões existentes entre os atores e os conflitos.

4.4.2.1 Multiplicidade de atores

Estado – diferentes agências e esferas

É recorrente os conflitos envolverem as diferentes instâncias e esferas do Estado que, longe de apresentarem complementaridade e coerência entre suas posições e decisões, se revelam como partes integrantes de campos de forças heterogêneos. As decisões políticas dos diferentes órgãos de um mesmo governo têm revelado, principalmente nas últimas três décadas, posições ideológicas díspares que desencadeiam e se tornam vetores de conflitos na região (o que obviamente vale não só para a região em questão, mas para toda Amazônia). Portanto, a presença do Estado, na região, forma um campo de múltiplas forças e não um bloco monolítico. A relação de suas diferentes agências com os distintos atores da região (ou que sobre ela possuem influência) é muito conflituosa. Consideram-se algumas indagações fundamentais para analisar o comportamento do Estado na Amazônia - em específico, na Terra do Meio. Qual foi sua atuação no processo de ordenamento fundiário e de povoamento da região? Quais foram e quais são suas estratégias e prioridades ao longo da história recente? O que explica sua permissividade e falta de comprometimento com as populações e as questões da região até alguns anos atrás? Como se comportam os diferentes grupos socioeconômicos para fazer valer seus interesses?

Castilho (2012) refere-se ao Estado, ou aos agentes do Estado, tais como governadores, deputados federais e senadores, como parte interessada na manutenção dos privilégios dos proprietários de terra e dos setores madeireiro e do agronegócio a partir da analise da lógica de atuação da bancada ruralista no Congresso Nacional. Demonstra como seus integrantes possuem grande capacidade de articulação na defesa de seus interesses privados. Um exemplo recente é a forma como a bancada ruralista atuou nas votações sobre o novo Código Florestal Brasileiro. Castilho (2012) afirma que a maior parte destes proprietários de terras, que possuem cargos políticos, representam poderes e

interesses regionais ou locais, que vão se perpetuando no poder na medida em que os cargos públicos vão sendo assumidos por parentes, resultando em uma transmissão familiar de cargos públicos. Segundo o autor, essa situação configuraria uma espécie de coronelismo. Esses políticos, donos de terras, têm suas campanhas financiadas basicamente por grupos ligados ao agronegócio, tais como o Grupo Friboi (JBS), a Cosan, a Bunge Fertilizantes, a Cutrale e a Marfrig Frigoríficos (cujas doações para campanhas políticas teriam alcançado respectivamente: mais de 30 milhões, 3,8 milhões, 2,72 milhões, 1,89 milhão e 1,2 milhão)71. Castilho (2012) chama a atenção para o fato de que algumas dessas empresas financiadoras de campanhas já foram acusadas de cometer irregularidades ambientais e, até mesmo,de manterem funcionários em situação de trabalho escravo. Com relação às acusações e envolvimento em crimes dos próprios eleitos, Castilho (2012) também encontrou vários casos de envolvidos em denúncias de uso de trabalho escravo, bem como em denúncias de assassinatos e de ameaças de morte, revelando o quão violento é o campo brasileiro e, consequentemente, o quão repleto de conflitos é o acesso à terra no Brasil. Revela, ainda, o quão ativa é a participação de políticos nesta ‘barbárie social’. Com base em suas investigações e achados, o autor defende a tese de que não existe apenas uma bancada ruralista no Brasil, mas, sim, um sistema político ruralista que controla parte do território nacional, formado por clãs familiares e financiado pelo agronegócio.

Para Schmink e Wood (2012) o Estado é uma fonte de variadas qualidades e graus de poder e as políticas e as ações de Estado são carregadas de contradição, graças è existência de divergências e competição entre membros do grupo dominante e também por conta das contradições fundamentais dentro de órgãos públicos(federais, estaduais e locais) e entre eles, em termos de suas respectivas metas, constituições e sobreposição de suas autoridades legais e administrativas (p. 53-54).

Quanto à disparidade em relação às ações empíricas das políticas governamentais, no caso de estudo dessa tese, observou-se por um lado, a

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As campanhas eleitorais analisadas por Castilho (2012) foram as dos políticos eleitos em 2006, 2008 e 2010.

promoção de projetos voltados para a proteção da natureza e das populações locais, mas, por outro lado, observou-se a promoção de grandes projetos desenvolvimentistas, que são polêmicos devido aos prejuízos socioambientais que trazem. consigo. A desconexão existente entre as medidas e projetos das diferentes agências do Estado confirmam a heterogeneidade das vertentes ideológicas que o compõem, que compõem seus diferentes órgãos e integrantes, trazendo à tona suas rivalidades e contradições facilmente perceptíveis quando se concretizam nos projetos políticos e econômicos voltados para a Amazônia. Isso tem sido mais comum nas últimas três décadas para cá, e uma possível explicação diz respeito ao fim dos governos do período da ditadura e ao início do presidencialismo de coalizão, amparado principalmente na distribuição de cargos públicos entre os partidos que apoiam o governo. Nessa nova conjuntura, abriu-se espaço para que grupos com ideologias e projetos distintos passassem a fazer parte dos novos arranjos do Estado. Por conseguinte, as forças que o compõem se tornaram menos unificadas em suas diretrizes e metas.

O poder judiciário, como componente do Estado, também está envolvido, pois dá suporte ou não às propostas do Executivo, além disso, existem deputados que possuem propriedades na TdM, sem falar na lei que destina, sem apelação, as terras aonde tem trabalho escravo para a reforma agrária (essa lei não passou por causa da bancada ruralista). Além disso, este poder está no meio dos conflitos por causa das liminares e as ações envolvendo as irregularidades no licenciamento de Belo Monte, por exemplo.

Por último, destaca-se o grupo de atores formado por membros de agências estatais e dos executivos locais. Como tantos outros grupos, este não é homogêneo e contém membros que atuam à margem da lei, envolvidos em atos de corrupção ou outras ilegalidades, como é o caso i) de funcionários do INCRA (que favoreciam o desmatamento em assentamentos) e do IBAMA (cujas “vistas grossas” não impediam que isso ocorresse); e ii) de prefeitos dos municípios da região que possuem propriedades ou que estejam associados a donos de fazendas e madeireiras irregulares.

O movimento social de resistência à Belo Monte surge ainda na década de 1980. Suas lideranças eram basicamente provenientes dos povos indígenas e dos movimentos sociais do campo resultantes dos assentamentos realizados nas décadas anteriores, durante a colonização dirigida pelo Estado na região.

Com base na afirmação de Ferreira (2005) de que os conflitos sociais podem ser entendidos como manifestações de cisão entre atores individuais ou coletivos, que apresentem interesse histórico ou momentaneamente incompatíveis, explica-se o caso da cisão interna neste movimento social de resistência. A organização que congrega grande parte das organizações sociais de trabalhadores, de mulheres e socioambientais da Região da Transamazônica, a FVPP – Fundação Viver, Produzir, Preservar, passa por uma importante ruptura entre suas principais lideranças quando esta organização não se coloca abertamente contrária à obra de Belo Monte. O que explicaria tal fato não ´é a crença de que Belo Monte deveria ser de fato instalada na região, mas sim o fato desta organização estar alinhada politicamente ao governo federal. Algumas das lideranças da FVPP foram, inclusive, eleitas deputados federais pelo PT. Sendo assim, várias lideranças atuais da FVPP, contrárias à Belo Monte, não puderam se expressar abertamente, e o maior movimento social da Tranzamazônica e Xingu perde sua unidade política em relação à posição contrária ao empreendimento da Hidrelétrica, fragilizando o movimento de resistência.

Conforme Herrera e Moreira (2013), o movimento contra Belo Monte foi desmobilizado durante o governo do PT, na medida em que Belo Monte tornou-se um dos principais projetos do governo, que não poupou esforços para tentar viabilizá-lo. Essa situação rompe definitivamente a unidade da FVPP, que se divide em dois grupos: “os que permaneciam na base de luta (contra BM) e os que acompanharam as ações do Governo Federal. .Ao passo que o Governo Federal se articulava para a implementação do empreendimento, o movimento (social) era redesenhado (...)” (HERRERA e MOREIRA, 2013). Finalmente, em maio de 2008, o Movimento Xingu Vivo para Sempre foi fundado e legitimado como o Movimento de representação dos direitos dos povos do Xingu, tendo como sua principal liderança Antônia Melo, que já havia deixado a FVPP. A CPT e a Prelazia do Xingu também se afastam políticamente da FVPP, e conjuntamente com lideranças e outras

organizações sociais locais, regionais, nacionais e internacionais fundam o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, o MXVPS72, em 2008. Desde então, este tem sido o grande adversário político do Consórcio Belo Monte, tendo sido capaz de organizar a resistência ao mega projeto de forma sistemática e em articulação com organizações internacionais e do Ministério PúblicoFederal.

ONGs

As ONGs que tratam de questões ambientais podem ser esquematicamente classificadas em dois tipos: aquelas que trabalham com o enfoque preservacionista e as que atuam com enfoque nas relações socioambientalistas. Sobre a distinção entre esses enfoques, Little (2002, p.17-18) destaca que o Preservacionismo se estabeleceu, inicialmente, nos EUA e Grã- Bretanha, a partir da segunda metade do século XIX, e tem como valor básico a apreciação da natureza no seu estado ‘intocado’; o Socioambientalismo consolidou- se no Brasil a partir da década de 1980 articulando alianças com os povos tradicionais, que se incorporaram ao movimento, gerando transformações importantes em suas lutas territoriais.

Na TdM, o papel das ONGs é decisivo, na medida em que ocupam parcialmente espaços deixados pelo Estado; entretanto, este mesmo Estado continua tendo um papel-chave já que os programas e projetos definidos ou executados pelo terceiro setor necessitam da sua autorização para serem realizados. De modo geral, financiamentos para atuação das ONGs são fornecidos, em parte, pelo Estado. Mas, mesmo quando os financiamentos vêm de outras fontes, quando possuem outras naturezas, como fundos internacionais ou fontes privadas, a liberação de recursos para ONGs está atrelada a outros recursos do

72Herrera e Moreira (2013, p.140/141) classificam o MXVPS da seguinte forma: “Um movimento de

luta que reivindica os direitos dos povos que vivem às margens do Rio Xingu, povos que construíram suas identidades pautadas nos modos de vida tradicionais, que normalmente não deterioram ou mudam abruptamente as dinâmicas naturais do rio.O movimento constitui um coletivo de organizações, movimentos sociais e ambientalistas da região de Altamira e das áreas de influência do projeto da Hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, que historicamente se opuseram à sua instalação no Rio Xingu. O Movimento se consolidou como promotor da iniciativa de integração e reivindicação a partir de uma grande rede, um fórum. Não se trata de uma ONG ou uma entidade, mas sim um fórum de entidades, de organizações e de grupos de pessoas que se associam às lutas de resistência contra a instalação de projetos de barragens no rio Xingu.”.

governo ou requer a chancela deste na aprovação dos projetos, ou, ainda, exige a articulação com instâncias governamentais para a realização do projeto. Raramente as iniciativas de caráter social ou ambiental são realizadas sem a interferência decisiva do Estado (CASTRO JÚNIOR et al., 2009; ARAÚJO, 2005). Com a atual crise econômica mundial, aumentaram as dificuldades de obtenção de financiamentos de projetos das ONGs, o que tem potencializado os conflitos entre as ONGs73.

Cabe aqui uma observação que pode relativizar essa importância defendida por Castro Júnior et al. (2009) e Araújo (2005). Trata-se do fato de que, não raramente, o Estado, sobretudo quando ele tem relações próximas com os movimentos sociais e ONGs, agrega aos quadros de suas agências representantes desses movimentos e organizações sociais, muitas vezes em cargos importantes. Apesar de se considerar legítimo que isso ocorra, por outro lado, não se pode desconsiderar que quando as organizações contam com representantes ou ex- representantes seus em postos decisivos do governo, terão seus projetos e programas mais facilmente chancelados, pois, nestes casos, o Estado tende a agir no sentido de facilitar o processo burocrático daqueles projetos e programas, vistos como representativos também de seus próprios anseios.

Na visão de Evelina Dagnino (2004, p.101), o predomínio das ONGs na realização de tarefas que caberiam ao Estado expressa a difusão do modelo neoliberal, na medida em que responde às exigências dos ajustes estruturais por ele determinados. A autora reconhece os inúmeros ganhos obtidos pela sociedade

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As ONGs brasileiras cresceram e se multiplicaram com forte apoio da cooperação internacional. Agências privadas de desenvolvimento, muitas das quais ligadas às igrejas dos países da Europa Ocidental e América do Norte, apoiaram, desde os anos 70, projetos de educação popular, defesa de direitos e melhoria da qualidade de vida comunitária.. Na década de 90 este padrão de financiamento entrou em crise em função de um conjunto de fatores: explosão do número de ONGs brasileiras e ampliação de seus orçamentos, realocação de recursos das agências européias para a Europa do Leste, prioridade crescente atribuída à África, aumento do desemprego e das carências sociais no interior das sociedades européias, certo desencanto com a persistência da pobreza e da desigualdade no Brasil. A instabilidade institucional gerada por esta crise nos padrões tradicionais de financiamento de seus projetos obrigou as ONGs a um esforço determinado de diversificação de fontes de financiamento, ampliando o esforço interno de captação de recursos. Esta opção coloca o desafio de um novo relacionamento com o Estado e com o setor privado empresarial. Aos poucos as ONGs foram incluindo em sua pauta de trabalho a preocupação com seu fortalecimento institucional e com a construção das condições de sua sustentabilidade a longo prazo. Portal do meio ambiente (2009); disponível em http://www.portaldomeioambiente.org.br/cidadania-ativa/40-reservado-v15-40

através da atuação de ONGs, mas assevera que a análise sobre a atuação dessas entidades deve ser nuançada pela acomodação das novas configurações sociopolíticas e o papel, por vezes obscuros, das ONGs nessa configuração.

De forma mais específica, essa interação atual que existe entre ONGs e Estado pode ser analisada a partir de dois termos utilizados por Dagnino (2002; 2004). O primeiro é a confluência perversa, que diz respeito à confluência entre projetos absolutamente distintos e que apontam para direções opostas e até antagônicas, “entre um projeto participatório, construído a partir dos anos 80 ao redor da extensão da cidadania e do aprofundamento da democracia, e o projeto de um Estado mínimo que se isenta progressivamente do papel de garantidor dos direitos (DAGNINO, 2002, p. 289)”, forjado no Consenso de Washington e elaborado por instituições financeiras baseado no enfraquecimento do poder do Estado. Dagnino afirma que tal confluência “faz com que a participação da sociedade civil se dê hoje em terreno minado, onde o que está em jogo é o avanço ou o recuo de cada um destes projetos” (DAGNINO, 2002, p.289). O segundo termo que é utilizado pela autoraé o de complementaridade instrumental (DAGNINO, 2002). Este termo refere- se à complementaridade entre o que as ONGs podem oferecer e o que carece ao Estado. Um exemplo dessa situação, segundo trabalho elaborado por El Saifi e Dagnino (2010), diz respeito aos recursos humanos disponíveis para realizar tarefas especializadas.

Para Castro Júnior et al. (2009), apenas em parte a expansão das ONGS está relacionada ao avanço do neoliberalismo, ou seja, à redução intencional da capacidade de ação do Estado. Defendem que para entender o real alcance e profundidade do fortelecimento das ONGs, devem ser levados em conta pelo menos outros 3 aspectos: 1) Muitas dessas organizações surgiram justamente como instituições críticas em relação ao sistema neoliberal, cobrando maior participação do Estado na defesa de minorias e de lutas sociopolíticas tradicionalmente caras aos movimentos de esquerda, tais como justiça social, direitos humanos e distribuição de renda; além da questão da conservação ambiental associada ao desenvolvimento de comunidades de baixa renda; 2) As ONGs são instituições capazes de realizar a mediação entre a esfera pública e a privada, de forma que são importantes para revelar demandas fundamentais das pessoas na esfera privada e alçá-las ao debate

público, como é o caso do ambientalismo; e 3) A eficiência dessas instituições, ou de parte delas, as torna instrumentos importantes de ação política na sociedade, inclusive quando estão atuando em ambientes de luta pela sobrevivência.

Na perspectiva de Ferreira (1999, p. 45), uma vez que os agentes políticos tradicionais foram incapazes de responder às demandas do campo ambiental, o papel exercido pelas ONGs foi fundamental para a consolidação e avanços contemporâneos neste campo, minimizando os prejuízos decorrentes da ausência ou omissão do Estado. Em dados momentos, estas ONGs tomaram para si a implementação de propostas e políticas ambientais ou socioambientais. Nesse sentido elas têm contribuído também para “transmitir o conhecimento técnico- científico interdisciplinar a coletividades anteriormente apartadas do direito a usá-lo em seu benefício”. Ferreira (1999, p. 46), afirma que:

Apesar da profunda diferenciação que caracteriza o universo das ONGs quanto ao tamanho, montante de recursos financeiros e humanos, quanto à ideologia, estrutura organizacional, cultura, abrangência da ação, e recursos de poder, elas inegavelmente podem ser reconhecidas como agentes de mudança social, pois são capazes de eleger um campo de luta e mobilizar pessoas, recursos e instituições em defesa de determinada causa. Através do trabalho gradual, intenso e obstinado, milhares de ONGs vêm dando respostas, mesmo que superficiais e, às vezes pouco adequadas, à crise global que afeta a época atual. O que mudou no papel que desempenham foi a noção de devir que compartilham e divulgam.

Vale examinar a relação entre ONGs e Universidade. Talvez em função de prioridades diferentes ou de tempos diferentes, já que as ONGs parecem viver no mundo da urgência, por vezes torna a relação entre elas conflituosa. As ONGs nem sempre lidam bem com a Universidade – e o inverso também pode ser válido - e com a pesquisa acadêmica de modo geral. Esta, para ter qualidade requer outro tempo e métodos que não aqueles exigidos pela urgência. Talvez por isso algumas ONGs não demonstrem muito interesse pela participação ou pela produção do mundo acadêmico. Contudo, parece ser conveniente para elas terem nomes de Universidades e pesquisadores para validar suas ações frente ao Estado ou a agências de financiamentos.

Em grande medida, alguns mal-entendidos e estranhamentos institucionais que envolveram essa pesquisa entre essas instituições em estudos para criação de UCs, por exemplo, pareceram estar relacionados aos conflitos de

interesses associados aos financiamentos e a quem caberia realizar os estudos necessários para a criação e consolidação das Unidades de Conservação, assemelhando-se a uma disputa por reserva de mercado. Esta hipótese é reforçada pela análise de Clifford Bob em The Marketing of Rebellion: Insurgents, Media, and

International Activism escreve sobre o que chama de "mercado dos direitos

humanos" e chega a conclusões críticas sobre os movimentos sociais, ONGs e “sociedade civil global”. Bob (2005) ao investigar porque enquanto alguns movimentos políticos do terceiro mundo se tornaram causas globais e célebres, outros permanecem isolados e ignorados, associa esse fenômeno a sua tese de que os movimentos sociais e ONGs enfrentam uma luta darwiniana por recursos escassos aonde o apoio vai para os “mais sãos” e não para os mais necessitados. Portanto, Bob (2005) rejeita a visão de que grupos carentes recebem prontamente ajuda de instituições filantrópicas.

Gestores de Unidades de Conservação e ONGS

a) Existem controvérsias sobre a capacidade e as condições objetivas dos gestores em lidar com as populações e as grandes dimensões das áreas protegidas. E há problemas de falta de consenso entre os interessados na formulação e condução de planos de manejo, na medida em que há:

a) diferentes propostas ou estratégias de ação para as áreas protegidas, b) divergências sobre o papel que cabe às ONGs ambientalistas e

socioambientalistas, interessadas em diferentes naturezas de áreas protegidas,

c) diferentes concepções acerca do que pode ser explorado e por quem nas áreas de uso sustentável,

d) moradores ribeirinhos nas unidades de proteção integral e que estão muito