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4.1 ESTRATÉGIAS DE ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA NO MUNDO

4.1.3 Panorama da alfabetização financeira em Portugal

Nessa seção o principal objetivo é entender as estratégias de ensino-aprendizagem

que construíram a alfabetização financeira em Portugal, tendo em vista seu reconhecimento no Prêmio País 2014. Portugal obteve destaque internacional através do Prêmio País 2014 para a Europa da organização Child and Youth Finance International (CYFI, 2014), pelo crescimento e esforço no assunto de alfabetização financeira em escolas públicas. Este prêmio foi atribuído à estratégia nacional que reconhece, em particular, o trabalho desenvolvido pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros e pelo Ministério da Educação e Ciência no âmbito da alfabetização financeira nas escolas de Portugal. O esforço do país para a construção dessa alfabetização financeira vem sendo coerente com o nível de alfabetização da

sua população no assunto, que vem crescendo. Portanto, é interessante observar como se desenvolveram para aumentar o nível de alfabetização financeira no país.

4.1.3.1 Contexto de Portugal

O histórico de Portugal revela grandes problemas financeiros, principalmente o endividamento de famílias e o mau uso do crédito. Em 2015, o país estava com cerca de 540% do PIB endividado (JORNAL ECONÔMICO, 2018). Hoje, em 2019, esse percentual está em 126%. Atualmente apresenta a taxa de poupança das famílias classificada como a 15ª mais baixa da União Europeia (2018). É possível perceber a necessidade do desenvolvimento da alfabetização financeira.

4.1.3.2 Estratégia Nacional em Portugal

Portugal deu início a implementação da alfabetização financeira em 2011, o PNFF (Plano Nacional de Educação Financeira), e desde então existem iniciativas públicas e privadas para o seu desenvolvimento. Inclui ações para vários públicos, infantil, jovens, adultos e idosos (CNSF, 2011), assim como nos demais países aqui estudados. Em Portugal, o PNFF é de responsabilidade das três principais autoridades no mercado financeiro – Banco de Portugal, ASF (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões) e CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários).

4.1.3.3 Estratégias de Ensino-Aprendizagem em Portugal

A análise foi feita em grande parte no site Todos Contam (2019) que serve como portal de comunicação do PNFF. Além de conter as diretrizes da EN, contêm também relatórios, dicas sobre finanças pessoais para vários públicos, e etc. O site Todos Contam tem disponibilizado uma plataforma e-learning, lançada no final de 2015, que serve como apoio para os professores levarem a alfabetização financeira nas escolas. Nela é possível encontrar vídeo-aulas e materiais de apoio para cada um. Alguns dos assuntos mencionados nas vídeo- aulas são: orçamento familiar, economia, investimento, crédito e seguro (TODOS CONTAM, 2019).

A partir do Ministério da Educação em 2013, os Cadernos de Educação Financeira foram desenvolvidos para apoiar alunos e professores na abordagem dos temas do Referencial de Educação Financeira. No Caderno de Educação Financeira 3, por exemplo, explora a forma criativa e colaborativa de temas como “orçamento familiar”, “poupança”, “crédito”, “seguros” e “sistema financeiro”. Podem ser usados nos diferentes contextos curriculares de aprendizagem, no âmbito das disciplinas, das ofertas complementares ou dos projetos. É em forma de história e tem exercícios que são questões relacionadas à explicação teórica. O MEC tem o intuito de continuar com os cadernos de educação financeira, até agora existem três publicados e o quarto é focado para o ensino médio, tanto para professores, como alunos (MEC, 2019).

O MEC também disponibiliza um curso para os professores que inclui sessões teóricas e práticas, num total de 25 horas de formação presencial. Após o curso, os professores devem apresentar um relatório com estratégias de ensino-aprendizagem para os temas de educação financeira. Durante as sessões presenciais alguns dos conteúdos abordados são: planejamento e gestão do orçamento familiar (3h); Sistema financeiro (2h); Contas e meios de pagamento (3h); Poupança – Depósitos a prazo (1h); Poupança – Ações, Obrigações e Fundos de Investimento (3h); Seguros (3h), entre outros (TODOS CONTAM, 2019).

Analisando mais de 50 iniciativas mapeadas pelos últimos relatórios, é possível destacar as principais estratégias de ensino em Portugal e evidenciar a parceria público- privada em busca do mesmo objetivo, a alfabetização financeira dos seus jovens, conforme o Quadro 08.

QUADRO 08 - Estratégias de ensino-aprendizagem em Portugal Estratégias

de Ensino Descrição e exemplos

Jogos

Jogo é a estratégia de ensino mais utilizada pelas escolas e pelas parcerias público-privadas em Portugal. Jogos de tabuleiro exploram a construção da educação financeira e do comportamento financeiro de forma lúdica e criativa. Os principais temas são: poupança, investimento, orçamento e etc. A Associação Portuguesa de Fundos de Investimento, Pensões e Patrimónios explora de forma lúdica e criativa as temáticas como “Poupança” e “Investimento”, através da dinamização do jogo “À descoberta da poupança” e do jogo “Produzir & Poupar & Investir”, para alunos do ensino fundamental ao ensino médio.

O Banco de Portugal também ensinam seus visitantes através de jogos, como, por exemplo, para o Ensino Médio o “Equilibra o orçamento”.

A Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões abre suas portas também, para os alunos aprenderem na prática sobre os conhecimentos sobre seguros e poupança através da participação no jogo “Segura-te Bem”.

Visitas Técnicas

As visitas técnicas têm como objetivo aproximar os alunos com o contato direto com a realidade do funcionamento dos mercados financeiros. Em Portugal, ocorrem visitas em bancos comerciais, bancos de investimento, casa da moeda e etc.

Dinâmicas

A Junior Achievement Portugal, reconhecida pela Europa como uma das melhores práticas de alfabetização financeira, dinamiza um projeto prático de como abrir e gerenciar uma empresa. Este projeto tem como principal objetivo a promoção da alfabetização financeira e o reforço de competências sobre finanças pessoais.

Palestras

Essa estratégia de ensino acontece de forma mais direta e tem o foco em sensibilizar os jovens sobre temas financeiros, trazendo assuntos como poupança, investimento, cartão de crédito. Geralmente ministrada por professores, e por autoridades do assunto no mercado, segundo agenda disponível no site Todos Contam (2019).

Fonte: Elaborado com base em Todos Contam (2019).

Em comparação aos outros países já analisados aqui, é possível identificar que as estratégias de ensino-aprendizagem são menos robustas e não se diferenciam tanto de estratégias tradicionais, mesmo os jogos, contêm funcionalidades mais simples. Em Portugal, a parceria pública-privada ainda se encontra tímida, sendo os materiais de apoio disponibilizado mais centralmente pelos parceiros da PNFF.

Ainda assim, é possível ver o esforço das escolas públicas em desenvolver estratégias de ensino-aprendizagem que possam atrair mais interesse no público-alvo. O CNSF (2015) também incentivou o desenvolvimento de projetos de alfabetização financeira nas escolas desde 2012 por meio do concurso Todos Contam, que visa premiar as melhores iniciativas de alfabetização financeira para cada ano escolar, até o ensino médio. Nos quatro concursos realizados até 2015, 224 projetos foram enviados, envolvendo mais de 350 escolas e quase 70.000 alunos. O Quadro 09 apresenta alguns dos projetos vencedores que são mais criativos.

QUADRO 09 - Projetos implementados em Portugal

Nome do Projeto Descrição do Projeto

A contar contigo

O projeto “A contar contigo” envolveu jovens entre os 14 e 18 anos, trabalhando, simultaneamente a alfabetização financeira e a sustentabilidade. O conceito da poupança e da racionalização da utilização dos recursos foi aplicado na prática, na disciplina de jardinagem, mediante a criação de compostagem de terra, de plantação e manutenção de hortas biológicas, cujos alimentos são depois transformados pelos próprios alunos e utilizados na confecção de refeições, de doces, de chás, de ervas aromáticas, bem como no aproveitamento de espécies de plantas vulgarmente pouco utilizadas para fins alimentares. Também as noções de poupança de água e de luz no dia a dia e a criação de hábitos de reciclagem de lixo foram temas trabalhados pelos alunos em várias disciplinas práticas e teóricas. E assim, o projeto explorou a criatividade dos alunos e a vivência prática de observar a poupança em sua rotina.

Juntos preparamos o futuro

Baseia-se em uma dinâmica de esclarecimento sobre direitos e deveres na economia; a produção de materiais como cartazes e folhetos sobre a importância da poupança, o planeamento e gestão do orçamento e sistemas e produtos financeiros básicos; e o sistema de supervisão financeira em Portugal.

Oligopólio financeiro

É um jogo de tabuleiro que consiste na gestão de compra e venda de propriedades, num torneio, entre alunos do Ensino Fundamental. A organização do jogo é de responsabilidade dos alunos do Ensino Médio.

Todos Contam – Educação Financeira e Tributária

O projeto inclui a dinamização de uma sessão de esclarecimento sobre “Gerir e poupar” no âmbito das “Consumers.Talks” promovidas pela DECO, a dinamização da Feira de S. Martinho, com compra e venda de produtos, a apresentação de uma pequena peça de teatro baseada nas temáticas financeiras e a implementação de ciclos de aprendizagem sobre conceitos de educação financeira e tributária, através da visualização de vídeos, análise e debate de ideias e resolução de fichas formativas.

O projeto integra-se no currículo das disciplinas de educação cívica e ambiental, matemática, português, tecnologias de informação e comunicação, educação visual, comunicação e expressão dramática. Inclui ainda algumas atividades extracurriculares.

Fonte: Elaborado com base no Relatório PFNN (2017).

Assim como observado anteriormente, as estratégias de ensino-aprendizagem desenvolvidas em Portugal são mais simples e o foco delas tende a ser em atividades práticas. Pode-se relacionar isso com o desenvolvimento de sua economia, que não é tão voltada à tecnologia e por isso materiais personalizados para tal idade não são possíveis. Além dessas estratégias, no PFNN 2016-2020, como parte das estratégias traçadas, mencionaram também a produção de certificados para os educadores através da plataforma Todos Contam, bem como criar um aplicativo para a alfabetização financeira e a presença em mídias sociais (MEC, 2019).