• Nenhum resultado encontrado

4.1 ESTRATÉGIAS DE ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA NO MUNDO

4.1.2 Panorama da alfabetização financeira no Canadá

O objetivo desse tópico é a contribuição com a pesquisa das melhores estratégias de ensino-aprendizagem para a alfabetização financeira. Por isso, o Canadá é motivo de escolha, principalmente por se destacar mundialmente pela sua distribuição de renda em todo o país. Esse nivelamento da população pode ajudar em estratégias de ensino-aprendizagem em que consigam embarcar a maioria dos alunos, bem como a construir comportamentos sobre o assunto.

4.1.2.1 Contexto do Canadá

A alfabetização financeira no Canadá ainda está em desenvolvimento. Isso porque as avaliações feitas pelo CFCS (2014) e pelo relatório a partir do PISA, segundo OCDE (2015), demonstram que os canadenses sabem responder em média 60% das perguntas corretamente sobre alfabetização financeira em ambos os testes. Portanto, é necessário desenvolver essa questão nos alunos do ensino médio. De acordo com a CBC News (2017), uma das razões pelas quais os adolescentes canadenses tiveram uma classificação tão alta no teste é a experiência própria com cartões de débito e crédito. Também através da pesquisa, revelou-se o comportamento de gestão das finanças a curto e em longo prazo por parte dos alunos que já obtinham conta bancária.

O esforço para implementar a alfabetização financeira formalmente é pela falta de entendimento em serviços complexos de finanças e, principalmente, enquanto adolescentes, é a conscientização sobre o período de faculdade, em que muitos necessitam poupar dinheiro para essa fase da vida.

4.1.2.2 Estratégia Nacional no Canadá

A decisão de implementar a EN, portanto, foi principalmente em consequência ao aumento de grau de complexidade dos produtos financeiros, segundo o relatório CFSC (2014). No geral, outros fatores para implementar a EN, é pelo desejo de fortalecer o planejamento financeiro e orçamentário, com enfoque em crédito e juros. Tendo em vista que o relatório do PISA 2015 evidenciou habilidades básicas que os alunos já portavam, foi importante para determinar o início da alfabetização financeira a partir de um nível médio, não mais abordando questões básicas (OCDE, 2015).

O governo do Canadá fez da alfabetização financeira uma prioridade, no geral, segundo o relatório FCAC (2018). Por isso, a fim de potencializar a implementação, comprometeu recursos anuais à Agência Financeira do Consumidor do Canadá (FCAC) para empreender iniciativas, realizar pesquisas e desenvolver programas para as escolas, para o público geral, para os educadores, entre outros. Entretanto, é importante ressaltar que tanto a China, quanto o Canadá, não priorizaram as escolas como público-alvo na proliferação da alfabetização financeira quando se deu início a EN. O foco inicial esteve nos adultos. Outra característica interessante da FCAC é a função de um Líder de Alfabetização Financeira, cujo papel é fornecer orientação e conhecimento para implementar a estratégia através da mobilização e colaborando com as partes interessadas em todo o país. Assim, o Líder pode direcionar o projeto e fazer as províncias trabalharem em sinergia (FCAC, 2018).

Segundo FCAC (2018), a alfabetização financeira foi introduzida aos adolescentes como tema transversal no currículo do ensino fundamental e médio, presente em diversas disciplinas, como matemática, história, ciências sociais, entre outras. Em algumas disciplinas, existem atividades que visam à construção de atitudes e comportamentos dos alunos e por isso, aprendem habilidades específicas, como compreensão de dinheiro, conscientização do consumidor, finanças pessoais, orçamento e gerenciamento de dinheiro. São atividades assim que tornam a alfabetização financeira eficaz, justamente por exercer o desenvolvimento de tais competências nos alunos.

No Canadá, segundo o relatório anual de 2017-2018 da Agência Financeira do Consumidor do Canadá (FCAC), com o intuito de contribuir para a promoção da confiança do sistema financeiro estável e competitivo, é possível analisar que a maioria das estratégias de ensino-aprendizagem foram desenvolvidas por iniciativas privadas e que resultou em estratégias que forçam aos estudantes a praticar habilidades necessárias e condizentes com a realidade. O público de foco maior são os universitários.

Existem 162 estratégias de ensino-aprendizagem disponíveis no site da FCAC (2019), na aba de Banco de Dados de Alfabetização Financeira do Canadá. Dessas estratégias, a maioria é desenvolvida com workshop para os professores, com um conjunto abrangente de materiais gratuitos, sendo eles: ferramentas, materiais de apoio, dicas, diretrizes, questionários e atividades interativas envolventes e que facilitam a alfabetização. Ainda é possível notar, que como nos materiais encontrados na China, a maioria deles é didático, incentivando o aluno - ou público geral – a estudar por si próprio. Abordam sobre conceitos financeiros básicos e também questões relacionadas ao gerenciamento de dinheiro.

No site do Ministério da Educação do Canadá (2019), também se encontra uma variedade de recursos para apoiar os professores nessa jornada. Além das já citadas anteriormente, também disponibiliza guidelines com assuntos que podem ser abordados em todas as disciplinas dentro das salas de aula. Isso inclui uma variedade de planos de aula, materiais de apoio e outros recursos desenvolvidos por diferentes associações e pelo

Curriculum Services Canada em parceria.

Outras estratégias de ensino-aprendizagem também são utilizadas no Canadá, como podemos verificar no Quadro 06, na qual elenca aplicativos, workshops, games e e-learnings, como práticas adotadas pelos professores.

QUADRO 06 - Estratégias de ensino-aprendizagem no Canadá Estratégias de

ensino- aprendizagem

Descrição

App

O eMe App é gratuito gratuitamente no ITunes para os alunos das séries 7 e 8 jogarem na sala de aula ou independentemente em casa. Um guia do professor acompanhante está disponível para apoiar o planejamento da aula.

Workshops

O curso de habilidades para a vida financeira da British Columbian Securities Commission (2006) combina o uso de personagens fictícios com atividades e decisões financeiras da vida real de maneira prática e baseada em atividades. À medida que cada tópico financeiro é apresentado, os alunos aprendem os conceitos e informações através de oito personagens

em estágio de vida, cada um enfrentando diferentes circunstâncias financeiras. Em uma pesquisa publicado em 2006, 80% dos professores classificaram o recurso positivamente e disseram que pretendiam use-o novamente, enquanto 85% dos alunos deram ao curso uma nota B ou superior;

Gamificação

O Payoff é um jogo imersivo para os adolescentes onde aprendem facilmente sobre os princípios financeiros. O jogo é acessado por um website, e simula um aplicativo bancário visto pelo celular, onde os alunos fazem escolhas de acordo com as questões durante o jogo. Os alunos tem acesso a uma conta corrente e poupança. Além disso, podem transferir dinheiro de uma conta para outra, podem conversar com personagens, verificar seu banco, abrir sites falsos, verificar seus e-mails e etc. A maioria das escolhas afeta os custos, assim como na vida real, alguns deles impactam as economias futuras e outros têm consequências mais adiante no jogo.

Outro jogo desenvolvido é o road trip to saving. Este jogo requer que os jogadores tomem decisões sobre receitas, despesas e economias. Os jogadores começam com $ 1.000 em dinheiro e $ 0 de economia. Também simula situações da vida real, através de uma caminhada.

E-learning Na Practicalmoneyskills (2019), educadores, pais e alunos podem acessar recursos

educacionais gratuitos, incluindo finanças pessoais, jogos, planos de aula e etc. Fonte: Elaborado com base em eMe (2019); BCSC (2006); Payoff (2019); Practicalmoneyskills (2019).

No Quadro 06, destaca-se o uso do ensino híbrido dentro da sala de aula no Canadá. Pode-se perceber que é disponibilizado um ensino-aprendizagem mais complexo, pois existem diversos materiais disponibilizados que usufruem mais de uma estratégia de ensino- aprendizagem. Por exemplo, os aplicativos e a gamificação, que já são estratégias de ensino- aprendizagem pela sua estrutura, ainda se utilizam de resoluções de problemas da vida real como conteúdo. Isso resulta numa maior probabilidade de engajamento dos alunos com o assunto e, portanto, constrói uma alfabetização financeira eficiente.

O fato de adequar o formato da estratégia de ensino-aprendizagem para com os adolescentes do século 21, estimula o desenvolvimento de várias competências a fim de preparar o aluno para a vida. São habilidades exercidas durante as atividades interativas que desenvolvem o pensamento crítico, a resolução de problemas e por consequência a tomada de decisão. Além das principais estratégias de ensino-aprendizagem já citadas, no Quadro 07 tem-se alguns projetos que colocam a teoria na prática.

QUADRO 07 - Projetos implementados no Canadá Nome do

Projeto Descrição

Your Money Students

A Canadian Bankers Association - CBA (2017) lançou um projeto piloto com o Carrot

Rewards usando tecnologia móvel e gamificação. Lançado durante o Mês de Alfabetização

Financeira, oferece uma série de exercícios para aumentar o conhecimento e confiança sobre tópicos financeiros como orçamento, economia e uso inteligente de crédito.

O programa Your Money Students é um seminário que objetiva o planejamento de sonhos a longo prazo. Além de abordar também sobre investimento e juros compostos, os prós e contras do uso de crédito, entre outros. Está disponível para professores canadenses do ensino médio e seus alunos em todo o país - é gratuito e tem parceria com banqueiros que oferecem seu tempo na comunidade. Mais de 3.700 seminários foram entregues a 108.000 estudantes em Ontário e 1.200 seminários foram entregues a 38.000 estudantes na Colúmbia Britânica desde que o programa começou em 1999 (CBA, 2019).

Financial Soccer

A partir desse game, onde os alunos se dividem em grupos e jogam pelo website, são abordados conceitos sobre economia, orçamento, objetivos financeiros, o uso inteligente do crédito. No final de cada “partida”, os alunos fazem um teste e concluem um exercício escrito para testar seu conhecimento dos conceitos aprendidos. São disponibilizados guias para os professores. As atividades podem ser usadas também como uma avaliação individual da aprendizagem dos alunos (FINANCIAL SOCCER, 2019).

Your Investment Advisor

Foi desenvolvido pela FCAC e BCSC. Esse programa utiliza a imaginação e a interação como estratégia de ensino-aprendizagem, praticando habilidades da vida real, através de personagens. São mini-histórias de "novela" para introduzir tópicos financeiros; também são disponibilizadas atividades práticas (planilhas).

Fonte: Elaborado com base em CBA (2017); FINANCIAL SOCCER (2019); BCSC (2019).

Percebe-se assim, que o uso de estratégias de ensino-aprendizagem que sobressaem são principalmente as utilizadas em grupo. O benefício desse tipo de estratégia é o livre uso de cada aluno, deixando a evolução do conteúdo e da aprendizagem evoluir no ritmo de cada um. No Canadá, são mais recorrentes estratégias de ensino-aprendizagem que se encontram em estágio mais desenvolvido pelo fato do país possuir uma economia de primeiro mundo e conjuntamente, uma parceria público-privada mais forte. Esse fato faz-se visível quando se compara as estratégias de ensino-aprendizagem com Portugal, que por mais que seja um país europeu, não tem uma economia tão forte quanto o restante dos países aqui citados.