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4.1 ESTRATÉGIAS DE ALFABETIZAÇÃO FINANCEIRA NO MUNDO

4.1.1 Panorama da alfabetização financeira na China

O objetivo do presente estudo é elucidar as principais ações para alfabetização financeira desenvolvidas na China. A principal motivação para a seleção do país é o resultado do ranking de melhor performance no PISA (OCDE, 2015).

4.1.1.1 Contexto da China

O histórico da China é destacado pelo rápido crescimento de sua economia há aproximadamente duas décadas (IPEA, 2019). Consequentemente, esse contexto atraiu o rápido desenvolvimento do setor de serviços financeiros, com produtos financeiros mais complexos e vários riscos financeiros sendo transferidos para os consumidores (LUSARDI, 2016). Corroborando com esse contexto, o comportamento dos chineses é de poupador, pois aproximadamente 40% da renda - média dos últimos anos - é economizada e, por isso, os serviços financeiros tornam-se atrativos, mesmo que o povo não tenha o devido entendimento sobre o assunto (INFOMONEY, 2019). Por isso, o desenvolvimento da alfabetização financeira da população chinesa é um complemento à economia e incutiu a preocupação do

Estado em fortalecer e reformar seus sistemas financeiros, segundo Lusardi (2016). A parceria público-privada no desdobramento da alfabetização financeira é muito forte e potencializou o resultado desse projeto no país.

4.1.1.2 Estratégia Nacional na China

A relação da China com a alfabetização financeira acontece indiretamente desde os anos 90, em que estavam incluídos no currículo do ensino fundamental e médio alguns tópicos sobre finanças e economia, segundo OCDE (2015). Eram esses assuntos relacionados à ética, à sociedade e à história, introduzindo a economia de mercado para os alunos. Ao longo dos anos, o nível de abordagem de conteúdo sobre o assunto foi evoluindo. Desde 2001, Pequim e Xangai, por exemplo, já disseminavam a alfabetização financeira nos currículos do nível escolar e regional para o ensino fundamental e o médio (GAO, 2014). A estrutura de abordagem que era utilizada, segundo o site BBVA (2017), em sua maioria, continua a mesma até os dias de hoje: através de temas transversais e, dessa maneira, são estabelecidos conteúdos específicos que se tornam mais complexos à medida que os alunos progridem.

Ao passo em que os fóruns globais mencionaram sobre boas práticas para uma Estratégia Nacional de Alfabetização Financeira, a China deu início na sua em 2010. Durante a formação, foi realizada uma pesquisa nacional de alfabetização financeira pelo próprio país, onde foram coletados dados sobre o nível de entendimento sobre finanças pessoais da população a fim de avaliar as principais necessidades sobre o assunto, segundo o relatório da OCDE (2015). Obtiveram como resultado que a população não sabia conceitos financeiros, mas tinha um forte comportamento financeiro, de saber lidar com as suas finanças de acordo com suas contas.

No PISA 2015, identificaram que as áreas rurais tiveram uma pontuação menor do que as áreas socioeconomicamente mais desenvolvidas (variação de 17%). Além disso, os alunos chineses foram melhores nos resultados quando comparados a países que tiveram os mesmos resultados em matemática no teste (OCDE, 2015). Outro fato interessante é de que quase 70% dos alunos demonstraram conseguir poupar dinheiro. Com isso, a China pôde desenvolver uma estratégia mais assertiva para diferentes públicos da sua população.

Na China, existem três tipos de currículo: nacional, regional e escolar. Cada esfera tem total autonomia para construir o seu currículo (OCDE, 2016). Por consequência, a EN é

descentralizada do currículo nacional, e não existe um único site que centralize materiais de apoio, guias e etc., diferente do que acontece em outros países. Encontram-se materiais centralizados apenas em sites por regiões.

Por isso, o trabalho focou em regiões mais desenvolvidas, como Hong Kong e Xangai. Corroborando com essa informação, segundo o depoimento da Xue Hu para a BBVA (2017), Vice-Diretora do Departamento de Proteção ao Consumidor Bancário, China Banking

Regulatory Commission, considera que as instituições financeiras devem contribuir para a

alfabetização financeira, como, por exemplo, com a publicação de material, o uso de voluntários nas escolas e no treinamento de professores, a fim de descentralizar essa responsabilidade do Estado, visto que o mercado pode contribuir com o seu expertise para com os estudantes. Tendo em vista isso, é possível evidenciar essa parceria público-privada nas seguintes estratégias de ensino-aprendizagem.

4.1.1.3 Estratégias de Ensino-Aprendizagem na China

Para fortalecer a alfabetização financeira, o Centro de Educação para Investidores (IEC, 2013) elaborou uma pesquisa qualitativa em Hong Kong, para entender melhor quais eram as estratégias de ensino-aprendizagem utilizadas nas escolas, os recursos necessários em apoio aos professores, além de entender as oportunidades para apoiar e promover o ensino- aprendizagem da alfabetização financeira. A pesquisa constatou que na hora da implementação, foi preferível escolher disciplinas padrões para explicar sobre o assunto, como, por exemplo, matemática.

Também no relatório foram destacadas as preferências dos professores em relação às estratégias de ensino-aprendizagem que observavam trazer mais retorno: visitas às empresas e organizações parceiras, vídeos, atividades simuladoras, entre outras. Foi relatada também a importância dos treinamentos para os professores, atividades extracurriculares para os pais e também palestras que aproximam o mercado e a escola. Além disso, o estudo observou a falta de apoio dedicado da equipe e coordenação central (IEC, 2014). A partir desse relatório, é possível observar que os professores percebem o desenvolvimento dos seus alunos quando postos em prática, bem como o contato com profissionais do mercado, a fim de ampliar a visão dos alunos.

Para esse trabalho, os recursos educacionais foram analisados por meio de uma ampla variedade de plataformas e canais, incluindo sites, ferramentas on-line, aplicativos móveis, mídias sociais, programas, etc. Algumas iniciativas foram integradas usando uma variedade de canais. Seguem no Quadro 04 as estratégias de ensino-aprendizagem na China observadas a partir da pesquisa.

QUADRO 04 - Estratégias de ensino-aprendizagem na China Estratégias de

Ensino- Aprendizagem

Descrição de projetos através da Estratégia

Séries

O IEC (2018) lançou uma série de dramas de TV para o público jovem, intitulado “Once

Upon a Dime”, em Hong Kong, na China, para incentivar os jovens a administrar melhor

o seu dinheiro. A série inclui oito episódios, sendo eles baseadas em casos da vida real e em paralelo, temas educativos sobre planejamento financeiro, cartão de crédito, gestão de dinheiro, entre outros.

Sites

No site do IEC (2019) tem disponíveis as seguintes atividades interativas: Planejador de orçamento, rastreador de dinheiro, calculadora de meta de economia, planejador de Aposentadoria e uma série de orçamentos para determinados sonhos. Além disso, o IEC também criou uma verificação de saúde financeira interativa, na qual os usuários podem fornecer informações sobre os dados pessoais, situação financeira e obter aconselhamento.

Outro projeto é o site Shanghai Better Education Development Center (Be Better) foi pioneiro na implementação da educação financeira nas escolas e na formação de professores. Segundo o site GSRD Foundation (2019), Atualmente, a Be Better ensina educação financeira por meio de três programas: Aflatoun (escola primária), Aflateen (ensino médio) e Agent Penny (ensino fundamental em conjunto com o Citi Bank).

Eventos

O Mês do Dinheiro em Hong Kong, são diversos eventos dentro do mês a fim de incentivar o cuidado com o dinheiro, envolvem vários públicos e as atividades principais acontecem em Hong Kong (NFCE, 2019).

Workshops

“Making $ense of Money” –– Financial Education Program for Teenagers: Segundo o Be Better (2015) é o primeiro livro de educação financeira introduzido no ensino médio

na China. O programa oferece um workshop aos alunos. Muitos professores começaram a desenvolver um currículo escolar depois que eles participaram do programa. Abordam alguns assuntos de planejamento financeiro pessoal, consumo racional, cartões de crédito, câmbio, ações, títulos, que são ignorados no currículo escolar em China, mas são facilmente acessíveis em sua vida diária.

E-learning

A plataforma on-line da NFCE (2019) fornece lições de finanças pessoais on-line e são interativas, gamificadas, práticas e divertidas, mas também atendem aos principais padrões educacionais, com vídeos e texto. Os alunos participam de uma plataforma de aprendizado interativa e atraente, projetada para melhorar seus recursos financeiros. Também fornece certificados para formação de professores.

Gamificação

- Teacher Award for Business and Financial Education, segundo IFEC (2018), reconhece os esforços e contribuições dos professores em negócios e educação financeira através de premiação. Também é um momento de troca de networking dos comportamentos nos negócios e alfabetização financeira entre escolas de ensino médio em Hong Kong. O prêmio também contribui para a ação principal de melhorar alfabetização financeira nas

escolas.

- Financial Education Champion também é uma iniciativa educacional que visa aprimorar as capacidades de gerenciar finanças pessoais e fazer decisões financeiras informadas. As metas de educação podem ser no público em geral, estudantes, funcionários, clientes e usuários de serviço de ONGs.

Fonte: Elaborado pela autora, com base em IEC (2018), GSRD Foundation (2019), Be Better (2015), NFCE (2019) e IFEC (2018).

A partir do Quadro 04, é perceptível a abundância de materiais dispostos on-line e dessa maneira, tornando mais acessível e escalável a alfabetização financeira para todos, considerando a população da China. As estratégias de ensino-aprendizagem mais utilizadas são através do ensino híbrido, por isso o uso de gamificação, sites interativos, séries (estratégias temporais personalizadas para o público-alvo). Além disso, a aplicação de e-

learning, abre margem para criação de debates aprofundados dentro da sala de aula, visto que

o conteúdo já está disponível e de uma forma mais interativa.

O fato de adequar as estratégias de ensino-aprendizagem para os adolescentes esboça o cuidado que a região tem em aplicar uma alfabetização financeira eficaz. Outro ponto importante a destacar é a preocupação com a formação dos professores no uso de determinada estratégia de ensino-aprendizagem, pois a maioria dos sites que disponibilizam materiais de apoio e jogos interativos são acompanhados de materiais para os professores. Outra rápida observação é a linguagem didática dentro dos materiais, estimulando os alunos ao ensino próprio.

Além disso, destacam-se no Quadro 05, projetos que servem como benchmarking para implementação das estratégias de ensino-aprendizagem retiradas dos principais sites sobre alfabetização financeira da China.

QUADRO 05 - Projetos implementados na China

Nome do Projeto Descrição

AFLATEEN

O programa Aflateen é uma plataforma on-line de e-learning destinada a jovens de 15 anos ou mais. A plataforma usa uma variedade de conteúdo multimídia interativa, focado em questões relacionadas aos direitos e responsabilidades dos jovens, a alfabetização financeira e ao gerenciamento de empresas sociais e financeiras. Adaptado especificamente para esta fase de desenvolvimento, o programa Aflateen ensina sobre finanças, e também incentiva os jovens a questionar o mundo ao seu redor. Eles exploram conceitos como idade, gênero, nacionalidade, etnia, status socioeconômico e religião. A missão da Aflateen é inspirar jovens com poderes sociais e econômicos a levar vidas responsáveis e serem agentes de mudança. Pilotado com sucesso em 2011 na China e presente em mais de 50 países (CHILDFUND, 2017). Esse projeto engloba as três áreas de formação da alfabetização financeira: conhecimento, atitude e comportamento. Por isso é um good case para se tomar

como exemplo.

The Chin Family

É uma plataforma on-line de alfabetização financeira que fornece informações, recursos e programas gratuitos, através de personagens. Cada personagem da Família Chin tem sua própria personalidade e desempenha um papel diferente na abordagem de tópicos financeiros adaptados a grupos específicos da comunidade. A Família Chin é administrada pelo Conselho de Educação Financeira e de Investidores (IFEC, 2019), que é apoiado pelo Departamento de Educação e pelos quatro reguladores financeiros.

Consumer Culture Study Award (CCSA)

O CCSA (2019) é um dos maiores eventos baseados em projetos para alunos do ensino médio na China, organizado em colaboração com o Bureau de Educação. É um evento anual e tem uma média de 3.000 estudantes participando mais de 100 seminários, workshops e consultas personalizadas. As atividades abrangem uma ampla gama de tópicos, envolvendo não apenas a alunos, mas também os professores.

Visa aumentar a conscientização dos jovens em direitos do consumidor, facilitando a reflexão sobre o próprio consumo comportamentos e o seu impacto.

The Boys 'and Girls'

Patrocinado pelo HSBC e organizado por The Boys 'and Girls' (2019) Associação de Clubes de Hong Kong, o programa visa à alfabetização financeira a partir de workshops e jogos experimentais sociais e também desenvolvem o programa Junior Financial Secretary. Esse programa desafia os jovens a implementar a sua aprendizagem dos treinamentos oferecidos e transferi-los para outros alunos em suas escolas. O objetivo é desenvolver habilidades e senso de urgência ainda quando adolescentes sobre o assunto.

Fonte: Elaborado com base em (CHILDFUND, 2017); (IFEC, 2019); CCSA (2019); ACHK (2019).

As parcerias público-privado demonstraram ser relevantes para potencializar a alfabetização financeira no país. No Quadro 05, algumas dessas parcerias oferecem oportunidades únicas para a formação dos alunos, porque têm como objetivo desenvolver habilidades nos adolescentes, fornecendo a alfabetização financeira de uma forma eficaz. Muito se aponta que as áreas de atitude e comportamento são as que mais impactam para que a alfabetização financeira se concretize. Aproveitando para enfatizar que essa parceria público-privada gera muitos benefícios, desde o subsídio dos projetos e assim, a acessibilidade da EN, quanto à expertise das instituições sendo repassadas para os alunos, pois os aproximam da vida real e tornam as estratégias de ensino-aprendizagem eficientes.

Os próximos passos, segundo declarações na Channel News Asia (2019), a Comissão Reguladora de Valores Mobiliários da China (CSRC) anunciou planos para o ensino fundamental e médio em todo o país para ensinar aos alunos cursos de alfabetização financeira. As empresas de tecnologia chinesas são atraídas para o desenvolvimento de novos aplicativos, videogames e dispositivos digitais com o intuito de ampliar habilidades financeiras básicas, explorando novas ferramentas de aprendizagem, incluindo a gamificação de oficinas de alfabetização financeira e empreendedorismo para criar uma experiência imersiva para os jovens (IFEC, 2019).

Percebe-se assim, que a China possui um vasto território e por isso, a estratégia de fazer parcerias público-privadas mesmo que tendo seu esforço descentralizado, tem se esforçado para cumprir a EN e assim, tornar os adolescentes alfabetizados financeiramente. Por seguinte, o Canadá também é dividido por regiões, chamadas províncias. Diferencia-se por ter seu esforço de uma maneira mais centralizada, e assim, as províncias crescem juntas, como se pode observar no item a seguir.