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Panorama geral dos documentos analisados

5.1 A AVALIAÇÃO INSTITUCIONAL NO CONTEXTO DA PRODUÇÃO DE TEXTOS:

5.1.1 Panorama geral dos documentos analisados

Buscando uma primeira aproximação aos documentos analisados nessa dimensão, optamos por uma abordagem mais descritiva, considerando sua caracterização em relação aos objetivos, à data de publicação, ao número de páginas e formas de acesso (APÊNDICE M).

O D01 foi analisado em sua 2.ª edição, elaborada por Campos e Rosemberg (2009), numa parceria do MEC com a Fundação Carlos Chagas. Sua 1.ª edição foi publicada em 1995, período intenso de discussões que antecederam a publicação da LDB (BRASIL, 1996). Como foco principal do documento analisado, evidenciamos a preocupação com a qualidade da educação e do cuidado em creches, sendo explicitado como objetivo urgente “[...] atingir, concreta e objetivamente, um patamar mínimo de qualidade que respeite a dignidade e os direitos básicos das crianças, nas instituições onde muitas delas vivem a maior parte de sua infância” (BRASIL, 2009c, p. 7).

Na processualidade da produção de documentos, também em 2009 foi publicado o D02, visando detalhar os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil (BRASIL, 2006) em indicadores que visibilizassem a qualidade da educação ofertada às crianças com o propósito de “[...] oferecer às equipes de educadores e às comunidades atendidas pelas instituições de educação infantil um instrumento adicional de apoio ao seu trabalho” (BRASIL, 2009b, p. 15), podendo assim “auxiliar as equipes, [...] famílias e pessoas da comunidade a participar de processos de autoavaliação da qualidade de creches e pré-escolas [...]” (BRASIL, 2009b, p. 14).

Nesse detalhamento, as sete dimensões sistematizadas no documento envolvem aspectos relacionados a: a) planejamento institucional; b) multiplicidade de experiências e linguagens; c) interações; d) promoção da saúde; e) espaços, materiais e mobiliários; f) formação e condições de trabalho das professoras e demais profissionais; g) cooperação e troca com as famílias; e h) participação na rede de proteção social. No total são elencadas 80 questões ligadas a 26 indicadores e correspondentes às sete dimensões.

Ao considerarmos que os enunciados não se encontram isolados e compõem uma cadeia dialógica ininterrupta, sempre havendo discursos que nos antecedem e nos sucedem (BAKHTIN, 2011), ressaltamos que a primeira publicação de um documento com indicadores para avaliação da qualidade da educação ocorreu em 2004 e focalizava os ensinos fundamental e médio, com indicação de adequação para sua aplicação na EI. Compondo esse movimento, em 2013, abordando o racismo como um grande obstáculo à melhoria da qualidade educacional, foi publicado o documento Indicadores da Qualidade na Educação – Relações Raciais na Escola.

Em 2012, a publicação do D03 apresentou direcionamentos diversos quanto à questão da avaliação institucional na EI com três objetivos:

Propor diretrizes e metodologias de avaliação na e da Educação Infantil, analisar diversas experiências, estratégias e instrumentos de avaliação da

Educação Infantil e definir cursos de formação sobre avaliação na educação infantil para compor a oferta da Rede Nacional de Formação Continuada de Professores (BRASIL, 2012, p. 3, grifo nosso).

Esses objetivos articulam-se aos objetivos dos documentos D01 e D02 e consideram ainda as discussões do seminário, realizado em São Paulo, que analisou o uso do documento D02 em instituições de EI do país. Essas discussões foram sintetizadas em publicação do MEC mediante o documento Monitoramento e Avaliação dos

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2011).

Para complementarmos o conjunto dos documentos analisados neste eixo, apresentamos a Lei Municipal n.º 8.051/10 (D04), aprovada pela Câmara Municipal e sancionada pelo prefeito do município onde realizamos a pesquisa, que, conforme o art. 2.º, objetiva “[...] acompanhar, monitorar e avaliar os processos educacionais e as políticas públicas da Rede Municipal de Educação [...]” (VITÓRIA, 2010, p. 2).

Ao aludir ao aspecto temporal, ainda que o D01 tenha sua 1.ª edição em 1995, conforme já foi mencionado, a publicação dos documentos analisados concentra-se entre 2009 e 2012, demonstrando uma intensa produção em torno de questões relacionadas ao processo avaliativo em instituições de EI, no referido período. Essas discussões potencializam o contexto da produção de textos no campo das políticas,

pois a quase simultaneidade com que acontecem possibilita interlocuções com temáticas circundantes, como o direito das crianças à educação de qualidade.

Como parte desse contexto, é importante lembrar a publicação das DCNEI (BRASIL, 2009a) como contribuição nas discussões de temáticas referentes à EI, acentuando que os processos de interação e de organização social dos sujeitos envolvidos nesses debates compõem as definições e encaminham sentidos para as decisões.

Concernentes a esse princípio, realçamos que, na dinâmica de elaboração, até que haja minimamente um consenso, ou seja, até se concretizar como documento, muitas são as palavras ditas, escutadas, desconsideradas, validadas. Muitos enunciados mantêm-se em disputa no horizonte social (BAKHTIN, 2009). Nesse sentido, ao analisarmos, de forma ampliada, esses documentos, destacamos o entrelaçamento de seus objetivos, que consideram a importância de basear a avaliação institucional ou a autoavaliação das instituições de EI em critérios e indicadores de qualidade que considerem os direitos das crianças.

Reconhecemos que o documento D01 tem papel primordial nesse entrelaçamento por abordar a questão da qualidade na perspectiva dos direitos das crianças de maneira enfática e contundente, num momento em que o conceito de qualidade se difundia no país com base em tendências neoliberais, principalmente em relações de mercado como sustentação da sociedade (GENTILLI; SILVA, 1994).

No que concerne ao acesso aos documentos, a consulta está disponível em meio virtual, o que possibilita seu conhecimento de forma mais democrática, ainda que a inclusão digital não seja uma realidade para todos os brasileiros e os computadores não se façam presentes em todas as instituições de EI.

No contexto desse desafio, a versão impressa do documento D02 foi enviada pelo MEC às Secretarias Municipais e Estaduais de Educação, aos Conselhos Municipais de Educação, aos Grupos de Pesquisa em Educação Infantil e aos membros dos Fóruns de Educação Infantil de todos os estados, a fim de atingir todos os municípios brasileiros.

No processo de acompanhamento dessa distribuição, o Monitoramento do Uso dos

Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2011) constatou que o

menor índice de distribuição do documento no país aconteceu na Região Sudeste. “No Espírito Santo, foram 75,0% dos estabelecimentos educacionais de Educação Infantil. Em Minas Gerais, foram 70,5%, em São Paulo, 63,0% e no Rio de Janeiro, 57,0%” (BRASIL, 2011, p. 41).

Quando discutem sobre a publicização dos documentos oficiais nacionais e internacionais na perspectiva das reformas educacionais, Shiroma, Campos e Garcia (2005) destacam a importância de estudos sobre os textos desses documentos para a compreensão das políticas e alertam sobre os diferentes sentidos de sua ampla divulgação, afirmando que “talvez resida aí uma das principais explicações para a disseminação massiva de documentos digitais e impressos: popularizar um conjunto de informações e justificativas que tornem as reformas legítimas e almejadas” (SHIROMA; CAMPOS; GARCIA, 2005, p. 429).

Cabe assinalar que, na abordagem do ciclo de políticas (BALL, 2001, 2009), precisamos considerar os “[...] processos micropolíticos e a ação dos profissionais que lidam com as políticas no nível local e [...] a necessidade de se articularem os processos macro e micro na análise de políticas educacionais” (MAINARDES, 2006, p. 49). O autor assinala a relevância dessa abordagem para o estudo de questões educacionais, principalmente pela característica de flexibilidade, que possibilita compreender os contextos das políticas públicas de forma dinâmica e inter- relacionada.

Nesse sentido, longe de se caracterizar como mera descrição, o ciclo de políticas tem por premissa mover o pensamento a fim de compreender como as políticas são elaboradas e efetivadas/vivenciadas (BALL, 2009), problematizando as diversas interpretações dos sujeitos que atuam em seus distintos contextos. Nesse movimento dialógico, buscamos ampliar a compreensão dos sentidos desses documentos na produção das políticas públicas explorando seus processos de elaboração, interlocutores e bases de argumentação.

5.1.2. Processos de elaboração, interlocutores e base argumentativa dos