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Produções que perspectivam a avaliação institucional

3.4 INTERLOCUÇÃO COM TRABALHOS RELACIONADOS À TEMÁTICA

3.4.1 Produções que perspectivam a avaliação institucional

Na dimensão da avaliação institucional, elencamos um total de seis produções dentre as 15 que apresentaram convergências com nosso tema de estudo, das quais dois trabalhos apresentados na ANPEd, duas dissertações de mestrado e dois artigos.

Nessa perspectiva, Rampazzo (2008) apresenta, na ANPEd, a pesquisa (em andamento nessa data) Avaliação institucional na educação infantil: um campo de

possibilidades, que se propõe a analisar esse processo avaliativo desenvolvido

numa instituição de EI, buscando identificar seus limites e possibilidades, conhecer as condições de sua implantação e captar mudanças pedagógicas e administrativas, caso tenham ocorrido internamente.

Em 2009, com sua dissertação de mestrado finalizada, a autora apresenta as conclusões da pesquisa intitulada Avaliação institucional na educação infantil: limites

e possibilidades, que tem por objetivo analisar o processo de implantação de uma

experiência de avaliação institucional vivenciada por uma Escola21 Municipal de Educação Infantil no município de Campinas, São Paulo, conforme sua realidade e limitações. De acordo com a autora, as análises dos dados revelam que a escola não realizou o processo de avaliação institucional em consonância com o que as concepções teóricas pressupõem. Rampazzo (2009) destaca que a escola pesquisada foi uma das três, entre as 1.512 escolas, que aceitaram participar de um projeto voltado para avaliação de escolas de ensino fundamental.

A autora informa, ainda, que esse processo avaliativo contou com a elaboração de

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Esse total refere-se ao quantitativo de trabalhos por autor, ou seja, nossa base bibliográfica para interlocução conta com 15 trabalhos de diferentes autores. No entanto, como 2 desses autores têm seus trabalhos em duas bases de dados diferentes, dialogamos com suas ideias nas diferentes perspectivas abordadas.

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questionário por uma comissão com representantes dos segmentos de pais, funcionários, professores e gestores. Contudo, assinala que somente os familiares foram consultados, enquanto os profissionais da escola pesquisada não tiveram oportunidade de expressar suas opiniões.

Em sua dissertação de mestrado, Ribeiro (2010) detalha a experiência que foi objeto de sua pesquisa intitulada A qualidade na educação infantil: uma experiência de

autoavaliação em creches da cidade de São Paulo. O trabalho acompanha a

aplicação de autoavaliação em quatro creches conveniadas da cidade mencionada, com base nos Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009b). A autora considera, numa perspectiva freiriana, que, mesmo evidenciando relações de poder hierárquicas durante o encontro para as discussões pertinentes ao processo avaliativo, a oportunidade de perceber essas situações de opressão já constitui condição e possibilidade de sua superação.

Nessa pesquisa, Ribeiro (2010) evidenciou que as contradições do processo não impediram que se percebessem momentos de informação, reflexão e formação dos envolvidos e assinalou que é preciso verificar a qualidade por meio da autoavaliação, um tema ainda recente no Brasil. Nesse sentido, ressalta que o documento Indicadores da Qualidade na Educação Infantil (BRASIL, 2009b) pode contribuir para avanços nesse processo.

Em artigo publicado na revista Cadernos de Pesquisa, Rosemberg (2013) discute as tensões no debate atual sobre avaliação na/da EI brasileira e demarca a diferença entre política de avaliação na/da educação EI e avaliação da política de EI. Nesse artigo intitulado Políticas de Educação Infantil e avaliação, a autora argumenta que os distintos posicionamentos acerca da questão da avaliação na EI, sejam contra, sejam a favor, se constituem com base no processo de construção da “avaliação” como problema social no âmbito de discussões sobre políticas de EI.

Mediante esse contexto tensionado, a autora assinala duas questões primordiais para as reflexões e debates sobre o assunto: “Por que e para que(m) serve a pesquisa avaliativa da/na EI? Qual a razão de ser da política de EI?” (ROSEMBERG, 2013, p. 52). Sobre a primeira pergunta, alerta para a

instrumentalização de ações avaliativas que resultam na redução de recursos destinados principalmente às crianças de 0 a 3 anos. Quanto à segunda, problematiza a questão de ainda não conseguirmos integrar os direitos das crianças aos direitos de pais e mães trabalhadores, demarcando esta e outras singularidades da EI em relação às demais etapas da educação básica que precisam ser consideradas num processo avaliativo. A autora também ressalta a importância de postura ética e de posicionamento político quando se trata de pesquisas avaliativas em EI.

Com base no projeto de Lei n.º 8.035/1022, que cria o novo Plano Nacional de Educação (PNE), e nas recomendações do documento-referência da CONAE/ 2014, Sousa (2013), por meio do artigo Avaliação colaborativa e com controle social, publicado na revista Retratos da Escola, aborda a proposta de implantação de uma sistemática de avaliação que articule diferentes elementos constitutivos desse processo que envolvem instâncias de controle social e ação colaborativa entre os entes federados.

Com base também no documento Educação Infantil: Subsídios para uma

Sistemática de Avaliação (BRASIL, 2012), a autora defende uma avaliação que

possibilite a análise das diferentes realidades educacionais, numa interlocução entre os níveis centrais e a instituição, no intuito de que o processo avaliativo “[...] produza informações capazes de balizar iniciativas das diversas instâncias governamentais, seja abrangente, abarcando indicadores relativos a acesso, insumos, processos e resultados” (SOUSA, 2013, p. 71).

Numa dimensão mais ampliada, Souza e Moro (2013)23, em apresentação de trabalho na ANPEd intitulado Textos e contextos de avaliação em educação infantil:

aportes da produção acadêmica brasileira e italiana, abordam a parceria entre

universidades brasileiras e a Universidade de Pavia, na Itália, para estudos24 sobre a

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Esclarecemos que, na data de publicação do artigo, ainda não havia sido sancionada a Lei n.º 13.005/2014, que institui o Plano Nacional de Educação (PNE).

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Não se encontram disponíveis, no site da ANPEd, o resumo ou o texto na íntegra desse trabalho. Contudo, como participamos (como ouvintes) da apresentação e constatamos sua relevância para esse diálogo com as produções do campo, procedemos à análise com base nos registros escritos que realizamos (SOUZA; MORO, 2013).

24 O projeto é coordenado nacionalmente pelas professoras Gizele de Souza e Catarina Moro.

temática da avaliação de contexto em instituições de EI. Um dos objetivos é conhecer o processo e os instrumentos de avaliação italianos e analisar quanto eles contemplam as especificidades da EI brasileira e quanto precisam ser reelaborados para corresponder à nossa realidade educacional.

As autoras apresentam um panorama parcial25 da produção brasileira sobre a avaliação na/da EI e apontam a surpresa com o grande quantitativo de trabalhos localizados sobre a temática da avaliação, seja institucional, seja da aprendizagem, ressaltando que se faça uma análise da sua imbricação com a gestão e com os processos formativos. Essas observações trazem apontamentos importantes para nosso estudo por apresentarem diferentes vertentes da avaliação institucional, contemplando aspectos mais abrangentes no campo das políticas e da legislação. Assim, nos movem a pensar o contexto ampliado do tema e também os aspectos específicos de instituições de EI.

No conjunto desses trabalhos que focalizam a avaliação institucional na EI, observamos que alguns se aproximam de nossa intenção de estudo, ao serem realizados em instituições de EI. As problematizações enunciadas pelas autoras ressalvam a importância de considerarmos o contexto político mais amplo no qual a avaliação assume um lugar na agenda política como “problema social” e a necessidade de cuidarmos da postura ética. Os estudos apontam ainda a necessária atenção às relações de poder que circundam a ação avaliativa e às razões de realizarmos pesquisas avaliativas.

Focalizando as questões que diferem de nossa pesquisa, destacamos que uma delas assinala a contribuição da avaliação institucional por meio de momentos de informação, reflexão e formação dos envolvidos, porém estabelece correlação com a

proponente, Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) – e duas universidades italianas – Università Degli Studi di Pavia (UNIPV) e Università degli Studi di Palermo (Unipa). Ademais, conta com apoio do Ministério da Educação, via projeto institucional de Cooperação Técnica com a Secretaria de Educação Básica (SEB) do MEC. (MORO; SOUZA, 2014, p. 109). Disponível em: <http://www.fcc.org.br/pesquisa/publicacoes/eae/arquivos/1928/1928.pdf>. Acessado em: 24 fev. 2015

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.A finalização desse estudo acerca da produção brasileira de estudos sobre a avaliação na EI encontra-se publicada na Revista Estudos em Avaliação Educacional (MORO; SOUZA, 2014). Esclarecemos que o referido artigo não compõe esta revisão de literatura por mantermos o recorte temporal com limite até 2013, dialogando com os enunciados das autoras em outros capítulos deste trabalho.

qualidade, e não com os processos formativos conforme pretendemos. E outra pesquisa, ao concluir que a instituição não realizou a avaliação institucional em consonância com seus princípios, ressalta que somente os familiares tiveram participação respondendo a questionários. Em nossa pesquisa, também temos como lócus uma instituição de EI, mas nossos sujeitos são os docentes, visto que buscamos a interlocução da avaliação institucional com a formação continuada. Outro aspecto que demarca diferentes características refere-se à questão de que as pesquisas analisadas nessa revisão de literatura acompanharam a avaliação institucional em seu processo de desenvolvimento, e nosso estudo se propõe a analisar o evento após sua realização direcionando-se à interlocução com processos formativos docentes. Nesse sentido, dialogamos a seguir com produções relacionadas a essa temática.