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Papel, influência e atuação da coordenação na prática dos professores de

Capítulo 3. O ENSINO DA MÚSICA EM ESCOLAS REGULARES DE ENSINO

4.2 DADOS DO ENSINO MUSICAL EM ESCOLAS PARTICULARES (1ª à 4ª séries)

5.1.6 Papel, influência e atuação da coordenação na prática dos professores de

O papel e a influência da coordenação nas aulas de música são diferentes a depender da escola e das diversas situações referentes aos distintos contextos escolares observados. No caso da Escola A, a coordenação tem bastante influência sobre o professor e suas aulas: o professor não tem completa autonomia com relação às aulas, tudo é supervisionado e aprovado pela coordenação, às vezes o professor consegue introduzir alguns assuntos, mas desde que tudo tenha a ver com o plano estabelecido pela coordenação da escola.

Na Escola B, a professora Ângela (B) tem total autonomia em suas aulas, ela é quem determina o formato, os conteúdos a serem trabalhados, e segundo ela: “Pelo colégio já conhecer o meu trabalho, eles (coordenação, direção, responsáveis) me deixam à vontade [...] eles confiam no meu trabalho, então, eu faço, chego aqui e digo: - Tenho um projeto. E eles dizem: - Execute”. Segundo a professora Ângela, esta relação de confiança estabelecida ajuda bastante no trabalho do professor de música. E em sua opinião: “Isso é fantástico!” (Professora Ângela, Escola B).

Na Escola C, a professora Alice (C), diz que tem total autonomia: “Eu determino tudo, tudo que eu decidi, eu tenho absoluta autonomia pra fazer”. E a professora Kelly (C) diz que a escola pede os planos de aula, alguns relatórios, mas que de forma alguma influencia em sua prática em sala. “Em sala de aula mesmo, eles não se envolvem não. Eu fico lá na sala de música, não chega ninguém pra olhar a aula, não se envolvem não” (Professora Kelly, Escola C).

Na Escola D, segundo a professora Daniela(D),

Eu determino, agora, lógico que a gente sempre apresenta pra coordenação tudo o que a gente esta fazendo em sala. Tem relatório, [...] no próprio plano de aula a cada dia, então, a coordenação esta sempre à par do que a gente está trabalhando em sala de aula, mas, eu tenho a liberdade de traçar o meu caminho.

A professora Michele (D) diz: “De jeito nenhum, eu sou totalmente livre. A coordenação às vezes até esquece que eu existo aqui. Por isso que eu gosto, porque eu fico aqui no meu canto”. Essa frase demonstra que a professora sente-se aliviada em ter sua própria autonomia em sala e também satisfação em poder ficar tranqüila, sem pressão para desenvolver as suas atividades.

A única dificuldade observada pela professora Michele (D), foi à questão da escola, por vezes, não compreender que para se tocar a flauta doce leva um tempo maior do que para se cantar uma canção. Os alunos precisam de um tempo para se adaptar ao instrumento, ao

seu dedilhado, às notas musicais, então, fica difícil tocar em todas as festas das datas comemorativas. Segundo a professora Michele (D):

Eles (a coordenação, responsáveis, direção) só precisam compreender que tem essa questão, por exemplo, dia das mães, é em maio e eles já querem que os meninos se apresentem. É coisa de escola mesmo, é natural querer mostrar a cara dos meninos, mas eu fui mostrando pra eles que o objetivo do trabalho não era esse. Isso seria uma conseqüência. O trabalho estando pronto, lógico que eles vão apresentar, mas, assim, “verdinhos”, não tem condições.[...] Eles (a coordenação, responsáveis, direção) perceberam que meu trabalho é feito através de um trabalho de musicalização, um trabalho sério, não é uma coisa só pra encher lingüiça, é uma coisa séria. Então, agora eles já se adaptaram com isso e já não me perturbam mais.

A coordenação, segundo o professor João Paulo (Escola A), faz reuniões mensais de uma forma geral, e não especificamente para aulas de música, só quando for necessário, “Com música tem há depender do calendário; numa festa de mãe, então, nós nos reunimos pra preparar essa festa das mães, então, é a depender do calendário, pra gente preparar essas festas”.

Nota-se que o ensino nessa escola está voltado para as festas e comemorações festivas, no caso o apoio ocorre para realizar as festas. O que deveria ocorrer é que, independente das festas, fossem feitos projetos e reuniões para abranger problemas pedagógicos, de ensino, as músicas a ser trabalhadas; organizar repertório, dentre outros, e não apenas pensando nas datas referentes ao calendário. Essa coordenação também estabelece os planos de aula, conteúdos a serem trabalhados na unidade, assim como as datas para apresentação e as músicas a serem trabalhadas em sala e apresentadas em festas, mas as reuniões que ocorrem são, de maneira geral, envolvendo as outras disciplinas. A coordenação também verifica semanalmente os planos do professor de música e fiscaliza os conteúdos aplicados nas aulas.

Notou-se que nas escolas pesquisadas, durante o estudo, os problemas normalmente apontados com relação ao apoio pedagógico, muitas vezes acabam sendo uma preocupação a mais para o professor de música, do que um auxílio para seu trabalho. Na Escola A, por exemplo, a coordenação, na maioria das vezes, se mantinha num papel autoritário, de cobranças ao professor e de “broncas”, chamando atenção por detalhes que não faziam parte das aulas de música, como por exemplo, reclamar com o professor de música por ter permitido um aluno ficar na aula com um boneco, sendo que este aluno nem brincou com o boneco durante a aula.

Percebeu-se que a coordenação da Escola A quer que o professor siga o plano exatamente como esta passou, sendo que nem todas as aulas ocorrem da mesma forma, e muitas vezes nas aulas necessita-se de flexibilidade para que o aluno e o professor desenvolvam seu trabalho da melhor maneira possível. Chamou atenção o fato de após uma

aula em que o professor ensinou e relembrou com os alunos o hino da escola, no outro dia ensinaria a música de uma festinha da páscoa. A coordenação o chamou atenção dizendo, em tom “grosseiro”, segundo ele, que o hino é conhecido pelos alunos e que a Páscoa já estava chegando e era mais importante ensaiar a música da Páscoa. O professor se explicou dizendo que estava no plano que a própria coordenação havia feito e que nem todos os alunos sabiam o hino porque todo ano entram alunos novos e sempre são chamados ao pátio para cantar, em eventos e apresentações, então, ele precisou antes de passar a música da Páscoa, demonstrar que a escola tem um hino, para que numa data em que fossem chamados para cantar, já estivessem preparados. Logo após o hino o professor falou sobre a Páscoa e mostrou a música. Faltavam duas semanas para a apresentação, portanto, havia tempo suficiente para realização do trabalho.

Com a professora Alice (C), mediante o questionamento sobre o apoio pedagógico recebido referente às necessidades ou dificuldades acerca das aulas de música, ela cita que,

Tem essa dificuldade porque na verdade em relação aos eventos e tudo mais eu teria de tratar com o coordenador de artes, mas, ele trabalha no turno aposto ao meu, então, eu não tenho como falar isso com ele. Mas, em questão de projetos, de andamento das aulas, de planos de aula, de indisciplina de aluno, isso tem de tratar com a coordenadora de série.

No caso, essa professora tem dificuldade para marcar as reuniões ou de encontrar o coordenador responsável pelo apoio na área de artes e da disciplina Música, devido a estarem na escola em horários opostos, como diz a professora. No entanto, segundo ela (Alice Escola C), existe a possibilidade de falar com as chamadas pedagogas de séries. O que acontece, como relata a professora, é que apesar de ter esse apoio das coordenadoras de séries, o diálogo ainda não encontrou um consenso com relação às aulas de música. Alice (C) prossegue dizendo:

Mas não existe uma cooperação muito grande, porque como elas (coordenadoras de série) não têm muito conhecimento de música e de educação musical, elas (coordenadoras de série) muitas vezes não entendem o quê que a gente quer.E elas acabam querendo que a gente faça de uma forma tradicional, da forma que elas acreditam, e que não é a forma que a gente acredita. Então, eu acho que o diálogo não está muito bem estabelecido.

A professora Kelly (C), diz que: “Olha, geralmente nas aulas de música, eu tenho um grande apoio de um funcionário do colégio. Ele não é coordenador, ele é um funcionário do colégio. Mas ele trabalha com a parte de som, então, como eu sou de música, precisa muito, e eu faço muita solicitação”.

Segundo a professora, esse funcionário é o responsável direto com a parte de som, televisão, vídeo e outros materiais necessários e utilizados nas aulas de música. Então, ao invés de solicitar à coordenação, já vai direto a esse funcionário. “[...] porque se eu fosse na

coordenação, certamente ela ia dizer: Essa parte de televisão e de som você tem que procurar o funcionário (E.), então, eu já vou diretamente a ele (funcionário)” (Professora Kelly, Escola C).

A professora Kelly (C) também relata o apoio que sente por parte da coordenação em caso de problemas em sala de aula, e com as professoras regentes (de classe). Esta professora diz que:

“Eu conto muito com a coordenação, eu posso pedir esse apoio que elas chegam na sala e conversam com o grupo. Também conto muito com as regentes (professoras de classe), a professora de sala. E elas apóiam o trabalho de música, eu sinto esse apoio das colegas [...]”. Na Escola D, a professora Michele pensa que se poderia ganhar mais em termo de educação musical, se ao invés de pensar no retorno, investir mais, pois, segundo ela,

Ultimamente, a direção da escola mudou, então, a gente tem perdido muito com isso. Eu acho que eles pensam muito no retorno e esquecem do investimento. Então, ultimamente está meio desgastante trabalhar aqui. Mas, eu gosto, acima de tudo pelas crianças, pelo trabalho que eu desenvolvo, eu gosto, mas já foi melhor, já foi muito melhor do que agora.

Essa professora também tem encontrado dificuldades com relação o apoio ao seu projeto de flauta doce nas aulas de música, no sentido de que para ela seria mais interessante que este projeto de flauta doce englobasse todas as séries Fundamentais de 1ª a 4ª séries ou, pelo menos, que depois da musicalização (1ª série), os alunos já pudessem ter a oportunidade de iniciar nas aulas de música, tanto no coral, quanto nas aulas de flauta doce, porque a professora sente-se “frustrada” em só poder trabalhar com as turmas de 4ª séries, apenas em um ano, sem ter possibilidade de ver a continuação do processo.

A professora Michele, da Escola C, fala de sua preocupação com relação ao tempo:

Eu tenho tentado conseguir por muito tempo com que esse curso começasse na 2ª série porque eu fico frustrada, pois, quando os meninos tão tocando, acaba! Não tem continuidade, eu não posso fazer grupos de flauta doce, trios, quartetos, porque acaba logo. Quando eles (alunos) estão aptos a pegar uma flauta contralto, acaba! Então, começando da 2ª série como eu gostaria que começasse, a gente ia começar com meninos de sete anos, por aí, até a 4ª série. Aí a gente ia conseguir fazer um trabalho excelente! Mas ainda não consegui. Eles (coordenação) não conseguem justificar e a gente não entrou num acordo ainda com isso.

A professora Daniela (D) pensa que trabalhar nessa escola é muito fácil, segundo ela, “[...] a escola vê a música realmente como ´objeto´ educador. E as professoras regentes (classe) também, então, a gente tem uma interação muito grande e cada professor com o coordenador também, então, trabalhar aqui é muito fácil”.

Observando o relato das duas professoras pode-se ver que não existe um consenso entre as duas na questão de se ter o apoio, pois ele é realizado de formas diferentes. A professora Michele (D) passa por dificuldades para que a coordenação compreenda seu

projeto e esta não aceita a maneira que a professora propõe para que seu projeto de aulas de música com flauta doce possa englobar todas as séries Fundamentais e assim ela possa desenvolver um trabalho melhor, mais completo, com os alunos. E também relata estar desgastante trabalhar nessa escola, apesar de gostar, pois os dirigentes têm interesses diferentes daqueles nos quais a professora acredita. Por outro lado, a professora Daniela (D), acha fácil trabalhar nessa escola, segundo ela, todos sempre estão empenhados em ajudar no que for preciso. Esta professora ensina as turmas de canto-coral e musicalização. Talvez as dificuldades e facilidades aconteçam de formas distintas na mesma instituição, por tratar-se de projetos diferentes.