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O papel do oficineiro enquanto intermediário das relações entre as crianças

7 A ANÁLISE DE UMA EXPERIÊNCIA

7.2 O papel do oficineiro enquanto intermediário das relações entre as crianças

Neste tópico serão contempladas as observações sobre a presença do oficineiro como facilitador das expressões da criança no contato com os materiais ou no relacionamento com o grupo.

O papel do oficineiro neste grupo e para os fins deste trabalho foi se construindo na relação com as crianças, com a instituição e nos posicionamentos assumidos mediante a leitura transferencial e contratransferencial dessas relações. Não houve determinações a priori

que orientassem a nossa postura enquanto oficineiro. Preferimos confiar no método “deixar surgir para tomar em consideração”(HERRMANN, 1999). Risco que assumimos, pois não tínhamos garantia de que a construção desse papel favoreceria a expressividade. Observamos avanços no sentido de conseguir manejar situações difíceis que, com o tempo, puderam criar na criança o sentimento de confiança para testar sua relação com o oficineiro e experimentar outros estilos de ser. Mas houve recuos também. Muitas vezes sentimo-nos desamparados mediante a ausência de garantias e tentamos nos agarrar em atividades dirigidas que não contribuíram para a consolidação do objetivo deste trabalho, que sempre foi a expressão do inconsciente, mas isso somente serviu para dar uma efêmera e fugaz sensação de objetividade, abandonada quando percebemos em nome do que se dava esta “tentativa de objetividade”.

Nesse sentido, procuramos rastrear, nos registros das oficinas, nossas próprias falas, impressões e sentimentos, indicativas dos posicionamentos que assumimos enquanto oficineiros, em diversos momentos e situações vividas nessa experiência.

Nas oficinas 1, 2, 3, 4 e 5, observamos que a expressão veio numa quantidade e velocidade não esperada pelo oficineiro e, com isto, o primeiro susto; além disso, talvez o papel deste estivesse claro desde o princípio:

Parecia que meu papel estava bem definido para elas (veja-se para isso Tatiana gritando para as crianças de fora que ela estava com a sua psicóloga). Também me surpreendia com a velocidade com que as histórias das crianças apareciam. Tatiana falando da mãe, Karina dizendo da irmã. Depois do atendimento sentia-me cansada. A sala ficava como se tivesse passado um furacão, com tinta e material espalhado. Talvez não fosse o momento de pensar em algum tipo de organização do espaço. Eu sentia que elas queriam experimentar o que estava ali. Eu estava tentando me adaptar a eles. (oficina 2)

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Parecia que todo fim de nossos encontros eram difíceis. Tentei, na medida do possível, lembrar-lhes da semana seguinte, que tínhamos um horário marcado e que eu estaria lá para atendê-los, mas parecia que não era suficiente. Assim como os materiais usados para a pintura pareciam não ser suficientes. Talvez seja isto que eu deva sustentar. (oficina 5)

A análise dos sentimentos decorrentes da relação entre oficineiro e crianças orientou a limitação do material e, posteriormente, a redução do grupo. Além da limitação do material, o oficineiro ia apontando às crianças as suas repetições e fazia as contenções físicas quando a palavra ainda não fazia sentido:

(Vinicius) Com a canetinha fez traços nos desenhos de José e Karina. Esta lhe devolveu, passando canetinha em seu cabelo, foi até Daniel e tentou rabiscar o seu desenho. Interrompi-o e perguntei se ele só sabia fazer algo daquela forma. Será que ele não podia fazer o seu próprio desenho? Vinicius parecia emburrado. Depois de um tempo foi para uma mesa e passou a fazer seu desenho. (oficina 6)

Tatiana neste momento estava mais agitada; porém, estava mais afetiva nesta oficina. Aproximou-se de mim e me abraçou. Provocou Daniel e os dois correram pela sala. Interrompi. (oficina 6)

Tatiana não voltou para a mesa de trabalho. Foi para a porta da sala e ficou jogando seu corpo contra a porta. Escalou a porta. Fui até ela e a retirei. Tatiana disse que queria ir embora. Eu disse que ela poderia ir, mas que não voltaria para a oficina. Tatiana concordou comigo e eu a deixei sair. (oficina 8)

Algumas intervenções tiveram o caráter de sentença interpretativa numa tentativa de organizar a avalanche de afetos que provinham de determinadas crianças, principalmente de Karina:

Eu disse a Karina que ela estava cobrindo o rosa, a cor de que mais gostava para deixar por cima uma cor que ela não gostava tanto. Disse que ela se parecia com uma menina que eu conhecia, da qual as pessoas só conheciam uma cor, mas a cor de que ela mais gostava ficava escondida. (oficina 9)

Ao terminarmos, Karina falou com a “tia” Priscila e depois quis entrar Expliquei-lhe que a nossa oficina havia terminado Agora eu necessitava arrumar a sala para o outro grupo que estava esperando. Karina ficou emburrada ao lado da porta. Eu disse que Karina estava perdendo a oportunidade de aproveitar as coisas quando elas apareciam e que nem tudo é do jeito que a gente quer, que, portanto, temos que aproveitar as coisas como elas se dão, caso contrário, não aproveitamos nem aqui, nem ali. (oficina 17)

Ao mesmo tempo, o oficineiro ia percebendo que o limite tinha de ser estabelecido, mas de um jeito particular, pois cada criança demandava um tipo de resposta. É justamente neste ponto que o oficineiro se distingue da instituição, que impõe o limite e a lei para todos de uma determinada e mesma forma.

Com relação a José:

Senti que, quando José me solicitava, pedia que eu fizesse algo por ele, cuidasse dele, mesmo sendo possível ele mesmo se cuidar naquele momento. (oficina 11)

O holding determinou o início da relação com José, atendendo-o nos momentos em que ele solicitava. Nossa relação caminhou no sentido da diminuição da dependência na medida em que crescia o sentimento de segurança na criança.

A observação da relação que Vinicius mantinha com as outras crianças do grupo e com o oficineiro apontava para uma dependência do outro, algo que era da ordem do “ser visto urgentemente por alguém”. No início de nossos encontros, Vinicius buscava no outro a solução para sua angústia, “marque-me para sentir-me existente”. Nesse sentido, durante algumas oficinas, Vinicius “marcava” o trabalho de outras crianças no grupo e, como resposta, geralmente tinha uma outra marca vinda com violência. Lembremos que Vinicius não pedia licença para produzir sua marca na produção do outro e por isso a marca era sentida como invasão.

Vinicius abriu alguns potes de tinta, mas não se deteve em produzir algo seu. Passava pelas outras crianças e dava uma pincelada no trabalho do outro. (oficina 4)

Com a canetinha fez traços nos desenhos de José e Karina. Esta lhe devolveu, passando canetinha em seu cabelo, foi até Daniel e tentou rabiscar o seu desenho. (oficina 6)

A intervenção do oficineiro estabeleceu-se no sentido de interromper a invasão de Vinicius na produção do outro e de intensificar as suas produções, valorizando-o em suas conquistas.

Vinicius chegou à oficina dizendo que queria fazer uns óculos iguais aos de Daniel. Eu lhe disse que poderíamos fazê-los, desde que ele me dissesse como eles seriam. (oficina 13)

Vinicius passou a escolher suas figuras. Escolheu carros e aviões. Também o auxiliei a recortar, já que Vinicius apresentava dificuldades para lidar com a tesoura. (oficina 15)

A figura era bem pequena e, quando terminou, Vinicius foi mostrar-me bastante satisfeito por ter conseguido recortar a figura, sem invadir a foto propriamente dita. Vibrei com Vinicius pois entendia o que tal ato significava para ele. (oficina 17)

Ao longo das oficinas percebemos que adquirir o domínio sobre a tesoura estava aproximado à sua própria independência. Vinicius agora poderia escolher as figuras que gostaria de recortar e fazer delas a expressão de seus afetos. Através do corte que a tesoura lhe proporcionava, tinha o contorno daquilo que exatamente queria falar.

Vinicius disse que ia ver o que encontrava nos livros (ele se referia às revistas). Foi até o monte de revistas e encontrou uma figura que despertou seu interesse: uma mãe feliz segurando seu bebê no colo. E resolveu recortar esta figura. (oficina 22)

Daniel apresentava sua produção mais estruturada, representada, clara. Como era a criança mais velha, também tinha mais recursos que facilitavam o seu trabalho. Diferentemente de Vinicius, Daniel tinha habilidade com a tesoura, o lápis, os pincéis. A sua representação era também mais organizada. Nossas intervenções foram no sentido de fazer falar sobre a produção; assim, quando Daniel terminava uma produção, o oficineiro fazia perguntas sobre o desenho: o que era, quem era as pessoas etc.

Comparado aos demais, seu desenho era o mais estruturado/.../ Pedi-lhe que me falasse sobre o desenho. Fui perguntando sobre o que havia feito e Daniel foi me respondendo. As duas pessoas eram irmãos que moravam na casa com seu pai e sua mãe. Daniel disse que havia feito este desenho para a sua mãe. (oficina 8)

Daniel quis brincar com os panos. Ele cobriu algumas carteiras e a impressão que se tinha era a de um túnel. Daniel quis ser achado, olhou pelas frestas dos panos, fazia barulhos. Brinquei com Karina dizendo que tinha alguém escondido na sala. Quem seria? Karina riu e disse outro nome de criança. Duvidei. Daniel mostrou sua cara. Descobri-o e disse-lhe que o havia achado. Daniel divertia-se. Brincamos desta forma por mais algumas vezes. (oficina 9)

Produção de Daniel (oficina 15)

No 24º. encontro, Daniel pôde dizer a Karina que ela estava incomodando. A palavra de Daniel surgiu apoiada em nossa fala anterior a Karina e isso também tinha o sentido de corroborar o que havíamos dito ou, talvez, até mesmo procurar fazer uma aliança conosco para expulsar Karina da sala. De qualquer maneira, nossa intervenção permitiu ou estimulou a

expressão de Daniel e foi um momento importante para o exercício básico de um saber dizer e para quem dizer:

Karina saiu do quarto e foi para a sala. Foi até a porta e balançou a maçaneta. Perguntei se ela queria sair. Karina disse que era para eu não falar com ela. Aceitei suas ordens e me calei. Um adolescente interrompeu a oficina para devolver um aparelho de som que ficava guardado nesta sala. Abri a porta e Karina não saiu. Karina ficou parada perto de uma janela, sempre reclamando de alguma coisa. Daniel estava montando sua casinha, até que em um dado momento ele pareceu perder a paciência e disse a Karina: por que você não sai mesmo? Você não quer ficar aqui! É só falar para a Marina (psicóloga do Abrigo) tirar seu nome da lista que você sai do grupo!

Com Karina fomos percebendo que as intervenções poderiam ser feitas desde que fossem autorizadas por ela:

Disse-lhe que parecia que Karina não gostava que lhe perguntassem tanto e sobre muitas coisas e ela concordou, balançando sua cabeça. Preferi não interferir e deixei-a fazendo seus corações. (oficina 3)

Na produção de Karina percebíamos que estávamos lidando com algo frágil, com contornos permeáveis. Parecia que o que vinha de fora era sentido como uma grande ameaça de desintegração e seu modo de lidar com tamanha ameaça era através da agressão. Não havia limites para o que era sentido como bom ou ruim. Tudo parecia ruim.

Karina deu os ombros, como se não estivesse ligando para o que eu falava. Nesse momento fiquei perdida. Karina me desafiava. Pensei que ela precisava de limites. Preferi ser rígida com ela, afirmando nossas regras. Será que fui rígida demais? Não sei. (oficina 7)

Fomos percebendo que Karina sabia lidar com o toque físico somente em uma via, a da agressão. Com o limite, a contenção física, fomos percebendo algumas alterações como as que foram mencionadas pela psicóloga da instituição:

Logo que cheguei, encontrei a psicóloga do Abrigo, que me disse que Karina havia passado uma semana muito tranqüila, que não havia mordido ninguém/.../ a psicóloga do Abrigo, que veio dizer-me que, após a oficina, Karina ficou muito tempo a seu lado, fazendo carinho em seus cabelos. Marina disse a Karina que ela estava fazendo carinho. Karina não admitia.

As duas conversaram. Marina sentiu uma aproximação de Karina sem agressão, cuidadosa. (oficina 9)

A hipótese sobre um discurso monossêmico, autoritário e estereotipado existia e se confirmava nas brincadeiras de Karina:

Tatiana e Karina resolveram brincar de casinha. Vinicius disse que era o filhinho. Karina e Tatiana inicialmente eram as mães. Karina ficou muito brava com Vinicius. Disse, ou melhor, gritou que ele tinha feito tudo errado. Havia uma vassoura e uma pá de lixo na sala, Karina se utilizou do cabo da pá de lixo para “bater” em Vinicius quando este, como filho, tinha feito coisas erradas. Só que nesta encenação, Vinicius fez coisas erradas o tempo todo, segundo a mãe-Karina. Karina pediu uma coisa, Vinicius fez, mas ela disse que ele estava errado e que ia apanhar. Tatiana ficou brava com Vinicius também. Tatiana estava com uma vara de pescar e foi com isso que “bateu” em Vinicius. Tatiana e Karina gritaram muito com Vinicius. deixaram-no atordoado e a mim também. Parecia que não havia um motivo real para “brigaram” tanto com Vinicius. Brigavam com ele por brigar. Karina gritou com Vinicius mandando-o ir dormir. Vinicius obedeceu. Deitou em cima de um móvel, fazendo de cama. Vinicius fingiu dormir, mas não convenceu Karina, que gritou com ele e ameaçou bater nele. Karina e Tatiana batiam seus instrumentos pelo chão, pelos móveis, fazendo muito barulho, assustando Vinicius e a mim. Deixei-os na brincadeira. Fiquei por perto, para que Tatiana e Karina não atingissem de fato Vinicius. Eu disse que Karina estava muito brava, e ela disse e gritou tanta coisa ao mesmo tempo que Vinicius não era capaz de saber ao certo o que Karina queria. Karina respondeu que não estava ligando. Ela disse que a mãe dela fazia assim. (oficina 14)

Nossas intervenções foram no sentido de contenção física, ao mesmo tempo de não responder do lugar que Karina conhecia, com agressão:

Karina fez uma menção à sua irmã e Vinicius disse que a irmã de Karina era grande. Karina se irritou com o comentário de Vinicius e disse para ele calar a boca. Eu disse que Vinicius não estava falando nada demais/.../ quando Karina estava manipulando seus potinhos, ela gritou por mim, e eu respondi em tom mais baixo. Ela perguntou: por que você não grita! Respondi que não precisava gritar... (oficina 22)

A agressão voltava e a intervenção era a contenção:

Karina, que tinha ido para um quarto, saiu e jogou uma tesoura em minha direção./.../ começou a cortar as capas de alguns colchões/.../ Tirei a tesoura de Karina de suas mãos. Eu disse que ela estava muito nervosa e que estava usando a tesoura para destruir alguma coisa. Para que ela não cortasse o colchão, não machucasse alguém e nem a ela mesma, eu estava tirando a tesoura de suas mãos e, assim que ela se acalmasse, poderia pegá-la

novamente. Tirei a tesoura e dei-lhe revistas velhas. Eu disse que Karina poderia rasgar e amassar quantas folhas quisesse. Eu mesma rasguei alguma/.../ Karina foi atrás de mim e tentou me chutar e me bater. Eu a segurei por alguns instantes./.../ Karina estava com um potinho de tinta vermelha/.../ Karina disse que tinha derrubado tinta no chão e que não iria limpar./.../ Peguei um pedaço de pano com álcool e fui para perto de Karina e comecei a limpar o chão. Karina começou a me ajudar sem que eu dissesse nada a respeito. (oficina 24)

Após os seis meses de oficina, encerramos a descrição detalhada das mesmas e continuamos o trabalho com as crianças pelo compromisso firmado com elas. Observamos que mudanças continuaram a acontecer. Com relação a Karina, na 30ª. oficina, ela pode falar para Vinicius o quanto ele a irritava com suas provocações. Preferimos revelar esta mudança, pois confirma que as intervenções feitas pelo oficineiro se efetuaram no sentido de romper campos cristalizados.

Com relação a Tatiana, fomos percebendo que a princípio o jogo que se estabelecia em nossa relação era o da provocação, um meio para obter a nossa atenção.

Tatiana pegou outra folha e essência de tutti-frutti. Disse que era cheiroso e fazia um gesto de beber o líquido. Tatiana despejou todo o líquido sobre a folha de sulfite e a jogou no lixo posteriormente. Pegou outra folha e fez o mesmo com a essência de flores. Tatiana pegou outra folha, um papel laminado, e despejou sobre ele tinta guache amarela até esvaziar o pote. Tatiana olhou para mim e riu. José disse que Tatiana ia acabar com a tinta e eu disse que eles precisavam cuidar do material, que não seria reposto tão logo. Tive a sensação de que Tatiana queria me provocar, e a imagem que me veio foi a de uma criança fazendo arte e olhando a reação do outro. Disse a ela que parecia que ela queria me provocar com sua atitude e ela balançou a cabeça, concordando comigo. (oficina 3)

Em algumas ocasiões nossas intervenções propiciavam o aparecimento de uma cena na situação de interação, como no caso de Tatiana procurando atualizar relações de objeto:

Tatiana estava fazendo seu desenho./.../ ela respondeu que eram bocas. Perguntei de quem eram, Tatiana disse que eram nossas. Tatiana fez um outro traçado em sua folha, como um sorriso grande, e depois passou um risco com o lápis vermelho por cima. Tatiana disse: Feia! Perguntei a ela quem era feia. Tatiana respondeu que ela mesma era feia. Perguntei: mas quem disse que você é feia? Tatiana respondeu que tinha sido a avó dela. Eu disse que não achava Tatiana feia... (oficina 24)

Nem sempre as nossas intervenções obedeceram a uma seqüência linear e eficaz. Em alguns momentos percebeu-se a dificuldade do oficineiro em suportar a violência com que os campos pulsavam. Nesse sentido, intervenções que somente depois soubemos serem ineficazes e que estavam a serviço, não do grupo, mas sim do oficineiro, numa tentativa de lidar com seu próprio sofrimento na relação com as crianças.

Observamos que, após os encontros difíceis, como por exemplo, após o oitavo encontro, onde a violência havia chegado ao extremo (oficina em que Vinicius bate a cadeira na cabeça de Karina e a corta), o oficineiro tenta proteger a si mesmo interferindo na produção do grupo, sugerindo uma atividade dirigida:

Disse que faríamos uma atividade diferente. Aprenderíamos a misturar cores. (oficina 9)

O fato de ensinar algo às crianças naquele contexto tira das mãos delas o poder de dizerem o quê e como queriam. Assustado com a força dos afetos, o oficineiro consegue um tempo para si, barra a vinda de conteúdos das crianças com a introdução da atividade dirigida e, com isso, se protege das agressões.

A divisão do grupo em subgrupos contribuiu para que retomássemos a confiança no método de trabalho. Com um grupo menor, teríamos mais condições de conter a violência.

Por volta do sexto mês de oficinas, com a violência mais controlada, sentimo-nos mais seguro para disponibilizar os materiais para o grupo. Do caos para a representação. Do tumulto de sentimentos para a fala. Da desorganização para o ambiente seguro. É dessa forma que a relação entre crianças e oficineiro se estabeleceu, a ponto de, nas últimas oficinas, Vinicius conseguir dormir neste ambiente:

Vinicius entrou na sala e deitou-se no sofá/.../ acabou dormindo./.../ Karina reparou que Vinicius chupava o dedo e os outros disseram que Vinicius ainda era um bebê./.../ Vinicius dormiu grande parte da oficina. Foi perturbado algumas vezes por seus colegas, mas na maioria do tempo as crianças respeitaram o seu sono. (oficina 25)