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7 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

7.1 A ESCOLHA INICIAL

7.4.2 O papel do “outro”

Aqui, o foco define-se nas relações entre os sujeitos, em que reconhecemos uma atitude ética na medida em que se trata das relações com o outro, e dessa forma, reconhecer as diferenças entre os sujeitos. Então podemos dizer que é uma atitude de alteridade, neste caso, relacionada com a ética.

E, como escrevemos no corpo do texto, cuidar de si inclui o cuidado com o outro. Apesar de sabermos que essa característica é necessária ao professor, entendemos que isso nem sempre é possível, pois o respeito às diferenças ficam confinadas aos discursos. Porém, sabemos também, que quando não existe uma relação harmônica entre os professores e alunos, abre-se um espaço para a angústia e o distanciamento, que, por sua vez, podem gerar, com o tempo, conflitos e mal-estar.

As professoras dessa pesquisa consideram importantes as relações estabelecidas no ambiente escolar. Sobre isso, Margarida fala de como age em relação aos colegas. Com as palavras dela: “Penso que é da natureza do ser humano buscar seus iguais ou semelhantes. Por isso, me agrupo com as pessoas que desenvolvem um tipo de trabalho semelhante ao meu e ignoro as que tentam ‘puxar para trás’”.

“O outro pode nos auxiliar muito a construir e inovar, mas também pode ser fator de negatividade e discórdia”. Estas palavras demonstram que Margarida tem uma atitude de evitação de conflito, que é uma característica apresentada por Freud, e também uma estratégia de coping.

Freud (1974) explica que o sofrimento que pode ocorrer decorrente dos relacionamentos humanos, provoca o isolamento voluntário, colocando-o distante de outras pessoas. Ele chama de quietude a felicidade passível dessa atitude. O autor citado explica que

118 [...] Contra o temível mundo externo, só podemos defender-nos por algum tipo de afastamento dele, se pretendermos solucionar a tarefa por nós mesmos. Há, é verdade, outro caminho, e melhor: o de tornar-se membro da comunidade humana e, com o auxílio de uma técnica orientada pela ciência, passar para o ataque à natureza e sujeitá-la à vontade humana. Trabalha-se então com todos para o bem de todos. Contudo, os métodos mais interessantes de evitar o sofrimento são os que procuram influenciar o nosso próprio organismo. Em última análise, todo sofrimento nada mais é do que sensação; só existe na medida em que o sentimos, e só o sentimos como conseqüência de certos modos pelos quais nosso organismo está regulado [...] (p 33-34)

Esta regulação de que fala Freud está relacionada ao modo como compreendemos o evento provocador do sofrimento, e de como nos entendemos frente ao problema. Então, sugere o autor, que se tratando de uma comunidade (nesse caso a escolar), o melhor seria tentar entrar em acordo, trabalhando para o bem de todos.

Jasmim explana sobre a importância que o aluno tem para si, quando explica sua relação com os alunos.

[...] Eu acho que o que tenho de melhor na escola é a relação com os alunos. A relação com meus alunos é muito verdadeira. É uma relação extremamente humana. Eu não tenho uma relação de poder - EU SOU A PROFESSORA – eles também têm muita coisa pra enriquecer meu conhecimento, com a vivência deles, com suas histórias....

A postura de Jasmim é de alteridade. Não se coloca como mais ou menos importante que seus alunos, tendo um espaço para a troca de conhecimento e afeto, valiosos quando se trata de uma profissão voltada para a relação interpessoal. Wanderlei Codo (1999) aborda a importância da manutenção do vínculo, nas profissões que exigem o cuidado com o outro, a fim de evitar o mal-estar e o burnout, que aflige muitos professores.

Jasmim, também considera importante estar atento para as mudanças sociais que recaem sobre os alunos. Ela explica que

Se ele (o professor) não consegue fazer uma reflexão constante das mudanças sociais que ocorrem, se ele não consegue fazer esse acompanhamento das mudanças, dos diferentes alunos, culturas, ele vai entrar em conflito. Ele não se aceita e não aceita o outro.

No mesmo sentido, direciona-se o pensamento de Adália quando ela expõe seu pensamento:

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Eu acho que nossa vida só tem sentido por causa do outro. O que seria da vida sem os outros? Eu considero uma via de mão dupla. Construímos uma rede de auxílio. Não que devemos fazer as pessoas de muletas, mas se retribuímos carinho e atenção, estamos trocando. Isso é bom. E considero que temos que organizar espaços no trabalho pra isso [...].

Líria evidencia, através de sua fala, que se chega ao bem-estar docente:

Acredito plenamente que é através do ‘outro’ e do diálogo, que existe a construção do bem-estar na escola. Essa construção só é possível através da união, da discussão, de achar as soluções em conjunto. Pode-se exemplificar através da química - física: no caos de uma tempestade, surge a ‘Luz’.

Mosquera (1978) em seu livro O Professor como Pessoa afirma que um professor não pode progredir na compreensão dos outros ou ajudá-los a se autocompreenderem se não conhecer a si próprio. Se assim não o for, vai continuar vendo seus alunos através de seus preconceitos, distorções, necessidades, desejos, não reconhecidos.

Nas palavras desse autor: “O homem não é o que o decreto eterno e imóvel de uma essência impôs-lhe. Contrariamente é o que ele resolveu ser, isto é: a autodeterminação” (MOSQUERA , 1978, p. 45).

E continua: “Toda a vida psicológica caracteriza-se por insegurança e procura de autoconhecimento. O homem é um ser frágil. Não possui nenhuma aquisição definitiva. Deve fazer-se e refazer-se a si mesmo” (idem, p.46).

Retornando ao que falávamos no início desse item, a alteridade, o respeito ao outro com suas diferenças, é uma atitude ética numa perspectiva filosófica pós- metafísica. “Mas a estética tem se mostrado hábil na experiência da alteridade, evidenciando aquilo que é estranho, uma liberdade do sensível contra o embrutecimento da percepção atomizada” (HERMAN, 2006, p.70).

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