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2.5 Aspectos funcionais das células de HRS

2.5.1 Papel do vírus de Epstein-Barr

O EBV é um herpes-vírus humano associado com a oncogênese de vários tipos de neoplasias, como o Linfoma de Burkitt, Linfoma de Hodgkin, Doenças linfoproliferativas B em pacientes imunodeprimidos, Carcinoma de estômago e Carcinoma de nasofaringe (Pagano, 2002; Elliot, 1995). Mais de 90% da população humana adulta foi infectada pelo EBV. A primeira infecção ocorre tipicamente na infância por transmissão salivar. A infecção na adolescência e no adulto jovem também é comum e geralmente resulta na MI. O EBV é um agente transformador bastante eficiente e, quando os linfócitos de sangue periférico de portadores crônicos são colocados em cultura, as poucas células B infectadas pelo EBV dão origem a linhagens de células transformadas pelo EBV chamadas de Linhagens de Células Linfoblastoides (LCLs). Cada célula LCLs carrega múltiplas cópias do episoma viral e expressam vários produtos do gene viral chamados de proteínas latentes, consistindo de seis antígenos nucleares (EBNA) 1, 2, 3A, 3B, 3C e EBNA-LP (do inglês: leader protein) ao lado de três proteínas de membranas, LMP-1, LMP-2A e 2B. Também são detectados transcritos da região Bam HI-A (BART transcritos) do genoma viral. Dois pequenos RNAs, não poliadenilados, EBERs-1 e -2, também são expressos em grande proporção de células.

O EBV infecta primariamente os linfócitos B e células epiteliais, podendo dar origem à infecção tanto na forma lítica quanto na forma latente. A infecção lítica pode ocorrer em células B ou células epiteliais e resulta na duplicação do DNA viral com a reunião e liberação de virions. A infecção latente está tipicamente associada à infecção de células B e é caracterizada pela expressão limitada do gene viral. A infecção latente é dividida em três tipos (I, II, III), de acordo com o perfil de expressão viral. Na latência tipo I, que é típica do Linfoma de Burkitt, o produto do gene viral expresso é o EBNA-1, em associação com os EBERs e

transcritos Bam HI-A. A latência tipo II é encontrada no carcinoma de nasofaringe

e Linfoma de Hodgkin e é caracterizada pela expressão de EBNA-1, LMPs-1, -2A, -2B, EBERs e transcritos Bam HI-A. Na latência tipo III são expressos os EBERs, EBNA-1, -2, -3A, -3B, -3C, transcritos Bam HI-A e LMP-1, -2A e -2B; ela é característica das LCLs transformadas pelo EBV in vitro e na doença linfoproliferativa pós-transplante in vivo (Rickinson, Kieff, 2001).

O envolvimento do EBV na patogênese do LH tem sido sugerido indiretamente por estudos sorológicos e epidemiológicos (Levine et al., 1971; Gutensohn, Cole, 1980; Mueller et al., 1989). Evidências diretas da presença do EBV nos tecidos foram estabelecidas pelo método de Southern blot (Weiss et al., 1987) e pela técnica de reação em cadeia da polimerase (PCR) (Shibata et al., 1991), embora nenhum desses métodos tenha sido capaz de localizar o EBV dentro da célula HRS. Posteriormente, o desenvolvimento da técnica de “Hibridação in situ” (HIS) permitiu a detecção de EBER (Glickman et al., 1988; Wu et al., 1990) e a imuno- histoquímica (IH) para LMP-1 (Murray et al., 1992), mostrando a localização do EBV nas células malignas HRS. Embora o EBV possa ser encontrado nos linfócitos adjacentes, é a detecção do EBV dentro das células de HRS que faz o diagnóstico do “Linfoma de Hodgkin associado ao EBV”. Em uma porcentagem variável de casos, a infecção latente pelo EBV é detectada nas células HRS do LHC.

Aproximadamente 30% dos casos de LHC nos Estados Unidos e na América do Norte apresentam-se positivos para o EBV, enquanto esse número pode chegar a aproximadamente 100% em países em desenvolvimento como em áreas definidas da América Latina, África e Ásia (Glasser et al., 1997). No Brasil,apesar dos poucos estudos disponíveis, a prevalência do EBV no LHC é de

aproximadamente 60% dos casos (Vassalo et al., 2001). Com poucas exceções, o EBV está presente em cada uma das células tumorais do paciente em todos os sítios da doença, tanto na apresentação como na recidiva.

A diversidade clínica e epidemiológica dos subtipos do LH sugere diferença na etiologia e evolução dos pacientes EBV positivos e negativos. O EBV está geralmente associado com a forma celularidade mista. Pacientes com idade acima de 55 anos e crianças são comumente EBV positivos (Armstrong et al., 1998). Pacientes com AIDS que apresentam LH são na sua maioria EBV positivos (Uccini et al., 1990). Adultos jovens parecem ter um prognóstico mais favorável quando são EBV positivos (Glavina-Durdov et al., 2001). No idoso (Clarke et al., 2001) e em crianças (Flavel et al., 2001), a presença do EBV está associada com pior prognóstico.

Como descrito anteriormente, um número limitado de moléculas induzidas pelo EBV tem sido identificado no LHC, a chamada latência tipo II, que inclui EBNA-1, LMP-1 e LMP-2, EBERs-1 e -2. A EBNA-1 inicia a replicação do epissoma do EBV antes da mitose e “ancora” o epissoma viral aos cromossomos mitóticos durante a divisão celular. Esse fato assegura a persistência do DNA do EBV, em células em proliferação, e assim mantém os genes RNA codificados do EBV (Yajima et al., 2005).

O domínio citoplasmático da LMP-2 contém um ITAM (efetor de ativação de imunorreceptor de tirosina) que também é encontrado nos co-receptores dos receptores de células B (BCR) (Allber et al.,1993). Nos BCR, esse efetor faz a mediação da transdução de sinal ligando quinases, que são subsequentemente ativadas. Como as células B normais dependem da expressão dos BCR para sobreviverem, o ITAM é também essencial para esse sinal de sobrevivência (Kraus et al., 2004). Há evidências de que a LMP-β é capaz de “imitar” a presença de um BCR funcional, porque em modelos de ratos transgênicos LMP-2, células B expressando LMP-2, mas com falta de BCR funcionais, são geradas na medula óssea e são capazes de sobreviver na periferia (Caldwell et al.,1998; Casola et al., 2004).

A LMP-1 “imita” o receptor CD40 ativado, o que exerce papel importante na interação entre as células B e T e na sobrevivência das células B do Centro Germinativo (Kielger et al.,1998). A LMP-1 sinaliza receptores do TNF. A porção

carboxiterminal da LMP-1, que está no domínio citoplasmático da proteína, contém dois domínios funcionantes. A região de ativação carboxiterminal proximal, CTAR-1, interage com fatores associados aos receptores do TNF, que produz o fator de transcrição NFB (Kaye et al., 1996). A CTAR-2 distal se associa ao domínio inativo do receptor do TNF e faz a mediação da sinalização para NFB (Izumi, Kieff, 1997). A CTAR-2 também induz a atividade do fator de transcrição AP-1 (ativador de proteína-1) por meio da via de sinalização que envolve a c-jun N-terminal kinase-1 (JNK1) (Kieser et al., 1997). A LMP-1 ativa a via MAPK (p38-mitógeno ativado proteinoquinase) por meio dos domínios CTAR- 1 e CTAR-2 (Elipoulos et al., 1999). A LMP-1 estimula a angiogenese por meio do Fator de Crescimento de Fibroblastos–2 (FGF-2) via sinalização NFB (Wakisaka et al., 2002). A LMP-1 induz a expressão de MUCINA 1 (MUC-1), fator importante no desprendimento e liberação de células tumorais por indução de fatores angiogênicos e invasivos, por meio das vias de sinalização STAT-1 e STAT-3. (Kondo et al., 2007)

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