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CONTEMPORÂNEO 77 4.1 QUESTÕES AMBIENTAIS E A CIÊNCIA GEOGRÁFICA

2.3 PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (PCNS)

2.3.1 Parâmetros Curriculares Nacionais, meio ambiente e transversalidade

Para direcionar ações para a melhoria das condições de vida no mundo, os desafios são diversos. Um deles diz respeito à mudança de atitudes na interação com o patrimônio básico para a vida humana: o meio ambiente. Questionando sobre as possibilidades das condições concretas da escola contribuir para que os adolescentes e jovens percebam e entendam as consequências ambientais de suas ações nos locais onde estudam, trabalham e vivem, tem-se o PCN do tema “meio ambiente”, de 1998. O artigo 32, § II, da Lei 9394/96, traz que a compreensão do ambiente natural e social e de tantas outras questões é objetivo das diretrizes básicas de educação, e o sentido de complementaridade entre esses assuntos fica exposto. É importante entender esse aspecto da LDB, pois nela não vemos nenhuma prioridade ao ensino de assunto A ou B, e sim a necessidade de complementaridade para uma educação de qualidade, e para a compreensão plural da questão ambiental, da maneira que está posta na atualidade recente.

Em termos operacionais, os conteúdos do tema transversal meio ambiente deverão estar englobados em três blocos. No Ensino Fundamental I ou anos iniciais: ambiente natural; ambiente construído; produção e bem-estar social. No Ensino Fundamental II ou anos finais: os ciclos da natureza; sociedade e meio ambiente; manejo e conservação ambiental. O último bloco trata mais especificamente das possibilidades, positivas e negativas, de interferências dos seres humanos sobre o meio ambiente, apontando suas consequências. É visível a correspondência dos blocos de conteúdo em todo o Ensino Fundamental e Ensino Médio, porém, a cada ano escolar, sua complexidade aumenta. (BRASIL/MEC, 1997; 1998).

Por outro lado, apesar de os PCNs indicarem que todas as áreas devem ser envolvidas pelos temas transversais, algumas são eleitas

como preferenciais. No caso do tema meio ambiente, esta escolha assim se manifesta:

As áreas de ciências naturais, história e geografia serão as principais parceiras para o desenvolvimento dos conteúdos aqui relacionados, pela própria natureza de seus objetos de estudo. As áreas de língua portuguesa, matemática, educação física e artes ganham importância fundamental por se constituírem em instrumentos básicos para que o aluno possa conduzir o seu processo de construção sobre o meio ambiente. (BRASIL/MEC, 1998, p. 49).

Pressupõe-se, dessa forma, que mesmo não se desenvolvendo um trabalho interdisciplinar, ou ação pedagógica na transversalidade, em determinadas escolas, as disciplinas de Ciências Naturais, Geografia e História abordam a temática ambiental, o assunto, no decorrer do ano letivo, em seus conteúdos programáticos, pela proximidade e complementaridade entre os conceitos e conteúdos dessas disciplinas e o tema.

O Decreto n. 4.281, de 25 de junho de 2002, regulamenta a Lei n. 9795/99, institui a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) e dá outras providências. Faz-se, nesta, alusão aos PCNs, conferindo-lhe força de lei no artigo 5º, em que se lê sobre a obrigatoriedade da Educação Ambiental em todos os níveis e modalidades de ensino, observando-se no inciso I –“a integração da educação ambiental às disciplinas de modo transversal, contínua e permanente”; e no inciso II – “a adequação dos programas já vigentes de formação continuada de educadores”.

Nos últimos anos, se ouve falar em multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade. Entretanto, diferenças, analogias e principalmente a ideia de integração e de totalidade que supostamente perpassa estes conceitos tem referenciais teórico- filosóficos diferentes.

A multidisciplinaridade é a visão onde um elemento pode ser estudado por disciplinas diferentes ao mesmo tempo, contudo, não ocorrerá uma sobreposição dos seus saberes no estudo do elemento analisado. Uma das explicações para esta visão seria a da justaposição das disciplinas, cada uma cooperando dentro do seu saber para o estudo do elemento em questão, no entanto sem nenhuma tentativa de síntese, ou conexão; apenas uma relação de vizinhança. (WEIL, 1993). Nesta,

cada professor cooperará com o estudo dentro da sua própria ótica; pode-se afirmar que é um estudo que foca de diversos ângulos. Mesmo sem existir um rompimento entre as fronteiras das disciplinas, seria processo inicial rumo à tentativa de um pensamento horizontalizado entre as disciplinas. Porém é importante lembrar que cada uma delas possui uma linguagem própria e conceitos particulares que precisam ser traduzidos entre as linguagens. (CARDONA, 2010).

Na interdisciplinaridade, as discussões propõem uma integração teórica e prática numa perspectiva de totalidade. A interdisciplinaridade implica um esforço de comunicação, e de procura de uma temática comum entre as disciplinas na direção de uma real cooperação e troca de informações na sala de aula, aberto ao diálogo e ao planejamento. As disciplinas interagem entre si em distintas conexões. O processo ensino/aprendizagem baseado na interdisciplinaridade proporciona uma organização curricular onde os conceitos estão organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodológicas compartilhadas por duas ou mais disciplinas, cabendo ao aluno a realização de sínteses sobre os temas estudado. (CARDONA 2010; SILVA & TAVARES, 2005).

Através da interdisciplinaridade o conhecimento passa de algo setorizado (específico e disciplinar) para um conhecimento integrado, com interações, gerando a troca de dados, resultados, informações e métodos, orientados por uma temática comum.

A transdisciplinaridade representa uma tentativa para superar a fragmentação (excessiva) do conhecimento. A proposta, foi inicialmente apresentada por Piaget, é atualmente vinculada à complexidade, ao pensamento complexo e epistêmico, principalmente por Edgar Morin. Prevê que as relações entre os conhecimentos caminham para integração e interação, e destas, para sem fronteiras, sem distinção de onde começam e onde terminam as disciplinas. As relações entre estas consistiriam em proporcionar aos alunos, uma cultura, que lhes possibilitará articular, religar, contextualizar, globalizar, reunir conhecimentos. (DE ALMEIDA, 2010; WEIL, 1993).

A transdisciplinaridade é a fase do reconhecimento da interdependência de todos os aspectos da realidade; É a consequência normal da síntese dialética provocada pela interdisciplinaridade, quando esta for bem sucedida. Mesmo não estando completamente ao alcance da ciência poderá orientar de modo decisivo a sua evolução. Um novo tipo de ciência está nascendo, não mecanicista, levando em consideração a mudança, e se resumindo a noções tais como autodeterminação, auto- organização e auto-renovação, reconhecimento de uma interdependência

sistêmica e muitos outros aspectos. Há um sentido que é o sentido da vida, o que junto com a alegria, são inerentes a essa nova visão transdisciplinar. (JANSTSCH, 1980 apud WEIL, 1993, p. 31).

Nos documentos dos PCNs referentes aos temas transversais, é utilizado o termo “projetos”, para enfatizar a necessidade de planejamento de atividades organizadas e direcionadas para a meta estabelecida, de forma que, ao realizá-las, os alunos tomem decisões, coletivamente, sobre o desenvolvimento do trabalho e da necessidade de envolver a comunidade escolar. A organização dos conteúdos em torno de projetos ou ações pedagógicas, como forma de desenvolver atividades de ensino e aprendizagem, favorece a compreensão da multiplicidade de aspectos que compõem a realidade, permitindo a articulação e contribuição de diversos campos de conhecimento, (BRASIL, 1998). Estes “projetos” e ações, deveriam ser planejados e implementados coletivamente pela comunidade escolar, de forma multi, inter e transdisciplinar.

As três fases são complementares e sequenciais na tentativa de enfrentamento, ruptura e superação (um tanto difícil) da fragmentação pluridisciplinar e especificidade do conhecimento. Em relação ao tema meio ambiente, a proposta da transversalidade dos PCNs foi inovadora, ousada e contemporânea, porém não foi devidamente apropriada pelos professores nos diferentes níveis de ensino, portanto a pergunta que permanece é: como trabalhar a inter e transdisciplinaridade numa prática docente disciplinar? As ações pedagógicas e projetos paralelos planejados e organizados participativa e coletivamente pela comunidade escolar, que resultam nas feiras interdisciplinares e amostras culturais e científicas, são experiências promissoras para tais processos.

2.4 PROPOSTA CURRICULAR DE SANTA CATARINA (PC/SC)