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CONTEMPORÂNEO 77 4.1 QUESTÕES AMBIENTAIS E A CIÊNCIA GEOGRÁFICA

2.5 PROJETO POLÍTICO PEDAGÓGICO (PPP)

Na Constituição de 1988, as referências aos projetos ou às propostas pedagógicas aparecem de forma objetiva, demarcando o início de um processo de discussões sobre a gestão democrática nas escolas. Em seu capítulo dedicado à educação, no artigo 206, incisos III e VI, estabelece‐se como um dos princípios orientadores, a gestão democrática dos sistemas de ensino público, a igualdade de condições de acesso à escola e a garantia de padrão de qualidade. A lei n. 9.394/96, no artigo 12, inciso I, estabelece que, respeitadas as normas comuns e as do seu sistema de ensino, os estabelecimentos escolares terão a incumbência de elaborar e executar sua proposta pedagógica, ou projeto pedagógico, tema complementado nos artigos 13 e 14. A gestão democrática da escola é mencionada, estabelecendo orientações para a organização do espaço físico, para o trabalho pedagógico, para a participação dos educadores e para a integração entre escola e comunidade. Essas propostas e/ou projetos pedagógicos integram o Projeto Político Pedagógico (PPP).

O PPP, entendido como a própria organização do trabalho pedagógico da escola como um todo, constitui-se em um documento produzido como resultado do diálogo entre os diversos segmentos da comunidade escolar a fim de organizar e planejar o trabalho administrativo-pedagógico, buscando soluções para os problemas diagnosticados. A elaboração do PPP poder-se-á constituir em uma imagem antecipada de quais caminhos a seguir para intervir sistematicamente numa determinada realidade escolar. Este deve expressar a intenção do que se deseja atingir, bem como definir os atos operacionais para atingir as metas estabelecidas pela comunidade escolar. (VEIGA, 2007).

O PPP, além de ser uma obrigação legal, deve traduzir a visão, a missão, os objetivos, as metas e as ações que determinam o caminho do sucesso e da autonomia a ser trilhado pela instituição escolar, assumindo responsabilidades que lhe deem condições para levá-las adiante, fortalecendo as relações entre escola, comunidade escolar e sistema de ensino, no entanto não existe ainda uma forma de monitoramento ou de avaliação metódica, processual, com periodicidade, da parte do sistema mantenedor nem da comunidade escolar.

A escola é o lugar da concepção, realização e avaliação de seu projeto educativo, uma vez que necessita organizar o trabalho pedagógico com base em seus alunos. Para a elaboração do PPP, deve

ser considerada a legislação vigente e orientada, sobretudo, pelo Parecer do Conselho Estadual da Educação de Santa Catarina (CEE/SC), n. 405/2004, pois o mesmo apresenta as diretivas e elementos para organização e validação do mesmo e para se constitua em instrumento de promoção do sucesso da aprendizagem do aluno, do gerenciamento e avaliação da instituição e da consolidação da democracia, com a participação dos diferentes segmentos que constituem a comunidade escolar.

Após diagnóstico da realidade administrativo-pedagógica, social, estrutural e educacional, (que deveria ocorrer anualmente) são traçados objetivos, propostas, metas, planejadas ações para que, ao longo do ano letivo, se alcance sucesso na aprendizagem do aluno.

O PPP é um processo importante para o êxito da escola, pois por meio do diagnóstico e da avaliação (como tomada de decisão) em movimentos de ação/reflexão/ação, implica planejamento de todas as atividades no âmbito escolar, execução das ações previstas, avaliação do processo, com base na prática docente, índices de aprovação, desempenho escolar e participação da comunidade. Ao mesmo tempo, o PPP pode ser referência e um dispositivo para a construção contínua de inovação, para organização do trabalho pedagógico da escola, para clarificação das intencionalidades educacionais e escolares, para a articulação solidária das participações dos diferentes protagonistas. (VEIGA, 2007).

Nesse sentido, o PPP é um documento que não se reduz à dimensão pedagógica, nem muito menos ao conjunto de projetos e planos isolados de cada professor em sala de aula. O PPP é um produto específico que reflete a realidade da escola, situado em um contexto mais amplo que influencia e pode ser influenciado. Em síntese, “é um instrumento clarificador da ação educativa da escola em sua totalidade”. (VEIGA, 1998, p.12).

A possibilidade da gestão democrática das escolas públicas demarca uma periodização em relação aos PPPs, passando a existir a discussão sobre a sua elaboração. Paralelo aos discursos da democratização da descentralização dos recursos reforça-se o discurso da autonomia da escola.

A LDB n. 9.394/96, no Art. 15, define que:

[...] os sistemas de ensino assegurarão às unidades escolares públicas de educação básica que os integram progressivos graus de autonomia pedagógica e administrativa e de gestão

financeiras, observadas as normas gerais de direito financeiro público.

Em documento sobre orientações para a Educação Básica e profissional da Secretaria Estadual de Educação de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 2005, p. 22), assevera:

O Projeto Político Pedagógico constitui-se num processo democrático de tomada de decisões, com o objetivo de organizar o trabalho pedagógico, o qual deve ser construído com o envolvimento de todo, pela discussão, análise e posicionamento, e se organiza a nível pedagógico e político. Político, porque almejamos a formação de um determinado tipo de homem, escola e sociedade, sendo necessária a interferência nesta direção, comprometendo-nos com a concretização desta intencionalidade. Pedagógico, porque efetivamos estas concepções através da ação educativa, que deve nos remeter a uma reflexão sobrea relação do homem no mundo e com o mundo e a explicação destes determinantes.

A elaboração conjunta do Projeto Político Pedagógico (PPP) demanda tempo e estratégias para a participação de todos os segmentos da escola; critérios para o estabelecimento das prioridades diante do diagnóstico. Como produto é documento legal, instrumento burocrático balizador de ações e de amparo legal, porém não deve ficar arquivado como tal, pois ao ser completo incluiu a dimensão pedagógica, suas especificidades, níveis e modalidades, bem como a reflexão sistemática sobre as práticas educativas, dando sentido e rumo às mesmas, contextualizadas culturalmente; e a dimensão política, que diz respeito à gestão (participativa) da escola, desvelando conflitos e contradições. Deve ser construído continuamente, porque além de ser produto, é também processo, ambos em interação, de difícil implementação.

Diante da necessidade das escolas manterem seus PPPs atualizados, em 2009 a Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina (SED/SC) emitiu uma “Decisão da Diretoria Colegiada” (Anexo 1), assinada pelo então secretário da educação Sr. Paulo Bauer, ressaltando a necessidade de as unidades escolares elaborarem seus PPPs, e nestes, a definição de metas, proposição de ações e compromissos para o ano letivo de 2010. A não atualização acarretaria penalidade para a escola, como não serem contempladas com quaisquer

equipamentos ou obras durante o exercício de 2010, além de risco de serem auditadas pela Secretaria Estadual de Educação – SED e Diretoria de Organização, Controle e Avaliação (DIOC), recebendo conceito mínimo na avaliação da Gestão Escolar. (SANTACATRINA, 2009).

Segundo relatório da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), de 2010, os professores dispõem de considerável autonomia em suas escolas, por meio da definição do PPP, pois, idealmente, o projeto oferece uma oportunidade para planejar e trabalhar em equipe, em sintonia com aspectos específicos de uma determinada comunidade escolar. No entanto, a falta de tempo para planejamento e de competências profissionais para desenvolver esse tipo de projeto por vezes impede a plena realização de todo o seu potencial.

Quanto à dimensão pedagógica, as diretrizes curriculares são estabelecidas pelos órgãos e documentos da instância federal, como currículo comum e nacional, pautado em concepções teórico- metodológicas e filosóficas predominantes na esfera científica e acadêmica. No entanto, as escolas têm a possibilidade de definir 25% de seu conteúdo e, através da transposição didática, o conteúdo efetivamente ensinado em sala de aula poderá estar impregnado de conteúdos e concepções da proposta curricular do Estado, autores de livros didáticos e dos próprios professores. Teoricamente, a possibilidade de definir 25% do currículo é considerada medida progressista; na prática, porém, como a grade curricular costuma já ser densa em termos de conteúdo, essa oportunidade é raramente aproveitada pelos profissionais das escolas. (OCDE, 2010).

Quando se faz alusão aos planejamentos anuais da escola, tem-se referência de conjunto, de totalidade, um projeto maior e amplo, denominado Projeto Político Pedagógico, que pode ou não estar materializado em forma de documento. O ideal é que esteja garantindo autonomia, identidade e legalidade das ações implementadas. Veiga (1998) reitera que o projeto político pedagógico de escola não é mera formalidade burocrática, é um mecanismo que visa à qualidade em todo o processo vivido.

As atividades escolares específicas da sala de aula devem ser orientadas por um PPP que articula metas para o trabalho realizado em cada disciplina, relacionando conteúdos das mesmas, com projetos e ações coletivas no âmbito geral da escola. Constituindo-se em documento norteador da gestão coletiva, com participação de todos os membros da equipe escolar, tem-se necessidade de elaboração e acompanhamento/avaliação coletivas. Essa prática para se concretizar, requer uma mudança de cultura, que supere obstáculos como o

individualismo e o tradicionalismo que ainda caracterizam o trabalho docente e a estrutura da escola. (CAVALCANTI, 2012).

Os estudos acerca dos PPPs inserem-se na discussão da atual conjuntura de políticas educacionais que refletem as condições socioeconômicas e culturais do país. Sendo assim, pensar a construção dos PPPs é refletir sobre a escola, sua função e seus desafios no contexto atual. Discute-se atualmente este tema, porque a questão do projeto da escola é problemática, representando um desafio para os gestores e envolvidos com a educação. Se há algumas décadas a escola se questionava apenas sobre seus métodos, hoje ela se questiona sobre seus propósitos.

Toda escola tem objetivos que deseja alcançar, metas a cumprir, ações, atividades e avaliações. O conjunto dessas aspirações, bem como os meios para concretizá-las, é o que dá forma e vida ao PPP. É o documento que ampara tanto a gestão como as esferas administrativas pedagógicas intermediárias, a organização do trabalho escolar, os desafios multiculturais, a construção da cidadania, os dilemas dos processos avaliativos das instâncias colegiadas e, finalmente, o gerenciamento dos recursos financeiros da escola. (VEIGA, 1998).

A LDB n. 9394/96 normatizou, dentre outros, mudanças nas formas de gerir processos e tomadas de decisões nos sistemas de ensino, tais como: descentralização do poder de decisões, autonomia no gerenciamento dos recursos financeiros repassados pelo MEC e entidades mantenedoras com participação de alunos, professores e comunidade escolar estabelecendo prioridades para aplicação dos mesmos, autonomia pedagógica no que é permitido à escola decidir parte do currículo e outras questões pertinentes. No entanto, sem um PPP organizado, construído coletivamente e dinâmico, esses mecanismos estarão comprometidos.

2.6 PROCESSO E CONCEPÇÕES DE ENSINO-APRENDIZAGEM