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Para além de um princípio meramente cumulativo de composição

1 ou os dispõe de maneira menos tradicional), seja, quando se atém de perto aos modelos consagrados, no clichê.

II. Para além de um princípio meramente cumulativo de composição

Perspectiva temática, análise tipológica ou “luz vampiresca” p. 138 – Um trompe-l’œil pós- -moderno p. 139 – Estrutura tópica da narrativa p. 141

Relação de obras diretamente citadas no capítulo: Ano de

edição

Autor Título referência biblio-

gráfica utilizada 1645 Leo Allatios De Graecorum hodie quorundam opi-

nationibus

Allatius 1645 1657 François Richard Relation de ce qui c’est passé... à

Saint-Erini

Richard 1657 1693 [anônimo] “Article fort extraordinaire” Mercure Galant 1693

1716 G. Gengell Eversio Atheismi [...] Gengell 1716 1732 Flückinger et alii Visum & repertum Flückinger 1732

1748 H. A. Ossenfelder “Der Vampir” Ossenfelder 1748 1774 G. A. Bürger “Lenore” Bürger 1774 1775 Voltaire Questions sur l’Encyclopédie, vol. 6 Voltaire 1775 1796 Matthew Lewis The monk Lewis 1973 1819 John W. Polidori “The vampyre” Polidori 1819 1820 C.B. {Cyprien Bérard};

C. Nodier

Lord Ruthwen ou les vampires Nodier 1820

1820 C. Nodier, Carmouche &

Jouffroy d’Abbans Le vampire, mélodrame en 3 actes Nodier 1990 1823 Ernst Raupach “Laßt die Todten ruhen” Raupach 1823 1820 J. R. Planché The vampire, or The Bride os the Isles Planché 1986

1827 Prosper Mérimée La guzla Mérimée 1827

1828 Ritter/Wohlbrück/ Marschner

Der vampir: Romantische Oper in vier Aufzügen

Ritter/Wohlbrück/ Marschner [s/d] 1836 Théophile Gautier “La morte amoureuse” Gautier 1981 1837 Gustave Flaubert “Rêve d’enfer - Conte fantastique” Flaubert 2001

1845- 1847

James M. Rymer Varney the vampire: or, The feast of blood

Rymer 2008 1851 A. Dumas & A. Maquet La vampire, drame fantastique [...] Dumas 1865

1854 [anônimo] “The mysterious stranger” Chambers’ Repository

1854

1872 Joseph S. Le Fanu “Carmilla” Le Fanu 1872 1874 L. Sacher-Masoch “Die Todten sind unersättlich” Sacher-Masoch

1877a

1874 L. Sacher-Masoch “Ewige Jugend” Sacher-Masoch 1877b

1875 Paul Féval La ville vampire Féval 1891 1886 Guy de Maupassant “Le horla” Maupassant 1909 1894 Eric Stanislaus Stenbock “A true story of a vampire” Sims 2011 1897 Bram Stoker Dracula Stoker 2001

1924 Hamilton Deane Dracula Deane & Balderston 1993

1927 Hamilton Deane & John Balderston

Dracula: The vampire play Deane & Balderston 1993

1936 Mircea Eliade Domnişoara Christina Eliade 2011 2004 John Ajvide Lindqvist Lät den rätte komma in Lindqvist 2012

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Vamos então ao exame de elementos que seriam típicos da temática literária vampiresca. Eles não serão apresentados ordenadamente conforme sua natureza (cujos critérios de cate- gorização busquei problematizar minimamente, no capítulo anterior), antes segundo suas associações mais comuns no interior das próprias obras narrativas, dramáticas, poéticas.

Excetuado algum comentário no decorrer, a primeira seção deste capítulo busca mera- mente apontar alguns aspectos das obras que compõem o corpus; trata-se basicamente de uma etapa análitica. Optei por deixar falar os textos (ainda que selecionados e relacionados segundo certo arranjo meu), até para dá-los a conhecer e não pressupor que o leitor os tenha em mente.

Nesta exposição, entretanto, encontrei um obstáculo que não soube solucionar satisfa- toriamente. Mesmo seguindo um procedimento razoavelmente padronizado – isolar, nos textos, motivos e associações de motivos –, uma dificuldade prática logo surgiu: certas passagens de texto não admitem ser consideradas sob um único tópos, porque trazem, com efeito, todo um conjunto deles. Estando os motivos dessa forma imbricados, nem sempre, ao seguirmos o propósito de análise, seremos capazes de encontrar um critério claro para separá-los uns dos outros. Tome-se o seguinte poema de Heinrich August Ossenfelder (1725-1801), tido como pioneiro a se apropriar do vampiro para a criação artística, em línguas ocidentais pelo menos:

Mein liebes Mägdchen glaubet Beständig steif und feste, An die gegebnen Lehren Der immer frommen Mutter; Als Völker an der Theyse An tödtliche Vampire Heyduckisch feste glauben. Nun warte nur Christianchen, Du willst mich gar nicht lieben; Ich will mich an dir rächen, Und heute in Tockayer

Minha querida moça crê, constante, orgulhosa e firme, nas dadas lições

da sempre pia mãe;

como populações junto do rio Tizsa em fatais vampiros

crêem com firmeza, à maneira dos heiduques. Ora espera só, Cristininha,

tu não queres por nada me amar; eu de ti quero me vingar,

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Comecemos a analisar o poema, procurando apontar elementos contíguos às convenções do vampiro. Temos aqui um conjunto de traços freqüentemente retomados na trajetória do tipo literário: a devota mãe da vítima que se opõe diametralmente ao solicitante; o apelo eró- tico vingativo; o lânguido ataque durante sono; o beijo à força; a localização exótica1; o vinho.

Em resumo, o poema na sua integralidade poderia ser compreendido em termos de uma tópica. Nesse caso, onde deveríamos situar um verso como “Und matt in meine Arme” (“e lânguida em meus braços”)? Sob o tópos do apelo erótico ou da debilidade da vítima após o ataque? – Os motivos raramente se deixam separar com tanta clareza.

Nos textos, não encontramos o tópos num estado puro, é de sua natureza ligar-se e misturar-se a outros; esta, aliás, é uma expressão estrutural da obra literária. Por essa razão, as copiosas citações que proponho a seguir poderiam figurar ali onde escolhi lançar mão delas (digamos, sob o tópico da “vitimização”), como bem o poderiam ser alhures, tão justi- ficadamente quanto. De modo que o exame é funcional na medida em que consideramos o tópos uma ferramenta analítica e não uma qualidade essencial do texto. A separação excessi- vamente nítida dos elementos constitutivos termina por ofuscar a compreensão do todo. Se os trechos que cito para exemplificar tal ou qual tópos inevitavelmente esbarram noutros... para expor os motivos típicos da narrativa vampiresca, não parece haver um caminho livre de alguma tortuosidade, de algum vaivém.

Outra escolha é a de não explorar, pelo momento ao menos, a hipótese de uma mesma proveniência para os elementos comuns a tantas criações literárias. Por ora, só quero cha- mar atenção para a potencial intertextualidade no interior dessa grande comunidade de textos,

1 Considerando-se a ambientação na Hungria e o fato de o poema ter sido publicado num periódico de Leipzig (ver Ossenfelder 1748).

Zu einem Vampir trinken. Und wenn du sanfte schlummerst, Von deinen schönen Wangen Den frischen Purpur saugen. Alsdenn wirst du erschrecken, Wenn ich dich werde küssen Und als ein Vampir küssen: Wann du dann recht erzitterst Und matt in meine Arme, Gleich einer Todten sinkest Alsdenn will ich dich fragen, Sind meine Lehren besser, Als deiner guten Mutter?

beber a um vampiro.

E quando dormires ternamente, de tuas belas faces

o fresco púrpura sugar. Assim te assustarás quando eu for te beijar e beijar-te como um vampiro: então, quando tremeres a valer e lânguida em meus braços sucumbires como uma morta, assim quero então perguntar-te: são minhas lições melhores do que as de tua boa mãe?

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demonstrável pela recorrência tão freqüente de tais elementos no corpus. Essas camadas de intertextualidade não se resumem aos tópoi exemplares – e não exaustivos – aqui propostos; estes seriam, no máximo, seu aspecto mais evidente e superficial. Por outro lado, não é o caso de renunciarmos à tentativa de nos aproximar de alguns deles, dado atravessarem não apenas a grande maioria dos textos concordemente tidos como pertencentes à temática, mas também outros, cuja ligação com tal “núcleo modelar” é mais tênue.

I. Análise de motivos e tópoi

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