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CAPÍTULO 1 MARTINS PENA, O TEATRO DE SÃO PEDRO DE ALCÂNTARA

2.6 Para Além do Palco: as comédias de Martins Pena na tipografia de Paula Brito

Em fins da década de 1840, sete peças de Martins Pena haviam sido publicadas:

O Juiz de Paz da Roça (1842 e 1843); A Família e A Festa da Roça (1842); O Judas em Sábado de Aleluia (1846); Os Irmãos das Almas (1846); O Diletante (1846); Quem Casa, Quer Casa (1847) e O Caixeiro da Taverna (1847).143 O responsável pelas publicações foi o editor e livreiro Francisco de Paula Brito, cuja tipografia, "Loja de chá, do melhor que

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"Requerimento ao Conservatório Dramático Brasileiro, solicitando exame censório para a peça Uma

Mulher Feia", Biblioteca Nacional, Coleção Conservatório Dramático Brasileiro, I - 08, 04, 66.

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há", localizava-se no número 64, próximo à Praça da Constituição. O tipógrafo era um entusiasta e colaborador da atividade teatral na Corte. Além da publicação das comédias de Martins Pena e de libretos das óperas italianas que estavam em cartaz, sua livraria era uma segunda bilheteria, onde o público carioca podia comprar os bilhetes dos espetáculos beneficentes aos atores, como os oferecidos, regularmente, pelo São Pedro de Alcântara.

Em 1846, após já ter editado O Juiz de Paz da Roça e A Família e A Festa da

Roça, Paula Brito iniciou um projeto que pretendia preparar uma edição coletiva, intitulada Teatro Brasileiro, com 12 comédias de Martins Pena, impressas em série. Em janeiro desse

ano, anunciou no Diário do Rio de Janeiro a publicação do primeiro volume, cujo preço era acessível, inferior a um bilhete de teatro para a plateia:

O Judas em Sábado de Aleluia, belíssimo drama do Sr. Pena, acha-se publicado, e

é o 1º da coleção do Teatro Brasileiro do dito autor. Vende-se a 600 rs. nas lojas dos Srs. Teixeira, Ourives n. 21, (tipografia e loja de papel); Alfândega n. 05; Laemmert, Quitanda n. 77; Passos, Ouvidor n. 152; e Paula Brito, editor proprietário, Praça da Constituição n. 64 (loja do chá do melhor que há), um lindo folheto em bom papel e tipo.144

Ao nomear a coleção de Teatro Brasileiro, e não "comédias de Martins Pena", por exemplo, Paula Brito buscava destacar o caráter nacional das peças publicadas, tendo em vista que o repertório estrangeiro estava tão em voga, não apenas no teatro, mas também nas livrarias da capital do Império.145

Em março de 1846, Paula Brito lançou O Diletante, o segundo volume da coleção. No anúncio de divulgação da peça, o editor comunicou que o valor da subscrição da coleção completa custaria cinco mil réis:

O Diletante, 2º drama da coleção Teatro Brasileiro do Sr. Pena; 1º n. Judas em Sábado de Aleluia; 2º n. O Diletante; 3º n. (no prelo) Irmão das Almas.

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Diário do Rio de Janeiro, 31 de janeiro de 1846.

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As livrarias do Rio de Janeiro, na época, comercializavam inúmeros títulos de peças teatrais, em sua grande maioria, do repertório clássico e romântico francês e português. Eram vendidas tragédias de Racine, comédias de Molière, dramas de Mendes Leal e melodramas de Alexandre Dumas Pai. O repertório de peças escritas por autores brasileiros constituía-se, além das comédias de Martins Pena, pela tragédia Antônio José

ou O Poeta e A Inquisição, de Gonçalves de Magalhães, publicada por Paula Brito, e pelos dramas do franco-

brasileiro Louis Antoine Burgain, como A Gitana, A Última Assembleia dos Condes Livres, A Morte de

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Subscreve-se a 5$ rs. pela coleção (12 dramas) e vendem-se avulsos a 600 rs. cada um.146

O terceiro volume, Os Irmãos das Almas, foi publicado em julho de 1846. Na divulgação da obra, a subscrição da coleção completa já apresentava uma elevação no valor, passando a custar oito mil réis. O próximo volume, Quem Casa, Quer Casa, foi anunciado em setembro de 1847, juntamente com as peças da coleção que já haviam sido publicadas anteriormente, acrescidas de O Juiz de Paz da Roça:

Quem Casa Quer Casa lindo drama do Sr. Pena e 4º publicado da coleção dos 12

do Teatro Brasileiro, vende-se por 600 rs., na loja do editor Paula Brito, Praça da Constituição n. 64. Há do mesmo autor: Juiz de Paz da Roça; O Diletante; Judas

em Sábado de Aleluia e Os Irmãos das Almas.147

Paula Brito não completou a produção seriada das comédias de Martins Pena. Levando-se em consideração que a última peça, O Caixeiro da Taverna, foi publicada no final de 1847, quando o autor se mudou para Londres e abandonou a atividade dramática no São Pedro de Alcântara, o livreiro, provavelmente, optou por interromper o projeto editorial, já que o dramaturgo estava ausente da cena teatral fluminense. Posteriormente, na primeira metade da década de 1850, Paula Brito reeditou as comédias O Judas em Sábado

de Aleluia (1852), Os Irmãos das Almas (1852), A Família e A Festa da Roça (1853) e O Juiz de Paz da Roça (1855), e produziu a primeira edição de O Noviço (1853).148

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Diário do Rio de Janeiro, 24 de março de 1846.

147

Diário do Rio de Janeiro, 17 de setembro de 1847.

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Os mesmos títulos foram republicados, na década de 1870, pelo editor carioca Cruz Coutinho. (Cf. DAMASCENO, In: PENA, 1956, vol. I, p. 14). Em 1898, a editora H. Garnier editou essas peças em uma edição coletiva denominada Teatro Brasileiro de Martins Pena (comédias) com um estudo crítico sobre o

teatro no Rio de Janeiro e sobre o autor, organizada por Melo Morais Filho e Sílvio Romero. Apesar dessas

publicações, somente em 1956 passamos a conhecer a obra completa de Martins Pena, a partir do importante trabalho realizado por Darcy Damasceno nos manuscritos do autor. O crítico organizou, com apoio do Ministério da Educação e do Instituto Nacional do Livro, dois volumes contendo os dramas e as comédias do dramaturgo.

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3 As Reprises das Comédias de Martins Pena e o Novo Panorama Teatral na Corte (1850-1855)

Ao longo do decênio de 1850, apesar da mudança administrativa e das graves crises financeiras pelas quais passou, o São Pedro de Alcântara manteve seu repertório, o modelo de programa teatral e a maior parte dos artistas que já compunham a companhia dramática desde a década precedente. Assim, as comédias de Martins Pena continuaram a ter espaço nos espetáculos ali oferecidos. Entre 1850 e 1855, as encenações de suas peças ocorreram em números semelhantes aos anos anteriores. No entanto, somente cinco títulos permaneceram em cartaz: A Família e A Festa da Roça, O Judas em Sábado de Aleluia, Os

Dois ou O Inglês Maquinista, Os Irmãos das Almas e O Noviço.

O São Pedro de Alcântara adentrou o ano de 1850 revezando os espetáculos entre as exibições líricas de óperas românticas e os programas dramáticos. O repertório era constituído, essencialmente, pelas peças representadas na década anterior, com esporádicas estreias, tais como a composição O Cego (1849), de Macedo, Os Homens de Mármore (1854) e O Homem de Ouro (1854), de Mendes Leal, e traduções de obras francesas.

Em 22 de março de 1850, devido à epidemia de febre amarela reinante na cidade do Rio de Janeiro, o teatro publicou um comunicado na imprensa informando que, "por ordem superior", fecharia as suas portas. Acreditava-se que o acúmulo de pessoas em recintos fechados propagaria ainda mais a doença que, na época, não tinha o seu modo de contágio conhecido. O teatro só ofereceu novos espetáculos no início do mês de maio.

Se não bastasse a epidemia – que levou à morte alguns artistas, dentre eles o cenógrafo italiano Scarabeloto –, a má administração do presidente da diretoria, José Bernardino de Sá, fez com que o São Pedro de Alcântara enfrentasse dificuldades financeiras, que culminaram no atraso dos salários dos artistas. Estes, com exceção de João Caetano, que recebia uma subvenção estatal, contavam apenas com os salários e a renda obtida com os benefícios que ofereciam. Os salários dos artistas e dos profissionais técnicos que trabalhavam por detrás da cena variavam consideravelmente. Augusta Candiani, a lírica italiana de grande sucesso no palco do São Pedro de Alcântara, recebia 700 mil réis mensais; a cantora italiana Ida Edelvira, que permaneceu na Corte por curta temporada,

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ganhava o maior salário, no valor de um conto e 250 mil réis;149 Ribas, o regente da orquestra, recebia 130 mil réis; o contrarregra, por sua vez, ganhava míseros 60 mil réis.150 Como os artistas do teatro eram totalmente dependentes dos salários, a situação chegou a um ponto extremo que, em 01 de março de 1850, os próprios atores encaminharam uma petição à Câmara dos Deputados, pedindo que, sob a forma da lei, obrigassem o diretor a cumprir os seus contratos de trabalho.151

Em novembro de 1850, com a crise já instalada no teatro, o Estado resolveu contratar uma nova empresa para administrá-lo. Dentre as condições que impôs, estavam regras administrativas e financeiras referentes aos contratos dos artistas, à organização dos espetáculos e ao comprometimento do novo diretor em importar da Europa, o mais rápido possível, uma companhia lírica completa.152 João Caetano e Justiniano José da Rocha se candidataram ao cargo. Nosso já conhecido ator-empresário saiu vitorioso. O primeiro programa que João Caetano ofereceu no São Pedro de Alcântara ocorreu em março de 1851.

Nesse intervalo de tempo, entre a crise administrativo-financeira e a nova direção de João Caetano, o teatro representou três comédias de Martins Pena em seis espetáculos. O Judas em Sábado de Aleluia recebeu três encenações no ano de 1850: a 20 de junho, "a pedido de muitas pessoas",153 em benefício do ator Pedro Joaquim da Silva Amaral, após a exibição do drama A Pobre das Ruínas (1846), de Mendes Leal; o mesmo programa foi reapresentado a 30 de junho, com a inclusão de uma ária da ópera Le Domino

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Em Quem Casa, Quer Casa, Eduardo e Paulina discutem sobre os reais interesses dos artistas estrangeiros que vinham se apresentar no Brasil. Para a moça, eles eram motivados pelo interesse econômico, pois tão logo se enriqueciam, abandonavam os palcos brasileiros e retornavam à Europa: "PAULINA: – E depois das algibeiras cheias, safa-se para as suas terras, e comendo o dinheiro que ganhara no Brasil, fala mal dele e de seus filhos". (PENA, 1956, vol. I, p. 478). Processo semelhante ao descrito por Paulina aconteceu com a lírica Ida Edelvira, que se apresentou por poucos meses no São Pedro de Alcântara.

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As informações sobre os salários foram obtidas em artigo publicado pelo Jornal do Commercio a 12 de setembro de 1850.

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"Teatro de S. Pedro de Alcântara. Representação à Câmara dos Deputados. Augustos e digníssimos senhores representantes da nação: 'Os abaixo assinados, atores da companhia dramática do Teatro de S. Pedro de Alcântara, vêm pedir-vos alguma providência legislativa que, pondo um dique às arbitrariedades e despotismo do atual presidente da diretoria do mesmo teatro, o comendador José Bernardino de Sá, garanta aos suplicantes a fiel execução de seus contratos e o devido pagamento de seus trabalhos". (Jornal do

Commercio, 08 de março de 1850).

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As condições exigidas pelo Estado foram consultadas em artigo publicado pelo Jornal do Commercio a 16 de novembro de 1850.

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Noir (1837), do francês Daniel Auber (1782-1871), e um dueto de Beatrice di Tenda

(1833), de Bellini; e a 27 de outubro, após o drama O Marinheiro de São Tropez. No ano seguinte, a comédia foi reprisada no encerramento do espetáculo de 11 de maio, que exibiu em seu programa o vaudeville Gringalet ou O Filho de Dois Pais, seguido da tonadilha O

Poeta e O Músico. A comédia Os Irmãos das Almas foi exibida a 19 de maio de 1850, em

um espetáculo que teve como peça principal o melodrama Genoveva de Brabante (Geneviève de Brabant, 1838), de Anicet-Bourgeois. Os Dois ou O Inglês Maquinista foi representada a 16 de maio de 1851, em um programa que encenou a tragédia Hamleto (1769), adaptação de Ducis (1733-1816) da obra shakespeariana, seguida da exibição de uma polca e do entremez Manuel Mendes (1812), de Antônio Xavier.

João Caetano não teve muita sorte no início de sua administração do São Pedro de Alcântara. Na madrugada de 09 de agosto de 1851, após o espetáculo em benefício do ator João Antonio da Costa, que teve como peça principal o drama português O Cativo de

Fez (1841), de Antonio Joaquim da Silva Abranches (1810-1868), o teatro sofreu outro

incêndio devastador, deixando-o em ruínas. As chamas consumiram mobiliários, o guarda- roupa e o arquivo do teatro, que conservava os textos das peças e as partituras de canções. Os periódicos noticiaram a tragédia com muito pesar, lamentando o destino da casa de espetáculos e de seus artistas, fadados a desastres e flagelos:

Teatro de S. Pedro. Retiramos o artigo de revista que estava no prelo a respeito deste teatro para substituir pela seguinte fatal notícia. Já não existe! As chamas de um fogo intenso o devoraram na madrugada de sábado, e o Teatro de S. Pedro acabou em cinzas! Confrange-nos o peito de dor e aos altos juízos de Deus entregamos tudo quanto quiséramos dizer. Pobres artistas, que mal fado os tem acompanhado! Do teatro apenas se pode salvar mesas, livros e coisas insignificantes da casa do bilheteiro; do camarim de SS. MM. salvou-se tudo o que havia de melhor, que foi guardado em casa do Sr. Faria até segunda ordem.154 Um acontecimento horroroso acaba de ter lugar. O Teatro de S. Pedro de Alcântara foi pasto das chamas na madrugada de sábado (09)! Em menos de duas horas já o incêndio lavrava com a maior intensidade por todo o edifício; pois que não havendo às 2 ½ hora (segundo dizem) o menor indício de fogo, quando eram 4 ½ o incêndio achava-se na sua maior força, e o fogo havia-se apoderado de todo o combustível. Agora tudo é cinza e ruína, e só existem em pé as quatro paredes mestras, ameaçando cair a do fundo por se achar toda rachada! Este fato tão

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deplorável nos tem de tal sorte impressionado, que nos impossibilita o fazer-lhe comentários.155

O Jornal do Commercio cogitou a hipótese de um incêndio criminoso, ao tomar conhecimento de uma denúncia feita à polícia. No entanto, esta não se empenhou na averiguação das informações, e o incêndio que destruiu o teatro não teve as suas causas esclarecidas, fato lamentado pela redação do periódico A Reforma, que denunciou o descaso e a ineficiência da polícia da Corte com o caso:

O tempo porém vai correndo, e (...) não há quem saiba ainda os resultados da denúncia, que fora dada: que esforços tem posto em ação, que empenho há mostrado a polícia na averiguação de um fato de tão grande importância?... Ainda se estará prosseguindo em indagação, ou essa terrível catástrofe, que a todos nos consternou, já foi lançada no túmulo do esquecimento?... Uma de duas: ou a polícia, contra todos os seus hábitos, tem andado com tão notável habilidade, com tanta cautela nesse negócio, que caminhando com pés de lã, ninguém ainda conseguiu perceber o mais leve ruído de seus passos (...); ou então, segundo o costume, nada se tem feito para averiguar a matéria da denúncia, e consequentemente, queremos usar de nosso direito fustigando-a com justas censuras.156

O Estado não ajudou na reconstrução do São Pedro de Alcântara, preferindo financiar a edificação de um teatro lírico no Campo de Santana: o Teatro Provisório, inaugurado em 14 de março de 1852. Abandonado pelo Estado, João Caetano formou, em novembro de 1851, uma associação de acionistas para a reconstrução de seu teatro. No total, foi arrecadada a quantia de 100 contos de réis, distribuída em 200 ações de 500 mil réis cada uma. Os acionistas, a depender da quantidade de ações adquiridas, teriam os seguintes direitos nos espetáculos oferecidos pelo teatro no decorrer de quatro anos: uma ação garantiria uma cadeira cativa; duas ações, um camarote de quarta ordem; três ações, um camarote de primeira ou terceira ordem; quatro ações, um camarote de segunda ordem.157 Com o dinheiro em mãos, João Caetano deu início à reconstrução, que ficou a cargo do engenheiro inglês Mr. Olivier. O projeto do novo São Pedro de Alcântara, ambicioso e inovador à época, incluía a iluminação a gás, e não mais a óleo, canalização de 155 A Aurora, 10 de agosto de 1851. 156 A Reforma, 29 de outubro de 1851. 157

O projeto de associação assinado por João Caetano foi consultado no Diário do Rio de Janeiro de 22 de novembro de 1851.

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água para as quatro ordens de camarotes, e uma exclusiva decoração interior, assinada por dois artistas estrangeiros, Ouvier e Hox.

Enquanto as obras de construção estavam em andamento, a troupe de João Caetano se transferiu, temporariamente, para o Teatro de São Januário. Finalizada a reedificação, o São Pedro de Alcântara foi reaberto a 18 de agosto de 1852 – 12 meses após o incêndio –, com a exibição do drama O Livro Negro, de Leon Gaston, traduzido por Joaquim Antônio da Costa Sampaio.158

Devido ao fechamento temporário do São Pedro de Alcântara para a reconstrução, as peças de Martins Pena só voltaram a ser ali encenadas em 1853. Nesse ano, O Judas em Sábado de Aleluia finalizou o espetáculo de 10 de abril, após a estreia da comédia francesa O Chapéu de Palhitinha da Itália (Un Chapeau de Paille d'Italie, 1851), de Eugène Labiche (1815-1888). Os atores Maria Amália e Luis Antônio Monteiro desempenharam os protagonistas da peça de nosso comediógrafo, como sempre ocorrera nas encenações desde 1850.

Os Irmãos das Almas recebeu seis exibições no decorrer de junho a julho de

1853: nos dias 13 e 19 de junho, após a encenação de O Noviço; em 29 de junho, em um programa que teve como peça principal o drama O Homem da Máscara Negra; a 17 de julho, encerrando a representação de O Noviço; e nos dias 22 e 24 de julho, após Os Ovos

de Ouro, tradução da féerie La Poule aux Œufs d'Or (1848), de Clairville e Dennery.

O Noviço, comédia de Martins Pena mais encenada postumamente, foi exibida

10 vezes em 1853: a 13 de junho, como peça principal do espetáculo beneficente em favor de Manoel Soares, que apresentou, também, um dançado, Os Irmãos das Almas e o

vaudeville Inocêncio ou O Eclipse de 1821; o mesmo programa foi reapresentado a 19 de

junho, em benefício de João Caetano; a 20 de junho, em benefício do dançarino Júlio Toussaint, em um programa que se iniciou com o vaudeville Um Marido Que se Desmanda, seguido de árias das óperas Beatrice di Tenda, de Bellini, e Hernani (1844), de Verdi, do dançado As Odaliscas, e da cena fantástica O Diabo e A Camponesa, composta pelo beneficiado; o mesmo programa foi reapresentado a 26 de junho; a 03 de julho, finalizando o espetáculo que teve como peça principal o melodrama Teckely ou O Cerco de Mongatz

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(Tékéli ou Le Siège de Mongatz, 1803), de Guilbert de Pixerécourt (1773-1844); a 17 de julho, como peça principal do programa que exibiu canções líricas, dançados e a comédia

Os Irmãos das Almas; a 15 de agosto, após o drama histórico português Frei Luís de Sousa

(1843), de Almeida Garrett, uma ária e um dançado; a 21 de agosto, rematando o espetáculo que exibiu o melodrama Madalena (Madeleine, 1843), de Anicet-Bourgeois; a 01 de outubro, tendo seus entreatos recheados por árias e um dançado, e encerrado pela farsa Emília Travessa; a 25 de outubro, em benefício das Irmandades de Santo Antônio dos Pobres e de Nossa Senhora dos Prazeres, em um programa que apresentou o drama português O Cativo de Fez, e que recheou os entreatos de O Noviço com a exibição da sinfonia A Partida do Marinheiro, de Fernando de Sá Noronha, e um dançado. Em 1854, O

Noviço recebeu quatro representações: a 16 de março, no encerramento do espetáculo

beneficente em favor do ator Manoel De Giovanni, em um programa que exibiu o drama musicado A Esmeralda, seguido de um dançado; a 19 de março, após a tragédia Nova

Castro; a 24 de abril, em espetáculo beneficente a uma artista não identificada pelos

anúncios, após o drama O Cativo de Fez e o dançado Os Boleiros de Cadiz; a 28 de maio, rematando um programa que apresentou o drama O Desertor Francês, seguido de uma polca.Nessas montagens de 1853 e 1854, o ator Martinho Corrêa Vasques159 desempenhou o papel do noviço Carlos, enquanto o cômico Manoel Soares, o do ardiloso Ambrósio.

Com esse balanço de representações, concluímos que as comédias de Martins Pena, com especial destaque a O Noviço, não caíram no esquecimento da companhia dramática do São Pedro de Alcântara, principalmente do ator português Manoel Soares, que sempre atuava nas encenações das peças do comediógrafo.

No início da década de 1850, os literatos e os críticos teatrais ansiavam por mais peças brasileiras nos palcos da Corte. Os autores que compuseram obras dramáticas nos anos anteriores, como Martins Pena, Gonçalves de Magalhães e Macedo, passaram a ser vistos como fundadores e desenvolvedores do teatro nacional. Martins Pena era concebido como um importante comediógrafo – por ser o primeiro a levar ao palco fluminense personagens e temas da sociedade brasileira –, e suas comédias eram tidas como

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Martinho Corrêa Vasques (1822-1890) foi ator da companhia dramática do São Pedro de Alcântara entre 1843 e 1863.

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uma opção de representação no lugar das peças estrangeiras que dominavam os programas