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ESPECIE DE PROJETO

3.6 PARTICULARIDADES DA LEGISLAÇÃO AMBIENTAL

3.6.2 Para que um novo Código Florestal brasileiro?

Os objetivos da edição de um novo código seriam os de: integrar as conquistas da Constituição de 1988 e incorporar a lei de crimes ambientais, os avanços da política nacional de mudanças climáticas e o sistema nacional de Unidades de Conservação, atualizando-os.

A discussão dos últimos meses (maio e junho de 2011) sobre o novo Código Florestal brasileiro deixou a sociedade em dúvida sobre o que é avanço e o que é retrocesso no delicado equilíbrio entre viver, preservar, matar e desmatar.

A discussão desconsiderou importantes questões, tais como:

- De que maneira enfrentar a ocupação desordenada do solo urbano das encostas?

- Qual o futuro desejável para as áreas rurais e urbanas? - Qual a peculiaridade de cada região brasileira sob o ponto de vista da análise dos diferentes biomas (Atlântico, Pampas, Caatinga, Amazônia, Cerrado)?

- Por que é importante preservar a vegetação nas encostas e topos de morros?

O Código Florestal em tramitação retira do IBAMA a responsabilidade pela fiscalização e punição por infrações ambientais em APPs e deixa o ajuste futuro das mesmas a ser feito por decreto presidencial, evitando a discussão de como o Código trata da ocupação daquelas áreas nas cidades, por exemplo.

Ou ainda, qual a relação da gestão pública da questão ambiental com a habitação social. Além de não responder à questão de quem fiscaliza a ocupação desordenada e irregular em áreas de encosta de risco. Questões como estas estão implícitas no encaminhamento dos itens já apresentados e desenvolvidos por esta pesquisa (entre o urbano e o ambiental).

A busca de soluções específicas quanto ao desrespeito ao Código Florestal, realização de debates sobre ocupações irregulares foram relegados à segundo plano no novo Código.

No entanto, a natureza reage à ocupação desordenada em áreas geologicamente vulneráveis. Sem a vegetação nativa as encostas tornam-se ainda mais fragilizadas.

Falta às três instâncias do poder público, a coragem política necessária para condenar a ocupação em algumas áreas e proceder à remoção da população.

As polêmicas e controversas novas leis de Proteção Ambiental pressupõem uma dívida histórica, econômica e social em relação à agricultura em comparação às demais atividades econômicas e não tratam como exceção os pequenos agricultores familiares e as culturas seculares (parreiras, cafezais e macieiras).

Estas culturas podem ajudar na sustentação do solo prevenindo e evitando erosões, assim também o fazem, espécies lenhosas que ajudam a fixação do solo.

Com relação à aprovação do novo código na Câmara dos Deputados11, a reportagem do jornal Diário de São Paulo, de quarta-feira, 11 de maio de 2011, informa que Governo e Câmara dos deputados ainda tentavam consenso sobre as áreas de proteção permanente em propriedades rurais e manutenção de vegetação às margens de rios. Ambientalistas e ruralistas não se entendiam sobre relatório de Aldo Rebelo12.

- A idéia de manter as APPs, mas as exceções serão estabelecidas em decreto editado pela Presidência da República. - Haverá exceção para os casos de “necessidade social, interesse público e baixo impacto”, como querem os ruralistas.

- Na lei, serão contempladas as exceções e o ajuste futuro das APPs será feito por decreto presidencial e não pelo IBAMA ou outro órgão.

Entre as exceções, estão as áreas para o plantio e a produção agrícola em APPs onde há anos são plantados arroz, café e uva. Não há consenso ainda em relação à isenção de recomposição das áreas de reserva legal em pequenas propriedades.

Pelo relatório de Aldo Rebelo haverá isenção até quatro módulos fiscais de terra.

O governo defendia que a isenção fosse para todas as propriedades de agricultura familiar. Houve disposição do governo em avançar e permitir que a isenção seja estendida aos cooperados que possuam até quatro módulos.

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Com base na reportagem do jornal Diário de São Paulo, de 11 de maio de 2011, pg. 12

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Aldo Rebelo é deputado federal pelo PC do B-SP, relator do projeto de lei de reforma do Código Florestal.

A proposta é polêmica, opondo ambientalistas e ruralistas e demais agricultores. Um dos pontos que geram polemica, é a recomposição da reserva legal a área que toda propriedade rural precisa ter de preservação de mata nativa.

Ela varia de 20 % a 80% do tamanho do terreno, dependendo da região do país. A medida leva em conta os módulos fiscais, cujo tamanho oscila entre cinco e 110 hectares. Também há discordância sobre a manutenção de vegetação nas margens de rios na proposta.

Ciro Siqueira, engenheiro agrônomo, pós-graduado em economia ambiental, em entrevista ao Jornal Diário de São Paulo, de 11 de maio de 2011, apresenta argumentos favoráveis ao texto do novo Código Florestal em tramitação, afirmando que o movimento ambiental passou os últimos 30 anos assegurando à sociedade que tínhamos uma das mais modernas leis ambientais do mundo e que só faltava aplicá-las.

Baseados nesse dogma, os ambientalistas pressionaram o Estado brasileiro a aumentar a cobrança das leis ambientais.

O Ministério do Meio Ambiente, através de Marina Silva e Carlos Minc (últimos dois ministros) intensificou a fiscalização no cumprimento do Código Florestal vigente (perseguir, processar, multar). O movimento ambiental e o governo estavam errados sobre a natureza das nossas leis ambientais. Por que a lei, tida como das mais avançadas, precisou ser subvertida para poder ser aplicada?

Márcio Santilli, coordenador do Instituto Socioambiental, em entrevista à mesma edição do Jornal Diário de São Paulo apresenta argumentos contrários aos apresentados por Ciro Siqueira, identificando o novo Código Florestal como uma proposta predatória considerando que o projeto de mudança do mesmo coloca em risco os ecossistemas brasileiros e pode instituir uma situação de absoluta ingovernabilidade florestal.

Um grupo de organizações do movimento socioambiental apresentou uma lista de propostas que podem resolver o imbróglio das negociações sobre a mudança do Código Florestal, de modo a garantir a expansão da produção agropecuária com a conservação do patrimônio natural.