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PARA UMA EDIÇÃO CRITICA DE O SAMPAULEIRO

No documento O sampauleiro: romance de João Gumes. (páginas 64-77)

2 O RESGATE DA OBRA

TÍTULO NOTA DE IMPRENTA

3.2 PARA UMA EDIÇÃO CRITICA DE O SAMPAULEIRO

A Crítica Textual Moderna procura editar a última versão de um texto. O seu material de trabalho são os textos de autores modernos, cuja tradição é marcada pela variação dos originais manuscritos ou das edições avaliadas pelo autor. A possibilidade de estudar estes novos objetos levou os editores de textos modernos a rever alguns comportamentos, reformular alguns instrumentos teóricos e metodológicos e criar outros. E, conseqüentemente, abriu também novas possibilidades de estudo: fazer a edição crítica com texto-base autógrafo ou autorizado pelo autor (Critica Textual Moderna), e estabelecer a dinâmica do processo criativo a partir das marcas de correções de vários tipos deixadas pelo autor nos seus manuscritos (Crítica Genética).

A Crítica Textual Moderna tem procurado estabelecer parâmetros científicos em conformidade com o texto moderno, definido por sua organização interna e pelas determinações contextuais. Impõe-se como questão relevante observar o modo de proceder em relação à organização da produção regionalista de um escritor cuja obra foi produzida ao longo de algumas décadas. Conforme já se disse, a necessidade de resgatar o patrimônio cultural de um povo não é uma preocupação da modernidade, sua origem remonta aos gregos. Nesse sentido as duas disciplinas, a Crítica Textual e a Crítica Genética, atuariam conjuntamente em favor do texto editado, analisando-se tanto os procedimentos da

organização textual como a recepção do texto, apresentando-os como traços que devem fornecer subsídios para uma teoria geral do processo de criação.

A filologia textual tem revelado o quanto é importante estudar o processo de criação do texto artístico, partindo-se dos resquícios que sobrevivem no trabalho de construção do discurso. Um estudo desta natureza reverte, sem dúvida, em benefício para o

estabelecimento crítico do texto. Almulh Grésillon,50 por exemplo, defende que os editores e

os geneticistas devem trabalhar juntos. Estes ocupando-se do processo de criação, aqueles estabelecendo o texto definitivo, mas ambos comungando do objetivo de dar relevo à textualidade literária.

Tavani também compartilha de tal idéia. Segundo ele,51 a colaboração da Crítica

Genética para a Crítica Textual pode ser muito mais preciosa do que a tradicional colaboração

entre editores e historiadores. Em outro trabalho,52 aponta a Crítica Genética e a

Manuscriptologia como duas disciplinas que muito contribuem para o estabelecimento do texto.

Tavani ainda aponta a necessidade de definir princípios teóricos gerais e critérios básicos rigorosamente científicos, mas flexíveis e adaptáveis às particularidades de cada situação textual, para que a subjetividade exerça influência. Diz que, numa edição crítica, o objetivo deve estar na fixação do texto e que, quando se leva em consideração o processo de criação literária, se está buscando atender à exigência de fixar um texto, de restituí-lo em sua integridade, de estabelecer a realidade planejada e realizada pelo autor.

50 Cf. Almuth GRÉSILLON. Eléments de critique génetique: lire les manuscrits modernes. Paris: PUF, 1994.

p.202

51Cf. G. TAVANI. Los textos del siglo XX. In: LITTERATURE LATINO-AMERICAINE ET DES CARAÏBES

DU XX SIÈCLE: THÉORIE ET PRATIQUE D’ EDITION CRITIQUE. Roma: Bulzoni, 1988. p.55-56.

52 Cf. G. TAVANI. Le Texte: son importance, son intangibilité. In: LITTERATURE LATINO-AMERICAINE

ET DES CARAÏBES DU XX SIÈCLE: THÉORIE ET PRATIQUE D’ EDITION CRITIQUE. Roma: Bulzoni, 1988. p. 34.

Luiz Fagundes Duarte, em Prática de edição: onde está o autor?,53 diz que, dependendo do material de que o filólogo dispõe, uma edição crítica de textos modernos deve ser crítico-genética. Enquanto crítica, procura estabelecer o texto mais próximo da intenção final do autor; enquanto genética, busca documentar o percurso seguido pelo escritor na construção de seu texto. Aquele que recebe o tratamento critico-genético terá, portanto, a sua fixação mais autorizada e um aparato crítico-genético ou genético- crítico. O aparato crítico registra as variantes da tradição impressa e o aparato genético reconstitui de modo codificado a evolução da escrita de uma determinada passagem do texto.

Duarte apresenta algumas situações com as quais o editor pode se deparar. Enquanto o editor crítico deve trazer à tona o texto que contém a última vontade do autor e limpá-lo das adulterações introduzidas pela tradição, partindo-se do postulado de que a obra, quando foi elaborada por seu autor, tinha como objetivo primeiro ser lida por outra pessoa; o geneticista deve lidar com o manuscrito autógrafo trabalhando com as obras publicadas sob as vistas do autor ou com as obras não terminadas ou deixadas inéditas. As informações genéticas são preciosas porque permitirão ao geneticista identificar o modus faciendi característico do autor e deduzir uma matriz estilística. Diz ainda que cabe ao editor crítico genético a tarefa de apresentar ao leitor um texto legível, não como o texto final, mas como o

nível máximo a que conduziu o processo. Entretanto, não sendo possível estabelecer a vontade derradeira do autor, deve-se considerar a pluralidade de vontades que se manifesta entre o

primeiro jato de escrita e o nível terminal do manuscrito.

Telê Porto Ancona Lopez54 assinala a impossibilidade de se relacionarem

manuscritos a uma edição crítica sem recorrer ao auxílio da Crítica Genética. O manuscrito

53 Cf. Luiz Fagundes DUARTE. Prática de edição: onde está o autor? In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE

PESQUISADORES DO MANUSCRITO E EDIÇÕES, 4. GÊNESE E MEMÓRIA. Org. Philippe Willemart.

Anais... São Paulo: ANNABLUME, 1995. p. 335-376.

moderno caracteriza-se por ser um texto marcado por alterações de toda ordem, substituições, deslocamentos, acréscimos e supressões que expressam vontades do autor. O texto artístico, resultado de uma cultura, dita o comportamento a ser adotado pelo editor, podendo ser analisado em diferentes ângulos: narratologia, psicanálise, semiótica, poética etc.

As reflexões que aqui foram expostas definem os procedimentos que poderão ser adotados também na edição dos textos do escritor baiano João Antônio dos Santos Gumes. Desse modo far-se-á o uso de estratégias metodológicas que procurem englobar a elaboração de edições críticas de textos modernos, orientando-se pelos princípios teóricos preconizados pela Crítica Textual Moderna, considerando que editar criticamente um texto de autor moderno leva, na medida do possível, a um tratamento genético de seus manuscritos.

O nosso objeto – o texto de João Gumes – tem-se apresentado sob formas diferentes, completo, incompleto, inacabado, em prosa, com muitas ou poucas correções lingüísticas e estilísticas, consubstanciadas em supressões, substituições e acréscimos. Os autógrafos apresentam uma quantidade razoável de dados materiais, contabilizáveis e comparáveis, reveladores de manipulação do texto pelo autor.

A leitura dos autógrafos de João Gumes oferece elementos que nos permitem inferir: o escritor deixa marcas lingüísticas que revelam o seu usus scribendi, fato que particulariza o seu modus faciendi diante de outros escritores. É através dessas marcas deixadas nos manuscritos e da escolha vocabular que o autor expressa sua visão de mundo e sua intenção poética, além disso, dialoga com as obras que o precedem, ao tempo que elabora seu texto pressionado pela tradição literária.

A partir do estudo dos manuscritos do escritor que tenham versões diferentes de um mesmo testemunho, poder-se-ia apresentar a gramática estilística de João Gumes. Para

tanto, procura-se seguir o método lingüístico aplicado por Luiz Fagundes Duarte55 aos autógrafos de Eça de Queiroz, fazendo-lhes, é claro, os ajustes necessários de acordo com os manuscritos de Gumes.

O método demonstrado por Luiz Fagundes Duarte tem como objetivo definir a peculiar estrutura gramatical que está subjacente a cada um dos momentos de escrita, reescrita, correção, e correção a correção. Constitui-se de seis etapas, a saber: 1) constituição de uma amostra representativa do corpus, abarcando todos os testemunhos disponíveis; 2) marcação dos níveis e momentos de todas as transformações textuais; 3) classificação por classe gramatical, 4) elaboração de cálculos estatísticos acerca da distribuição de cada classe em termos tipográficos; 5) elaboração de probabilidade; 6) matriz de probabilidade de ocorrências.56

É possível encontrar no espólio de João Gumes textos em que se podem notar as marcas que se registram ao longo da produção textual. O autor põe em confronto diversos materiais lingüísticos, que vai testando, pondo em prática mecanismos de recusa, substituição, acréscimos, até encontrar ou não aqueles que melhor servem para as suas representações da realidade.

Nesses documentos autógrafos, pode-se observar que, na tentativa de alcançar o texto "perfeito", mais elaborado, procede a leituras, releituras e reformulações da linguagem. Essas reformulações consistem em reorganizações locais limitadas ao texto, manifestadas na pontuação, na ordem das palavras, nas construções sintáticas, nas escolhas de termos gramaticais e lexicais.

55 Cf. Luiz Fagundes DUARTE. A fábrica dos textos: ensaios de crítica textual acerca de Eça de Queiroz.

Lisboa: Cosmos, 1993.

56 A professora Dra Rosa Borges Santos Carvalho, em sua tese de doutorado defendida em 2001, na Universidade

Federal da Bahia, analisou exaustivamente os textos relativos ao mar que compõem a Coletânea poemas do mar do poeta baiano Arthur de Sales, aplicando-lhes o método demonstrado por Fagundes Duarte. O seu trabalho é excelente modelo de aplicação desse método a autores brasileiros. Cf. CARVALHO, Rosa Borges Santos.

Mas o editor da obra de Gumes não poderá perder de vista o que se subentende da leitura de sua obra: seu desejo em tornar público os seus romances, único meio, segundo ele, de contribuir para divulgação da cultura local e da dissiminação do conhecimento livresco na região onde vivera. Tendo isso como ponto de referência, o editor crítico deve, antes de realizar qualquer outro trabalho com a obra do escritor baiano João Gumes, trazer à tona o texto que contém a última vontade do autor e limpá-lo das adulterações introduzidas pela tradição, partindo do postulado de que a obra, quando fora elaborada, tinha como objetivo primeiro ser lida.

Por isso, não consistirá meta desta tese identificar e interpretar, sistemática e estatisticamente, as marcas reveladoras do processo de construção do discurso de João Gumes, nem se terá como propósito último traçar o matrizamento da sua gramática estilística,

como fizera Fagundes Duarte em A fábrica dos textos57. Aqui, pelo contrário, oferecerá

elementos para que os geneticistas e/outros especialistas, que têm como objeto de trabalho os manuscritos literários, sobre eles se debrucem e realizem as suas análises e conclusões. Constitui como pretensão propor apenas a elaboração de uma edição crítica para o segundo volume do romance O Sampauleiro, pelas razões acima apresentadas.

Edição crítico-genética dos "Poemas do mar" de Arthur de Salles. 2001. 901f. Tese de Doutorado orientada por

Dr. Nilton Vasco da Gama, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 1999.

Cf. Luiz Fagundes DUARTE. A fábrica dos textos: ensaios de crítica textual acerca de Eça de Queiroz. Lisboa: Cosmos, 1993.

3.2.1 O Sampauleiro: do manuscrito ao texto definitivo

3.2.1.1 Descrição

O Sampauleiro, romance em dois volumes, concluído em 8 de

dezembro de 1929, apresenta três testemunhos: um manuscrito

autógrafo contendo apenas os últimos capítulos do segundo volume; e dois éditos: uma publicação em folhetim em A Penna e outra em livro, sendo uma cópia xerox do primeiro volume e um exemplar do segundo. (Cf. item 2.1 A OBRA)

GUMES, João Antonio dos Santos. O Sampauleiro. Caetité, 1929.

O manuscrito, autógrafo, de texto não definitivo, apresenta um número significativo de emendas autorais. Mancha escrita lançada no recto e no verso do papel almaço amarelado, desidratado, pautado, em tinta azul. Letra regular, bem traçada. Encontra- se incompleto, desordenado, assinado e datado. Agentes químicos externos, cola e tinta, prejudicam a leitura de algumas partes. Números arábicos no ângulo superior direito indicam a numeração dos fólios.

GUMES, João Antonio dos Santos. O Sampauleiro. A Penna, Caetité, 1918- 1929.

Testemunho publicado em edições quinzenais no jornal A Penna. Alguns exemplares não podem ser manuseados devido ao estado físico do suporte: papel desidratado, decompondo-se ao simples toque das mãos. Os números que se acham em condições de manuseio apresentam dificuldade de leitura ora pela impressão de má qualidade ora pelas condições materiais do papel: rasgões nas bordas, furos provocados pela ação de insetos e produtos químicos, e pela ação do homem que recorta, rasga, risca. Os capítulos do romance estão distribuídos em 3 ou 4 colunas das páginas do jornal A Penna, com a indicação do título da obra: O SAMPAULEIRO, do capítulo em algarismos romanos: XX, seguida da expressão

Continuação, quando for o caso. Após o texto, vem a indicação da autoria de João Gumes.

GUMES, João Antonio dos Santos. O sampauleiro: romance de

costumes sertanejoos. Caetité: A Penna, 1929. 2v.

Primeira publicação textual completa, editada pela Tipografia D’A Penna- Gumes & Filhos, Caetité, Bahia. Composta em dois volumes, formato 10 cm x 14 cm, com capa dura, vermelha. O primeiro e o segundo volumes trazem na folha de rosto: o nome do autor, JOÃO GUMES, em tipo de letra diferente e maior, o título e subtítulo, O SAMPAULEIRO.

Romance de costumes sertanejos, a indicação da casa publicadora e local, TYP. D’A

PENNA – Gumes & Filhos – CAETITÉ – BAHIA. Volume 1: contém um A Modo de

Prefácio e três partes, a saber, O Sampauleiro, subdividido em capítulos I e II; SEGUNDA

PARTE, Sr. Seraphim, sem subdivisão em capítulos; TERCEIRA PARTE, Maria da

Conceição, subdividida em 29 capítulos, perfazem um total de 292 páginas. Volume 2:

dividido em duas grandes partes, a saber, QUARTA PARTE, Migração, subdividido em 11 capítulos; QUINTA PARTE, Abilio em acção, subdividido em 23 capítulos; e uma conclusão intitulada PARA FINALIZAR, totaliza 384 páginas.

3.2.1.2 Enredo

Gumes, no primeiro volume do romance O Sampauleiro, trata do funcionamento dos garimpos em Diamantina das Lavras, do abandono das atividades agrícolas em busca de fortuna rápida, através da extração de pedras preciosas e do ciclo econômico, social e cultural na região do Alto Sertão Baiano. Descreve as atividades agrícolas e vegetação da região. No segundo volume, estuda a migração no Alto Sertão Baiano, apontando os principais fatores e as conseqüências do fenômeno. A seguir, apresenta-se o enredo dos dois volumes do romance.

V. 1

A história é narrada pelo amigo do Sr. M. que, depois de dias cavalgando pela região do Alto Sertão Baiano, com o amigo param em uma modesta e asseada casa a que pedem pouso. São gentilmente recebidos, têm sua refeição preparada e se encantam com o tratamento que lhe foi dispensado e com a beleza da respeitosa dona da casa. Após a refeição e o merecido descanso, continuam a viagem, mas, como não conhecem as estradas, tomam uma direção errada que os leva à casa do Senhor Serafim. Este dá abrigo aos dois. Durante a estadia, os viajantes, através do professor Serafim, descobrem que aquela generosa senhora era mais uma vítima do processo de emigração instalado naquela região que obrigava muitos bons pais de famílias a abandonarem seus lares em busca do Eldorado em São Paulo.

O amigo do Sr. M., após ouvir o professor Serafim, narra a história de vida do mestre-escola, como ele chegou a Caetité e como conheceu os personagens principais: a sua comadre Maria da Conceição, o esposo João Lopes e o malvado Abílio que, fazendo-se de amigo, praticava muitas crueldades contra o jovem casal.

Serafim, filho de uma mulata e de um português, nasce em São Felix do Paraguaçu e ainda criança perde os pais e tudo que possui em uma enchente. Revoltado com o infortuito que a vida lhe reservou, parte sem destino. Anda vários dias sem rumo até que chega a Diamantina das Lavras, cidade para onde todos corriam em busca de diamantes. Não lhe restando outra opção e motivado pela esperança de encontrar uma boa e grande pedra preciosa, resolve também se dedicar à atividade de extração de pedras preciosas. O esforço de seu arduo trabalho no garimpo rende-lhe poucos frutos. Certo dia, o seu bom e fiel escravo, após seguir seu rastro por todos os lugares por onde passara, o encontra. Movido pelo dever de ajudar o amo a obter riquezas, lança-se ao ofício de garimpar em regiões muito perigosas. Durante uma gananciosa e perigosa tentativa de encontrar uma “boa pedra” sofre um acidente e tem uma de suas pernas amputada. Não agüenta o sofrimento da perda da perna e a infecção que se alastra em seu corpo e morre. O jovem novamente sozinho, abalado, isolado e passando fome, conhece um caixeiro-viajante que, penalizado pela situação em que o encontra, o convida para acompanhá-lo em sua viagem de regresso a Caetité, prometendo trazê-lo de volta a Diamantina das Lavras, caso não se adapte na sua propriedade.

Serafim, já nas propriedades do novo amigo, se encanta com as belezas naturais da região, faz novas amizades, trabalha na lavoura, torna-se mestre-escola, economiza algum pecúlio, compra pequena fazendola e constitui família. Conhece João, Maria da Conceição e Abílio ainda crianças e, como mestre dos mesmos, tem

oportunidade de estudar o comportamento, o caráter e os sentimentos de seus discípulos: Abílio é rico, mas de mau caráter, mesquinho e capaz de praticar a mais vil e baixa ação para alcançar os seus objetivos (contrair matrimônio com Maria); João, ao contrário, é um rapaz pobre, honesto, puro, ingênuo e trabalhador; e Maria, uma mulher virtuosa, pura, honesta, formosa, que amava João. O mestre-escola acompanha o crescimento de seus discípulos e os sentimentos que os jovens nutrem pela bela Maria.

Certo dia, Abílio resolve pedir a mão de Maria em casamento a seu pai. Mas este,

mesmo desejando proceder conforme os costumes da época – casar a filha por conveniência

social e interesses financeiros –, quando conhece os sentimentos da filha, permite que ela

escolha o seu pretendente. Ao receber a recusa do pedido de casamento, Abílio sente-se ofendido e desprestigiado, sentimentos que lhe despertam a vontade de vingança e atiçam ainda mais a paixão que nutre e o desejo de conquistar a sua amada. Abílio, na tentativa de denegrir a imagem de Maria para que a família de seu escolhido não permita a união, falsifica cartas em que a jovem declara seu amor por ele. Com a ajuda de sua mãe dona Úrsula, as cartas falsificadas chegam ao conhecimento de Dona Senhorina, a mãe de João Lopez. A notícia deixa dona Senhorinha muito triste, chegando a adoecer, mas, mesmo assim, a bondosa mãe nada revela ao filho. A empregada da casa, Umberlina, ouve a conversa a respeito da carta e comenta com a empregada de Serafim. O esperto Serafim descobre e desfaz as armações de Abílio e de sua mãe. Maria finalmente se casa com João Lopez e vai morar na casa da sogra. Após o casamento, o pai de Maria “arrebanha” um bom número de sertanejos e emigra para São Paulo, levando consigo a comitiva de sampauleiros. O perverso Abílio desconfia que a mexeriqueira Umberlina tenha roubado a carta falsificada e a tenha entregue ao professor Serafim e, por isso, ele espanca a velha praticamente até à morte.

O professor Serafim, na tentativa de neutralizar novas investidas de Abílio, o procura e lhe revela ter conhecimento das crueldades que praticara contra o jovem casal e do espancamento de Umberlina para que ela confessasse ter roubado a carta. Abílio revela ao professor ser ainda apaixonado por Maria, mas promete esquecê-la, uma vez que irá para São Paulo.

V. 2

Abílio chega a São Paulo, faz amizade com pessoas de caráter duvidoso, arquiteta novo plano para denegrir a imagem de Maria e separá-la de João e retorna para sua fazenda em Caetité a fim de pôr em prática o seu plano. Fingindo-se de amigo do casal, aproxima-se, oferece ajuda financeira. Com a colaboração de sua mãe, envenena a sogra de Maria, deixando João vulnerável. Sem que ninguém saiba, faz com que João perca quase tudo que herdara, inclusive a casa em que mora, em despesas de contendas judiciais. Compra algumas letras promissórias na mão de alguns credores de João para que este lhe fique devedor e, conseqüentemente, ele possa colocar em prática a segunda parte do seu plano. João, pobre e

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