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2.3 ORIENTAÇÕES DO BANCO MUNDIAL À POLÍTICA DE SAÚDE BRASILEIRA:

2.3.1 Modelos de Parcerias Público-Privadas na Política de Saúde Brasileira: Inter-relação

2.3.1.3 Parceria Público-Privada no INCA 124

O Instituto Nacional de Câncer (INCA) é um órgão do Ministério da Saúde, vinculado à Secretaria de Atenção à Saúde, responsável por desenvolver e coordenar ações integradas para a prevenção e controle do câncer no país.

Como já abordamos, a relação público-privada está explícita e regulamentada na atenção oncológica no Brasil desde a década de 1920, primórdio das ações contra o câncer no país. No INCA, a relação público-privada existe há cerca de 17 anos, quando foi estabelecido uma parceria com a Fundação Ary Frauzino (FAF), entidade privada sem fins lucrativos, criada em 1991, que desde então vem desempenhando funções administrativas ao lado da administração do instituto. Sua principal receita advém do Sistema Único de Saúde (SUS), através da remuneração pelos serviços de assistência oncológica prestados pelo INCA. É gerida por um conselho de diretores e curadores voluntários que viabilizam doações e financiamentos de empresas públicas e privadas de entidades nacionais e internacionais.

Por sua flexibilidade operacional, a FAF tem sido responsável pela administração de recursos humanos, materiais e tecnológicos do INCA; além de apoio à pesquisa e desenvolvimento tecnológico, suas atividades e aplicações dos recursos estavam reguladas pelas determinações da Resolução 68/79 do Ministério Público do Rio de Janeiro (legislação específica que dispõe sobre as Fundações no Estado) e tem sido fiscalizada, por auditores credenciados que amparam o Conselho Fiscal da Fundação.

Em setembro de 2008, por meio da Portaria Ministerial 2.024/2008, o MS estabeleceu um acordo que fortalece ainda mais a parceria público-privada no INCA, mediante a adoção de um novo modelo de gestão. Através desta portaria ficam previstas, por meio de um Plano Operativo, as definições de metas pactuadas entre o Ministério da Saúde, o

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Cf. BM, 2008, p. 76. 290

INCA e as secretarias estadual e municipal de Saúde do Rio de Janeiro, propondo assim uma mudança de fluxo dos recursos. Com isso, o Instituto receberá um orçamento adicional R$ 54 milhões291 do MS. Atualmente o orçamento do INCA é de R$ 330 milhões.

De acordo com o Ministro da Saúde, José Gomes Temporão, “[...] o aprimoramento da gestão aumenta o controle sobre os gastos e permite a avaliação dos resultados dos investimentos do governo no controle do câncer no país, com informações da Agência Saúde”. A contrapartida do INCA, ao receber estes recursos, será o cumprimento de metas de atendimento e de qualidade para as atividades de assistência, educação, pesquisa e ações nacionais. O contrato para desenvolvimento de projetos com foco em ensino, pesquisa e apoio institucional tem prazo até 2010 e também estabelece objetivos, metas e indicadores para acompanhamento de resultados.

Dentre as metas definidas pelo Plano Operativo, destacam-se:

Qualidade da assistência: satisfação do usuário com os serviços prestados, controle e redução das taxas de infecção e mortalidade hospitalar; Gestão hospitalar: aumento da eficiência dos centros cirúrgicos, manutenção e aumento da eficiência do tratamento e da ocupação de leitos; Atividades educacionais e de pesquisa: avaliação da atividade docente e inserção dos profissionais formados na rede pública; Ações nacionais de prevenção e controle do câncer.

Também está previsto o investimento no Instituto Nacional de Câncer de recursos oriundos do Programa Mais Saúde do Ministério da Saúde, além da construção do novo complexo do Instituto Nacional de Câncer no Rio de Janeiro, da criação de centros técnico- científicos macrorregionais do INCA no país e de dois novos centros de alta complexidade em câncer no Estado do Rio.

Vale ressaltar que neste novo modelo de gestão implantado no INCA, a lógica administrativa é a lógica empresarial, a lógica do lucro, atribuída para definir eficácia e eficiência na ação estatal que, na execução da política de saúde, mantém o contrato com a iniciativa privada, no caso, com a FAF, ou seja, através da FAF o INCA tem sido regido pelo direito administrativo privado, numa forma de descentralização da gestão, mas vinculado organizacionalmente ao seu órgão instituidor (no caso, o Ministério da Saúde) e tendo sua funcionalidade modulada (tutelada) pelo contrato de gestão e pelo direito administrativo.

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Recursos na ordem de R$ 54 milhões anuais serão incorporados ao teto financeiro de média e alta complexidade do estado e município do Rio de Janeiro, para o custeio dos serviços especializados em oncologia do INCA.

A FAF constitui uma fundação privada de direito privado, embora atue diretamente vinculada a um hospital público. O que lhe dá autonomia para contratação de pessoal para o órgão público, por meio de concurso, pelo regime de Consolidação das Leis de Trabalho (CLT), e para estabelecer tabelas salariais próprias, além de, no tocante à compra de materiais e equipamentos, a FAF, pode fazê-lo com maior agilidade de licitação. De acordo com Santini (2007), até maio de 2007 a mão-de-obra do INCA era constituída por 4.214 trabalhadores; destes, apenas 2.009 eram regidos pelo Regime Jurídico Único (RJU). Isso significa que apenas 48% tinham estabilidade no emprego. Confira na figura 1:

Figura 1

Fonte: OMENA, 2008, com base nos dados apresentados por SANTINI, 2007.

A relação público e privado no INCA não é restrita à FAF; ela se estende a outras instituições, conforme Santini (2007), por meio de projetos têm estabelecido parcerias com outras Empresas e Instituições, nacionais e estrangeiras, públicas e privadas; além disso, destacam-se, segundo o autor, os principais parceiros e patrocinadores, que são: o Ministério da Saúde, o BNDES, a OPAS, o Grupo ARCELOR, o Instituto AVON, a ELETROBRAS, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), a Financiadora de Estudos de Projetos e Programas (FINEP), a FURNAS Centrais Elétricas, a PETROBRAS, o Instituto Ronald McDonald, a Swiss Bridge Foundation, o Johns Hopkins-Bloomberg e a National Jewish MRC.

Vale ressaltar que o modelo de gestão implantado no INCA em 2008 segue as recomendações apontadas pelo BM em 2007, o qual recomendava a adoção de um modelo de gestão autônoma às grandes unidades de saúde – grandes hospitais de referência –, que deveriam “[...] receber autonomia total sobre o gerenciamento e aplicação de seus recursos físicos e humanos, tendo apenas que seguir as políticas de saúde do SUS e cumprir um conjunto de objetivos e metas previamente definidos”.

De acordo com as recomendações do BM, o sucesso desse modelo de gestão só será possível por meio de um contrato de gestão que estabeleça previamente as “[...] responsabilidades e autoridades da unidade, os objetivos e metas a serem alcançados e as atividades a serem desenvolvidas, a necessidade de recursos, critérios claros de avaliação do desempenho da unidade, e penalidades para o não-cumprimento dos objetivos”. Vale ressaltar que, conforme o próprio relatório do BM (2007), “[...] o contrato de gestão tem sido reservado a modelos de gestão autônoma ou privatizada”292.

Portanto, para alcançar as metas esperadas neste novo modelo de gestão – em nome do maior e melhor desempenho nos hospitais públicos – o BM recomenda: contratos de serviços, cumprimento dos contratos, financiamento baseado na lógica do desempenho, e mais, gerenciamento de recursos humanos flexível, além de um sólido ambiente de informações. Com isso, a parceria público-privada será fortalecida e o capital terá a garantia de sua expansão e lucratividade.